VITTORIO
Assim que entrei no meu escritório, algo parecia errado. Não podia demonstrar minhas preocupações na frente de Breno, então mantive a expressão neutra. Quando me aproximei da mesa para beber um gole de uísque, um aroma familiar me atingiu.
O cheiro que me atormentou após a inauguração da boate da Cosa Nostra. A fragrância que se gravou em minha pele no instante em que ela roçou os lábios no meu pescoço.
Era o perfume de jasmim de Mia.
Por um segundo, imaginei que fosse minha mente, mais uma vez, evocando o cheiro dela só para me perturbar. Mas, como um mafioso experiente, sabia que jamais deveria ignorar meus instintos aguçados.
VITTORIODiante das minhas palavras, Mia franziu o cenho e esboçou um sorriso irônico, o tipo de sorriso que dizia: você não me intimida.— Não tenho medo de você — ela disse, com uma firmeza que tentava mascarar o brilho hesitante em seus olhos.Cruzei os braços e ergui as sobrancelhas, desafiando sua coragem.— Não acredita mesmo no que está dizendo, não é? Agora, quer me explicar por que diabos decidiu me morder? — perguntei, minha voz carregada de sarcasmo.Para minha surpresa, ela riu, um riso que soava mais provocação do que leveza.— Você me chutou. Eu só reagi — ela rebateu, revirando os olhos com desdém.Neguei com a cabeça, mordendo o interior da bochecha para conter a irritação.— Eu não te chutei. Só te cutuquei. Bem de leve, aliás.Mia arqueou as sobrancelhas com teatralidade, o tom afiado como uma navalha:— Isso é uma questão de perspectiva.Minha paciência começava a se desgastar. Que raio de problema arrumei ao trazer essa garota para minha casa? Respirei fundo, tentan
VITTORIOMia arregalou os olhos, sua expressão era um misto de incredulidade e indignação. Ela balançou a cabeça com veemência antes de finalmente encontrar a voz.— Não, não poderia — respondeu, talvez rápido demais.Levantei as sobrancelhas, surpreso com a intensidade de sua reação, e sorri, um sorriso cínico e provocador.— E por que não? — perguntei, inclinando a cabeça de lado. — Sou um homem e você uma mulher que, de boca fechada, fica até atraente. Não vejo problemas.O rubor subiu às suas bochechas, uma mistura de raiva e constrangimento. Mia engoliu em seco, seus olhos se estreitaram, mas sua postura firme vacilou quando dei um passo à frente. O espaço entre nós diminuiu, e seu perfume — algo sutil, floral e perturbadoramente viciante — atingiu meus sentidos. Aquilo bagunçava meus pensamentos, tornava difícil manter o controle que tanto prezo.— Posso listar um monte de problemas — ela murmurou, a voz baixa, mas firme.Inclinei-me levemente, desafiando-a.— Eu não acredito em
MIAPassei o resto do dia trancada naquele quarto, mas não porque era obrigada. O verdadeiro cárcere estava dentro de mim. Eu tinha medo de encontrar Vittorio... e, pior ainda, medo de mim mesma.Eu odiava aquele homem. Odiava sua presença imponente, suas palavras afiadas e a forma como parecia enxergar através de mim. Mas, ainda assim, em um momento fugaz no escritório, desejei que ele me beijasse. Desejei que Vittorio me desse o primeiro beijo que eu sempre temi.Minha adolescência fora roubada. Meu tio havia transformado minha existência em uma constante fuga, e qualquer indício de proximidade física me paralisava. Beijo, namoro, intimidade... eram palavras que provocavam pânico. Eu me esquivara de tudo isso, mas ali, sob o peso do olhar de Vittorio, algo despertou. Era como se ele tivesse desafiado o muro que eu passara anos construindo.Isso me aterrorizava mais do que ele próprio.Os corredores estavam silenciosos e envoltos em sombras, mas dessa vez, as portas não estavam tranc
MIAA confissão pairava entre nós como um fantasma, densa e inescapável. Eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas minha garganta estava seca, as palavras presas no labirinto de emoções que me consumia.Vittorio permaneceu imóvel, sua silhueta destacando-se contra o brilho suave da lua. Seus olhos, normalmente cheios de arrogância, agora estavam vazios, como se ele tivesse tirado uma máscara e me mostrado uma parte de si que ninguém mais havia visto.Ele não era o monstro que gostava de exibir. Era um homem quebrado, um sobrevivente das próprias batalhas.A noite ao nosso redor parecia mais fria. O perfume das rosas, que antes me trazia consolo, agora me enjoava. Tudo naquele jardim parecia errado, como se o peso da v
MIAAcordei com um cutucão na costela. Abri os olhos, irritada, e vi uma cena bizarra. Em pé, segurando uma vassoura como se fosse uma lança, estava Vittorio. Seus cabelos castanhos estavam impecavelmente penteados, e ele vestia roupas pretas de malha, uma escolha curiosa em contraste com seus habituais ternos elegantes.— O que você está fazendo com isso? — resmunguei, ainda confusa.Vittorio deu de ombros, o olhar cínico transmitindo a resposta antes mesmo de ele abrir a boca:— Não queria arriscar ser mordido de novo.Uma risada escapou dos meus lábios, surpreendendo até a mim mesma.— Eu não mordo porcarias
MIAVittorio entrou em uma porta que, à primeira vista, parecia levar a um quarto comum, mas revelou uma escadaria que descia para os confins da casa. À medida que caminhamos degrau por degrau, as luzes acendiam automaticamente, iluminando nosso caminho.— Você deve ser podre de rico mesmo — murmurei, quebrando o silêncio.Ele apenas deu de ombros.— Por aí.Seguimos em silêncio até chegarmos ao fim da escadaria. Vittorio bateu palmas, e um enorme salão foi iluminado, revelando um espaço que tirou meu fôlego.O chão era forrado com um material branco acolchoado. As paredes de metal brilhavam sob a luz, repletas d
MIANão era nem meio-dia, e eu já estava esgotada. Meu corpo inteiro doía, como se tivesse sido atropelada por um caminhão emocional chamado Vittorio.— Você é muito fraquinha — provocou ele, estendendo a mão para mim. Sua expressão carregava aquele sorriso irônico que me fazia querer socar sua cara.Caída no colchão, respirei fundo, tentando ignorar a humilhação que se acumulava dentro de mim. Eu era péssima em combate corpo a corpo, e Vittorio parecia determinado a esfregar isso na minha cara.— Você treinou a vida toda Krav Magá — rebati, levantando-me sem aceitar sua ajuda. — Estou nisso há o quê? Duas horas?
MIAO silêncio após a saída de Vittorio era ensurdecedor, preenchido apenas pelo eco distante dos passos de Breno e Giuseppe subindo as escadas. Meu coração ainda batia forte, não só pela luta recente, mas pela intensidade com que Vittorio me olhara antes de partir, deixando-me com mais perguntas do que respostas.Eu deveria simplesmente ficar onde ele mandou, como uma prisioneira obediente? A resposta parecia óbvia. Não.A curiosidade fervilhava, superando qualquer vestígio de bom senso. Havia algo na tensão entre eles que ia além de uma discussão sobre negócios. Aquilo tinha a ver comigo. Eu podia sentir. O desprezo no olhar de Breno e o tom calculado de Giuseppe não deixavam dúvidas: eu era mais do que um inconveniente tempor