POV Olívia
11 anos atrás Estava escondida na estufa do castelo, cercada por lindas plantas que se entrelaçavam em um emaranhado de verdes e flores coloridas. O cheiro da terra molhada e o leve toque do sol filtrado pelas folhas me envolviam, como um manto acolhedor que me protegia do mundo exterior. Era um refúgio, um lugar onde eu podia me perder em pensamentos enquanto tentava esquecer a dor que pesava. Eles fizeram de novo… desta vez, pra sempre. Faziam 3 meses que meus pais foram embora, e eu havia aprendido a contar os dias com um peso crescente de desespero. Era como se uma parte de mim tivesse se apagado, um buraco negro se formando onde antes havia amor e segurança. O dinheiro para eles vinha primeiro que o “amor” que diziam sentir por mim, a minha criação só traria despesas e prejuízo. Quando eles desapareceram pela primeira vez, eu tinha apenas 7 anos. Vovó sempre dizia que eles voltariam, que era só uma fase, mas agora, com o olhar triste e resignado que ela usava, percebi que, desta vez, era diferente. “Olívia?… Olívia, onde você está?” A voz de Felipe cortou o silêncio, e meu coração deu um salto. “Felipe?…” chamei de volta, a voz tremendo, quase um sussurro. “Olívia, o que aconteceu? Eu te procurei por todo o castelo!” Ele entrou na estufa, sua presença era como um raio de sol iluminando meu mundo sombrio. As lágrimas que eu havia segurado por dias começaram a escorregar pelo meu rosto, como se finalmente tivessem conseguido se libertar. “Eles foram embora, Felipe… dessa vez, pra sempre.” A verdade escorregava entre meus lábios, e a dor que eu tinha escondido se transformava em água. Ele me abraçou com seus braços magros, e eu pude sentir sinceridade e segurança naqueles minutos. “Tá tudo bem… vai ficar tudo bem. Eu vou estar com você aqui, pra sempre.” Sua promessa era um bálsamo para a minha alma ferida, e eu me agarrarei a ela como uma salvação. “Você promete?” Perguntei, os olhos ainda marejados. “Eu prometo,” ele respondeu, firme, como se a força de suas palavras pudesse mudar o curso do nosso destino. ATUALMENTE……. “Olívia, você realmente limpou esse chão? Isso está imundo.” A voz de Fernanda Smith cortou o ar, seu tom ácido era como um veneno. “Mas o chão está brilhando, senhorita Smith.” Tentei defender o meu trabalho, mas sabia que era em vão. “Cale-se! Escuta aqui, se não fizer o seu serviço direito, o rei vai ficar sabendo disso e você vai ser mandada para o olho da rua” Seu olhar era gélido, e eu podia sentir a frieza de suas palavras. Suspiro, tentando conter a raiva e a frustração “…me desculpe! Isso não vai se repetir ” minha voz mal conseguia esconder o ódio que sentia por essa mulher. Fernanda era como uma bruxa em pessoa, a governanta do castelo era como uma sombra que pairava sobre mim. Ela adorava despejar seu ódio, especialmente agora que minha avó precisou se afastar do serviço. A necessidade de trabalhar pesava sobre mim; não podia me dar ao luxo de ser demitida ou ter o salário reduzido, eu precisava garantir as fisioterapias da vovó e o aluguel do pequeno quarto onde vivíamos, que só visitava aos finais de semana. O coração doía ao deixa-lá sozinha, mas não tínhamos outra opção. Meus pais…bem… eles me abandonaram quando eu era pequena, me deixando nos cuidados da minha avó Amélia, que sempre fez de tudo por mim. Estava ali, esfregando o piso do salão mais uma vez, quando o vi. Aquele que sempre foi o meu sonho impossível, o que um dia me salvava da escuridão e agora me desprezava tanto: a vossa alteza, Felipe de Alencar. Ele estava nos jardins do castelo, jogando croqué com seus amigos. Há um tempo atrás, eu era um deles. Era uma criança feliz, ele me fazia sentir segura e amada, até que o mesmo descobriu que não deveria andar com alguém de classe social tão baixa e sem títulos como eu. Lembranças on: “Não podemos mais ser amigos,” ele disse com uma convicção fria. Nunca antes suas palavras haviam soado tão determinadas, tão definitivas. “Felipe, por que está dizendo isso? Você prometeu que estaria sempre ao meu lado…” minha voz quebrou em meio às lágrimas. “Um príncipe deve renunciar aos próprios desejos e sentimentos pelo bem de seu povo e de seu reinado,” ele me cortou, impassível. “Sinto muito, Olívia. Não me dirija a palavra a menos que eu a solicite. Passar bem! Lembranças off O coração apertou ao vê-lo. Ele sempre foi tão bonito e gentil com seus cabelos castanhos bagunçados e seu sorriso radiante. Enquanto jogava, a luz do sol refletia em seu rosto, e eu me peguei admirando-o pela janela, perdida em pensamentos. Como tudo havia mudado. A alegria da infância se transformara em saudade e agora só restam os ecos das promessas feitas entre nós. “Observando o seu gato?” Bia, minha melhor amiga, sempre tão intuitiva e astuta me assustou ao aparecer ao meu lado. “Ele não é o meu gato…” murmurei, com a voz quase inaudível. “Está longe disso.” “Olívia, você está babando olhando pra ele,” Bia disse, com um sorriso provocador. “Até quando vai nutrir isso? “Eu já o esqueci,” respondi, mas minha voz falhou. Era uma mentira que eu estava tentando acreditar. “Está na cara que você ainda o ama,” ela insistiu, olhando fixamente para mim. “Você precisa falar pra ele ou esquece-lo de vez.” Fiquei em silêncio, voltando a limpar o chão, como se isso pudesse varrer também os sentimentos confusos que se aglomeravam dentro de mim. “Fico com a segunda opção,” disse, tentando soar mais confiante do que realmente me sentia. Bia bufou, revirando os olhos. “Você sabe que isso não vai funcionar.“ “Sei disso, Bia, mas…você não entende,” resmunguei, a frustração misturando-se à dor. “É diferente agora, para ele sou só mais uma empregada do castelo. Não vale a pena correr atrás de algo que nunca vou ter. Ele tem tudo, e eu sou apenas a serviçal que ele ordena que lave suas roupas “ respondi, com um suspiro derrotado. Bia parecia pronta para contra-argumentar, mas apenas balançou a cabeça, resignada. “Precisa parar de se menosprezar. Você é muito mais do que isso. Se ele não vê, é problema dele. Você merece alguém que te valorize, não alguém que te faça sentir pequena.” Suas palavras ressoaram dentro de mim, mas era difícil enxergar a verdade nelas. O olhar de Felipe está tão distante, tão indiferente. Era como se uma barreira invisível nos separasse, e eu não sabia como quebrá-la. “Talvez eu devesse esquecer tudo isso e focar no que realmente importa,” disse, mudando de assunto. “Eu preciso trabalhar.” “Tudo bem, mas não se esqueça de quem você é, Olívia,” Bia respondeu, colocando a mão em meu ombro de forma protetora. “Você é forte. E você pode superar isso. Mas precisa se dar a chance de ser feliz.” Ela tinha razão, mas o peso do passado ainda me prendia. O eco das promessas não cumpridas e a esperança que se tornava cada vez mais fraca continuavam a me assombrar. E assim, eu seguia, perdida em pensamentos e lembranças, presa entre o que era e o que poderia ter sido, sem saber se algum dia conseguiria encontrar meu lugar de volta.POV Felipe A coroa se aproximava como a porcaria de um vendaval. Eu sabia que o inevitável estava a caminho. Meus pais, o rei e a rainha de Eldora, estavam em cima de mim, me sufocando com a chegada da coroação… e claro sempre insistindo para que eu escolhesse logo a rainha que governaria ao meu lado. Agora, com o baile planejado por eles pR que eu conhece as mais nobres, parecia que estavam tentando me empurrar para um mar de piranhas interesseiras, como se eu fosse um produto em exibição. “Sinceramente? Eu não quero me casar, eu nem ao menos queria essa mer*da de coroa.” Esse pensamento se repetia em minha mente, uma pequena revolta que eu escondia. Se meus pais soubessem disso, o reino de Eldora desabaria. A ideia de assumir um trono, com todas as suas obrigações, era sufocante. Essa manhã decidi ir ao jardins do castelo, estava cercado por primos e conhecidos, fazendo o que fazíamos sempre, jogar croqué. O sol brilhava intensamente, mas eu me sentia distante, como se uma nu
POV Olívia Não era novidade nenhuma que ele trazia as suas “diversões” para o seu abatedouro. Era sempre a mesma cena: ele se atracando com as vadias, enquanto a mãe dele berrava para os quatro cantos do castelo o quanto ele era incompetente e inadequado para a coroa. Se bem que, para ser sincera, eu achava que ele fazia isso de propósito. Conhecendo Felipe, ou pelo menos o Felipe que eu conhecia, ele nunca gostou de seguir regras. Para quem é da realeza, isso é um pouco irônico, não? Estava carregando flores para trocar no vaso da área gourmet do castelo quando, de repente, um muro de músculos molhados se colidiu contra mim, derrubando todas as flores e fazendo meu coração disparar. “Não olha por onde anda, empregada?” A voz cortante fez meu estômago se contorcer. Não… não… não! De todas as pessoas do mundo, por que tinha que ser ele? Levantei o olhar devagar, encontrando seus olhos verdes, frios e penetrantes, que pareciam me despir de qualquer defesa. “Desculpe-me, a
POV OlíviaNo dia seguinte, acordei decidida a enfrentar o que viesse. A noite havia sido longa, mas de alguma forma, consegui me recompor. Tomei um banho demorado, lavei o rosto e respirei fundo, como se pudesse expulsar toda a angústia que havia semeado dentro de mim. Eu ia conseguir passar por mais essa, assim como passei por tantas outras.Descendo para a cozinha, esperava encontrar o conforto da rotina. Eu precisava de um pouco de normalidade para recuperar o equilíbrio. Mas, assim que atravessei a porta, fui recebida por uma enxurrada de ordens, bandejas sendo empurradas em minha direção e carrinhos de comida sendo apressadamente organizados.“O príncipe solicitou que, assim que você aparecesse, levasse o seu desjejum até os aposentos dele!” disse uma das funcionárias, quase sem fôlego enquanto arrumava tudo.Franzi o cenho, confusa. “Mas… ele sempre toma café da manhã na varanda do castelo,” respondi, tentando entender o que estava acontecendo. Por que ele queria que eu fosse
POV FelipeEu sei…sei o que estão pensando. Se eu fosse vocês, também pensaria. Mas quer saber? F*da-se! Eu não ligo. Eu precisava colocar aquela garota no lugar dela. Quem ela pensa que é para me desafiar daquela forma? Quem ela acha que é para falar daquela maneira sobre os meus problemas com o reino? Aquela linguaruda, atrevida, rebelde… linda… e, droga, Felipe, controle-se!Repito para mim mesmo: nenhuma boceta vai me domar. Eu sou o príncipe aqui, sou o herdeiro do trono, e ninguém vai me mandar ou me ensinar como viver minha vida. Não, não, não! Ela que se mantenha no seu lugar. Fico pensando naquilo que ela disse, no olhar desafiador e furioso dela, enquanto a humilhava com minhas palavras. Ela teve a ousadia de me desafiar, mas também teve o suficiente de orgulho para não se deixar abalar na hora. Eu nem sabia o que queria sentir. Eu queria fazer ela se sentir inferior, mas, ao mesmo tempo, não conseguia parar de pensar na força daquela garota, naquele olhar feroz, e, para ser
POV Olívia Eu ainda estava processando o que havia acontecido. Senti meus lábios formigando, meu corpo ainda tremendo. Felipe… o príncipe arrogante, egoísta e insuportável, que adora me humilhar me beijou. “Eu… Olívia, isso foi um erro, tá legal? Não deveria ter acontecido!” Ele estava ali, olhando para mim com uma mistura de confusão e desejo, como se ele mesmo não soubesse o que fazer. E isso queimava no meu peito como um inferno. Um erro? Me beijar era tão repugnante assim para ele? Foi o que ele sentiu? Enfiei as mãos no seu peito molhados, tentando afastá-lo. Minha raiva transbordava. Eu o empurrei, com toda a força que consegui reunir. “Sabe de uma coisa, Felipe? Você é um idiota!” Ele deu um passo para trás, surpreso com a minha reação. “Ei… aonde você vai?” ele perguntou, tentando me acompanhar. “Pra um lugar bem longe de você, alteza!” disparei, sentindo a fúria pulsando em cada palavra. “Qual é o seu problema?” ele retrucou, tentando manter o tom firme, mas eu p
POV Felipe Estava sentado em uma mesa de reuniões, cercado pelos conselheiros da corte, enquanto tentavam me convencer da escolha de uma pretendente. Sobre a mesa, uma pilha de fotos e relatórios com rostos impecáveis de princesas de reinos vizinhos me encarava. Eram belas, é verdade, mas por algum maldito motivo o meu pa* parecia rejeitar cada uma delas.“O que merda está acontecendo?” pensei, frustrado. Desde ontem, desde aquele maldito beijo com Olívia, não conseguia tirá-la da cabeça. Sempre tive um fodido sentimento estranho relacionado a ela, é verdade. Mas ontem….ontem algo mudou. O toque dela, o jeito que ela se afastou de mim com tanto desprezo e raiva… tudo aquilo ecoava dentro de mim, e, de certa forma, me deixava ainda mais atraído. Era como se houvesse um ímã invisível, um fio que me puxava para perto dela, mesmo que eu soubesse que isso só causaria problemas.“De qual mais gostou, Felipe?” meu pai perguntou, tirando-me do transe.“Desculpe… o quê disse?” respondi, confu
POV OlíviaEu estava entregue a ele, completamente. Eu sempre estive entregue, uma parte de mim sabia que não havia volta, mas a outra, a parte racional, gritava para que eu fosse forte, para que lembrasse do que isso custaria. Meus sentimentos por ele sempre foram intensos, uma mistura de atração e medo, algo que eu sabia que poderia me consumir, mas não conseguia ignorar.Cada toque dele fazia meu corpo responder de maneira quase desesperada. O calor que ele transmitia me fazia esquecer, ainda que por segundos, da minha realidade, do que eu era e de onde estava. Eu nunca fui tocada dessa forma por ninguém. Mas isso não durou muito tempo. Senti a culpa e o medo surgirem com força, e a imagem da rainha, com seu olhar de desprezo, veio à minha mente como um alerta.Minha avó… Como poderia fazer isso com ela? Se eu fosse mandada embora, o que aconteceria com ela? Meu peito se apertou, e toda aquela excitação deu lugar ao pânico. Não tínhamos mais ninguém, e este emprego era a única coi
POV Felipe “Você ficou maluco?” disse meu melhor amigo assim que terminei de contar sobre o meu romance proibido. Eu precisava da ajuda de algumas pessoas para fazer isso dar certo, e Mathêw era o único em quem podia confiar. “Quando seu pai descobrir que está fudendo com uma empregada…” “Shhhhh… fale baixo, seu imbecil!” retruquei, com os dentes cerrados. “Eu não estou fudendo com ela.” “Fala sério, você tá arriscando a sua coroa por uma b*ceta que nem conheceu?” “Se falar assim da Olívia de novo, eu vou quebrar a sua cara!” Eu o puxei pelo colarinho, os olhos fixos nos dele com uma intensidade que deixava claro que eu não estava para brincadeira. “Tá legal,” ele disse, levantando as mãos em rendição, o olhar ainda surpreso. “O que quer que eu faça?” “É o seguinte… quero que faça o castelo acreditar que você está cortejando Olívia.” “Quê?!” Ele soltou uma risada de descrença. “Sim… todo mundo sabe que você pega funcionários, Mathêw! Isso não é novidade para ninguém.” Eu o e