MIAPassei o resto do dia trancada naquele quarto, mas não porque era obrigada. O verdadeiro cárcere estava dentro de mim. Eu tinha medo de encontrar Vittorio... e, pior ainda, medo de mim mesma.Eu odiava aquele homem. Odiava sua presença imponente, suas palavras afiadas e a forma como parecia enxergar através de mim. Mas, ainda assim, em um momento fugaz no escritório, desejei que ele me beijasse. Desejei que Vittorio me desse o primeiro beijo que eu sempre temi.Minha adolescência fora roubada. Meu tio havia transformado minha existência em uma constante fuga, e qualquer indício de proximidade física me paralisava. Beijo, namoro, intimidade... eram palavras que provocavam pânico. Eu me esquivara de tudo isso, mas ali, sob o peso do olhar de Vittorio, algo despertou. Era como se ele tivesse desafiado o muro que eu passara anos construindo.Isso me aterrorizava mais do que ele próprio.Os corredores estavam silenciosos e envoltos em sombras, mas dessa vez, as portas não estavam tranc
MIAA confissão pairava entre nós como um fantasma, densa e inescapável. Eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas minha garganta estava seca, as palavras presas no labirinto de emoções que me consumia.Vittorio permaneceu imóvel, sua silhueta destacando-se contra o brilho suave da lua. Seus olhos, normalmente cheios de arrogância, agora estavam vazios, como se ele tivesse tirado uma máscara e me mostrado uma parte de si que ninguém mais havia visto.Ele não era o monstro que gostava de exibir. Era um homem quebrado, um sobrevivente das próprias batalhas.A noite ao nosso redor parecia mais fria. O perfume das rosas, que antes me trazia consolo, agora me enjoava. Tudo naquele jardim parecia errado, como se o peso da v
MIAAcordei com um cutucão na costela. Abri os olhos, irritada, e vi uma cena bizarra. Em pé, segurando uma vassoura como se fosse uma lança, estava Vittorio. Seus cabelos castanhos estavam impecavelmente penteados, e ele vestia roupas pretas de malha, uma escolha curiosa em contraste com seus habituais ternos elegantes.— O que você está fazendo com isso? — resmunguei, ainda confusa.Vittorio deu de ombros, o olhar cínico transmitindo a resposta antes mesmo de ele abrir a boca:— Não queria arriscar ser mordido de novo.Uma risada escapou dos meus lábios, surpreendendo até a mim mesma.— Eu não mordo porcarias
MIAVittorio entrou em uma porta que, à primeira vista, parecia levar a um quarto comum, mas revelou uma escadaria que descia para os confins da casa. À medida que caminhamos degrau por degrau, as luzes acendiam automaticamente, iluminando nosso caminho.— Você deve ser podre de rico mesmo — murmurei, quebrando o silêncio.Ele apenas deu de ombros.— Por aí.Seguimos em silêncio até chegarmos ao fim da escadaria. Vittorio bateu palmas, e um enorme salão foi iluminado, revelando um espaço que tirou meu fôlego.O chão era forrado com um material branco acolchoado. As paredes de metal brilhavam sob a luz, repletas d
MIANão era nem meio-dia, e eu já estava esgotada. Meu corpo inteiro doía, como se tivesse sido atropelada por um caminhão emocional chamado Vittorio.— Você é muito fraquinha — provocou ele, estendendo a mão para mim. Sua expressão carregava aquele sorriso irônico que me fazia querer socar sua cara.Caída no colchão, respirei fundo, tentando ignorar a humilhação que se acumulava dentro de mim. Eu era péssima em combate corpo a corpo, e Vittorio parecia determinado a esfregar isso na minha cara.— Você treinou a vida toda Krav Magá — rebati, levantando-me sem aceitar sua ajuda. — Estou nisso há o quê? Duas horas?
MIAO silêncio após a saída de Vittorio era ensurdecedor, preenchido apenas pelo eco distante dos passos de Breno e Giuseppe subindo as escadas. Meu coração ainda batia forte, não só pela luta recente, mas pela intensidade com que Vittorio me olhara antes de partir, deixando-me com mais perguntas do que respostas.Eu deveria simplesmente ficar onde ele mandou, como uma prisioneira obediente? A resposta parecia óbvia. Não.A curiosidade fervilhava, superando qualquer vestígio de bom senso. Havia algo na tensão entre eles que ia além de uma discussão sobre negócios. Aquilo tinha a ver comigo. Eu podia sentir. O desprezo no olhar de Breno e o tom calculado de Giuseppe não deixavam dúvidas: eu era mais do que um inconveniente tempor
MIAEu sabia que, se eu desistisse, Vittorio não recuaria. E se algo acontecesse com ele — seja pelo traidor ou pelo próprio Don Mauricio — a culpa seria minha. Respirei fundo e endireitei os ombros.— Eu vou — declarei, firme.Vittorio arqueou uma sobrancelha, surpreso, mas sua expressão logo se transformou em algo indiscernível, perigoso.— Por quê?— O alvo pode machucar você, e isso o torna uma ameaça para mim — respondi sem hesitar.Ele assentiu lentamente, um brilho intrigante surgindo em seus olhos. Vittorio caminhou até mim com passos deliberados, cada movimento carregado de uma energia
VITTORIOEu deveria ter previsto isso.Don Mauricio não é o tipo de homem que deixa detalhes escaparem, principalmente quando se trata de algo tão arriscado quanto levar Mia para Paris. Mas minha distração com ela nublou meu julgamento, e agora eu estava prestes a pagar o preço.A mensagem de seu sottocapo foi curta e direta: "Ele quer vê-lo agora." O tom nas entrelinhas era claro.Ao atravessar o longo corredor que levava ao escritório de Don Mauricio, senti o peso do que estava por vir. As paredes de madeira escura absorviam a pouca luz que vinha das lâmpadas penduradas em correntes, criando uma atmosfera