Uma semana depois.Hoje era o dia do aniversário de Pedro e o dia que completava um ano da morte de Paulo, acordamos de manhã cedo e tomamos o café da manhã especial de aniversário do Pedro como era a tradição, como fazíamos todos os dias e todos os anos, só que dessa vez foi apenas eu e Pedro.Qual lugar melhor para jogar as cinzas de Paulo se não o lugar onde a gente deu o nosso primeiro beijo? Onde voltamos várias vezes durante a nossa vida para ver o sol de por. Cabo da Roca era o lugar mais ocidental de Portugal e o melhor lugar para ver o sol se pôr no meio de suas rochas sobre o mar. Adoramos esse lugar, quantas coisas vivemos aqui, quantos sonhos, quantas conversas tivemos e quantos sorrisos bobos.Pedro ainda estava no quarto do hotel e eu estava esperando ele, com a urna sobre minhas mãos e o barco já esperava para que fossemos até o alto mar, ver o pôr do sol e jogar as suas cinzas.Eu não sei como, mas eu sinto que eu receberia a carta dele a qualquer instante. Há um ano
A hora do sol se pôr ia chegando e a gente tentava se preparar emocionalmente, não era fácil, era uma segunda despedida. Agora era uma despedida mais leve, onde a gente ia entendendo o que a gente sentia, mas não menos dolorosa.— Bárbara — A voz dele soa atrás de mim e me viro.— Fernando? — falo olhando para ele e vejo que está com as mãos atrás dele — O que você está fazendo aqui?— Eu tenho uma coisa para você — ele fala tirando a mão de trás das suas costas e está segurando uma carta de Paulo na mão.— Co… como você tem isso?— Era eu quem estava com as cartas o tempo todo — ele fala e eu o encaro.— Você? — pergunto com mil coisas passando pela minha cabeça. — Por que você?— Quando Paulo passou pelo tratamento no hospital, eu fui o médico dele que equilibrou a situação toda. Eu não poderia te falar até então por que era segredo de paciente, eu acompanhei ele durante alguns meses, ele confiou em mim e entregou todas as cartas no dia da sua morte — eu o encaro — Peço desculpa por
Eu entrego a urna para Pedro que segura ela em suas mãos com todo cuidado, Fernando se afasta e se senta mais para trás de nós e apenas nos encara.Eu abro a carta lentamente porque sei que essa seria a última que eu iria receber dele, a última que ele escreveu para mim. Passo a mão pela sua assinatura, cheiro o papel por que eu sentia o seu cheiro e vejo a data em que a carta foi escrita, vejo que tinha sido no dia 17/05/2021, exatamente um ano atrás, no dia da sua morte. Ele sentiu tudo, ele sentiu que algo ruim aconteceria com ele nessa data e fez com que tudo se encaixasse da melhor forma possível.Eu abro a carta e quando começo a ler era como se eu escutasse a sua voz, era como se eu enxergasse ele na minha frente me falando o que estava escrito na carta.Querida Bárbara, eu escrevo essa carta no dia do aniversário do nosso filho, são 11h40 da manhã e você já me ligou várias vezes, já me deixou tantas mensagens, eu sei que sumi e não sei quando que você vai ler essa carta, não s
BônusPaulo Narrando17|05|2021 – Um ano atrás..Eu termino de escrever a última carta para Bárbara, eu encaro aquela carta escrita e deixo uma lagrima escorrer pelo meu rosto, eu nunca fui um homem de dar o braço a torcer para algo, mas na circunstância que está a minha vida e com tantos problemas, com essa doença horrível, eu decidi deixar tudo preparado. Eu não quero que quando chegar a hora que eu tenha que partir, Bárbara fique despreparada para continuar sem mim, nem ela e nem Pedro.Eu e Barbara sempre fomos uma pessoa só, o nosso amor era intenso de mais e eu não queria ter que deixar ela sozinha nesse mundo, é por isso que eu escolhi ao longo da minha caminhada no tratamento contra o câncer, algumas pessoas que poderiam auxiliá-la.— Aqui está — eu falo entregando as cinco cartas para o doutor Fernando — Todas com as datas estabelecidas para entregar.— Eu espero que eu não tenha que entregá-las — Fernando fala — Porque eu acredito que você vai ainda viver muito, você sabe o
Bárbara NarrandoCARTA PARA PAULO BARBOSA-17/05/2025Paulo, algumas pessoas podem achar besteira eu escrever uma carta, alguns dizem que você jamais vai ler, mas a forma que nos comunicamos após a sua morte foi por carta, quer dizer… você. Eu ainda não me sentia preparada para te escrever algo, mas agora 4 anos após a sua morte, eu me sinto preparada para te contar como as coisas estão em nossas vidas, eu sei que talvez não precise te contar porque você pode estar vendo de onde você está, mas assim acalma meu coração.Primeiro, eu sempre espero todas as manhãs para que a Borboleta azul apareça, após a data que completou um ano da sua morte, a borboleta apareceu apenas uma vez no dia do nascimento de Sofia, minha filha com Fernando que hoje tem dois anos de idade. Quando eu vi aquela borboleta pela janela do meu quarto, porque eu escolhi ter Sofia em casa, eu percebi que você estava ali comigo, comemorando o nascimento dela também e que ali foi o momento em que você seguiu o seu plano,
Barbara NarrandoEstamos todos reunidos no salão de festa da empresa, para comemorar o aniversáriodo nosso filho Pedro, vejo Paulo conversando com Pedro e seu irmão Pietro, em um cantodo salão e abro um sorriso, com uma taça de champanhe na mão eu começo a lembrar dequando eu e ele nos conhecemos. Era um dia chuvoso em São Paulo, tanto eu como ele,iriamos para Portugal naquele dia, todos os voos atrasaram por causa do temporal e euentrei em um café no aeroporto para esperar, foi quando Paulo entrou e nossos olhares seencontraram, um sorriso nasceu em nossos lábios e ele se aproximou e me pediu desculpapor ter me olhado, contudo a nossa história começou. Em todos esses anos a gente seamou, sonhou e construiu muita coisa juntos e hoje comemoramos os 15 anos do nossofilho, nosso príncipe e a razão de tudo isso.
Barbara Souza NarrandoAbro os olhos um pouco devagar, a claridade invade o quarto, os raios do sol passamatravés das cortinas, á 15 anos esse dia amanhecia ainda mais lindo, até porque eraaniversário do nosso filho, ainda deitada coloco minha mão para o lado para encostar emPaulo, mas encontro a cama vazia. Eu me sento na cama e olho para o meu lado esquerdonão o encontrando e acho tudo aquilo estranho, Paulo nunca acorda antes de mim e se issoacontece, ele sempre me acorda, ainda mais hoje que era um dia tão especial para nós. Euolho para o criado mudo ao lado da cama e vou até ele e pego um bilhete que era de Paulo.“Bom dia meu amor, voltarei apenas para o horário do jantar. Não se preocupe, estouresolvendo alguns problemas com um amigo. Te amo”Sem acreditar no que eu acabei de ler, vou até o closet par
Se aproximava da hora do jantar e Paulo ainda não tinha me dado notícias, não respondeu às minhas mensagens e muito menos retornou as inúmeras ligações que eu tinha feito. Eu já estou pronta para o jantar e Pedro, já deve estar também.Saio do meu quarto com o celular na mão ligando para ele e mais uma vez a ligação chama, chama e ele não me atende, caindo na caixa postal.— Pedro? — entro em seu quarto chamando-o e vejo que ele está terminando de se arrumar. — Seu pai falou com você hoje? — ele me encara.— Não — ele fala. — Não ligou e nem me mandou nenhuma mensagem.— Você tem certeza?— pergunto-lhe e vou até à janela do quarto, vendo que o carro de Paulo está no mesmo lugar. —Vê no seu celular, se ele enviou alguma coisa.&m