Dante estreita os olhos, e seu olhar pesado me prende como uma âncora.— Você é a garota com quem eu dancei outro dia.Sua voz é firme, carregada de algo que não sei decifrar. Não sei se é desconfiança, surpresa ou algo mais perigoso. Algo que me faz sentir como se estivesse sendo caçada.— Sim. Por incrível que pareça. — Dou um sorriso, tentando manter a compostura.Ele não retribui. Apenas me observa, seus olhos verdes correm por mim de um jeito que faz meu estômago apertar. Há algo nele que me desestrutura. Não é só o perigo que exala de cada parte de seu corpo, mas a maneira como parece me despir com um simples olhar. Seu cheiro amadeirado me envolve, e por um instante, odeio o quanto meu corpo reage à sua presença.— Como conhece meu irmão? — Ele questiona, a expressão dura.— Seu irmão me contratou. Sou a babá de Alice. Rebeca Silva.Digo isso com firmeza, mesmo sentindo o peso da tensão no ar. Mas antes que ele possa reagir, a porta da sala se abre, e Rafael surge vestindo roup
Alice me olha insegura.— Eu só tenho um ursinho que o tio Rafael me deu. Os outros brinquedos ficaram na outra casa.Que ironia, ela tem o pai urso e um ursinho de brinquedo. Que gracinha.Quase rio...— Por que não ficaremos muito aqui, meu anjo. — Dante diz.Eu me agacho perto dela. Sinto os olhos do bandido em mim. Tô louca para ver o outro urso.— Pode ser seu ursinho. Você me mostra?Ela sorri e acena um sim com a cabeça pra mim. Estendo minha mão para ela.— Então vem!Ela pega a minha mão com relutância.— Com sua licença! — Digo e me levanto sob o olhar atento de Dante.Pouco tempo depois, ainda estou no quarto de Alice quando começo a ouvir vozes exaltadas. Embora eu esteja louca para ir lá e ouvir a conversa, eu fecho a porta, pois Alice começou a me olhar assustada.Droga! Queria tanto ouvir o motivo da briga. Mas como?— Papai está brigando com tio Rafael. — Ela diz séria.— É conversa de adulto. — Digo para ela com um sorriso, tentando amenizar a situação.— Não gosto de
Estendo minha mão para ele. Ele joga o cigarro fora lentamente, como se estivesse saboreando cada movimento.— Amigos? Por que não?Ele pega minha mão e a segura na sua, tão forte que é impossível puxá-la. Seu toque é quente, possessivo. O calor dele se espalha pelo meu corpo, me deixando zonza. Seu polegar desliza de leve sobre minha pele, provocando arrepios.— Estou de olho em você, Rebeca.Eu ofego quando ele continua segurando minha mão. O silêncio fica pesado entre nós. O olhar de Dante me desnuda, analisa, estuda cada detalhe como se pudesse decifrar meus segredos mais profundos. Me sinto exposta, vulnerável. Meu coração martela dentro do peito.Ele então solta a minha mão devagar, como se testasse minha reação. Eu recuo um passo, e ele sorri, divertido.— Você precisa confiar mais nas pessoas. Bem, preciso ir, se me der licença.— Mais tarde podemos conversar. — Ele sorri, depois de me medir de cima a baixo. — Sobre Alice, é claro.Pelo olhar de predador dele, eu duvido muito.
Quando ele me olha, seus olhos verdes, profundos como um abismo, parecem penetrar minha alma, desafiando minha resistência. Eu o encaro, séria, para que ele não veja nenhuma fraqueza. — Eu cuido de uma criança. Isso é zelo.—Deixe-a, Dante.—Rafael grunhi.Ele apenas dá um sorriso torto, o tipo de sorriso que me deixa inquieta, que parece saber mais do que deveria. E então, sem pressa, Dante vira o copo e se serve de mais vinho, sem jamais tirar os olhos de mim. Como se, nesse simples gesto, ele estivesse dizendo que está no comando da situação.— Me fale da fazenda. Sempre tive curiosidade de entender como é viver em uma.Rafael lança um olhar rude para o irmão, mas isso me afasta apenas por um momento. Eu mordo o pedaço de carne e tento falar com a calma que já não sinto mais. Sinto as palavras saindo como se fossem o único escudo que me resta.— Hoje, meu pai cria gado e os vende. Mas antes não era assim... Ele era um agricultor. Era um trabalho árduo mexer com a terra, Dante ri.
IsabelaSaio do quarto de Alice e me dirijo ao meu, tentando dissipar o turbilhão de pensamentos que me assola. Depois de escovar os dentes, solto os cabelos, mas logo os prendo de novo, como se o ato simbolizasse a necessidade de manter o controle. Fito minha imagem no espelho: postura reta, expressão firme, olhar calculista. Se quisesse seduzi-lo, soltaria os cabelos, passaria um batom provocante. Mas, porra, eu não quero me aproximar de Dante dessa forma.Tenho aversão a tipos como ele. Por isso entrei para a polícia, para combater a bandidagem. Ainda assim, não posso negar que há algo irresistível nele. Seu magnetismo é um perigo. Mas prefiro cativá-lo com conversa, com uma boa amizade, algo que me mantenha próxima sem me comprometer.Deus, mas isso será possível?Eu preciso enrolá-lo, fazer com que ele confie em mim o suficiente para baixar a guarda. O que me tranquiliza é que, apesar de estar envolvido com armas e drogas, ele faz questão de afirmar que não é um estuprador. Como
Minha pele esquenta, mas não é de desejo. A raiva e o desconforto se misturam em uma confusão sufocante, um nó apertado que se forma no meu peito.— Sim, acredito! — minha voz sai firme, mesmo que por dentro eu esteja tremendo. — E gostaria muito que Alice tivesse um papel importante em sua vida. Que estivesse preocupado com ela e não em satisfazer seus desejos.A seriedade retorna ao rosto dele. A tensão muda. Por um momento, ele parece me analisar sob uma nova perspectiva, os olhos percorrendo meu rosto com um interesse diferente, como se estivesse me decifrando.— Quem disse que minha filha não tem um papel importante na minha vida? — A voz dele soa grave, quase ofendida. — Ela é tudo para mim. Tanto é verdade que quero que me acompanhe quando eu levá-la daqui.Meu coração dispara, uma pulsação acelerada e frenética.— Levar Alice daqui? — repito, incrédula. — Ela está muito bem com Rafael.O sorriso frio que surge em seu rosto faz um arrepio percorrer minha pele, uma promessa vela
Meu coração se aperta quando ouço a voz de Leandro. A saudade da minha vida sem aquele turbilhão de emoções se intensifica. Eu me sento no chão, perto da tomada, para que o celular continue carregando.— Me perdoe. Eu acabei pegando no sono. — Digo baixo.— Droga! Você sabe que me preocupo. — Eu podia escutar a respiração dele acelerada no bocal. — Você continua segura? Está tudo bem?Bem até demais. Não queria ainda falar de Dante e da possibilidade de me mudar para a casa dele. Só falaria da presença dele na casa.— Isabela, você está me ouvindo?— Sim, Dante está na casa. Dante Ferreira em pessoa.Há silêncio do outro lado da linha.— Mas que porra! Você não vai se envolver com esse cara. Está me ouvindo? Não se arrisque.— Eu ouvi.— Acho melhor você abortar a missão.— Nunca!— Deus, Isabela, você está se arriscando.— Eu vou até o fim.Leandro geme.— Fique de ouvidos abertos e só. Você ouviu o que eu disse?— Sim.— Como ele tem visto você na casa? Foi bem aceita? Você acha que
IsabelaNo dia seguinte, acordo sobressaltada com as batidas na porta. Meu coração dispara, como se esperasse por algo ruim. Sonolenta, caminho até ela e a abro. É Estela.— Bom dia. Rafael está de saída, ele pediu para chamá-la.Meu cérebro ainda está lento, e a informação leva alguns segundos para se fixar.— Que horas são?— Nove e meia.Passo a mão pelos cabelos longos, tentando dar alguma ordem ao caos que se formou neles durante a noite.— Deus! Perdi a hora. Diga a ele que me troco em um minuto.Ela assente e desaparece pelo corredor. Fecho a porta e passo a chave. Meu coração ainda está acelerado. Corro para pegar o celular, mas ele escorrega das minhas mãos e quase cai no chão. Meu reflexo rápido evita o impacto.Uma mensagem pisca no visor:Bom dia, saudades, se cuida, por favor. Beijos.Minhas mãos tremem ligeiramente enquanto digito:Bom dia, estou me cuidando. Beijos.Escondo o celular e o carregador na mala, como se quisesse esconder não apenas o aparelho, mas também a s