VITTORIO
Assim que chegamos ao hotel, comecei a tirar a gravata incômoda que parecia sufocar não só meu pescoço, mas também minha sanidade. Eu precisava de um banho, não apenas para aliviar o cansaço, mas para me esconder de Mia.
Beijá-la havia sido a maior tolice da minha vida. Eu queria testá-la, provocá-la, observar sua reação. No entanto, seria uma mentira descarada dizer que aquele beijo foi só por isso.
Eu sabia exatamente o porquê. Aquela criatura irritante, cheia de desafios, me atraía de uma forma perigosa. E tê-la debaixo do meu teto era um teste constante à minha força de vontade. O momento em que a desejei está gravado na minha memória: foi naquela festa maldita, quando seus lábios de
MIAO aroma quente e reconfortante de croissants recém-assados invadiu o quarto, despertando-me com uma doçura inesperada. Abri os olhos lentamente, tentando me situar. A cama estava desfeita ao meu lado, sinal de que Vittorio já havia se levantado. A luz matinal filtrava-se pela porta aberta que levava ao terraço, deixando a brisa fresca dançar pelas cortinas.Espreguicei-me preguiçosamente, o calor das lembranças da noite anterior pesando sobre mim. Eu tinha dormido nos braços de Vittorio, um ato tão impulsivo quanto contraditório. Levantei, escovei os dentes, sentindo o frescor da menta, e me aproximei da pequena mesa onde o café da manhã me aguardava.Enquanto pegava um croissant e observava a cama bagunçada, as memórias me atingiram como um turbilhão. Dormir abraçada com ele... Onde eu estava com a cabeça? Vittorio Moretti era tudo o que eu deveria temer e evitar. Um homem perigoso, impiedoso e, ainda assim, capaz de me fazer sentir algo que eu não experimentava há muito tempo: s
VITTORIOA água morna da jacuzzi rodeava o corpo dela, fazendo o tecido fino da camisola aderir ainda mais à pele delicada. O olhar desafiador que Mia lançou para mim era uma arma afiada, mas eu sabia que por trás daquela máscara de coragem havia algo mais: um desejo tão perigoso quanto o meu.Ela queria me confrontar, mas não tinha ideia de como isso era arriscado.Aproximei-me devagar, deixando o silêncio pesado preencher o espaço entre nós. Cada movimento meu fazia a água ondular suavemente, aproximando nossos corpos mais do que Mia parecia confortável em admitir. Seus olhos estavam fixos em mim, um misto de apreensão e teimosia.— Então você não tem medo? — perguntei, a voz baixa e carregada de provocação.— Já disse que não — ela respondeu, erguendo o queixo em um gesto que só aumentava meu desejo de quebrar sua fachada.Inclinei-me um pouco mais, meu rosto a poucos centímetros do dela, o calor de nossas respirações se misturando. Ela permaneceu imóvel, mas seus olhos me desafiav
Eu me sentia uma completa idiota.Permitir que Vittorio me beijasse foi a decisão mais estúpida que já tomei. Mais estúpido ainda foi sentir tanto por um simples beijo, por gostar das suas mãos me tocando como se tivessem o direito de me reivindicar.O toque dele me desconcertou; o beijo, me fez respirar de um jeito que não acontecia há anos. Era como se, por um instante, eu tivesse me libertado de algo invisível que me aprisionava. Aquela sensação foi assustadora — e, ao mesmo tempo, irritante.O pior foi a frustração. Vittorio parecia enxergar através de mim, como se pudesse penetrar todas as camadas que eu me esforçava tanto para esconder. Ele via o que nem eu conseguia enfrentar. E então veio o silêncio desconfortável, o afastamento. Minha fuga da jacuzzi o tinha deixado irritado, mas isso não diminuía minha vergonha.Suspirei fundo e me forcei a terminar de me arrumar. O vestido que Breno providenciara era longo, mas o decote profundo nas costas descia até quase a curva da minha
MIASe o iate era imponente do lado de fora, por dentro era ainda mais deslumbrante. Quadros de arte me saudavam enquanto eu caminhava por um corredor luxuoso, cada detalhe refletindo riqueza e ostentação. Vittorio não estava comigo. Ele estava em uma mesa de pôquer, jogando uma partida que eu deveria estar lá para apoiá-lo, como qualquer amante faria. Contudo, a única coisa que ocupava minha mente era meu pai, o peso do seu vício em apostas. Lembrei-me de suas mãos trêmulas, da voz embargada ao confessar que havia perdido tudo, que havia me perdido também. O desespero de encarar sua única filha e entregá-la à própria sorte.Suspirei, perdida nos detalhes de um quadro que retratava um dragão
MIAApós terminar meu trabalho na cabine do banheiro, saí dali. Parei diante do espelho enquanto lavava as mãos e encarei meu reflexo. Meus olhos, grandes e assustados, refletiam a tempestade dentro de mim. O medo era uma presença tangível, pesada. Tudo poderia dar errado, e eu sabia que, se isso acontecesse, sairíamos machucados – ou pior.Respirei fundo, tentando reunir coragem. Passei um batom vermelho vivo nos lábios e forcei um sorriso. Parecia mais confiante, mas por dentro continuava tremendo.Quando voltei ao salão de jogos, Vittorio e Adam conversavam em voz baixa. Era impossível não imaginar que Adam estivesse detalhando algum castigo cruel que planejava para mim. Vittorio, por outro lado, exalava sua habitual calma perigosa.— Finalmente — ele disse, aproximando-se para envolver minha cintura em um abraço possessivo e beijar meus cabelos. — Vamos?Apenas assenti.Caminhamos em silêncio pelos corredores. Adam era o único que falava, tagarelando sobre as obras de arte espalha
MIAAdam arregalou os olhos, claramente confuso, enquanto o cano da arma pressionava firmemente sua testa. Vittorio, implacável, mantinha a postura firme, mas Adam não demonstrava o desespero típico de alguém em perigo iminente.— Lily, segure a arma — Vittorio ordenou, com a voz baixa e gelada. — Vou amarrá-lo.Assenti, pegando a arma com as mãos firmes, e a pressionei contra a testa de Adam, mantendo meu olhar fixo nele.— Nem pense em tentar algo estúpido. Sei atirar muito bem — alertei, permitindo que minha determinação transparecesse na voz.Adam engoliu em seco, mas, em um ato de desafio ou coragem, um sorriso irônico curvou seus lábios.— Eu jamais duvidaria da sua habilidade, minha querida — murmurou, com um tom que parecia desdenhar do perigo. — Mas, afinal, o que querem de mim? Dinheiro?Enquanto Vittorio terminava de amarrar Adam com movimentos ágeis e precisos, sua expressão mudou. O sorriso cínico e o ar despreocupado desapareceram, dando lugar a um olhar mortal, quase pre
MIA— Vamos dar um jeito nessa bagunça — murmurou Vittorio.Ele retirou um lenço do bolso e começou a limpar a arma com precisão quase metódica. Depois, segurou-a pelo lenço e a colocou na mão rígida de Adam. Com o mesmo cuidado, limpou a saliva que escorria pelo queixo do homem e ajeitou sua cabeça para esconder a marca da agulha. Cada movimento era calculado, sem espaço para erros.Então, ele me encarou.— Desamarre-o.Assenti, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Aproximei-me do corpo inerte, enquanto o cheiro metálico de sangue enchia o ar ao meu redor. O aroma era tão forte que parecia grudar na garganta. Meus olhos fixaram-se
MIAAssim que estacionamos o carro, praticamente corremos para dentro do hotel. No quarto, tirei o cabelo loiro falso e comecei a remover a maquiagem. Cada movimento parecia automático, mecânico, como se meu corpo tivesse assumido o controle enquanto minha mente ainda processava os acontecimentos.O coração batia tão forte no peito que tudo ao meu redor parecia abafado. Troquei de roupa sem me importar com a presença de Vittorio, alheia à conversa que ele mantinha ao telefone. Nem percebi que ele estava me chamando até sentir sua mão no meu ombro.— Ei — sua voz era firme, mas havia preocupação nela. — Você está bem?Olhei para ele, assustada, como se tivesse sido arrancada de um transe.