Capítulo 10

(Filippo Valentini)

Abro os olhos, não reconheço onde estou, tento puxar o ar com mais força, mas o pano em meu nariz dificulta a passagem do ar, passo a mão por meu rosto, ainda estou usando a máscara.

Desgraça! Como eu fui deixar isso acontecer!? Burro! Burro! Burro!

Sento seja lá onde eu estiver e olho ao redor, paredes brancas e várias camas, aqui é a enfermaria da base.

— Pensei que não ia mais acordar — Camily aparece no meu campo de visão.

— Alguém viu o meu rosto? — vou logo ao ponto, não posso deixar ninguém desnecessário saber minha identidade, vai dar muito trabalho depois matar tantos.

Se bem que não vou conseguir matar todos, mas enfim, se não matar a maioria, vou ter sério problemas com as outras famílias, por isso não quero que saibam.

Antes da morte do meu pai, eu planejava fugir, iria viver uma vida de fugitivo, mas qualquer coisa era melhor do que continuar vivendo lá. Mas aí o Senhor me ajudou levando aquele desgraçado, meu irmão ocupou o seu lugar. Seria muita ingratidão minha fugir e deixar tudo nas mãos dos meus irmãos que sempre me protegiam da forma que conseguiam.

Matteo sabia do meu plano, então resolveu fazer um acordo, não fui apresentado às outras famílias, ou seja, eles apenas sabem que a família Valentini tem três herdeiros, mas nunca viram meu rosto. Ou talvez… Já tenham visto, sou muito famoso, e apesar de nunca ter falado nada sobre minha vida pessoal ou sobre meus familiares, talvez eles já tenham associados os nomes. Tanto faz, agora simplesmente já é tarde. Depois converso com meu irmão sobre isso.

— Ninguém, eu mesma fiscalizei pessoalmente todos os procedimentos — responde e senta na poltrona à frente da minha cama.

— Ótimo, que horas são? — pergunto e sinto minha boca seca.

— Duas da tarde, você só será liberado amanhã…

— Cazzo, col cazzo! — “porra, nem fudendo” xingo em italiano e me levanto, tenho mais o que fazer do que ficar aqui.

— Olha a boca, agente zero-dois-três — Camily reclama.

— Não posso ficar aqui.

— Por que não? — ela também se levanta — Você nunca fica aqui! Sempre tenho que te ligar ou mandar sinais para onde deve ir, ninguém além de mim e o chefe sabe a sua identidade, por que se esconde tanto?

Era só o que me faltava, me seguro para não revirar os olhos, conheci Camily quando ainda éramos cadetes, ela até que era bonitinha, olhos verdes e cabelo loiro comprido, dei uns pegas nela e ela se apaixonou, inventei muitas coisas para não namorar com ela, mas aí o tempo passou, ela virou minha chefe e eu abri uma empresa mundialmente famosa, tenho meu rosto estampado em várias revistas e ela tentou se envolver comigo mais uma vez.

Pelo jeito ela não aceita que não a quero, oh mulherzinha chata da porra! Os anos passaram, mas ela continua com os sentimentos de uma jovenzinha.

— Você sabe muito bem o porquê, Camily — falo calmo.

— Não, eu não sei agente zero-dois-três, ou devo dizer, Filippo Valentini.

— Não fale o meu nome — falo entre dentes — Odeio ter que repetir, mas irei só mais uma vez, eu não quero viver como um fugitivo, cheio de homens vingativos atrás de mim, quero ter a vida o mais normal possível, não é porque trabalho aqui que preciso viver como vocês americanos — conto parte da verdade.

— Vou fingir que acredito, por que seus pais não tem redes sociais?

— Isso não é da sua conta — não me importo se soei de maneira grossa — Eu também não tenho redes sociais, foi uma escolha minha, apenas minha e assim como os meus pais, no caso, a minha mãe, meu pai já está morto.

— Por que tanto mistério sobre a sua família?

— E pra que quer saber sobre eles, ganha o quê com isso?

— Eu sei o nome de todos os familiares dos agentes que trabalham para mim.

— Não sou um agente qualquer — respondo convencido.

— Pra mim sim — me olha de cima a baixo.

— Magari! — “quem dera”, reviro os olhos, queria eu ser um qualquer na vida dessa mulher.

— Eu exijo que me conte…

— Você não me exige nada! — grito com raiva, odeio quando tentam mandar em mim — Você não tem esse poder, chefinha — falo debochado — Se coloque em seu lugar, não esqueça quem é que manda de verdade.

— Desgraçado — fala entre dentes — Faça o que quiser — se vira e sai da sala hospitalar.

Finalmente um pouco de paz, pego minha arma e guardo no cós da minha calça, sigo para fora dessa base, não irei hoje para empresa, vou direto para minha casa, preciso de um tempo para assimilar tudo o que aconteceu.

As ruas estão movimentadas, mas o trânsito não está ruim, de um em um minuto olho pelo retrovisor para ver se tem alguém me seguindo, após me sentir mais seguro, retiro a mascara e guardo no porta luvas, preciso lembrar de me livrar desse carro amanhã.

Nunca fico por muito tempo com o mesmo carro, e esse tempo diminui quando tenho que sair em uma missão com ele. Meus próprios colegas podem tentar me seguir para descobrir minha identidade. Sou o capitão da equipe alfa, ninguém além da chefe de todas as equipes e o chefe dela sabe sobre minha identidade, e apesar de Camily ser a chefe de todas as equipes, tenho proteção do chefe dela para não revelar nada sobre mim a ninguém.

Eu terei que matar eles dois antes de voltar para máfia, em relação aos meus documentos que eles têm acesso, também já planejei como dá um fim, já criei um hacker que fará isso por mim.

Olhando assim, até parece que estou ansioso para voltar às origens, mas não é isso. Só não quero ter dor de cabeça quando essa hora chegar. E pelos últimos acontecimentos, essa hora já está batendo a porta.

Quinze anos longe da máfia, seis anos como agente do FBI e três anos com o título de Magnata mais rico. E eu só tenho trinta e dois anos.

Deixo o carro na garagem, pego o celular e tem duas ligações perdidas da Verônica. Preciso me livrar dela, só porque transou comigo uma vez, acha que é especial, coitada, pensa que tem a buceta mágica. Rindo abro a porta da sala, mas em menos de meio segundo meu riso morre.

— O que está fazendo aqui?

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