Regras

Eu estremeço.

—Entendo.

Ele se aproxima de mim, assustada dou um passo para trás. Ele sorri e olha para mim por vários momentos, e eu não consigo ler sua expressão. Fico mais desconfortável a cada segundo que passa. Ele é enorme, agora que percebo como ele é forte e alto.

—Khadija. —Ele fala como se tivesse provando meu nome com sua língua. —Você precisa aprender a relaxar comigo. Meu pai é muito perspicaz. Se cada vez que eu me aproximar, você saltar como fez agora, tudo irá por água abaixo.

Silencio por um momento. Eu estou muito ofegante, de repente começo a sentir esse prazer inexplicável que corre através de mim, que não é tão invisível quanto eu penso que é. Minhas bochechas aquecem. Meu coração está agitado no peito. Balanço a cabeça apenas concordando, lutando para manter meus olhos fixos nos dele.

Seus olhos descem para os meus lábios. Eu estremeço, pois sei o que ele fará. Posso ver seu coração agitado como o meu, ele também está ofegante. Então ele me puxa para os seus braços. Sua boca desce sobre a minha. Seus lábios passam a se mover nos meus. Ele tinha gosto de menta. Eu respiro erraticamente abrindo minha boca na dele. Sua língua se choca com a minha e me provoca arrepios. Seus dentes mordiscam o meu lábio inferior.

Sinto sua parte inferior do corpo empurrando contra a minha barriga, prendendo-me nele de tal forma que sinto o cume duro em suas calças.

Eu quero poder dizer que o que sinto é desagradável, mas não posso. O calor se infiltra nas minhas veias frias e sem vida, fazendo com que meu corpo volte à vida. Allah eu nem sabia que eu estava morta...

Eu luto para manter a minha compostura, mas por dentro o meu coração troveja no meu peito e eu estou formigando em todos os lugares. Quando ele finalmente me solta, olha e não parece em nada com o homem confiante que se mostrava a poucos minutos.

Ele está me olhando com a respiração agitada, aos poucos se acalmando. Eu não posso lê-lo, não consigo saber no que ele está pensando. Mas eu tenho a sensação de que seus pensamentos não são agradáveis.

Seu rosto se torna cada vez mais frio. Sei que derrubei suas defesas de algum jeito, sinto que ele está lutando para armá-las novamente, tornando tudo entre nós, como ele mesmo disse, em algo superficial.

—Bem, é isso. Agora vou arrumar um quarto para você ficar. Amanhã só precisará pegar os seus documentos e objetos de valor sentimental. Vou te dar tudo novo.

—Está certo.

Ele me olha muito sério.

—E lembre-se, estamos vivendo uma farsa. Nada de compromisso, nem sonhos românticos. Consegue separar as coisas?

Claro, é fácil. Olha quem eu sou e quem ele é.

—Sim.

—Ótimo. Aqui estão suas chaves. Quarto 404, 4º andar. Vou pedir para levarem o cardápio. Você jantará no quarto. Depois que você pegar suas coisas, vamos conversar, nos conhecer um pouco melhor, também vamos comprar roupas novas. Você fará aulas de etiqueta. Aí sim, você se hospedará em minha casa.

—Pelo visto você já sabia que eu iria aceitar?

—Sim, quando eu jogo é para ganhar. Vamos, eu vou te levar até seu quarto.

Bem, foi o que aconteceu...

Minha vida deu uma guinada de 180 graus. De repente eu era a namorada de um bilionário, com um enorme guarda-roupa, cheio de roupas, acessórios, sapatos e joias.

Rashid apareceu algumas vezes no hotel, e me chamou no seu escritório, naquela mesma sala que conversamos da primeira vez.

A primeira reunião que tive com ele foi para que me dissesse algumas das regras. Me lembro bem desse dia...

Era o terceiro dia que eu estava hospedada no hotel. Ele já tinha me dado uma porção de roupas. Eu escolhi um vestido branco e preto com cara de escritório e sai do meu quarto para ir ao seu encontro.

Na antessala conheci a sua secretária. Uma senhora de cinquenta anos, linda e muito simpática.

—O Senhor Barak a aguarda. Você não precisa bater. Apenas entre.

—Obrigada.

Eu fiz conforme ela me falou. Rashid estava lá. Lindo e atraente. Vestido com um fino terno negro, camisa branca e gravata preta. Seus cabelos negros bem penteados. Os olhos negros me observavam astutamente.

—Bom dia Khadija.

Foi neste momento que ele me surpreendeu se aproximando de mim, ao invés de me mandar sentar como sempre fazia. Eu parecia uma criança perdida que encarava um adulto. Conforme ele chegava mais perto de mim, mais nervosa eu ficava.

Ele sorriu e falou:

— Eu vou te beijar no rosto. Se mantermos essa formalidade toda você vai dar bandeira quando atuar ao meu lado, entendeu?

—Entendi. —Eu digo o encarando.

—Relaxe.

Uma grande parte do meu cérebro implorou para que ele desse logo esse beijo. Então eu fechei os meus olhos e o meu corpo se preparou para receber o seu beijo. Agi como se fosse tomar uma injeção. Foi a forma que eu encontrei para não reagir a louca atração que sinto por ele.

Mas nada aconteceu, então eu abri os meus olhos devagar. Rashid sorria.

—Sério isso?

—O quê?

Seus olhos mudaram de cor e ficaram mais negros, se isso é possível. Demorei muito para entender o que ele ia fazer. Rashid me pegou pela cintura com um sorriso diabólico, me segurou firme, me deixou sem saída e disse:

—Khadija, Khadija...O que é isso? É a sua representação de um bloco de gelo? Lembre-se que eu já provei da mulher quente que você é. Isso não combina em nada com você. Cada vez que você agir dessa maneira eu vou agir como fogo e te derreter rapidinho e esse será meu desafio.

Eu prendi os lábios, nervosa. Quando estava para desviar os meus olhos dos dele, ele desceu sua boca e lambeu a minha, e imediatamente seus lábios tomaram os meus em um beijo profundo, me deixando sem ar e mole em seus braços. Como se não tivesse pressa, ele me beijou com ardor. Quando percebi, eu me vi rendida, achando incrível como ele conseguiu tirar isso de mim.

Ele desencostou nossas bocas com a respiração tão agitada quanto a minha.

—Bem melhor. —Ele diz e volta para trás da sua mesa, logo depois indicou uma linda cadeira estofada à minha frente. —Sente-se.

Ainda ofegante me sentei, e ele me olhou como se fosse tratar de negócios.

Sim, ele queria que eu agisse como ele. Aperta um botão, ele é um homem apaixonado, aperta novamente, ele volta a ser um homem de negócios.

—Eu te trouxe aqui para ditar algumas regras. Está pronta para ouvi-las?

Qual era o problema desse cara? Bipolaridade?

—Sim. —Disse, forçando a minha voz a sair firme.

Ele então iniciou:

—Você não deve agir de forma diferente do que eu espero de você. Ficou claro isso?

—Sim.

— Assine isso.

—O que é?

—Uma promissória com o valor que eu cobri no hospital, você não deve mais nada a ele, mas deverá a mim?

—Como? —Pergunto com o coração agitado.

—É isso mesmo que você entendeu, isso é uma garantia que você fará tudo o que combinamos.

Allah! Eu ficaria nas mãos dele?!

—E minha palavra, não basta?

—Não.

Eu pisquei aturdida.

—Eu não sei.

—Allah! Khadija. Como você é difícil. Não tenha medo. Confie em mim. Eu estou só selando o nosso acordo com garantias.

—E que garantias eu tenho que tudo se resolverá bem? —Eu pergunto e ele fecha a cara. —Ah, tudo bem.

Ele estendeu o papel. Depois de lê-lo, eu assinei. Pronto, formalizei os meus serviços. Eu teria chance no inferno?

—Ótimo. Agora vamos as regras. — Ele então iniciou:

1-Jamais questione a minha vida íntima e nada do que diz respeito a minha vida. Você só saberá o que eu te contar.

2- Lembre-se que está interpretando um papel ao meu lado. Sua representação será a mais próxima possível da realidade para que ela seja bem-sucedida. Com isso, deixo claro para você que teremos contato físico. Mas eu garanto que não vou te assediar sexualmente. Não vou forçar nada que você não queira me dar de bom grado.

Essa é boa!

3- Aceite o cenário que eu te der agindo como uma namorada. Saia comigo, participe dos jantares, festas e das armações que eu farei para que o meu pai esteja presente e veja tudo acontecer.

4-Você não pode contar a terceiros a realidade das coisas.

5- Não se envolva sentimentalmente comigo. Desconecte as suas emoções, apenas deixe fluir o desejo que o seu corpo sente, não breque isso. Quanto mais desejo mais bem-sucedido seremos. Bem, acho que é só.

Meu pulso acelerou, me lembro de respirar fundo enquanto tentava manter a calma.

—Só isso? —Eu digo irônica.

—Isso é sério. —Ele diz secamente.

—Tudo bem. —Eu digo antes que os meus pensamentos possam me parar ante as suas palavras lógicas. —É só?

—Não. Quero deixar claro que enquanto você estiver comigo será minha propriedade. Nenhum outro homem poderá te tocar.

Eu respirei fundo, detestei a palavra "propriedade", mas ele pareceu não entender o meu suspiro e fechou ainda mais o semblante.

—Pode ir. Amanhã teremos mais tempo para conversar. Você vai saber mais sobre mim, ao menos o básico e eu de você.

—Está certo.

Ele sorriu para mim e eu forcei um sorriso enquanto o calor do seu sorriso atingia os meus ossos. Sai do escritório quase tropeçando nos meus saltos.

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