MIA
Não era nem meio-dia, e eu já estava esgotada. Meu corpo inteiro doía, como se tivesse sido atropelada por um caminhão emocional chamado Vittorio.
— Você é muito fraquinha — provocou ele, estendendo a mão para mim. Sua expressão carregava aquele sorriso irônico que me fazia querer socar sua cara.
Caída no colchão, respirei fundo, tentando ignorar a humilhação que se acumulava dentro de mim. Eu era péssima em combate corpo a corpo, e Vittorio parecia determinado a esfregar isso na minha cara.
— Você treinou a vida toda Krav Magá — rebati, levantando-me sem aceitar sua ajuda. — Estou nisso há o quê? Duas horas?
MIAO silêncio após a saída de Vittorio era ensurdecedor, preenchido apenas pelo eco distante dos passos de Breno e Giuseppe subindo as escadas. Meu coração ainda batia forte, não só pela luta recente, mas pela intensidade com que Vittorio me olhara antes de partir, deixando-me com mais perguntas do que respostas.Eu deveria simplesmente ficar onde ele mandou, como uma prisioneira obediente? A resposta parecia óbvia. Não.A curiosidade fervilhava, superando qualquer vestígio de bom senso. Havia algo na tensão entre eles que ia além de uma discussão sobre negócios. Aquilo tinha a ver comigo. Eu podia sentir. O desprezo no olhar de Breno e o tom calculado de Giuseppe não deixavam dúvidas: eu era mais do que um inconveniente tempor
MIAEu sabia que, se eu desistisse, Vittorio não recuaria. E se algo acontecesse com ele — seja pelo traidor ou pelo próprio Don Mauricio — a culpa seria minha. Respirei fundo e endireitei os ombros.— Eu vou — declarei, firme.Vittorio arqueou uma sobrancelha, surpreso, mas sua expressão logo se transformou em algo indiscernível, perigoso.— Por quê?— O alvo pode machucar você, e isso o torna uma ameaça para mim — respondi sem hesitar.Ele assentiu lentamente, um brilho intrigante surgindo em seus olhos. Vittorio caminhou até mim com passos deliberados, cada movimento carregado de uma energia
VITTORIOEu deveria ter previsto isso.Don Mauricio não é o tipo de homem que deixa detalhes escaparem, principalmente quando se trata de algo tão arriscado quanto levar Mia para Paris. Mas minha distração com ela nublou meu julgamento, e agora eu estava prestes a pagar o preço.A mensagem de seu sottocapo foi curta e direta: "Ele quer vê-lo agora." O tom nas entrelinhas era claro.Ao atravessar o longo corredor que levava ao escritório de Don Mauricio, senti o peso do que estava por vir. As paredes de madeira escura absorviam a pouca luz que vinha das lâmpadas penduradas em correntes, criando uma atmosfera
MIADepois que nos beijamos e Vittorio saiu do escritório, me refugiei no meu quarto. Meu coração ainda batia acelerado, e o peso do que havia acontecido parecia esmagar meus pensamentos. Aquele beijo... Eu sabia que, para ele, não passava de um teste para avaliar minha capacidade de interpretar o papel de sua amante. Mas para mim?O que senti foi genuíno.Balancei a cabeça, tentando afastar o turbilhão de emoções. Entender o que aquele momento significava só tornaria tudo mais complicado. O melhor era deixar as coisas como estavam e focar no papel que me cabia na missão. Eu jamais me permitiria sucumbir romanticamente a Vittorio. Ele era o homem que destruíra minha paz, que me jogara num bordel e que mantinha meu pai
MIAO restante do jantar transcorreu com a precisão de uma dança meticulosamente ensaiada. Cada movimento parecia parte de uma coreografia, e Vittorio era o maestro, conduzindo tudo com uma calma inquietante. Sentado ao meu lado, ele explicava cada detalhe da etiqueta com a seriedade de quem planejasse uma missão. Seus olhos não se desviavam, observando-me como se cada ação minha fosse parte de uma avaliação. Eu sabia que falhar não era uma opção.Ele começou com os talheres. Com um gesto deliberado, apontou para cada peça da mesa, sua explicação carregada de uma frieza quase cirúrgica.— Este é o garfo de peixe, e este, o de sobremesa — disse ele, sua voz baixa, porém firme.A tensão em meu corpo era palpável. Eu não podia me dar ao luxo de errar. Cada garfada, cada gesto deveria ser preciso. Eles não podiam perceber que eu não pertencia àquele mundo de riqueza e sofisticação.— Certo — murmurei, estudando os talheres com atenção.— Não se apresse — advertiu ele. — Cada movimento dev
MIAAcordei com batidas firmes na porta do quarto. O sol ainda mal tocava o horizonte, e a voz de Vittorio soou como gelo atravessando a madeira:— Levante-se. Temos trabalho a fazer.Vesti-me rapidamente, escolhendo algo prático, mas elegante o suficiente para sustentar a fachada de "Lily Miller". Quando desci, ele já estava na sala de estar, impecável e com um olhar que parecia me despir camada por camada.— Hoje não é apenas sobre como você se comporta, mas como reage. — Ele estendeu um envelope branco na minha direção. — Leia.O papel dentro do envelope continha uma mensagem curta, cruel, escrita à máquina:"Lily, você é uma fraude. Não importa o que faça, nunca será boa o suficiente."Levantei os olhos para ele, confusa. Vittorio apenas sorriu, aquele sorriso vazio que escondia mais do que revelava.— Isso é só o início. Você precisa aprender a lidar com ataques diretos e manter sua compostura, mesmo quando tentarem destruir quem você é.Sabia que ele estava testando algo mais pr
MIAOs dias que se seguiram foram uma mistura exaustiva de testes, lições e desafios. Vittorio era implacável. Não havia margem para erro, nem espaço para hesitação. Aprendi a usar minha mente e meu corpo como armas, a transformar fraqueza em força e a esconder emoções sob camadas de gelo. Ele me ensinou a lutar, a observar cada movimento do adversário, e a utilizar meu charme para virar o jogo a meu favor.Eu não era mais apenas Mia Foster, mas também Lily Miller, uma criação moldada para sobreviver naquele mundo brutal.Mas hoje era diferente. Hoje não era um treino. Era a hora de provar que eu poderia interpretar meu papel diante de Don Mauricio. Ele era mais do que um aliado para Vittorio; era um dos homens mais influentes
VITTORIOO jantar transcorria tranquilamente. Don Maurício estava completamente encantado por Mia; ela até o fizera rir. O mais surpreendente era que a malandrinha conseguira isso sendo ela mesma, não Lily Miller.Mia permanecia alheia às novas descobertas que eu havia feito sobre seu tio. Tudo que ela sabia era que o homem era influente. No entanto, a verdade ia muito além disso. Quando encontrei a fotografia do pai de Mia, tudo fez sentido: Thomas Smith era, na verdade, Tomasio Sartori, sottocapo da Ndrangheta e irmão do Don. Isso explicava os soldados da organização rival em nosso encalço. Mas como Tomasio sabia que Mia estava comigo? A resposta só podia ser uma: havia um traidor entre nós, alguém perigosa e insidiosamente próximo.Eu pretendia revelar tudo a Mia somente após nossa missão em Paris. Precisava que ela permanecesse focada, e essa revelação, sem dúvida, traria ansiedade — algo que sempre leva a deslizes perigosos.O mais chocante era perceber que Mia realmente fazia pa