VITTORIOA água morna da jacuzzi rodeava o corpo dela, fazendo o tecido fino da camisola aderir ainda mais à pele delicada. O olhar desafiador que Mia lançou para mim era uma arma afiada, mas eu sabia que por trás daquela máscara de coragem havia algo mais: um desejo tão perigoso quanto o meu.Ela queria me confrontar, mas não tinha ideia de como isso era arriscado.Aproximei-me devagar, deixando o silêncio pesado preencher o espaço entre nós. Cada movimento meu fazia a água ondular suavemente, aproximando nossos corpos mais do que Mia parecia confortável em admitir. Seus olhos estavam fixos em mim, um misto de apreensão e teimosia.— Então você não tem medo? — perguntei, a voz baixa e carregada de provocação.— Já disse que não — ela respondeu, erguendo o queixo em um gesto que só aumentava meu desejo de quebrar sua fachada.Inclinei-me um pouco mais, meu rosto a poucos centímetros do dela, o calor de nossas respirações se misturando. Ela permaneceu imóvel, mas seus olhos me desafiav
Eu me sentia uma completa idiota.Permitir que Vittorio me beijasse foi a decisão mais estúpida que já tomei. Mais estúpido ainda foi sentir tanto por um simples beijo, por gostar das suas mãos me tocando como se tivessem o direito de me reivindicar.O toque dele me desconcertou; o beijo, me fez respirar de um jeito que não acontecia há anos. Era como se, por um instante, eu tivesse me libertado de algo invisível que me aprisionava. Aquela sensação foi assustadora — e, ao mesmo tempo, irritante.O pior foi a frustração. Vittorio parecia enxergar através de mim, como se pudesse penetrar todas as camadas que eu me esforçava tanto para esconder. Ele via o que nem eu conseguia enfrentar. E então veio o silêncio desconfortável, o afastamento. Minha fuga da jacuzzi o tinha deixado irritado, mas isso não diminuía minha vergonha.Suspirei fundo e me forcei a terminar de me arrumar. O vestido que Breno providenciara era longo, mas o decote profundo nas costas descia até quase a curva da minha
MIASe o iate era imponente do lado de fora, por dentro era ainda mais deslumbrante. Quadros de arte me saudavam enquanto eu caminhava por um corredor luxuoso, cada detalhe refletindo riqueza e ostentação. Vittorio não estava comigo. Ele estava em uma mesa de pôquer, jogando uma partida que eu deveria estar lá para apoiá-lo, como qualquer amante faria. Contudo, a única coisa que ocupava minha mente era meu pai, o peso do seu vício em apostas. Lembrei-me de suas mãos trêmulas, da voz embargada ao confessar que havia perdido tudo, que havia me perdido também. O desespero de encarar sua única filha e entregá-la à própria sorte.Suspirei, perdida nos detalhes de um quadro que retratava um dragão
MIAApós terminar meu trabalho na cabine do banheiro, saí dali. Parei diante do espelho enquanto lavava as mãos e encarei meu reflexo. Meus olhos, grandes e assustados, refletiam a tempestade dentro de mim. O medo era uma presença tangível, pesada. Tudo poderia dar errado, e eu sabia que, se isso acontecesse, sairíamos machucados – ou pior.Respirei fundo, tentando reunir coragem. Passei um batom vermelho vivo nos lábios e forcei um sorriso. Parecia mais confiante, mas por dentro continuava tremendo.Quando voltei ao salão de jogos, Vittorio e Adam conversavam em voz baixa. Era impossível não imaginar que Adam estivesse detalhando algum castigo cruel que planejava para mim. Vittorio, por outro lado, exalava sua habitual calma perigosa.— Finalmente — ele disse, aproximando-se para envolver minha cintura em um abraço possessivo e beijar meus cabelos. — Vamos?Apenas assenti.Caminhamos em silêncio pelos corredores. Adam era o único que falava, tagarelando sobre as obras de arte espalha
VITTORIOComo capo da Cosa Nostra, minha tarefa era simples: cobrar dívidas de drogas, viciados em jogos e prostitutas. E hoje, eu estava no meu escritório, aguardando que meus homens trouxessem mais um desses fracassados: Charles Foster, o tipo de pessoa que me enojava. Viciado em jogos, sem um pingo de autocontrole. E, claro, devia uma boa quantia para a Cosa Nostra.Na Família, eu era conhecido como o Diabo. Minha regra era clara: ninguém deixava de pagar os italianos. E ninguém ousava desafiar essa regra.Eu não permitia que dívidas ficassem pendentes no meu território. Por isso, sempre fazia questão de resolver isso pessoalmente. Eu me encontrava com os devedores no meu escritório, um lugar aconchegante e bem iluminado, localizado no andar de cima de um prédio que abrigava nossos jogos ilegais. A polícia? Eles sabiam, mas fingiam que não viam. Ainda assim, eu sabia que havia muitos esperando minha queda. Um erro, um deslize, e minha cabeça estaria na mira.Verifiquei o relógio Bu
VITTORIO— Por que a trouxeram? — perguntei, a voz gelada e implacável, interrompendo qualquer provocação que Mia pudesse estar prestes a soltar. Nos seus olhos perturbadores, um brilho de raiva faiscou, refletindo a tensão que pairava no ar.— Vim para convencê-lo a esquecer a dívida do meu pai. Ele é...— Deixei bem claro que era para trazerem apenas o Charles — interrompi, sem a mínima paciência. Vi suas mãos se fecharem em punhos, o rosto tenso, transbordando frustração.Benício coçou a testa, visivelmente desconfortável.— Compreendo, Vittorio, mas ela foi insistente.Neguei com a cabeça, impaciente.— Matasse ambos e o problema estaria resolvido. Vocês sabem que tenho assuntos mais importantes para tratar do que perder tempo com um viciado e sua filhinha.Aquilo foi a gota d'água para Mia.— Olha só, seu canalha! — ela disparou. Me virei lentamente para encará-la. Seu rosto, antes aparentemente calmo, agora estava vermelho de pura irritação. — Você tem assuntos mais importantes
VITTORIODe repente, o medo que preenchia o olhar de Mia desapareceu. Ela mordeu o canto do polegar, pensativa, e um brilho de astúcia surgiu em seus olhos.— Você não vai querer sujar suas mãos nos matando — ela disse, fazendo-me erguer as sobrancelhas.— Ah, não? — provoquei, curioso.— Claro que não. Devemos parecer como ratos para você, tenho certeza de que não vai querer se sujar com o nosso sangue — respondeu, com uma sagacidade inesperada.Um sorriso de desdém se formou nos meus lábios.— De fato, vocês são piores do que ratos. São vermes. Mas não se preocupe, querida, não serão minhas mãos que se mancharão. Meus homens cuidarão disso — falei, acenando para Benício, Giuseppe e outros dos meus soldados.Mia levantou-se, olhando para os homens que se aproximavam, prontos para arrastá-los para fora do meu escritório, como se fossem uma praga.— Você é um homem muito rico. Dez mil dólares devem ser como troco de bala para você — disse ela, com a voz trêmula de nervosismo. — Não pod
MIADe todas as coisas que idealizei para a minha vida, ser jogada em um clube para me prostituir estava em último lugar na lista. Ouso dizer que sequer estava na lista. Limpar cocô de pombo estaria acima disso.— O que vai acontecer comigo? — perguntei a Vittorio, o demônio que apareceu na minha vida e a destruiu por completo. — Vou morar nesse cassino?Vittorio negou com a cabeça, enquanto assinava alguns papéis de uma pasta azul.— De forma alguma — ele disse. — Você não teria serventia em um cassino, mas com uma saia de couro e um top brilhante, conseguiria muito dinheiro.Estremeci só de me imaginar com aquelas roupas.— Como quiser — murmurei. Olhei para o homem cujo rosto eu havia arranhado e franzi a testa para ele. — Algum problema?Um sorriso sinistro surgiu em seu rosto.— Nenhum — ele respondeu.Vittorio guardou os papeis na pasta e a deixou em cima da mesa. Seus olhos passaram por mim e ele soltou um suspiro.— Bom, meu trabalho aqui terminou. Preciso me encontrar com Mau