MIA
— Vamos dar um jeito nessa bagunça — murmurou Vittorio.
Ele retirou um lenço do bolso e começou a limpar a arma com precisão quase metódica. Depois, segurou-a pelo lenço e a colocou na mão rígida de Adam. Com o mesmo cuidado, limpou a saliva que escorria pelo queixo do homem e ajeitou sua cabeça para esconder a marca da agulha. Cada movimento era calculado, sem espaço para erros.
Então, ele me encarou.
— Desamarre-o.
Assenti, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Aproximei-me do corpo inerte, enquanto o cheiro metálico de sangue enchia o ar ao meu redor. O aroma era tão forte que parecia grudar na garganta. Meus olhos fixaram-se
MIAAssim que estacionamos o carro, praticamente corremos para dentro do hotel. No quarto, tirei o cabelo loiro falso e comecei a remover a maquiagem. Cada movimento parecia automático, mecânico, como se meu corpo tivesse assumido o controle enquanto minha mente ainda processava os acontecimentos.O coração batia tão forte no peito que tudo ao meu redor parecia abafado. Troquei de roupa sem me importar com a presença de Vittorio, alheia à conversa que ele mantinha ao telefone. Nem percebi que ele estava me chamando até sentir sua mão no meu ombro.— Ei — sua voz era firme, mas havia preocupação nela. — Você está bem?Olhei para ele, assustada, como se tivesse sido arrancada de um transe.
MIAA viagem inteira foi um borrão. A paisagem rural do sul da França desenrolava-se como uma pintura impressionista encoberta pelo véu da noite. O silêncio entre mim e Vittorio era denso, quase opressor. Fingi dormir, mas minha mente era um caos, revisitando os eventos das últimas horas.O medo ainda queimava sob minha pele, à medida que o carro avançava em curvas sinuosas. A cada instante, esperava que os homens de Adam surgissem no retrovisor. Mas havia algo mais profundo e inquietante corroendo meus pensamentos: a revelação de que minha mãe poderia ter sido parte da máfia.A ideia era como um peso impossível de suportar. Confusa demais para ser digerida, ali, na madrugada, presa em um carro no meio do nada. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim ecoava com essa possibilidade, como se, de alguma forma, aquilo fizesse sentido. Talvez explicasse o fascínio, quase prazeroso, que eu sentia por Vittorio.Éramos iguais.O mesmo sangue. A mesma escuridão.Soltei um suspiro que desapareceu no si
MIAO espaço entre nós parecia eletrificado, como se cada respiração minha alimentasse a tensão que pairava no ar. Vittorio me olhava como se estivesse prestes a atravessar uma linha invisível, algo que ele evitava a todo custo, mas que, agora, parecia impossível de ignorar.Meu coração batia tão alto que abafava o som da chuva que martelava o telhado. A luz suave da lâmpada iluminava os traços dele — a sombra da mandíbula trincada, a intensidade dos olhos que não desviavam dos meus.Eu sabia o que estava por vir.E, pela primeira vez, não quis evitar.Quando ele se inclinou, cada centímetro de distância entre nós desaparecendo, senti o calor que emanava de sua pele. Sua mão deslizou do meu braço para minha cintura, como se precisasse se assegurar de que eu estava ali, presente e real.Então seus lábios tocaram os meus, suaves no início, como uma pergunta. Mas quando eu correspondi, tudo se intensificou. O beijo era uma tempestade à parte — feroz, confuso, repleto de emoções que nenhu
MIAA tensão no ar era palpável, como se o universo inteiro prendesse a respiração enquanto Vittorio e eu nos rendíamos à atração avassaladora que nos consumia. Seus lábios estavam quentes e famintos contra os meus, uma mistura de desejo e urgência que fazia meu corpo inteiro estremecer.Ele segurou meu rosto com ambas as mãos, os dedos firmes, mas incrivelmente ternos, traçando a linha do meu maxilar até alcançar meu pescoço. Cada toque incendiava minha pele, enquanto meu coração disparava em um ritmo frenético, como se quisesse escapar do peito.Quando suas mãos desceram para minha cintura, me puxando ainda mais para ele, senti o calor de seu corpo contra o meu — a força bruta e a vulnerabilid
MIAA luz da manhã infiltrava-se pelas frestas da cortina, mas o calor do sol parecia incapaz de aquecer o gelo que eu sentia por dentro. Meu corpo ainda carregava o fantasma do toque de Vittorio, enquanto minha mente permanecia aprisionada no eco de suas palavras:"Eu vou descobrir quem você é de verdade."Virei-me na cama, apertando os olhos numa tentativa vã de afastar a dor que latejava em meu peito. O quarto ao meu redor parecia mais vazio do que nunca, mesmo cheio de detalhes que sussurravam memórias difíceis de ignorar.De repente, o som distante de passos firmes na cozinha chegou aos meus ouvidos. Vittorio. Ele estava lá embaixo, como se a noite anterior não tivesse nos despedaçado. Respirei fundo, lutando contra a tempestade de emoções enquanto tentava
MIADepois de tanto tempo vivendo na defensiva, eu havia esquecido como era simplesmente existir. O dia parecia uma lembrança distante de uma vida que nunca fora minha. O cheiro doce das panquecas preenchia o ar, misturando-se ao som reconfortante do crepitar da lareira. Meus dedos mexiam a massa na tigela, enquanto minha mente vagava, perdida em um raro momento de tranquilidade.Passei a manhã mergulhando no lago, deixando a água fria lavar meus pensamentos e aliviar a tensão constante nos meus ombros. Depois, me enterrei debaixo de uma pilha de cobertores, assistindo a todos os filmes clichês de comédia romântica que encontrei na coleção antiga de Vittorio. Era quase cômico imaginar aquele homem sério e intimidador guardando algo tão trivial.Mas, mesmo em meio à calmaria, pensamentos intrusivos voltavam para ele. Vittorio. Para o beij
MIAO ar parecia mais espesso agora, mais difícil de respirar. Meus olhos estavam fixos na sombra que se movia no corredor, uma forma indistinta, mas que eu sabia ser real. Cada batimento do meu coração parecia mais ensurdecedor que o anterior, enquanto minha mente tentava processar o que estava acontecendo.Eu não conseguia entender como alguém tinha entrado no chalé. As portas estavam trancadas, as janelas também. Mas ali estava ele, ou o que quer que fosse, se movendo silenciosamente, como se tivesse todo o tempo do mundo.Eu apertei o atiçador, sentindo o peso da incerteza me esmagar. A lâmina de metal não parecia ser o suficiente. O som da respiração, baixa e profunda, ainda pairava no ar, misturando-se com os sons de minha própria respira&cced
VITTORIOComo capo da Cosa Nostra, minha tarefa era simples: cobrar dívidas de drogas, viciados em jogos e prostitutas. E hoje, eu estava no meu escritório, aguardando que meus homens trouxessem mais um desses fracassados: Charles Foster, o tipo de pessoa que me enojava. Viciado em jogos, sem um pingo de autocontrole. E, claro, devia uma boa quantia para a Cosa Nostra.Na Família, eu era conhecido como o Diabo. Minha regra era clara: ninguém deixava de pagar os italianos. E ninguém ousava desafiar essa regra.Eu não permitia que dívidas ficassem pendentes no meu território. Por isso, sempre fazia questão de resolver isso pessoalmente. Eu me encontrava com os devedores no meu escritório, um lugar aconchegante e bem iluminado, localizado no andar de cima de um prédio que abrigava nossos jogos ilegais. A polícia? Eles sabiam, mas fingiam que não viam. Ainda assim, eu sabia que havia muitos esperando minha queda. Um erro, um deslize, e minha cabeça estaria na mira.Verifiquei o relógio Bu