Ela cambaleou para frente, como se a terra tivesse sido retirada debaixo de seus pés. A mulher que antes estava cheia de graça e sorrisos agora estava em pânico, incapaz de manter a compostura.Ela desabou no chão, a expressão de um ser humano completamente derrotado, sua máscara de perfeição quebrada em pedaços. E eu só pude sentir um prazer amargo, um triunfo por finalmente fazer justiça. Agora, todos veriam quem ela realmente era. Com um movimento brusco, tomei o microfone. Minha voz saiu cortante e cheia de desprezo: — Doutora Fernanda Foley, você acha que poderia me enganar, não é? Acha que poderia me fazer de tolo e esconder sua maldita traição por todo esse tempo? Eu sabia que algo estava errado, sabia desde o começo, mas você não pensou que eu teria coragem de expor tudo, não é?Ela olhou para mim, os olhos inchados de raiva e medo. Tentou se levantar, mas as pernas tremiam como se a dor do que estava acontecendo a tivesse paralisado. Eu não sentia um pingo de pena,
Eu me aproximei de Fernanda, sentindo cada passo pesado, como se o chão estivesse absorvendo a raiva que fervia dentro de mim. O microfone já estava guardado, mas as palavras que eu tinha ainda ecoavam, reverberando pela sala. Agora, eu estava cara a cara com a mulher que havia me enganado, com a mulher que havia me feito de idiota, e eu não estava mais disposto a me conter. Ruan já estava ali, ao lado de Bruno, como uma sombra. Bruno parecia um homem derrotado, sem o brilho de confiança que ele costumava ostentar.Ele estava tão pálido quanto Fernanda, e eu podia ver em seus olhos a tristeza e o pânico. Não importava. Eu estava ali para fazer a minha parte, para deixar bem claro para os dois que não havia mais espaço para arrependimentos. Não havia mais espaço para o jogo de manipulação. Eles não mereciam nada além da destruição que estavam prestes a enfrentar.Olhei para Fernanda, minha raiva fluindo de cada palavra que estava prestes a sair de minha boca. — Você acha que
Voltei para o hospital depois de tirar alguns dias para mim. Não que eu estava precisando de descanso, ou algo assim, mas o peso daquilo tudo me consumiu por dentro. Precisei de um tempo para minha cabeça conseguir conciliar as coisas. Por mais que tivesse tomado as rédeas da situação, me afastado do que me prejudicava, ainda restava o amargo gosto de uma vitória vazia.Porque, por mais que Fernanda tenha sido desmarcada, ela conseguiu abrir cicatrizes que eu não queria voltar a sentir.Mas estavam lá dentro de mim gritando como poucas vezes. Minha conduta sempre foi muito profissional, então nenhum dos meus colegas de trabalho ou colaboradores teve coragem de vir até mim, comentar algo sobre o que aconteceu com Fernanda e Bruno. Ninguém teve a audácia de fazer isso, e eu sabia que se quisessem continuar no hospital, seria melhor que respeitassem o meu espaço. A reação deles era, ao mesmo tempo, plausível e revoltante. Eles seguiam o que se esperava deles — respeitavam a hierar
Quando decidi que era hora de contar a Alby a verdade, sabia que era o momento de enfrentá-la. Não poderia continuar vivendo com esse peso sobre os ombros, sabendo que ela merecia saber o que havia acontecido. Mas a verdade, eu sabia, não seria o suficiente para lhe trazer o consolo. Ela já tinha sido ferida demais e, por mais que eu tentasse, não poderia apagar o que eu fiz, o que a vida nos fez passar. O que a escolha que eu fizera mesmo, sem querer, nos fez viver. Alby me recebeu em seu lar com aquele olhar desconfiado. Eu até então, nunca havia vindo até sua casa nova, aceitando de alguma maneira sua escolha de recomeço. Mesmo eu precisando espreitar muitas vezes pelas sombras, pela simples necessidade de saber se tudo estava bem. Pois a verdade é que nunca a deixei ir de verdade. Encontrei uma maneira de suportar nossa distância e assim não enlouquecer com o que minha vida havia se tornando.Ao me ver, Alby sabia que havia algo errado, sabia que minha presença ali não er
Fernanda foi exposta, assim como eu.Enquanto eu falava, Alby me ouvia em silêncio. Seu rosto era impenetrável, mas eu podia ver, por trás de seus olhos, a dor se acumulando. Ela não disse uma palavra, nem quando eu terminei de contar tudo, não me deu um olhar de desaprovação ou um sorriso de alívio. Apenas silêncio. Era o único espaço que ela me dava, a única coisa que eu sabia que ainda podia ter: sua atenção.Quando finalmente a última palavra saiu da minha boca, o silêncio pairou sobre nós. Não houve gritos. Não houve acusações. Mas algo no ar, algo no peso de seus olhos, me fez entender que eu estava prestes a ouvir o que mais temia.— Você fez o quê? — Ela finalmente falou, e sua voz estava gelada, cortante. O olhar que me dirigia não era de rancor, mas de pura tristeza. — Você realmente acha que isso muda alguma coisa? Ela respirou fundo, e parecia estar tentando manter a calma, mas o tom dela estava carregado de um veneno que eu nunca imaginei que pudesse vir de algué
O hospital sempre foi meu refúgio. Um lugar onde a racionalidade prevalecia, onde eu podia me perder em exames, diagnósticos e cirurgias, afastando-me de tudo que parecia incontrolável. Mas agora, caminhar pelos corredores não era mais um alívio. Cada rosto familiar, cada som das máquinas, cada passo ecoava o vazio que ela deixou. Alby. Eu nunca soube como alguém podia preencher tanto espaço até que ela não estivesse mais nele. Antes, meu apartamento era apenas um lugar onde eu descansava entre turnos. Hoje, era um mausoléu de memórias — dela, de nós, do que nunca dissemos e do que jamais teremos a chance de viver. Entrei na sala de descanso do hospital, onde a luz fria contrastava com o calor abafado do ambiente. Poderia ter um quarto só para mim, mas sempre me permitir estar aqui para a necessidade de alguma emergência ou algo mais. Meus colegas conversavam sobre casos difíceis e procedimentos desafiadores, mas eu mal conseguia ouvir. Meu trabalho, que antes me preench
A cidade era um contraste perfeito com tudo que eu já conhecera. As ruas eram tranquilas, quase aconchegantes, e o vento parecia sussurrar promessas de algo que eu mal conseguia imaginar: paz. Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia como se pudesse respirar sem carregar o peso de ser a Alby que precisava agradar, justificar ou pedir desculpas. Naquela manhã, sentei-me em um pequeno café. O cheiro de café fresco misturava-se com o som suave de música ao fundo, enquanto eu folheava um livro sobre design de interiores. Trabalhar com Luana tinha sido um presente inesperado, como uma janela aberta em meio a uma casa sufocante. Cada página daquele livro era um lembrete de que eu estava aprendendo algo novo, algo que era só meu. Luana chegou pontualmente às dez. Sempre cheia de energia, ela parecia ter o poder de iluminar o ambiente. — Você está com uma cara melhor hoje — comentou ela, roubando sem cerimônia um pedaço do meu bolo de laranja. Eu ri. Algo que, admito, estava
Eu sempre achei que a vida fosse feita de grandes escolhas, como se cada passo dependesse de um destino premeditado, algo grandioso, como se fosse um livro escrito antes mesmo de abrirmos a primeira página. Eu vivi muitos anos achando que meu caminho já estava traçado, que eu sabia quem era, onde estava indo e o que queria da vida. Mas aqui, nesta cidade nova, tudo parecia um campo em branco. E, para minha surpresa, é nesse espaço em branco que comecei a me encontrar de verdade.Minha nova vida começou com algo simples: uma pintura. Eu não sabia o que estava fazendo, nem por que estava fazendo, mas, de algum jeito, as cores foram sendo misturadas como se tivessem uma razão própria. O azul do mar, o dourado do sol. Cada pincelada parecia me levar a um lugar dentro de mim que eu nunca imaginei explorar. Fazia anos que não me aventurava em frente a um cavalete e foi singular me ver novamente desbravando uma tela em branco.Sempre fui apai