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Que tipo de emprego é esse?

Eu toco no meu pescoço e deslizo a mão sobre ele, incapaz de parar o gesto de nervosismo, querendo desesperadamente que ele pare de me olhar desta maneira tão estudada e tão intensa. Seus olhos negros tempestuosos me mantêm cativa.

Ele abre a porta do carro e me convida para entrar fazendo um gesto com a sua mão.

—Entre.

Eu congelo, sem conseguir me mover. Rashid se aproxima e para na minha frente.

—Eu não vou te fazer mal, ontem eu te salvei. Acho que comportamentos assim geram segurança, não?

Eu estremeço diante do seu olhar quente.

—Você não é nenhum mafioso ou coisa do tipo, é?

Ele inclina a cabeça para trás e ri, sua garganta bronzeada zombando de mim, quase tanto quanto a sua risada musical. Eu tento lutar contra a chama do desejo que percorre o meu corpo.

—Não, não sou. —Ele diz fazendo um esforço supremo para conter a sua risada. —Gosto disso, da sua ingenuidade em relação a quem eu sou. Por favor, entre e ouça a minha proposta.

Eu me sinto emocionalmente confusa, me criticando por ter deixado as coisas chegarem a este ponto. Não posso ignorar essa droga de sentimento de proteção que eu sinto em relação a ele desde que o conheci. Talvez o mais sensato neste momento seja dizer adeus, mas eu não consigo e acabo entrando no carro. O cheiro maravilhoso dele está impregnado no ambiente e logo no meu nariz também. Rashid ocupa seu lugar ao meu lado. Nervosa eu me aperto contra a porta, em uma tentativa de impor uma maior distância entre nós.

—Ele dá sinal para o motorista sair.

—Onde vamos? —Eu pergunto apreensiva.

Ele se inclina e os seus lábios se curvam em um sorriso sedutor que me deixa com uma sensação de desmaio.

—Para um lugar mais calmo, onde possamos conversar. Não podemos tratar de negócios aqui, concorda?

—Você pode adiantar que tipo de trabalho é esse?

—Não, agora não. Uma coisa eu te digo, você será bem remunerada e não vai precisar mais dançar. Também poderá sair daquele lugar horrível em que mora. Você vai dormir no emprego.

Como ele sabe onde eu moro?

—Como você sabe se eu sou capacitada para esse serviço?

Ele muda de posição, o seu corpo se vira na minha direção e os seus olhos percorrem o meu rosto. Agora ele parece irradiar mais calor. Meu coração está batendo tão erraticamente que eu sinto as minhas forças serem drenadas.

—Você é. Eu te garanto! —Ele diz e desvia os seus olhos dos meus, voltando a olhar para frente. —Mas nós não vamos mais falar sobre isso. Relaxe. Quando chegar o momento certo você vai saber de tudo.

Allah! Que tipo de serviço ele vai me propor? Eu me pergunto.

Vinte minutos no banco de trás do carro com Rashid parecem uma eternidade, e eu fico aliviada quando finalmente o carro para.

—Deixe as flores no carro. —Ele diz logo que sai.

Eu deslizo no banco e coloco as flores do lado. Saio para o ar fresco da noite, e reparo que estou em frente a um hotel maravilhoso.

Hotel? Ele vai me levar para um quarto?

— Porque escolheu esse lugar? Por que me trouxe aqui? — Pergunto, olhando para a lindo e exuberante prédio de uns vinte andares.

— É um dos meus locais de trabalho.

—Trabalho? —Pergunto curiosa. —Você é o diretor?

— Sou o dono. —Ele diz com pouco caso, com uma naturalidade enervante, se comparado ao meu nervosismo. —Vem, vamos! —Ele diz, meio impaciente.

— Senhor Barak. —Um senhor uniformizado o cumprimenta com aceno de cabeça. Ele acena com um sorriso de volta.

—Entre. — Ele segura a porta aberta para eu passe.

Nós seguimos pelo saguão do hotel. Muitas mulheres e homens bem vestidos transitam por lá. Eu me sinto mal com minhas roupas simples e tão deselegantes.

Durante todo o percurso até os elevadores nós topamos com vários funcionários. Todos eles o cumprimentam com uma reverência irritante.

O elevador nos leva rapidamente para o vigésimo andar. As portas deslizam e saímos em um corredor acarpetado, espaçoso e muito chique. Com seus aparadores carregados de arranjos enormes de flores e quadros abstratos estrategicamente espalhados. As mãos firmes e quentes de Rashid tocam minhas costas. Elas me conduzem até o final dele. Todos os meus pelos do meu corpo se arrepiam com seu simples toque. Isso me abala. Eu nunca senti nada parecido com ninguém.

Entramos numa grande antessala, que deve ser de sua secretária, passamos por ela e seguimos em direção a uma porta enorme de madeira maciça, que ele abre revelando seu escritório. Um ótimo escritório. Sim, é exatamente o que eu esperaria de um homem como ele.

É amplo, com uma enorme escrivaninha moderna de madeira clara, ao lado uma grande mesa de reunião, um bar e uma mesa de café. Todas combinando entre si. As janelas atrás da sua mesa vão do teto ao chão com uma bela visão da praia de Miami. Agora iluminada pela lua e os barcos no horizonte.

Quadros espalhados dão um charme ao local, que é decorado para ser aconchegante e elegante. Mas não é ali que teremos a reunião, pois ele segue e abre outra porta e entra por ela. Eu o sigo e dou numa sala confortável com sofá e um grande painel à nossa frente. Ao lado um retroprojetor.

—Sente-se. —Ele me indica o sofá.

Eu reluto, mas me sento. Rashid ocupa o assento ao meu lado. Eu me sentia num jogo perigoso estando ali ao lado de um homem como ele.

—Você está confortável? Quer beber alguma coisa?

—Eu estou com sede. Tem água?

Ele sorri.

—Sim. Só um minuto.

Ele se levanta e some. Pouco tempo depois ele aparece com uma garrafinha com um canudo. Desculpe-me, mas a empregada deve ter levado todos os copos para limpá-los e só tinha canudo.

Eu sorri.

—Tudo bem. Não tem problema.

Rashid se sentou ao meu lado. Enquanto eu bebo, minha mente trabalha e eu tento adivinhar que tipo de trabalho ele vai me oferecer.

Emprego é uma coisa que eu não estava em condições de rejeitar. Eu penso nisso enquanto bebo minha água com o canudo.

Silêncio.

 Meu coração se agita em tensão quando percebo que ele olhava a minha boca como se fosse a coisa mais interessante que ele já tinha visto. Corri a mão pelo meu cabelo e olhei ao redor constrangida por seu olhar.

—Você tem algum namorado? Alguém que você se relaciona? —Eu quase engasguei com a água por causa da natureza de sua pergunta.

Eu olho para ele.

—Não. — Ergo meu queixo me sentindo corajosa. —Por quê?

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