Passando dos limites

POV Olívia

No dia seguinte, acordei decidida a enfrentar o que viesse. A noite havia sido longa, mas de alguma forma, consegui me recompor. Tomei um banho demorado, lavei o rosto e respirei fundo, como se pudesse expulsar toda a angústia que havia semeado dentro de mim. Eu ia conseguir passar por mais essa, assim como passei por tantas outras.

Descendo para a cozinha, esperava encontrar o conforto da rotina. Eu precisava de um pouco de normalidade para recuperar o equilíbrio.

Mas, assim que atravessei a porta, fui recebida por uma enxurrada de ordens, bandejas sendo empurradas em minha direção e carrinhos de comida sendo apressadamente organizados.

“O príncipe solicitou que, assim que você aparecesse, levasse o seu desjejum até os aposentos dele!” disse uma das funcionárias, quase sem fôlego enquanto arrumava tudo.

Franzi o cenho, confusa. “Mas… ele sempre toma café da manhã na varanda do castelo,” respondi, tentando entender o que estava acontecendo. Por que ele queria que eu fosse até seu quarto? Isso não fazia sentido.

“Cale a boca, menina! Apenas obedeça as ordens do príncipe!” A voz da senhorita Smith ecoou pela cozinha, cortante e impaciente. Ela me olhou como se eu fosse insubordinada apenas por questionar. “Vamos, corra! Já está atrasada. Não ouse deixá-lo esperando.”

Engoli em seco, sentindo uma pontada de nervosismo. Isso não está me cheirando bem. Desde quando Felipe muda sua rotina por algo tão trivial? E por que eu? Ele tinha dezenas de criados que poderiam cumprir essa tarefa.

Mas, diante do olhar impaciente da senhorita Smith e da expectativa dos outros funcionários, percebi que não tinha escolha. Peguei o carrinho com as bandejas cuidadosamente montadas e segui pelos corredores do castelo, cada passo ecoando no silêncio da manhã.

Meu coração batia mais rápido a cada degrau que eu subia. Algo me dizia que isso não era só sobre o desjejum. O que você está aprontando, Felipe?

Finalmente, alcancei a porta dos aposentos do príncipe. Inspirei fundo, ajustei a postura e bati duas vezes, esperando alguma resposta. Após um momento de silêncio, ouvi sua voz de dentro, autoritária e firme:

“Entre.”

Empurrei a porta devagar, entrando com cuidado. Felipe estava parado próximo à janela, de costas para mim, o corpo relaxado, vestido apenas com uma calça moletom que descansava bem abaixo de seu ventre definido, só aumentando o meu desconforto.

“Seu desjejum, alteza,” falei, tentando manter a voz neutra enquanto servia a comida sobre a mesa.

Foi então que, sem aviso, ouvi o som da porta do banheiro se abrindo atrás de mim. Um calafrio me percorreu. Por impulso, me virei para ver o que estava acontecendo.

Uma mulher loira e alta, envolta em um roupão de seda branco, saiu do banheiro com passos tranquilos e seguros. Ela tinha uma beleza deslumbrante e fria, com um ar de confiança que me fazia sentir ainda menor ali, parada com minha humilde bandeja. Os cabelos dourados dela caíam soltos sobre os ombros, ainda úmidos, e um leve sorriso surgiu em seus lábios ao notar minha presença.

Meu estômago revirou, mas não tive tempo de reagir. Felipe se virou para mim, com um sorriso irônico que quase me fez estremecer.

“Olívia, seja uma boa empregada e sirva o café para mim e minha convidada,” ele disse, com uma tranquilidade cruel, como se a situação não pudesse ser mais natural.

Minha garganta secou. Todos os pensamentos e sentimentos que eu havia tentado enterrar, que eu tinha jurado ignorar, retornaram como um golpe direto no peito. Era como se ele soubesse o que aquilo significava para mim e estivesse se divertindo com minha humilhação.

Respirei fundo, tentando esconder a dor e o constrangimento. Me aproximei da mesa e comecei a servir o café com mãos trêmulas, focando cada movimento para não deixar nenhuma emoção transparecer. Mas o olhar da loira em mim, cheio de desdém, só tornava tudo pior. Ela se aproximou de Felipe, passando os braços em volta dele com intimidade, como se quisesse reforçar o que eu já sabia.

“Obrigada, querida,” ela disse com um sorriso falso enquanto eu servia o café para ela, como se estivesse se divertindo com a situação.

Felipe observava tudo em silêncio, os olhos verdes frios e calculistas, claramente satisfeito com meu desconforto. Quando terminei, fiz uma pequena reverência, pronta para sair dali o mais rápido possível, mas ele me interrompeu.

“Ah, Olívia, antes de ir,” ele disse, sua voz escorrendo um tom de satisfação perversa, “os lençóis precisam ser trocados.” Ele deu uma pausa, aproveitando cada segundo da tensão no ar. “Certifique-se de que o quarto esteja em perfeita ordem.”

Minha respiração ficou presa quando percebi o que ele realmente queria dizer. Minhas mãos tremeram ao olhar de relance para a cama desfeita, onde embalagens de preservativos amassadas estavam largadas na mesa de cabeceira, como um lembrete cruel do que tinha acontecido ali. A loira me observava com um sorriso presunçoso, claramente satisfeita com o desconforto que sua presença me causava.

Cada fibra do meu ser gritava para sair correndo, mas não tive escolha. Respirei fundo, tentando manter o controle sobre minhas emoções. “Sim, alteza,” respondi, minha voz quase um sussurro, cheia de uma dor que eu tentava desesperadamente esconder.

Sem perder tempo, me aproximei da cama e comecei a tirar os lençóis, sentindo o cheiro suave de perfume misturado aos resquícios daquela noite que eu nunca saberia como foi. Meu estômago borbulhava, sentia vontade de correr para o banheiro e colocar tudo para fora. Cada movimento parecia rasgar um pedaço do meu orgulho. Eu era obrigada a limpar a cama onde ele tinha acabado de transar com outra pessoa.

Felipe observava tudo com um olhar claramente satisfeito com a forma como eu estava sendo humilhada. Quando terminei de remover os lençóis, ergui a cabeça por um breve momento e encontrei seu olhar, mas imediatamente me arrependi. Havia algo nos olhos dele, um brilho cruel, uma satisfação sombria que me fez sentir ainda mais pequena.

“Isso é tudo, alteza?” murmurei trêmula, com a voz baixa sem desviar o olhar do seu, pronta para sair dali o mais rápido possível.

Ele acenou com a mão, sem me olhar. Dispensando-me sem dizer mais nada.

Covarde!

Era uma peça que ele podia manipular ao seu bel-prazer. Saí do quarto com o peito apertado, o orgulho dilacerado e o rosto queimando de vergonha.

Ao fechar a porta atrás de mim, senti uma lágrima escapar, e rapidamente a limpei, determinada a não deixar que aquilo me destruísse. Eu precisava seguir em frente, me distanciar… mas a dor que Felipe havia me feito sentir naquele instante…ele havia passado de todos os limites possíveis.

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