O policial tira ela de dentro da sala e Artur entra no escritório ao lado de Fernando, eu e ele nos encaramos.— Você está bem? — o investigador pergunta.— Sim! — eu falo deixado as lágrimas descerem.— Eu sinto muito por toda essa descoberta — ele fala — Eu tomarei o depoimento dela, eu consegui a liminar para que a gravação fosse usada como prova — eu o encaro .— Obrigada.— Eu vou precisar fazer algumas perguntas e que você vá depor novamente na delegacia — eu assinto.— Claro — eu falo.— Mas pode ser amanhã — ele fala — Eu aguardo você lá.Eu me viro e vou até a mesa pegando a urna com as cinzas de Paulo a colocando novamente no cofre, em silêncio. Eu fecho a porta do cofre e coloco o quadro sobre e começo a chorar.Eu jamais imaginei que conhecer Marília, ter uma amizade com ela, faria que no futuro ela destruísse a minha vida, eu me abaixo e começo a chorar muito, eu tinha perdido toda a dureza e firmeza que eu tive até agora enquanto falava com ela.Eu olho para nossa foto e
Capítulo 59Algumas semanas passaram e as coisas estão se encaminhando, em breve faria um ano da morte de Paulo e eu tinha decidido que no dia que completar um ano, seria o dia que a gente jogaria as suas cinzas, o lugar seria onde de alguma forma eu receberia a sua última carta e só agora depois de quase um ano, eu entendi as palavras de Paulo durante a dança, a nossa última dança.Flashback on…— Do que você está falando? — Olho para ele sem entender. — Acontecer algo com você? — Ele passa a sua mão pelo meu rosto.— Você terá todas as respostas que irá precisar em forma de uma carta, lá onde o sol nasce e a gente… — ele me olha e eu encaro.Flashback off…Após a condenação de Marília e Murilo, fiquei mais tranquila. Meu coração parece que se acalmou e começou aceitar um pouco mais a ausência do Paulo na minha vida, ausência física, por que eu sei que ele sempre estaria presente na minha vida. Não digo que deixou de doer a sua falta, porque jamais vai deixar de ser doloroso não ter
— Eu não sei o que te dizer, isso tudo é muito difícil para mim! Me desculpe.— Eu sei que é, eu te entendo — ele fala — Mas é que eu não consigo mais esconder, nem mentir para mim mesmo o que eu sinto e eu não quero esconder de você o que eu sinto, quero ser sincero sobre os meus sentimentos, eu também não quero que isso atrapalhe a nossa amizade, a nossa relação que criamos até aqui.— Jamais iria atrapalhar — eu falo.— Mas você é uma mulher incrível, tem uma força enorme. Aprendi a te admirar, eu me acostumei com a sua presença, com o seu sorriso, com a sua forma de ser — ele se aproxima ainda mais de mim — Eu entendo porque Paulo era tão apaixonado por você e continua sendo, por que você é uma mulher encantadora. Eu penso em você o tempo todo, dia e noite, quando eu te vejo chorar é como se eu estivesse levando facadas em meu coração, porque tudo que eu quero é apenas te ver bem, com seu sorriso leve e encantador — ele passa a sua mão pelo seu rosto — Eu não queria , mas eu apre
Uma semana depois.Hoje era o dia do aniversário de Pedro e o dia que completava um ano da morte de Paulo, acordamos de manhã cedo e tomamos o café da manhã especial de aniversário do Pedro como era a tradição, como fazíamos todos os dias e todos os anos, só que dessa vez foi apenas eu e Pedro.Qual lugar melhor para jogar as cinzas de Paulo se não o lugar onde a gente deu o nosso primeiro beijo? Onde voltamos várias vezes durante a nossa vida para ver o sol de por. Cabo da Roca era o lugar mais ocidental de Portugal e o melhor lugar para ver o sol se pôr no meio de suas rochas sobre o mar. Adoramos esse lugar, quantas coisas vivemos aqui, quantos sonhos, quantas conversas tivemos e quantos sorrisos bobos.Pedro ainda estava no quarto do hotel e eu estava esperando ele, com a urna sobre minhas mãos e o barco já esperava para que fossemos até o alto mar, ver o pôr do sol e jogar as suas cinzas.Eu não sei como, mas eu sinto que eu receberia a carta dele a qualquer instante. Há um ano
A hora do sol se pôr ia chegando e a gente tentava se preparar emocionalmente, não era fácil, era uma segunda despedida. Agora era uma despedida mais leve, onde a gente ia entendendo o que a gente sentia, mas não menos dolorosa.— Bárbara — A voz dele soa atrás de mim e me viro.— Fernando? — falo olhando para ele e vejo que está com as mãos atrás dele — O que você está fazendo aqui?— Eu tenho uma coisa para você — ele fala tirando a mão de trás das suas costas e está segurando uma carta de Paulo na mão.— Co… como você tem isso?— Era eu quem estava com as cartas o tempo todo — ele fala e eu o encaro.— Você? — pergunto com mil coisas passando pela minha cabeça. — Por que você?— Quando Paulo passou pelo tratamento no hospital, eu fui o médico dele que equilibrou a situação toda. Eu não poderia te falar até então por que era segredo de paciente, eu acompanhei ele durante alguns meses, ele confiou em mim e entregou todas as cartas no dia da sua morte — eu o encaro — Peço desculpa por
Eu entrego a urna para Pedro que segura ela em suas mãos com todo cuidado, Fernando se afasta e se senta mais para trás de nós e apenas nos encara.Eu abro a carta lentamente porque sei que essa seria a última que eu iria receber dele, a última que ele escreveu para mim. Passo a mão pela sua assinatura, cheiro o papel por que eu sentia o seu cheiro e vejo a data em que a carta foi escrita, vejo que tinha sido no dia 17/05/2021, exatamente um ano atrás, no dia da sua morte. Ele sentiu tudo, ele sentiu que algo ruim aconteceria com ele nessa data e fez com que tudo se encaixasse da melhor forma possível.Eu abro a carta e quando começo a ler era como se eu escutasse a sua voz, era como se eu enxergasse ele na minha frente me falando o que estava escrito na carta.Querida Bárbara, eu escrevo essa carta no dia do aniversário do nosso filho, são 11h40 da manhã e você já me ligou várias vezes, já me deixou tantas mensagens, eu sei que sumi e não sei quando que você vai ler essa carta, não s
BônusPaulo Narrando17|05|2021 – Um ano atrás..Eu termino de escrever a última carta para Bárbara, eu encaro aquela carta escrita e deixo uma lagrima escorrer pelo meu rosto, eu nunca fui um homem de dar o braço a torcer para algo, mas na circunstância que está a minha vida e com tantos problemas, com essa doença horrível, eu decidi deixar tudo preparado. Eu não quero que quando chegar a hora que eu tenha que partir, Bárbara fique despreparada para continuar sem mim, nem ela e nem Pedro.Eu e Barbara sempre fomos uma pessoa só, o nosso amor era intenso de mais e eu não queria ter que deixar ela sozinha nesse mundo, é por isso que eu escolhi ao longo da minha caminhada no tratamento contra o câncer, algumas pessoas que poderiam auxiliá-la.— Aqui está — eu falo entregando as cinco cartas para o doutor Fernando — Todas com as datas estabelecidas para entregar.— Eu espero que eu não tenha que entregá-las — Fernando fala — Porque eu acredito que você vai ainda viver muito, você sabe o
Bárbara NarrandoCARTA PARA PAULO BARBOSA-17/05/2025Paulo, algumas pessoas podem achar besteira eu escrever uma carta, alguns dizem que você jamais vai ler, mas a forma que nos comunicamos após a sua morte foi por carta, quer dizer… você. Eu ainda não me sentia preparada para te escrever algo, mas agora 4 anos após a sua morte, eu me sinto preparada para te contar como as coisas estão em nossas vidas, eu sei que talvez não precise te contar porque você pode estar vendo de onde você está, mas assim acalma meu coração.Primeiro, eu sempre espero todas as manhãs para que a Borboleta azul apareça, após a data que completou um ano da sua morte, a borboleta apareceu apenas uma vez no dia do nascimento de Sofia, minha filha com Fernando que hoje tem dois anos de idade. Quando eu vi aquela borboleta pela janela do meu quarto, porque eu escolhi ter Sofia em casa, eu percebi que você estava ali comigo, comemorando o nascimento dela também e que ali foi o momento em que você seguiu o seu plano,