Amara
Abrir os olhos nunca foi tão difícil. Forço as pálpebras a se separarem minimamente, pisco lutando contra os cílios pesados e sonolentos e sinto que estou deitada sobre algo macio e gelado. Uma silhueta paira inclinada sobre mim, observando-me de cima e o perfume de alecrim e capim-limão entope minhas narinas, unindo-se ao da magia enjoativo.
Hirion repuxa o canto dos lábios e acaricia minha bochecha com o indicador, o dedo calejado de segurar espadas e lutar nas batalhas da realeza de quando sua família servia á realeza. Um calafrio me percorre e nos distancio de supetão sentindo o coração acelerando ao me apoiar nos cotovelos afundados no colchão enorme e velho.
— Enfim, acordada. – O feérico sibila, subindo e descendo os olhos por minhas curvas marcadas no vestido preto que eu usava, – os seios ressa
— Quando começou? – Expiro levemente, temendo que se deixar o ar sair dos pulmões, ele não volte a entrar neles.— O plano de conquista de Duvessa? – Ele especifica a pergunta. — Um dia depois que todos pensamos que você havia morrido. Ela levou cinco anos planejando os mínimos detalhes. Uma feérica excepcionalmente esperta, eu diria. A revolta e o caos da natureza? Doze meses. Doze meses, lutamos pela sobrevivência, pela comida e pelo resquício de magia que nos resta depois que a terra sugou cada gota de todas as fadas, restando apenas nossa essência e ela se esmaece a cada dia que usufruímos dela. O que sobrou, sua irmã roubou dos lordes e de Endaria, o que forçou a maioria inteligente de nós a nos juntarmos a causa dela. Resumindo, princesa – Seu hálito é quente ao falar de dentes cerrados e a mão se embrenha nos
Um calafrio banha meus nervos e noto, pela maneira como Hirion enrijece atrás de mim e hesita entre as minhas pernas, que não sou a única que se assusta. Saltos estalam na pedra lida e Duvessa aparece em meu campo de visão, com passos preguiçosos e perigosos.— Minha rainha! — O feérico salda embargado em tensão e surpresa, ainda mantendo-me imóvel.— Pretendia me contar sobre sua façanha com minha queria irmã, Hirion? – Ela cruza os braços e troca o peso para a outra perna. A ironia em querida soa normal, depois de tudo o que acontecera nos últimos dias e não espero qualquer carinho vindo dela. — Hedween me alertou sobre o seu desejo incontrolável e por um instante, pensei que alguém como você seria capaz de se conter.— Dispense o ciúme, flor da noite. – O feérico propõe
Noah me encara de cima. Seus olhos estão cheios de uma preocupação que me parece confusa de início. Pisco e sinto que estou deitada sobre algo macio e familiar, assim que o cheiro das árvores entra pela janela com a brisa fresca e costumeira. As cortinas balançam e o cheiro de pinheiro, terra molhada e lenha queimada me despertam.Casa. Estou em casa.Minha mente ainda gira e meu corpo reclama os movimentos ao me sentar entre os lençóis com a ajuda dele. Toco a parte de trás do topo da minha cabeça, onde os dedos de Hirion agarram meus cabelos e mais uma vez, a dói. Um calafrio desce pela espinha com as lembranças retornando a mente e passando diante dos olhos como um filme. Hirion e suas intenções, o estado deplorável de um reino em ruínas e Duvessa. Ela me salvara e sou grata a sua obsessão por mim, ou do contrário, não estaria
— Pouco importava! – Terence passa os dedos pelos fios negros com indiferença.— Pouco importava? – Repito indignada e respiro fundo evitando extravasar minha ira na face dele. Meus braços pendem ao lado do corpo trêmulo e começo a entrelaçar os dedos uns nos outros, contorcendo-os, estalando-os, descontando nas juntas esbranquiçadas.— Se eu tivesse te contado, teria feito você mudar de opinião! – O feérico replica apoiando o indicador violentamente no mapa de Nova Orleans, os olhos firmes nos meus. Uma movimentação os desvia para a porta e sinto o a magia dele nos rodear para batê-la, impedindo que Noah adentre o cômodo, bloqueando suas palavras em protesto chamando meu nome.— Óbvio! – Elevo a voz e um riso debochado fica preso na garganta dele, esboçando-se em parte num repuxar de canto de l&aa
A primeira coisa que sinto são os lábios quentes de Noah nos meus – na tentativa de colocar um pouco de ar para dentro de mim – antes de cuspir toda a água dos pulmões para fora, seguida de uma onda de tosse que arranha a garganta. Mal sinto a grama debaixo do meu corpo, devido ao frio cortante que me penetra fundo pela pele e nervos, impossibilitando-me de diferenciar a verdadeira temperatura do fim da tarde outonal. Meus olhos encaram o céu em tons de amarelo, laranja e azul e a lua acima começando a nascer, coroa o mortal com sua luz prateada, fazendo-o parecer uma criatura sobrenatural encantada. Seus lábios se mexem em palavras que meus ouvidos entupidos não captam o som e cada parte minha treme violentamente, gelada como um beijo da morte mesmo com os braços do loiro me envolvendo e trazendo-me para seu peito, também gelado. O vestido encharcado e os fios azuis pingando como um cachoeira sobre os ombros se enroscam nas roupas molhadas dele. Está chovendo e os p
Hesito em frente a porta. Sei que Noah está lá dentro, provavelmente remexendo em meu closet em busca de roupas confortáveis. Pela demora, imagino se ele está indeciso nas cores, ou, evitando descer logo e encarar a situação. Tenho consciência de que tudo isso é demais para um humano e talvez, ter revelado os segredos feéricos, eu e minha irmã perversa, sanguinária e obsessiva tenha sido um pouquinho precipitado. Porém, foi necessário. Quanto antes ele soubesse de uma parte da história, melhor. Como arrancar um curativo.Uma brisa gélida entra pela fresta aberta da porta da varanda ao lado da cama grande e alta e bagunçada com meus lençóis favoritos. Os travesseiros parecem convidativos de novo, mas, nesse momento, não sei se consigo voltar a dormir, sem falar que preciso de um banho quente e da pomada nas cicatrizes que Terence está prepa
Cogito afastá-lo, impedir que algo a mais aconteça, mas estou exausta e quero isso. Quero o beijo e suas mãos em mim, nos sentir juntos como se estivéssemos no gazebo de novo, e não como ele me beijara para sanar minha crise de pânico, ou para dar ar aos meus pulmões na beira do lago.Relaxo os músculos e permito que Noah me tome para si, a mão aperta minha cintura com a mesma intensidade que retribuo o beijo molhado e repleto de um desejo ardente. Eu queimo e pela primeira vez em muitos dias, o fogo não vem das cicatrizes. Sua fonte são nossas línguas se encaixando uma na outra em um ritmo ansioso e voraz, famintas.Sou conduzida para a pia, sem que nossos lábios descolem. O mortal passa os braços por debaixo das minha pernas e as fecho ao redor dos quadris dele, as mãos agarrando minha bunda. Desvio de sua boca para abrir os olhos e virar a cabeça minimament
— Tempos desesperados pedem medidas desesperadas. – Argumenta e meneia o queixo quadrado para mim. — Tire. – Ordena e o encaro com um dos meus piores olhares, em seguida me sinto culpada por ter colocado a malicia em primeiro lugar, desconsiderando a parte curandeira da coisa. De qualquer maneira, tirar a roupa para ele está fora de cogitação, mesmo que eu quase a tenha tirado para Noah minutos atrás. — Precisa estar com as costas descobertas se quiser que a pomada funcione!— Eu pensei nisso. – Respondo.Chego um pouco para frente na cama, liberando um espaço para que o feérico se sente às minhas costas e tenha uma visão e um acesso melhor das linhas inflamadas expostas pelo decote da camisola. Espero pelo toque áspero da textura da pomada e a aplicação faz cócegas nas áreas sensíveis ao longo das cicatrizes avermelhadas. Arquejo