No dia seguinte entro no departamento, Leandro está conversando com Carlos. Logo que ele sente minha presença, seus olhos voam para mim. Ele está sexy, como sempre. A camiseta branca justa no corpo, colete e preso a ele uma bandoleira carregando duas pistolas semiautomáticas 9 mm. Sua expressão está fechada, "desgostoso", essa é a palavra que se encaixa com ele e não preciso falar com ele para entender o motivo.Ele, no mínimo, estava remando contra por eu ter me infiltrado na casa de Rafael Ferreira. Mas sem sucesso, percebo isso quando vejo agora o sorriso que Carlos está me dando, e agora entendo melhor seu mau humor.Meu chefe se move em minha direção.— Meus parabéns. Ótimo trabalho.— Obrigada. E obrigada por ter confiado em mim.Leandro se aproxima de nós.— Leandro, acerte os detalhes com sua parceira. E Isabela, quero o relatório de ontem à noite.— Está certo. Pode deixar.Depois que ele sai, Leandro me encara. Ele está abatido. Eu suspiro.— Que detalhes são esses que quer
— Rivalidade. Acho que é isso.Mas, no instante em que essas palavras deixam minha boca, um desconforto me atinge. É injusto pintar Leandro dessa forma. Eu completo, sem hesitar:— A verdade é que era para ele se infiltrar, e não eu.Tânia estreita os olhos, pensativa, e comenta:— Antes de você chegar, ele se exaltou muito com Carlos. Ele queria tirar você desse trabalho de qualquer jeito. Argumentou que você não está preparada.Sinto o peso dessas palavras enquanto amasso o copinho de café e o jogo no cesto.— Eu percebi. Vou voltar para a minha mesa. Preciso terminar o relatório.Tânia, no entanto, não se dá por vencida. Ela segura meu braço levemente, inclinando-se para murmurar no meu ouvido:— Leandro parece que gosta de você.Eu meneio a cabeça, negando de imediato.— Impressão sua.Ela arqueia uma sobrancelha, intrigada.— Querida, é mais do que rivalidade. Pelo que ouvi da discussão, ele se preocupa com você.Solto uma risada seca, sem humor. Meu olhar se cruza com o dela enq
No dia seguinte, acordo tarde. Depois de dar uma geral no apartamento, começo a organizar minhas malas. Reservo um compartimento secreto para guardar o celular que Leandro me deu, garantindo que fique bem escondido.Agora, a próxima missão: escolher um vestido. Dou um sorriso enquanto observo meu guarda-roupa. A verdade é que não tenho muitas opções. Nunca investi muito na minha aparência; minha prioridade sempre foi o conforto e a funcionalidade. Meu estilo é dominado por calças, camisetas, jaquetas e camisas práticas. Vestidos? Apenas três.Um deles já foi usado, restam duas opções.Felizmente, desta vez, não preciso impressionar Rafael Ferreira, o que é um alívio. Já cumpri meu objetivo principal: consegui me infiltrar. Não preciso me preocupar em seduzir ninguém. Meu papel agora é profissional, e a aparência não precisa ser um fator decisivo.Mesmo assim, enquanto olho as opções, penso em Dante. Quando peguei o caso envolvendo Ferreira, li sobre o histórico criminal de Dante. Ele
LeandroSolto o ar, angustiado, e digo simplesmente:— Vamos.O clima já tinha acabado há muito tempo.Ela assente em silêncio, e eu, sentindo-me como um condenado sendo levado para a execução, pego as malas e as carrego para fora do apartamento. Cada passo que dou parece mais pesado do que o anterior, como se minhas próprias dúvidas e frustrações fossem o peso que me arrasta.Caminhamos juntos até o elevador, mas o silêncio entre nós é sufocante. Tento desviar os olhos dela, mas o olhar triste que Isabela lançou antes ainda queima em minha mente.O que ela espera de mim? Que eu dê minha aprovação para algo que contradiz tudo o que acredito?No carro, o clima é ainda pior. Não trocamos nenhuma palavra enquanto as ruas do Rio passam ao nosso redor. O silêncio está carregado, cheio de pensamentos não ditos e sentimentos que lutam para sair.Porra!Minha maior frustração é saber que Carlos vetou minha proposta de me infiltrar junto com ela. Isso me consome por dentro, me deixa possesso.
LeandroA cobertura logo se enche de pessoas, principalmente casais acompanhados de suas esposas, enquanto poucos homens solitários, como eu, observam o cenário. Rafael parece à vontade com Isabela, apresentando-a a todos ao seu redor. Eu a vejo se perder na multidão e, irritado, me sirvo de mais uma dose de uísque.— Ricardo? — A doce voz de Isabela chama minha atenção por trás dizendo o nome do meu disfarce — Você está bebendo demais.Eu a encaro, e uma ideia ousada surge na minha mente. Ficará barato assim? Esse cara rondando-a como uma mosca na carniça?Caminho até ela, meu sorriso se tornando diabólico. Puxo-a para meus braços sem aviso.— Me solta! O que está fazendo? — Ela pergunta, ofegante.Eu a observo, com os lindos olhos verdes dela arregalados, e respondo:— Marcando território. Rafael está observando. Faça o favor de corresponder. Isso vai fazer com que as mãos dele fiquem longe de você.Então, tomo seus lábios num beijo possessivo. Aperto a curva do seu corpo, e meu cor
Assinto, mas logo adiante minha atenção vacila ao notar que uma das portas ao lado está entreaberta. O som sutil de passos no piso frio chama minha atenção, e antes que eu perceba, minha curiosidade me trai. Lanço um olhar rápido para dentro.Minha respiração falha. Ali, bem no meio do quarto parcialmente iluminado, está um homem de costas largas e corpo musculoso, com tatuagens nos braços que parecem contar histórias secretas. Ele está usando apenas uma cueca preta, e os cabelos castanhos estão molhados, pingando água em gotas que deslizam lentamente por sua pele.Cada movimento é carregado de uma calma feroz, como se ele fosse dono do espaço e de tudo ao seu redor.Meu corpo paralisa. O ar parece ser arrancado dos meus pulmões.Dante!Ele não deveria estar aqui. Essa presença poderosa e ameaçadora é algo que nenhum dossiê conseguiu capturar completamente.Revê-lo, mesmo que à distância, não me preparou para isso: para esse impacto, engolida pela força de sua presença. Minhas mãos su
Quando ela sai, tranco a porta e viro a chave. Então, Dante está hospedado aqui. Isso é uma novidade para mim e para todo o meu departamento. Acho que nem eles sabem disso. O plano era nos aproximarmos dele por meio de seu irmão, mas nunca imaginei que a proximidade fosse tão íntima. Estou na casa de um bandido.Desfaço minhas malas, pensativa. Devo contar para Leandro?Pego o celular que ele me deu e o coloco debaixo do travesseiro. Depois de escovar os dentes e vestir minha camisola, me deito na cama.Cinco minutos depois, o celular vibra. Eu o pego nas mãos. Uma mensagem de Leandro:Como Rafael reagiu ao beijo? Ele questionou minha atitude?Eu sorrio e respondo:Pare de se preocupar.Ricardo responde quase imediatamente:Responda!Escrevo:Sim, ele perguntou. Mas eu dei uma boa desculpa. Disse que namoramos no passado, e que nos reencontramos. E que questões do passado nos fizeram brigar na boate, mas que hoje nos aproximamos.Ele me responde rapidamente:Boa menina!Eu sorrio, ima
Acordo às oito horas. Não sei se é muito cedo para um domingo, mas essa não é minha casa e também não conheço a rotina daqui. Tomo um banho rápido, visto uma calça jeans e uma camiseta branca, calço os tênis e prendo os cabelos antes de escovar os dentes.Antes de destravar a porta, vou até o meu esconderijo e pego o celular. Sorrio ao ver a notificação de mensagem.Cinco e meia da manhã?Ricardo não dorme?Bom dia.Me liga essa noite.Já com saudades.Ricardo.Digito rapidamente:Bom dia!Você não dorme?Acabei de acordar. Estou aguardando no quarto.Te ligo hoje à noite.Beijos.Guardo o celular e destranco a porta. Vou até a sacada e observo o sol surgindo no horizonte, iluminando o telhado das casas abaixo de mim e um parque ao longe. As ruas ainda estão quase vazias.O tempo passa devagar. Fico ali por um longo momento, tentando me acostumar com a ideia de que Dante Ferreira está por perto. Ele não mora aqui, mas está na casa. E isso já é o suficiente para me deixar tensa.A simp