CAPÍTULO-1

DAIANA HEREZA NÚNEZ 

Já faz alguns meses que chegamos cá, na Holanda, desde que descobrimos  tumor cerebral da minha mãe, as nossas vidas vêem mudado a cada instante, estou a sentir-me perdida, sem rumo, pois o meu foco agora é encontrar um emprego, está tudo um turbilhão de emoções. Suspiro cansada, já não tenho mais força para andar pra lá e pra cá, está muito frio e eu burra saí de casa sem agasalhos e agora estou aqui e tremo de frio. 

Uma coisa que eu descobri e embora que eu já tivesse o mínimo de noção, de que as pessoas aqui são preconceituosas, ainda assim é duro ver alguém te desprezar, apenas com um simple olhar, isso é duro, elas me viam como se eu não fosse uma pessoa como elas, viam-me como se eu fosse um bicho de sete cabeças, pior é que elas nem ao menos disfarçam o olhar nojento que lançam sobre mim. 

Estou parada diante de uma lanchonete ou café, o ambiente está cheio de pessoas a conversar e outras a comer, pessoas de diferentes tons de pele, o convívio é até suportável, nem parece que são diferentes uns dos outros. Respiro fundo uma duas e três vezes, e por fim ganhei coragem e entrei dentro do espaço, ganhei a atenção de todas que estão no local envergonhada, baixei a minha cabeça, para não encarar ninguém, caminhei até o balcão onde encontra-se um senhor de idade que me olhava com uma certa curiosidade. 

Aproximei-me dele com um pequeno sorriso tímido em meus lábios e disse. 

- Bom dia senhor! - A minha voz saiu um pouco baixa do que eu previa, ele olhou-me sério. 

- Bom dia! O que deseja a senhorita? - Perguntou-me ele, seu tom de voz é sério, e um sotaque característico do Brasil, ele fala bem o português então suponho que seja mesmo brasileiro. 

- Bom... uhm ... - Contorcia as minhas mãos, uma na outra, nervosa ou com medo que ele me tratasse mal, assim como nos outros locais onde passei para pedir um emprego, eles deixaram bem claro que não contratavam pessoas da minha raça, quando ouvia tal coisa saía triste dos lugares. Mas isso já são águas passadas, então espero que desta vez tenha um pouco de sorte. - Bom senhor eu procuro um emprego, qualquer que seja, limpar o chão, lavar prato qualquer, então eu quero saber se o senhor tem uma vaga? - A forma como disse parece até que morro de fome, não que não seja verdade, temos pouca coisa aqui e o aluguel está muito caro junto com o tratamento da minha mãe pior, as contas apertaram de forma absurda. 

- Hoje é seu dia de sorte, porque estou mesmo a precisa de uma garçonete, então diga o que você sabe fazer? -Automaticamente a minha boca abriu-se num sorriso de orelha a orelha, sem acreditar nas palavras que acabaram de sair na boca do senhor de meia idade, só faltou o meu coração sair pela boca, de tanta felicidade, finalmente consegui. 

- Sério? Muito obrigada senhor! Bom, eu nunca servi em bares, ou lanchonetes, mas asseguro-lhe de que aprendo rapidamente. - Disse com uma euforia que nem cabia em mim. 

- Tudo bem, mas você começa hoje, pois como vês aqui está muito cheio e só está, eu e o meu filho Caio, a propósito qual é o seu nome? 

- Desculpe-me senhor, o meu nome é Daiana Nunéz prazer. - Disse sem graça e estendi-lhe a mão ele sorriu mostrando os seus dentes e disse. 

- Não tem problema Daiana, nome diferente, de onde você é?Ah e o meu nome é Diego. - O senhor Diego ergueu a sua mão e apertou a minha .

- Eu sou de São Tomé e Príncipe, senhor. 

- Ah mais que legal! - Exclamou o senhor Diego assim que soltou a minha mão, e com a mesma fez um gesto no ar, e um rapaz alto de porte físico magro, olhos castanhos, aproxima-se de nós e o senhor Diego diz. 

- Caio, essa senhora linda aqui, será a sua colega, e Daiana, ele é que é o meu filho Caio, eu vou precisar sair agora para ir fazer compras, você não se importa de começar agora né. - Disse o Senhor Deigo após apresentar-me ao seu filho. 

- Não senhor! E muito obrigada. 

- Não tem de quê, bom, deixo-a nas mãos do meu filho e espero que dê tudo certo, ele vai mostrar-te tudo, e o que precisar só falar com ele. - Disse ele, retirando o avental de pano e pondo sobre o balcão, eu acenei com a cabeça, concordando, depois ele saiu, deixando-me com o seu filho, sorri sem graça, para ele que olhava-me de forma estranha. Ele fez um som com a garganta e disse ao quebrar o silêncio constrangedor. 

- Bom Daiana, seja bem vinda, eu vou mostrar-te onde fica tudo .

- Obrigada. - Foi tudo que disse, após isso, ele virou-se e começou a caminhar, consegui, logo de seguida caminhamos pelo corredor, ele foi-me indicando todo armazém, cozinha e banheiro, por fim deu-me o meu uniforme, que consistia numa camisa e um avental do mesmo tecido. 

Ainda eram nove e meia, então quando troquei, fui até ele que me ensinou tudo com paciência. Comecei o meu novo trabalho com um sorriso enorme e uma felicidade que só Deus. 

As horas foram passando, sem eu dar conta, senti a minha barriga roncar de fome, como estava por detrás do balcão, ninguém deu ouvidos, pois, não saberia onde enfiar a minha cabeça, de tanta vergonha. Distraída, não vi quando o Caio se aproximou de mim, só dei conta quando ele tocou-me pelo braço para chamar a minha atenção, assustei, ele disse sem graça. 

- Desculpe-me não quis te assustar, só vim avisar que já são meio dia, podes tirar um hora  para almoçar. - Ele levou a mão a cabeça coçando a mesma, eu sorri e disse-lhe. 

- Tudo bem ,a culpa não é sua, é minha, eu que estava distraída. Porém obrigada mais eu não estou com fome. - No exacto momento em que eu fechei a minha boca a minha barriga também decide pronunciar-se, abaixei a cabeça de vergonha, Caio gargalhou achando graça a minha falha de mentir e disse de forma debochada. 

- Acho que a sua barriga diz o contrário. - Ele riu outra vez e voltou a dizer. - Vamos almoçar pode ser aqui mesmo está bem? 

- E se chegar um cliente?- Tentei argumentar fazendo uma expressão, estranha e isso arrancou mais uma gargalhada dele, ah pronto virei um palhaça agora.

- Não se preocupe com isso, a esta hora nós fechamos. 

Apenas suspirei e disse por fim. 

-Está bem então. 

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