POV Felipe O sol mal havia nascido quando abri os olhos. Meu coração estava acelerado, mas não por medo. Era a ansiedade, a felicidade que me preenchia por completo. Hoje era o dia. Eu e Olívia iríamos embora. Finalmente, estaríamos livres para viver nossa vida juntos, sem ninguém para nos separar. Virei na cama, passando a mão pelo rosto enquanto um sorriso crescia nos meus lábios. Ainda parecia surreal. Eu ia ser pai. Um filho meu. Um filho dela. Tudo o que sempre desejei estava prestes a se tornar realidade. Levantei apressado, chamando os funcionários. — Preparem tudo. Coloquem minhas malas na frente da casa. Quero estar pronto para partir assim que possível. — Sim, alteza — um dos criados respondeu, inclinando a cabeça. Saí do quarto, minha mente já focada no que viria a seguir. Eu precisava ver Olívia. Ela deveria estar terminando de arrumar as coisas. Ou talvez ainda estivesse dormindo. O pensamento me fez sorrir. Talvez eu a encontrasse encolhida em su
POV FelipeEu não conseguia respirar.As palavras na carta ainda queimavam em minha mente, mas algo dentro de mim gritava que era uma fodida mentira. Que tudo aquilo era um teatro.Olívia não faria isso. Eu a conheço, ela não me deixaria. Não sem dizer nada, não depois de tudo.Saí em disparada para fora do castelo, ignorando qualquer chamado atrás de mim. O frio da manhã batia contra minha pele, mas eu não me importava. Meus passos eram rápidos, descontrolados.Eu ia encontrá-la.Mathêw veio correndo atrás de mim, a expressão preocupada.— Felipe! Felipe, espera!Não esperei. Continuei andando, meu peito subindo e descendo com força.Mathêw alcançou meu braço e me segurou.— Felipe, será que… será que não é verdade? Será que ela não foi embora mesmo?Me virei tão rápido que quase o derrubei.— Você acha que ela faria isso?! — minha voz saiu como um rugido.Mathêw esitou, mas sustentou meu olhar.— Cara… você já fez ela sofrer muito. O que garante que ela não tenha desistido?Senti um
POV Olívia O avião começou a perder altitude, e naquele instante, eu soube. Acabou. Tudo o que eu sonhei um dia… tudo o que eu imaginei para mim, para Felipe, para o nosso bebê. Acabou. Meus dedos se apertaram contra o tecido fino da minha roupa. Meu peito subia e descia descontroladamente, o nó na garganta ameaçando me sufocar. Eu queria gritar, queria espernear, queria lutar… Mas já não havia mais nada que eu pudesse fazer. Eles venceram. Minha avó segurou minha mão, apertando de leve, como se tentasse me passar alguma força. Mas eu sabia que ela estava tão assustada quanto eu. Quando o avião pousou, dois capangas da rainha nos obrigaram a descer. O vento gelado bateu no meu rosto e eu estremeci, não só pelo frio, mas pelo desespero que crescia dentro de mim. Eu olhei ao redor. Tudo era estranho, desconhecido. Um aeroporto movimentado, pessoas passando apressadas, placas com palavras que eu mal conseguia entender. Minha mala foi jogada no chão, a da minha avó também. — I
POV FelipeQuinze dias.Malditos quinze dias.E eu ainda não sabia porra nenhuma.Nada.Nenhuma pista. Nenhum rastro. Nenhuma resposta que fizesse sentido.E agora esse merda de detetive tinha a audácia de olhar na minha cara e dizer, pela milésima vez, que não encontrou nada?— VOCÊ TÁ DE BRINCADEIRA COM A MINHA CARA, NÉ? — Minha voz saiu tão alta que os vidros das janelas tremeram. — QUINZE DIAS, CARALHO! QUINZE DIAS E VOCÊ NÃO TEM PORRA NENHUMA PRA ME DIZER?!O filho da puta do detetive respirou fundo, tentando manter a pose de profissionalismo, mas eu vi o desconforto no olhar dele.— Alteza, estamos investigando todas as possibilidades, mas…— MAS O QUÊ?! — Eu bati a mão na mesa dele com tanta força que uma pilha de papéis caiu no chão. — VOCÊ TÁ SENDO PAGO PRA ME DAR RESPOSTAS, NÃO DESCULPAS!Minha respiração estava pesada, meu coração batia rápido, minhas mãos tremiam de raiva.Ódio.Frustração.Desespero.Eu não dormia. Não comia. A cada minuto, minha mente imaginava mil cenár
POV OlíviaDuas semanas e três dias Foi esse o tempo exato desde que nos jogaram em Londres sem documentos, sem dinheiro, sem nada.Foram três dias dormindo ao relento, encolhidas em uma casinha de madeira abandonada na praça, tentando nos proteger do frio cortante. Três dias de fome, de medo, de desespero, até que um guarda nos encontrou e nos expulsou dali como se fôssemos ratos.Minha avó chorava, implorava, mas ele não teve piedade.E foi ali, no meio da calçada, com nossas poucas roupas dentro de um saco de lixo, que conheci Derek.Ele era o dono de um bar decadente perto da praça. Baixo, barrigudo, sempre com um cigarro pendurado nos lábios e um olhar de quem já viu desgraça demais na vida. Ele ficou nos observando por um tempo, os olhos apertados, até que bufou e se virou para mim.— Sabe lavar prato, menina?Eu só consegui assentir, a garganta travada.— Ótimo. Vem comigo.E foi assim que consegui um trabalho. E um teto.Quer dizer… “teto” era um jeito generoso de chamar aqu
POV HenriqueA fumaça do meu cigarro subia devagar, se misturando com o cheiro forte de café velho no escritório. A chuva batia contra a janela, e o relógio na parede marcava quase oito da noite. Eu estava há horas analisando relatórios, rastreando contatos, tentando seguir qualquer rastro que levasse até Olívia. Até agora, nada.Suspirei, esfregando o rosto. Felipe estava impaciente. E com razão. Mas encontrar alguém sem documentos, sem qualquer registro de viagem, sem pistas concretas… Era como procurar uma agulha num palheiro.Uma batida na porta me tirou dos pensamentos.— Pode entrar — falei, apagando o cigarro no cinzeiro cheio.Minha secretária, Clara, apareceu com a expressão tensa.— Henrique… A rainha deseja vê-lo.Meu corpo ficou rígido.— Agora?Ela assentiu.Engoli em seco. Ter a realeza envolvida nesse caso já era complicado. Ter a rainha diretamente no meu escritório? Isso não podia ser bom.— Mande-a entrar imediatamente — respondi, tentando manter a compostura.Clara
Pov Felipe Eu não conseguia acreditar. As fotos estavam espalhadas sobre a mesa, mas eu não conseguia tocá-las. Só de olhar para aquelas imagens, meu peito se apertava como se alguém estivesse arrancando algo de dentro de mim.Olívia… com outro homem.Em uma praça.Em Londres.Mas que merda? Meu estômago revirou. Minha cabeça gritava que era um engano, que tinha alguma explicação, que…— Isso é mentira. — Minha própria voz soou estranha aos meus ouvidos.Henrique suspirou do outro lado da mesa. Ele parecia… não triste, mas resignado. Como se já soubesse que essa conversa terminaria assim.—Alteza…— Não pode ser. — Peguei uma das fotos com mãos trêmulas, os dedos apertando o papel com força. Meus olhos analisavam cada detalhe, procurando qualquer falha, qualquer coisa que provasse que aquilo era um truque, uma armação.Mas tudo parecia real.Meu coração batia tão forte que eu sentia o sangue pulsando nos ouvidos.— Felipe… tudo se encaixa.Levantei o olhar para ele, e minha própria
O bar estava mais vazio do que o normal naquela noite. A maioria das pessoas já tinha ido embora, e a agitação do turno estava se dissipando lentamente, com apenas alguns funcionários ainda limpando e organizando os utensílios. Eu estava no balcão, lavando copos, os dedos deslizando pela superfície fria, tentando organizar meus pensamentos. Já havia algum tempo que eu estava em Londres, e a adaptação, embora difícil, tinha se tornado parte da minha realidade. A cada dia, eu conseguia levar mais comida para casa e, graças ao trabalho, consegui marcar minha primeira consulta médica. Mas a ideia de sentar e esperar Felipe, se é que ele viria, parecia uma ilusão. Eu não podia ficar à espera de algo que talvez nunca acontecesse. À minha frente, Éric limpava o chão com um movimento exagerado, fazendo mais barulho do que necessário. Ele me olhou rapidamente e sorriu, como se estivesse tentando criar uma oportunidade de conversa. — Você já terminou aí? — Ele perguntou, com um tom que soava