MIA
Observei o local com atenção, mas não encontrei nenhum lugar adequado para me esconder. Se me encolhesse atrás do sofá, ainda me veriam. Olhei para a mesa. Esconder-me ali era arriscado, um verdadeiro tiro no escuro, mas não havia outra opção. Corri até a mesa e me encolhi debaixo dela, no instante em que a porta se abriu.
— Você é bem pontual, Breno — a voz de Vittorio foi a primeira que ouvi. — É sempre bom fazer negócios com você.
Esforcei-me para que minha respiração fosse quase inaudível.
— Eu sei — o outro homem, Breno, respondeu. — Ainda não entendi por que preferiu que eu lhe entregasse os papéis pessoa
VITTORIOAssim que entrei no meu escritório, algo parecia errado. Não podia demonstrar minhas preocupações na frente de Breno, então mantive a expressão neutra. Quando me aproximei da mesa para beber um gole de uísque, um aroma familiar me atingiu.O cheiro que me atormentou após a inauguração da boate da Cosa Nostra. A fragrância que se gravou em minha pele no instante em que ela roçou os lábios no meu pescoço.Era o perfume de jasmim de Mia.Por um segundo, imaginei que fosse minha mente, mais uma vez, evocando o cheiro dela só para me perturbar. Mas, como um mafioso experiente, sabia que jamais deveria ignorar meus instintos aguçados. VITTORIODiante das minhas palavras, Mia franziu o cenho e esboçou um sorriso irônico, o tipo de sorriso que dizia: você não me intimida.— Não tenho medo de você — ela disse, com uma firmeza que tentava mascarar o brilho hesitante em seus olhos.Cruzei os braços e ergui as sobrancelhas, desafiando sua coragem.— Não acredita mesmo no que está dizendo, não é? Agora, quer me explicar por que diabos decidiu me morder? — perguntei, minha voz carregada de sarcasmo.Para minha surpresa, ela riu, um riso que soava mais provocação do que leveza.— Você me chutou. Eu só reagi — ela rebateu, revirando os olhos com desdém.Neguei com a cabeça, mordendo o interior da bochecha para conter a irritação.— Eu não te chutei. Só te cutuquei. Bem de leve, aliás.Mia arqueou as sobrancelhas com teatralidade, o tom afiado como uma navalha:— Isso é uma questão de perspectiva.Minha paciência começava a se desgastar. Que raio de problema arrumei ao trazer essa garota para minha casa? Respirei fundo, tentan43: Espelhos de Ferro
VITTORIOMia arregalou os olhos, sua expressão era um misto de incredulidade e indignação. Ela balançou a cabeça com veemência antes de finalmente encontrar a voz.— Não, não poderia — respondeu, talvez rápido demais.Levantei as sobrancelhas, surpreso com a intensidade de sua reação, e sorri, um sorriso cínico e provocador.— E por que não? — perguntei, inclinando a cabeça de lado. — Sou um homem e você uma mulher que, de boca fechada, fica até atraente. Não vejo problemas.O rubor subiu às suas bochechas, uma mistura de raiva e constrangimento. Mia engoliu em seco, seus olhos se estreitaram, mas sua postura firme vacilou quando dei um passo à frente. O espaço entre nós diminuiu, e seu perfume — algo sutil, floral e perturbadoramente viciante — atingiu meus sentidos. Aquilo bagunçava meus pensamentos, tornava difícil manter o controle que tanto prezo.— Posso listar um monte de problemas — ela murmurou, a voz baixa, mas firme.Inclinei-me levemente, desafiando-a.— Eu não acredito em
MIAPassei o resto do dia trancada naquele quarto, mas não porque era obrigada. O verdadeiro cárcere estava dentro de mim. Eu tinha medo de encontrar Vittorio... e, pior ainda, medo de mim mesma.Eu odiava aquele homem. Odiava sua presença imponente, suas palavras afiadas e a forma como parecia enxergar através de mim. Mas, ainda assim, em um momento fugaz no escritório, desejei que ele me beijasse. Desejei que Vittorio me desse o primeiro beijo que eu sempre temi.Minha adolescência fora roubada. Meu tio havia transformado minha existência em uma constante fuga, e qualquer indício de proximidade física me paralisava. Beijo, namoro, intimidade... eram palavras que provocavam pânico. Eu me esquivara de tudo isso, mas ali, sob o peso do olhar de Vittorio, algo despertou. Era como se ele tivesse desafiado o muro que eu passara anos construindo.Isso me aterrorizava mais do que ele próprio.Os corredores estavam silenciosos e envoltos em sombras, mas dessa vez, as portas não estavam tranc
MIAA confissão pairava entre nós como um fantasma, densa e inescapável. Eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas minha garganta estava seca, as palavras presas no labirinto de emoções que me consumia.Vittorio permaneceu imóvel, sua silhueta destacando-se contra o brilho suave da lua. Seus olhos, normalmente cheios de arrogância, agora estavam vazios, como se ele tivesse tirado uma máscara e me mostrado uma parte de si que ninguém mais havia visto.Ele não era o monstro que gostava de exibir. Era um homem quebrado, um sobrevivente das próprias batalhas.A noite ao nosso redor parecia mais fria. O perfume das rosas, que antes me trazia consolo, agora me enjoava. Tudo naquele jardim parecia errado, como se o peso da v
MIAAcordei com um cutucão na costela. Abri os olhos, irritada, e vi uma cena bizarra. Em pé, segurando uma vassoura como se fosse uma lança, estava Vittorio. Seus cabelos castanhos estavam impecavelmente penteados, e ele vestia roupas pretas de malha, uma escolha curiosa em contraste com seus habituais ternos elegantes.— O que você está fazendo com isso? — resmunguei, ainda confusa.Vittorio deu de ombros, o olhar cínico transmitindo a resposta antes mesmo de ele abrir a boca:— Não queria arriscar ser mordido de novo.Uma risada escapou dos meus lábios, surpreendendo até a mim mesma.— Eu não mordo porcarias
MIAVittorio entrou em uma porta que, à primeira vista, parecia levar a um quarto comum, mas revelou uma escadaria que descia para os confins da casa. À medida que caminhamos degrau por degrau, as luzes acendiam automaticamente, iluminando nosso caminho.— Você deve ser podre de rico mesmo — murmurei, quebrando o silêncio.Ele apenas deu de ombros.— Por aí.Seguimos em silêncio até chegarmos ao fim da escadaria. Vittorio bateu palmas, e um enorme salão foi iluminado, revelando um espaço que tirou meu fôlego.O chão era forrado com um material branco acolchoado. As paredes de metal brilhavam sob a luz, repletas d
MIANão era nem meio-dia, e eu já estava esgotada. Meu corpo inteiro doía, como se tivesse sido atropelada por um caminhão emocional chamado Vittorio.— Você é muito fraquinha — provocou ele, estendendo a mão para mim. Sua expressão carregava aquele sorriso irônico que me fazia querer socar sua cara.Caída no colchão, respirei fundo, tentando ignorar a humilhação que se acumulava dentro de mim. Eu era péssima em combate corpo a corpo, e Vittorio parecia determinado a esfregar isso na minha cara.— Você treinou a vida toda Krav Magá — rebati, levantando-me sem aceitar sua ajuda. — Estou nisso há o quê? Duas horas?