Capítulo 7

(Renata Pellegrini)

Estou com tanta fome e minhas pernas estão tão doloridas que tenho a impressão que ouvi errado, é sério isso? Realmente o homem mais rico do mundo está me oferecendo uma carona?

— N-não, mas o senhor poderia me dizer onde fica o ponto de táxi? 

Será que esse dinheiro dá para pagar o taxi? Sei que as coisas aqui são mais em conta que no Brasil, seria melhor um ônibus, mas só para disfarçar pergunto do ponto de táxi e lá, com as pessoas que provavelmente nunca mais verei na vida, pergunto onde fica o ponto de ônibus.

— Você não vai pegar o táxi — afirma olhando dentro de meus olhos.

— Vou sim — minto — Eu só não sei onde o ponto fica.

—  Sta mentendo per me, ragazza? — “está mentindo para mim, garota?”, ele fala em italiano, seu tom me diz que essa pergunta é mais como um aviso, tipo: continue mentindo, e você verá. 

Minhas bochechas queimam, como ele pode ter tanta convicção que estou mentindo?  Sou tão transparente assim? Eu nunca consegui esconder nada de meu pai, ele sempre dizia que eu era uma péssima mentirosa, mas eu pensava que era apenas porque ele me conhecia desde antes eu nascer.

— Poderia me dizer onde fica o ponto de ônibus? — de cabeça baixa pergunto dessa vez a verdadeira informação que eu queria.

— Amanhã eu te conto — fala.

— Por que? Eu preciso voltar para casa hoje, estou cansada!

— Já disse que te levo em casa — ele insiste mais uma vez.

— Isso não seria adequado, senhor Fili… senhor Valentini — me corrijo a tempo, ele suspira, espero que tenha se dado por vencido, ele olha para frente e b**e o dedo repetitivamente no volante, parece que está pensando em algo.

— Já está tarde, o ônibus só vai passar agora às onze e meia da noite, vai ficar por mais de um hora no ponto escuro sozinha?

Touché, parece que ele adivinhou que sou uma medrosa e tenho medo de ficar sozinha em lugares escuros. Uma vez quase abusaram de mim, mas eu sempre tento me esquecer desse trauma, no Brasil comecei a evitar as ruas vazias, andava pelo meio dos traficantes, apesar do cheiro forte de machonha, eles não mexiam comigo. Era mais seguro.

Ainda estou relutante, o que é pior? Ficar sozinha em um ponto de ônibus perigoso ou entrar no carro do meu chefe que ainda é um completo desconhecido para mim?

“Melhor ir com o chefe” — minha consciência responde.

— Tudo bem — dou a volta e entro dentro do carro, o carro cheira a novo, como se estivesse acabado de sair da loja.

Ele dá partida, seguindo em frente pela rua. Estou tão nervosa, esse homem me tira da minha zona de conforto, só não consigo entender o porquê. Permaneço olhando para frente, quase não pisco os olhos, sinto o olhar dele queimar minha pele, sinto que estou correndo perigo perto desse homem.

— Eu te deixo desconfortável, ragazza? — pergunta me pegando de surpresa.

— N-não, sim! Bem… é, eu quero dizer é que não é todo dia que alguém como o senhor me oferece carona.

— Não leve isso a mal, eu só a vi sozinha e não quis ser rude — explica.

“Você praticamente me obrigou entrar em seu carro! Insistiu tanto e até usou o meu medo a seu favor!” — implico mentalmente, ele continua falando:

— Acredite ou não, eu sou um cavalheiro que gosta de salvar mocinhas indefesas.

— Hurum, sei — respondo e no mesmo instante me arrependo —  Ah, bem, quero dizer que o senhor tem mesmo cara de uma pessoa boa — minto.

Ele não parece em nada com uma pessoa boa e sim um homem mau, muito mau. De seus poros exalam perigo, de sua boca saem palavras grossas e quando fala em italiano fica sexy, me deixando totalmente esquisita por dentro. Uma pessoa boa não faria isso.

— Você quer passar em algum mercado antes de ir para casa? 

— O senhor me levaria? — pergunto com as sobrancelhas arqueadas. Por que este homem está sendo tão bonzinho comigo? Isso não faz sentido na minha cabeça.

— Se estou perguntando é porque sim — me olha nos olhos e sinto minhas bochechas queimarem. 

— Quero sim, senhor — respondo olhando para o vidro da janela.

Ficamos em silêncio, ele estaciona o carro em frente a uma mercado vinte e quatro horas, abro a porta e saio, começo a caminhar para a entrada, sinto a presença dele atrás de mim. Ele vai mesmo entrar nesse mercado? Pensei que ele só entrasse em locais de puro luxo!

Resolvi não questionar, entramos no mercado e vou até as prateleiras de alimentos, pego vários pacotes de biscoitos e massas de macarrão, pego molho pronto e depois pego no freezer queijo parmesão e pego alguns temperos verde, só faltou um vinho branco seco, mas isso dá para o gasto. 

— Você vai preparar uma macarronada? — questiona enquanto escolho as cebolas.

— Sim — respondo sem desviar minha atenção.

— Não esqueça disso — ele coloca uma garrafa de vinho branco seco na minha cesta.

— Onde achou? — pergunto desconfiada, não sabia que mercadinhos pequenos vendiam esse tipo de bebida.

— Ali — ele aponta para um estante com vários tipos de vinhos e outras bebidas. Como eu não vi aquilo?

— Obrigada.

Seguimos para o caixa, e esse magnata maldito faz mais uma bondade, paga minhas compras, eu não quis fazer cena na frente do caixa, mas não gosto que paguem as coisas para mim, bem, não eu tendo como pagar. 

Entramos no carro novamente, pego a nota de cem e estendo em sua direção.

— Quero meu troco — falo e ele me olha com uma sobrancelha arqueada.

— Guarde isso — manda sorrindo, me deixando ainda mais desconfortavél — Quero que pague de outra forma — fala com a voz mais grave que o normal.

Meu tobias tranca. Ele não pode está falando sério. Rapidamente recolho minha mão, um furacão se instala no meu pé de barriga. Senhor, me ajuda!

— De que forma o senhor se refere? — pergunto sentindo meus dedos gelados e coração batendo forte dentro do peito.

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