Eu corro o mais rápido possível sem saber em que direção eu estava.
— Paulo! — Grito desesperada andando por aqueles corredores escuros. — Paulo, você está me ouvindo? — eu pergunto — Paulo, onde você está?
Eu não conseguia descrever o que eu senti quando escutei os tiros, minhas pernas caram bambas, me faltou o ar, eu só sabia correr, correr e correr, mesmo tropeçando nos meus próprios pés.
— Paulo — Eu grito mais uma vez e não tenho resposta nenhuma dele, meu coração está a ito.
Quando meus pés tropeçam em algo as luzes se acendem, eu olho para baixo vendo o corpo do meu marido.
—Ahhhh! Paulo! — grito o chamando, me ajoelho no chão ao seu lado, com lágrimas descendo pelo meu rosto sem parar, minhas mãos tremiam, ele ainda estava com os olhos abertos e tentava mexer a sua boca. Eu não conseguia pensar em nada, a não ser em todos os nossos momentos juntos e começo a chorar muito...e...
— Alguém me ajuda! — olho para os lados e não vejo ninguém, mesmo assim ainda grito, para que alguém me ouça. — Chamem uma ambulância agora.... Amor, meu Deus! — Passo a mão pelo seu rosto e pressiono um de seus ferimentos, tentando estancar o sangramento.
— Vai car tudo bem meu amor… — eu dizia desesperada. Minha cabeça começa a girar, não consigo acreditar no que está acontecendo e minha visão começa a car turva pelas lágrimas.
— Meu Deus! —Pietro fala, ele chega com sua esposa e o garçom aparece com a taça de champanhe na mão. —Meu irmão — ele diz se abaixando ao lado de Paulo, eu olho para ele, mas não vejo uma lágrima descer em seu rosto.
— Paulo — eu digo chorando. — Por favor, Paulo ca comigo, por favor.
— Barbara… — ele fala com um o de voz. — Eu… eu amo vocês — eu pego em sua mão deixando com que as minhas lágrimas caiam por cima do seu corpo.
Ele ainda piscava os seus olhos tentando se manter vivo, o mundo em volta era como se tivesse apagado, eu não conseguia escutar o barulho em nossa volta, nada! Eu só conseguia olhar para Paulo e ver ele morrendo na minha frente.
— Pai! —Pedro chega e se ajoelha ao lado do seu pai. — Papai.. — ele começa a chorar sem parar.
Quando seus olhos paralisam, eu percebo que ali ele tinha se ido, eu agarro Pedro que tinha começado a chorar e se desesperar, eu agora teria que engolir o meu sofrimento para acolher meu lho. Era uma dor imensa e eu tentava segurar as lágrimas, porém era impossível, médicos passam por nós e eu pego Pedro pelos braços e nos afastamos para trás, a chegada deles foi rápida.
— Pai, meu pai, meu pai… não! — ele gritava e a cada grito e soluços dele de desespero, eu o abraçava mais forte e tentava transformar a sua dor em acolhimento, mas era impossível porque eu também sentia essa dor imensa dentro de mim.
Eu não conseguia entender o porquê a morte escolheu esse dia para levar Paulo, porque ele se foi nesse momento, estava tudo perfeito, tudo tão lindo, a gente vivia a melhor época de nossas vidas. Marília se abaixa até nós e tenta nos abraçar em forma de acolhimento, nesse momento eu não queria ninguém, eu queria Paulo lá na pista de dança me conduzindo em uma bela dança e relembrando a nossa vida a dois.
— Vocês precisam se afastar — os médicos falam se aproximando e Marília me afasta do corpo de Paulo.
— Meu marido — digo tentando ir, mas Marília me impede.
—Deixa os médicos — ela fala segurando em meu rosto e eu choro desesperada — Eles precisam tentar salvar ele.
—Paulo — eu falo gritando —Paulo, por favor não me deixe! —Pedro se aproxima de mim e eu o abraço forte, ele chorava demais. Marília ali com a gente tentava consolar nós dois.
— Meu pai! — Pedro fala e Marília o abraça ele forte.
— Vocês precisam reanimar ele — Pietro dizia em um ato de desespero para os médicos ali.
— Infelizmente, ele não resistiu — um dos médicos fala. — Precisamos chamar o IML para a perícia, a polícia já está a caminho — ele fala.
— Não, não! — eu grito. Eu fecho os olhos e as lágrimas começam a descer pelo meu rosto e eu só consigo ver Paulo na minha frente, nossos momentos, ele me abraçando, sua boca tocando a minha e ele me olhando com um sorriso em seu rosto, dizendo que me ama.
O caos era enorme e os seguranças tentavam mandar embora os convidados e impedir que curiosos tirasse foto daquele momento, mas era quase impossível, o mundo de hoje as pessoas não tinham amor ao próximo e tudo era motivo de gravar e colocar na internet para ganhar os seus cinco minutos de fama.
Engatinhando por aquele chão eu vou até o seu corpo, mesmo às pessoas em volta me alertando que eu deveria me afastar por causa da perícia, eu me encosto em seu peito e começo a chorar. Pedro nos braços de sua tia chorava com os olhos fechados e ela tentava tirar ele da ali, mas ele vai até o corpo do seu pai comigo e se deita por cima do pai chorando.
— Não me deixe — eu dizia para ele —Não me deixe, por favor — eu chorava pegando em sua mão. — Você não pode me abandonar, por favor — as minhas palavras saiam em um tom desesperador, eu olhava para seu rosto e seus olhos paralisados olhando para o teto sem o brilho que eu amava neles. — Por favor diz que me ama, se levanta, por favor — eu gritava — Tínhamos tantos planos, tantos planos!
Não tinha resposta, Paulo não me respondia, a única coisa que eu recebi foi seu silêncio para sempre, sua mão que aos poucos ca gelada assim como o resto do seu corpo, seu tom de pele que ia cando pálida, eu só tinha a morte ao meu lado nesse momento, eu não tinha mais o meu marido, eu tinha apenas o seu corpo que não iria se levantar para dizer que me ama, que não iria dançar comigo, me contar piadas, me dizer que eu era a mulher da sua vida ou o quanto me amava.
— Senhora — sinto alguém se agachar até a minha altura, e a cor da farda que ele usava, já consegui identi car o que ele era. — Senhora! — A sua voz soava novamente me chamando — Senhora — eu encaro seus olhos. — Eu sinto muito pela morte do seu marido, por favor venha comigo — ele estica a sua mão e eu nego com a cabeça.
— Ele vai acordar, ele vai acordar — Eu olho para ele e digo em um momento de delírio.
Vários policiais entram naquele lugar, os médicos do IML também e o policial tenta me afastar do corpo de toda forma.
— Não, por favor — eu falo chorando — Não me tira daqui.
Aos poucos ele consegue me afastar do corpo e eu me encolho em um canto com Pedro ao meu lado, eles formam um cerco em volta de Paulo.
— Eu quero meu marido — eu falo chorando.
— Bárbara — Marília fala ao lado de Pietro que tira Pedro da ali. — Bárbara, eles precisam fazer o trabalho deles.
— Não, eu quero car com meu marido, é injusto! Eu quero car com meu marido — eu falo nervosa.
Eu tento me aproximar do corpo, mas novamente sou impedida.
—Por favor, senhora, você precisa esperar — O policial fala —Por favor, estamos realizando o nosso trabalho, a cena do crime já foi modi cada.
— Não — eu falo — Eu quero car com meu marido, por favor — eu olho para ele
— Eu te imploro, me deixa car com meu marido — ele me encara — Já não basta a dor de perder ele, eu tenho que suportar a dor de não poder car com ele enquanto seu corpo ainda está quente? Eu preciso sentir meu marido, por favor.
— Infelizmente não posso deixar agora — ele fala.
— Nós iremos deixar você ver o corpo quando ele for liberado — um dos médicos do IML fala — agora precisamos fazer a perícia.
— Vem Barbara — Marilia fala me puxando. — Vem comigo — nego com a cabeça e começo a chorar muito.
Eu olho para o corpo de Paulo e nesse exato momento me passa na cabeça uma das suas últimas frases que ele me disse quando a gente dançava e repito a frase alta.
— Eu vivo a vida ultimamente, cada dia como se fosse o último da minha vida… — eu falo lembrando do que ele me disse, eu olho para Paulo vendo seu corpo sendo coberto — Era um aviso, ele estava me preparando para isso — Marilia me olha sem entender o que eu estava dizendo e as lágrimas desciam pelo meu rosto, eu olho para o seu corpo agora coberto em choque.
Eu entro por aquela porta e vejo seu corpo em cima de uma cama de ferro, tampado por um lençol azul, eu ando lentamente até ele. Era de manhã já e eu não tinha dormido nada, eles demoraram para liberar o corpo dele. Todos os dias eu me arrumava para ele, ao sair do closet ele me dizia o quanto eu estava bonita, nossas mãos se entrelaçavam e ele dizia que me amava. Essa manhã, eu não acordei, eu passei a madrugada chorando, eu me arrumei pela última vez para ele, só que dessa vez, eu não tive ele me esperando ao sair do closet, não tive o seu sorriso e nem a sua voz me dizendo bom dia ou me elogiando.Dessa vez eu me arrumei para encontrar ele nessa sala gelada do IML.— Vou deixar você sozinha — o médico legista fala e eu olho para trás vendo ele sair e fechar a porta.Eu me aproximo do seu corpo e baixo o lençol, revelando seu
Era mais uma noite em claro e acho que iria demorar muito para conseguir ter uma noite tranquila. Eu tinha falado com Pedro agora pouco e ele não estava nada bem também, eu sei que eu iria ter que ser o alicerce para ele e a força de nós dois, por isso quis car sozinha aqui hoje e talvez amanhã também, para que Pedro não me veja fraca.Eu passo a mão pela maçaneta da porta do seu escritório e entro, vendo que está tudo conforme ele tinha deixado, os papéis em cima da mesa, seu notebook, suas canetas preferidas. Tanta coisa que a gente viveu aqui dentro, tantas reuniões juntos, tantas coisas resolvemos e decidimos aqui, tantos momentos descontraídos, eu puxo a cadeira e me sento, abrindo as gavetas e vendo as suas coisas organizadas por data, Paulo era o homem mais organizado que eu havia conhecido, enquanto eu era a bagunceira em pessoa, mas essa nossa diferença nunca nos
Acompanhada de Murilo, eu chego à delegacia de homicídios, Pietro está na frente nos esperando.— Olá — ele fala me abraçando.— Oi — eu falo para ele. — Eu ainda não consigo entender o porquê estamos sendo tratados como suspeitos.— É normal — Murilo fala — Daqui a pouco eles vão descartar, porque vão ver que vocês não têm nada a ver com a morte dele, mas até começar as investigações, são procedimentos normais.— Você tem consciência de algum inimigo que ele poderia ter? — Pietro fala me olhando.— Eu não consigo pensar em nada — eu falo para ele. — Naquela manhã, ele tinha sumido para resolver algo e voltou com um carro de presente para Pedro.— O negócio era o carro? — ele pergunta, porque naquele
Eu estou tão nervosa que eu era capaz de pular nesse policial de tanta raiva, eu não vou admitir que ninguém suspeite de mim, que ninguém me diga que eu posso ter matado Paulo, só eu sei o quanto estou sofrendo com a sua morte, que estou me sentindo morta por dentro.— Calma — Murilo fala me olhando — Você precisa se manter calma.— Como vou me manter calma, se esse senhor está me acusando de algo que eu não z? — eu falo olhando para o policial — Eu jamais mataria Paulo, ele é pai do meu lho, o que ele decidiu ou não fazer com a sua parte da herança, é problema dele, ele tinha a liberdade para fazer o que ele quisesse — eu suspiro nervosa — Se ele decidiu dar uma parte das suas ações para seu irmão, sobrinhos, advogado, é porque ele sabia que era o certo a se fazer.— Você só está
Eu abro a porta quando vejo que Murilo e Pietro estão estacionando os carros. Pietro desce do carro e vai em direção ao porto e Murilo vem me encontrar na porta de casa. Eu tinha chamado eles depois que quei sabendo sobre o carro azul, eles eram os únicos que eu conseguia con ar nesse momento.—Pietro vai ver se consegue mais alguma informação sobre essa mulher — ele fala.—É estranho — eu falo — será que Paulo teria capacidade de ter uma amante? — eu questiono.—Acredito que não — ele fala — Paulo era apaixonado por você, pela família que ele construiu ao seu lado.—Mas quem era essa mulher? — eu pergunto — você era braço direito dele.—Paulo não me disse que aquele dia iria mudar o testamento — ele fala — ele não quis mudar comigo, nem sequer me avisou sobr
— Mãe — Pedro entra pela porta e eu largo o porta retrato em cima do móvel novamente. — Mãe? —ele se aproxima e eu me viro o encarando e ele me abraça forte.Pedro era muito parecido com o seu pai, até mesmo a voz, quando eu o abracei eu me senti abraçando Paulo e me segurei para não chorar, por que eu sei o quanto o nosso lho está sofrendo pela sua morte e eu precisava mostrar que eu era forte por ele.— Como você está meu amor? — eu pergunto.Estou bem e a senhora? — ele pergunta.—Também, melhor agora que você está aqui — eu respondo.— Meus tios queriam que eu casse mais tempo lá, mas eu precisava ver como a senhora estava — eu sorrio fraco.— Amanhã vão vir fazer uma perícia no escritório do seu pai e depois disso, eu quero ir para a nossa casa
Era de manhã, antes mesmo de dar 7hs a polícia chega para fazer a perícia no escritório, eu desço do quarto e encontro vários deles na minha sala, entrando e saindo de dentro de casa.— Bom dia, senhora Bárbara — O investigador Felipe fala assim que me vê.— Bom dia, investigador — eu respondo para ele.— Perguntamos a sua funcionária, se teve alguém no escritório depois da morte dePaulo e ela me disse que você entrou lá — ele fala me olhando— Sim, eu entrei no dia que retornei do velório dele — eu respondo — Mas aí fui avisada que não poderia car lá dentro, porque iria ter uma perícia.— Você mexeu em algo, tirou algo do lugar ou de dentro do escritório? — ele pergunta;— Não — eu respondo — Não foi t
Assim que chegamos na nossa casa de praia, eu sinto um aperto enorme em meu coração, até porque a gente iria vir para cá um dia após o aniversário do nosso lho, Paulo tinha planejado nossos passeios de lanchas, nossos almoços em família e até mesmo a festa dourada, que a gente sempre fazia nessa época do ano com os nossos amigos, ele tinha tantos planos e tudo foi água abaixo.Chegar nessa casa sozinha, me fazia por alguns segundos me sentir fraca, mas quando eu olho para o lado e vejo o nosso lho, eu vejo o quanto eu preciso ser forte por ele, por que eu não estou sozinha, eu tinha uma parte de Paulo ao meu lado, uma parte especial, um menino de ouro que sentia a falta do seu pai todos os dias.— Não é a mesma coisa estar aqui sem ele — ele fala e eu o encaro.— Ele faz falta em nossas vidas — eu falo para ele —Mas precisamos seguir lh