Olhe por onde anda!

POV Olívia

Não era novidade nenhuma que ele trazia as suas “diversões” para o seu abatedouro. Era sempre a mesma cena: ele se atracando com as vadias, enquanto a mãe dele berrava para os quatro cantos do castelo o quanto ele era incompetente e inadequado para a coroa.

Se bem que, para ser sincera, eu achava que ele fazia isso de propósito. Conhecendo Felipe, ou pelo menos o Felipe que eu conhecia, ele nunca gostou de seguir regras. Para quem é da realeza, isso é um pouco irônico, não?

Estava carregando flores para trocar no vaso da área gourmet do castelo quando, de repente, um muro de músculos molhados se colidiu contra mim, derrubando todas as flores e fazendo meu coração disparar.

“Não olha por onde anda, empregada?” A voz cortante fez meu estômago se contorcer.

Não… não… não! De todas as pessoas do mundo, por que tinha que ser ele?

Levantei o olhar devagar, encontrando seus olhos verdes, frios e penetrantes, que pareciam me despir de qualquer defesa.

“Desculpe-me, alteza!” falei apressada, me agachando para pegar as flores espalhadas.

“É só isso que você sabe fazer? Pedir desculpas?” Ele se aproximou, invadindo meu espaço, e senti um calor incômodo subir pelo meu rosto.

“O que quer que eu diga?” desafiei, encarando-o de volta, minha voz tremendo entre a indignação e o medo.

“Está com a língua afiada, criada,” ele disse, enfatizando a palavra com desprezo, enquanto sua mão agarrou meu braço com força, como se quisesse me marcar.

“Me solte! Não pode falar comigo como bem entender.” Falei começando a ficar vermelha de raiva.

“Pois deixe-me lhe contar um segredo, Olívia.” falou se aproximando mais, conseguia sentir o seu hálito fresco contra os meus lábios. “Eu sou o príncipe aqui e de quebra, ainda sou o seu patrão. Então sim, eu posso falar com você como eu bem entender.” cuspiu humilhações na minha cara, assim como havia feito nos últimos anos.

“Não me culpe pelas suas frustrações reais, príncipe! ” soltei num impulso, cobrindo a boca em seguida, em choque com minha própria ousadia.

Qual é o meu problema? Eu não podia simplesmente ignora-lo e ir embora?

Ele me encarou, a raiva pulsando em suas veias. Ele soltou meu braço com um movimento brusco, quase como se estivesse se afastando de uma ferida, e saiu em disparada, deixando meu coração quase pulando pela boca.

E se ele me mandar embora? Oh, não! No que eu fui me meter? A adrenalina corria nas minhas veias, misturada com o terror do que poderia acontecer a seguir.

Logo após o incidente com Felipe, fui direto para a reunião sobre o baile, ainda tentando digerir o encontro amargo com ele. A senhorita Smith havia convocado todos os funcionários para discutir os preparativos. Segundo ela, aquele seria o evento mais importante do verão e nada, absolutamente nada, poderia dar errado.

Caminhei apressada, os dedos ainda trêmulos e o coração disparado. Felipe tinha esse efeito em mim: ele me desconstruía com poucas palavras, como se minha existência fosse nada mais que um incômodo para ele.

“Onde você estava?” sussurrou Bia ao me ver entrar, o rosto cheio de preocupação.

“Depois falamos,” murmurei, tentando esconder a fraqueza em minha voz e forçando-me a focar na governanta, que discursava como uma tirana, impaciente e exigente.

“Vocês precisam estar preparados! Não podemos dar brecha para falhas,” dizia Fernanda, a voz afiada enquanto andava de um lado para o outro. “Este será um baile importante, e há uma grande chance de nossa futura rainha estar presente. O príncipe Felipe deve escolher sua futura esposa ainda neste verão.”

O chão parecia sumir sob meus pés. Uma sensação de vertigem me tomou e, por um segundo, o mundo à minha volta perdeu o som e o foco. O quê? Ele realmente escolheria uma esposa… agora? Meu coração se apertou como se fosse esmagado por um punho invisível. As palavras de Fernanda reverberavam dentro de mim como uma sentença cruel e implacável.

“O príncipe Felipe deve escolher sua futura esposa…” Cada sílaba queimava, escavando mais fundo nas minhas ilusões, como um lembrete brutal do lugar que eu ocupava. E o que eu esperava? Algum conto de fadas em que o príncipe olharia para mim além do uniforme de serviçal? Que loucura era essa que eu havia alimentado dentro de mim?

A realidade me atingiu com a frieza de uma lâmina. Ele era um príncipe. E eu? Eu era ninguém. Uma criada. Uma órfã sem títulos ou um futuro certo.

A reunião continuava, mas minhas pernas tremiam, incapazes de suportar o peso da humilhação e do desespero que se acumulavam dentro de mim. Sem pensar duas vezes, saí do salão em passos apressados, sentindo as lágrimas começarem a descer antes mesmo de chegar à estufa.

A estufa era meu único refúgio, e ali, entre as plantas que eu mesma cuidava, finalmente deixei o controle escapar. Ao fechar a porta, fui engolida pelo calor úmido, o cheiro terroso das flores misturado às minhas lágrimas. Meus dedos tocaram as pétalas de uma rosa branca, suas bordas suaves contrastando com a dor que queimava em meu peito. Por que, mesmo sabendo de tudo, eu deixei Felipe me afetar tanto? Ele nunca me enxergaria como alguém digna de sua atenção. E por que deveria?

Encostei-me contra a parede de vidro, meu corpo escorregando até eu estar sentada no chão. O príncipe Felipe… eu poderia ter mil vidas, e em nenhuma delas ele olharia para mim como algo além de uma criada.

Os soluços vieram sem controle, cada um trazendo à tona a humilhação e o peso de amar alguém que nunca poderia ser meu. Eu havia sido tola.

Um barulho de passos me trouxe de volta à realidade. Ergui o rosto e percebi que alguém estava entrando na estufa. Meu coração parou por um segundo, temendo que fosse ele — talvez tivesse vindo para me humilhar mais uma vez, para lembrar que eu não passava de uma serva. Mas, para minha surpresa e alívio, era Bia, que me observava com preocupação.

“Olívia, o que aconteceu?” Ela se abaixou ao meu lado, seus olhos castanhos gentis e cheios de empatia. “Vi você sair correndo da reunião…”

Não consegui responder de imediato. Só olhei para ela, a garganta apertada com uma dor que não conseguia traduzir em palavras.

“É ele, não é?” Bia disse suavemente, seu tom cheio de compreensão. “Você precisa parar de deixar que ele te machuque assim. … ele nunca vai entender o que você sente. E mesmo que entendesse, ele é um príncipe. Gente como ele não entende o que é ter que lutar para sobreviver nesse mundo…..

Baixei a cabeça, sentindo a verdade no que ela dizia, mas sem forças para aceitar. “Eu sei, Bia. Eu não estou assim por causa dele, ok? Só estou com saudades da vovó e me sentindo culpada por não poder ir vê-la esse final de semana. Está tudo bem!” Menti. Tudo que eu não precisava era de uma Bia pilhada de preocupação por minha causa.

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