MIASe o iate era imponente do lado de fora, por dentro era ainda mais deslumbrante. Quadros de arte me saudavam enquanto eu caminhava por um corredor luxuoso, cada detalhe refletindo riqueza e ostentação. Vittorio não estava comigo. Ele estava em uma mesa de pôquer, jogando uma partida que eu deveria estar lá para apoiá-lo, como qualquer amante faria. Contudo, a única coisa que ocupava minha mente era meu pai, o peso do seu vício em apostas. Lembrei-me de suas mãos trêmulas, da voz embargada ao confessar que havia perdido tudo, que havia me perdido também. O desespero de encarar sua única filha e entregá-la à própria sorte.Suspirei, perdida nos detalhes de um quadro que retratava um dragão
MIAApós terminar meu trabalho na cabine do banheiro, saí dali. Parei diante do espelho enquanto lavava as mãos e encarei meu reflexo. Meus olhos, grandes e assustados, refletiam a tempestade dentro de mim. O medo era uma presença tangível, pesada. Tudo poderia dar errado, e eu sabia que, se isso acontecesse, sairíamos machucados – ou pior.Respirei fundo, tentando reunir coragem. Passei um batom vermelho vivo nos lábios e forcei um sorriso. Parecia mais confiante, mas por dentro continuava tremendo.Quando voltei ao salão de jogos, Vittorio e Adam conversavam em voz baixa. Era impossível não imaginar que Adam estivesse detalhando algum castigo cruel que planejava para mim. Vittorio, por outro lado, exalava sua habitual calma perigosa.— Finalmente — ele disse, aproximando-se para envolver minha cintura em um abraço possessivo e beijar meus cabelos. — Vamos?Apenas assenti.Caminhamos em silêncio pelos corredores. Adam era o único que falava, tagarelando sobre as obras de arte espalha
MIAAdam arregalou os olhos, claramente confuso, enquanto o cano da arma pressionava firmemente sua testa. Vittorio, implacável, mantinha a postura firme, mas Adam não demonstrava o desespero típico de alguém em perigo iminente.— Lily, segure a arma — Vittorio ordenou, com a voz baixa e gelada. — Vou amarrá-lo.Assenti, pegando a arma com as mãos firmes, e a pressionei contra a testa de Adam, mantendo meu olhar fixo nele.— Nem pense em tentar algo estúpido. Sei atirar muito bem — alertei, permitindo que minha determinação transparecesse na voz.Adam engoliu em seco, mas, em um ato de desafio ou coragem, um sorriso irônico curvou seus lábios.— Eu jamais duvidaria da sua habilidade, minha querida — murmurou, com um tom que parecia desdenhar do perigo. — Mas, afinal, o que querem de mim? Dinheiro?Enquanto Vittorio terminava de amarrar Adam com movimentos ágeis e precisos, sua expressão mudou. O sorriso cínico e o ar despreocupado desapareceram, dando lugar a um olhar mortal, quase pre
MIA— Vamos dar um jeito nessa bagunça — murmurou Vittorio.Ele retirou um lenço do bolso e começou a limpar a arma com precisão quase metódica. Depois, segurou-a pelo lenço e a colocou na mão rígida de Adam. Com o mesmo cuidado, limpou a saliva que escorria pelo queixo do homem e ajeitou sua cabeça para esconder a marca da agulha. Cada movimento era calculado, sem espaço para erros.Então, ele me encarou.— Desamarre-o.Assenti, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Aproximei-me do corpo inerte, enquanto o cheiro metálico de sangue enchia o ar ao meu redor. O aroma era tão forte que parecia grudar na garganta. Meus olhos fixaram-se
MIAAssim que estacionamos o carro, praticamente corremos para dentro do hotel. No quarto, tirei o cabelo loiro falso e comecei a remover a maquiagem. Cada movimento parecia automático, mecânico, como se meu corpo tivesse assumido o controle enquanto minha mente ainda processava os acontecimentos.O coração batia tão forte no peito que tudo ao meu redor parecia abafado. Troquei de roupa sem me importar com a presença de Vittorio, alheia à conversa que ele mantinha ao telefone. Nem percebi que ele estava me chamando até sentir sua mão no meu ombro.— Ei — sua voz era firme, mas havia preocupação nela. — Você está bem?Olhei para ele, assustada, como se tivesse sido arrancada de um transe.
MIAA viagem inteira foi um borrão. A paisagem rural do sul da França desenrolava-se como uma pintura impressionista encoberta pelo véu da noite. O silêncio entre mim e Vittorio era denso, quase opressor. Fingi dormir, mas minha mente era um caos, revisitando os eventos das últimas horas.O medo ainda queimava sob minha pele, à medida que o carro avançava em curvas sinuosas. A cada instante, esperava que os homens de Adam surgissem no retrovisor. Mas havia algo mais profundo e inquietante corroendo meus pensamentos: a revelação de que minha mãe poderia ter sido parte da máfia.A ideia era como um peso impossível de suportar. Confusa demais para ser digerida, ali, na madrugada, presa em um carro no meio do nada. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim ecoava com essa possibilidade, como se, de alguma forma, aquilo fizesse sentido. Talvez explicasse o fascínio, quase prazeroso, que eu sentia por Vittorio.Éramos iguais.O mesmo sangue. A mesma escuridão.Soltei um suspiro que desapareceu no si
MIAO espaço entre nós parecia eletrificado, como se cada respiração minha alimentasse a tensão que pairava no ar. Vittorio me olhava como se estivesse prestes a atravessar uma linha invisível, algo que ele evitava a todo custo, mas que, agora, parecia impossível de ignorar.Meu coração batia tão alto que abafava o som da chuva que martelava o telhado. A luz suave da lâmpada iluminava os traços dele — a sombra da mandíbula trincada, a intensidade dos olhos que não desviavam dos meus.Eu sabia o que estava por vir.E, pela primeira vez, não quis evitar.Quando ele se inclinou, cada centímetro de distância entre nós desaparecendo, senti o calor que emanava de sua pele. Sua mão deslizou do meu braço para minha cintura, como se precisasse se assegurar de que eu estava ali, presente e real.Então seus lábios tocaram os meus, suaves no início, como uma pergunta. Mas quando eu correspondi, tudo se intensificou. O beijo era uma tempestade à parte — feroz, confuso, repleto de emoções que nenhu
MIAA tensão no ar era palpável, como se o universo inteiro prendesse a respiração enquanto Vittorio e eu nos rendíamos à atração avassaladora que nos consumia. Seus lábios estavam quentes e famintos contra os meus, uma mistura de desejo e urgência que fazia meu corpo inteiro estremecer.Ele segurou meu rosto com ambas as mãos, os dedos firmes, mas incrivelmente ternos, traçando a linha do meu maxilar até alcançar meu pescoço. Cada toque incendiava minha pele, enquanto meu coração disparava em um ritmo frenético, como se quisesse escapar do peito.Quando suas mãos desceram para minha cintura, me puxando ainda mais para ele, senti o calor de seu corpo contra o meu — a força bruta e a vulnerabilid