POV FelipeQuinze dias.Malditos quinze dias.E eu ainda não sabia porra nenhuma.Nada.Nenhuma pista. Nenhum rastro. Nenhuma resposta que fizesse sentido.E agora esse merda de detetive tinha a audácia de olhar na minha cara e dizer, pela milésima vez, que não encontrou nada?— VOCÊ TÁ DE BRINCADEIRA COM A MINHA CARA, NÉ? — Minha voz saiu tão alta que os vidros das janelas tremeram. — QUINZE DIAS, CARALHO! QUINZE DIAS E VOCÊ NÃO TEM PORRA NENHUMA PRA ME DIZER?!O filho da puta do detetive respirou fundo, tentando manter a pose de profissionalismo, mas eu vi o desconforto no olhar dele.— Alteza, estamos investigando todas as possibilidades, mas…— MAS O QUÊ?! — Eu bati a mão na mesa dele com tanta força que uma pilha de papéis caiu no chão. — VOCÊ TÁ SENDO PAGO PRA ME DAR RESPOSTAS, NÃO DESCULPAS!Minha respiração estava pesada, meu coração batia rápido, minhas mãos tremiam de raiva.Ódio.Frustração.Desespero.Eu não dormia. Não comia. A cada minuto, minha mente imaginava mil cenár
POV OlíviaDuas semanas e três dias Foi esse o tempo exato desde que nos jogaram em Londres sem documentos, sem dinheiro, sem nada.Foram três dias dormindo ao relento, encolhidas em uma casinha de madeira abandonada na praça, tentando nos proteger do frio cortante. Três dias de fome, de medo, de desespero, até que um guarda nos encontrou e nos expulsou dali como se fôssemos ratos.Minha avó chorava, implorava, mas ele não teve piedade.E foi ali, no meio da calçada, com nossas poucas roupas dentro de um saco de lixo, que conheci Derek.Ele era o dono de um bar decadente perto da praça. Baixo, barrigudo, sempre com um cigarro pendurado nos lábios e um olhar de quem já viu desgraça demais na vida. Ele ficou nos observando por um tempo, os olhos apertados, até que bufou e se virou para mim.— Sabe lavar prato, menina?Eu só consegui assentir, a garganta travada.— Ótimo. Vem comigo.E foi assim que consegui um trabalho. E um teto.Quer dizer… “teto” era um jeito generoso de chamar aqu
POV HenriqueA fumaça do meu cigarro subia devagar, se misturando com o cheiro forte de café velho no escritório. A chuva batia contra a janela, e o relógio na parede marcava quase oito da noite. Eu estava há horas analisando relatórios, rastreando contatos, tentando seguir qualquer rastro que levasse até Olívia. Até agora, nada.Suspirei, esfregando o rosto. Felipe estava impaciente. E com razão. Mas encontrar alguém sem documentos, sem qualquer registro de viagem, sem pistas concretas… Era como procurar uma agulha num palheiro.Uma batida na porta me tirou dos pensamentos.— Pode entrar — falei, apagando o cigarro no cinzeiro cheio.Minha secretária, Clara, apareceu com a expressão tensa.— Henrique… A rainha deseja vê-lo.Meu corpo ficou rígido.— Agora?Ela assentiu.Engoli em seco. Ter a realeza envolvida nesse caso já era complicado. Ter a rainha diretamente no meu escritório? Isso não podia ser bom.— Mande-a entrar imediatamente — respondi, tentando manter a compostura.Clara
Pov Felipe Eu não conseguia acreditar. As fotos estavam espalhadas sobre a mesa, mas eu não conseguia tocá-las. Só de olhar para aquelas imagens, meu peito se apertava como se alguém estivesse arrancando algo de dentro de mim.Olívia… com outro homem.Em uma praça.Em Londres.Mas que merda? Meu estômago revirou. Minha cabeça gritava que era um engano, que tinha alguma explicação, que…— Isso é mentira. — Minha própria voz soou estranha aos meus ouvidos.Henrique suspirou do outro lado da mesa. Ele parecia… não triste, mas resignado. Como se já soubesse que essa conversa terminaria assim.—Alteza…— Não pode ser. — Peguei uma das fotos com mãos trêmulas, os dedos apertando o papel com força. Meus olhos analisavam cada detalhe, procurando qualquer falha, qualquer coisa que provasse que aquilo era um truque, uma armação.Mas tudo parecia real.Meu coração batia tão forte que eu sentia o sangue pulsando nos ouvidos.— Felipe… tudo se encaixa.Levantei o olhar para ele, e minha própria
O bar estava mais vazio do que o normal naquela noite. A maioria das pessoas já tinha ido embora, e a agitação do turno estava se dissipando lentamente, com apenas alguns funcionários ainda limpando e organizando os utensílios. Eu estava no balcão, lavando copos, os dedos deslizando pela superfície fria, tentando organizar meus pensamentos. Já havia algum tempo que eu estava em Londres, e a adaptação, embora difícil, tinha se tornado parte da minha realidade. A cada dia, eu conseguia levar mais comida para casa e, graças ao trabalho, consegui marcar minha primeira consulta médica. Mas a ideia de sentar e esperar Felipe, se é que ele viria, parecia uma ilusão. Eu não podia ficar à espera de algo que talvez nunca acontecesse. À minha frente, Éric limpava o chão com um movimento exagerado, fazendo mais barulho do que necessário. Ele me olhou rapidamente e sorriu, como se estivesse tentando criar uma oportunidade de conversa. — Você já terminou aí? — Ele perguntou, com um tom que soava
POV Olívia 11 anos atrás Estava escondida na estufa do castelo, cercada por plantas que se entrelaçavam em um emaranhado de verdes e flores coloridas. O cheiro da terra molhada e o leve toque do sol me envolviam, como um manto acolhedor que me protegia do mundo exterior. Era um refúgio, um lugar onde eu podia me perder em pensamentos enquanto tentava esquecer a dor que pesava. Eles fizeram de novo… desta vez, pra sempre. Faziam 3 meses que meus pais foram embora, e eu havia aprendido a contar os dias com um peso crescente de desespero. Era como se uma parte de mim tivesse se apagado, um buraco negro se formando onde antes havia amor e segurança. O dinheiro para eles vinha primeiro que o “amor” que diziam sentir por mim, a minha criação só traria despesas e prejuízo. Quando eles desapareceram pela primeira vez, eu tinha apenas 7 anos. Vovó sempre dizia que eles voltariam, que era só uma fase, mas agora, com o olhar triste e resignado que ela usava, percebi que, desta vez, era
POV Felipe A coroa se aproximava como a porcaria de um vendaval. Eu sabia que o inevitável estava a caminho. Meus pais, o rei e a rainha de Eldora, estavam em cima de mim, me sufocando com a chegada da coroação… e claro sempre insistindo para que eu escolhesse logo a rainha que governaria ao meu lado. Agora, com o baile planejado por eles para que eu conhece as mais nobres, parecia que estavam tentando me empurrar para um mar de piranhas interesseiras, como se eu fosse um produto em exibição. “Sinceramente? Eu não quero me casar, eu nem ao menos queria essa mer*da de coroa.” Esse pensamento se repetia em minha mente, uma pequena revolta que eu escondia. Se meus pais soubessem disso, o reino de Eldora desabaria. A ideia de assumir um trono, com todas as suas obrigações, era sufocante. Essa manhã decidi ir ao jardins do castelo, estava cercado por primos e conhecidos, fazendo o que fazíamos sempre, jogar croqué. O sol brilhava intensamente, mas eu me sentia distante, como se u
POV Olívia Não era novidade nenhuma que ele trazia as suas “comidinhas” para o seu abatedouro. Era sempre a mesma cena: ele se atracando com as vadias, enquanto a mãe dele berrava para os quatro cantos do castelo o quanto ele era incompetente e inadequado para a coroa. Se bem que, para ser sincera, eu achava que ele fazia isso de propósito. Conhecendo Felipe, ou pelo menos o Felipe que eu conhecia, ele nunca gostou de seguir regras. Para quem é da realeza, isso é um pouco irônico, não? Estava carregando flores para trocar no vaso da área gourmet do castelo quando, de repente, um muro de músculos molhados se colidiu contra mim, derrubando todas as flores. “Não olha por onde anda? ” A voz cortante fez meu estômago se contorcer. Não… não… não! De todas as pessoas do mundo, por que tinha que ser ele? Levantei o olhar devagar, encontrando seus olhos verdes, frios e penetrantes, que pareciam me despir de qualquer defesa. “Desculpe-me, alteza!” falei apressada, me agachando p