LeandroA cobertura logo se enche de pessoas, principalmente casais acompanhados de suas esposas, enquanto poucos homens solitários, como eu, observam o cenário. Rafael parece à vontade com Isabela, apresentando-a a todos ao seu redor. Eu a vejo se perder na multidão e, irritado, me sirvo de mais uma dose de uísque.— Ricardo? — A doce voz de Isabela chama minha atenção por trás dizendo o nome do meu disfarce — Você está bebendo demais.Eu a encaro, e uma ideia ousada surge na minha mente. Ficará barato assim? Esse cara rondando-a como uma mosca na carniça?Caminho até ela, meu sorriso se tornando diabólico. Puxo-a para meus braços sem aviso.— Me solta! O que está fazendo? — Ela pergunta, ofegante.Eu a observo, com os lindos olhos verdes dela arregalados, e respondo:— Marcando território. Rafael está observando. Faça o favor de corresponder. Isso vai fazer com que as mãos dele fiquem longe de você.Então, tomo seus lábios num beijo possessivo. Aperto a curva do seu corpo, e meu cor
Assinto, mas logo adiante minha atenção vacila ao notar que uma das portas ao lado está entreaberta. O som sutil de passos no piso frio chama minha atenção, e antes que eu perceba, minha curiosidade me trai. Lanço um olhar rápido para dentro.Minha respiração falha. Ali, bem no meio do quarto parcialmente iluminado, está um homem de costas largas e corpo musculoso, com tatuagens nos braços que parecem contar histórias secretas. Ele está usando apenas uma cueca preta, e os cabelos castanhos estão molhados, pingando água em gotas que deslizam lentamente por sua pele.Cada movimento é carregado de uma calma feroz, como se ele fosse dono do espaço e de tudo ao seu redor.Meu corpo paralisa. O ar parece ser arrancado dos meus pulmões.Dante!Ele não deveria estar aqui. Essa presença poderosa e ameaçadora é algo que nenhum dossiê conseguiu capturar completamente.Revê-lo, mesmo que à distância, não me preparou para isso: para esse impacto, engolida pela força de sua presença. Minhas mãos su
Quando ela sai, tranco a porta e viro a chave. Então, Dante está hospedado aqui. Isso é uma novidade para mim e para todo o meu departamento. Acho que nem eles sabem disso. O plano era nos aproximarmos dele por meio de seu irmão, mas nunca imaginei que a proximidade fosse tão íntima. Estou na casa de um bandido.Desfaço minhas malas, pensativa. Devo contar para Leandro?Pego o celular que ele me deu e o coloco debaixo do travesseiro. Depois de escovar os dentes e vestir minha camisola, me deito na cama.Cinco minutos depois, o celular vibra. Eu o pego nas mãos. Uma mensagem de Leandro:Como Rafael reagiu ao beijo? Ele questionou minha atitude?Eu sorrio e respondo:Pare de se preocupar.Ricardo responde quase imediatamente:Responda!Escrevo:Sim, ele perguntou. Mas eu dei uma boa desculpa. Disse que namoramos no passado, e que nos reencontramos. E que questões do passado nos fizeram brigar na boate, mas que hoje nos aproximamos.Ele me responde rapidamente:Boa menina!Eu sorrio, ima
Acordo às oito horas. Não sei se é muito cedo para um domingo, mas essa não é minha casa e também não conheço a rotina daqui. Tomo um banho rápido, visto uma calça jeans e uma camiseta branca, calço os tênis e prendo os cabelos antes de escovar os dentes.Antes de destravar a porta, vou até o meu esconderijo e pego o celular. Sorrio ao ver a notificação de mensagem.Cinco e meia da manhã?Ricardo não dorme?Bom dia.Me liga essa noite.Já com saudades.Ricardo.Digito rapidamente:Bom dia!Você não dorme?Acabei de acordar. Estou aguardando no quarto.Te ligo hoje à noite.Beijos.Guardo o celular e destranco a porta. Vou até a sacada e observo o sol surgindo no horizonte, iluminando o telhado das casas abaixo de mim e um parque ao longe. As ruas ainda estão quase vazias.O tempo passa devagar. Fico ali por um longo momento, tentando me acostumar com a ideia de que Dante Ferreira está por perto. Ele não mora aqui, mas está na casa. E isso já é o suficiente para me deixar tensa.A simp
Dante estreita os olhos, e seu olhar pesado me prende como uma âncora.— Você é a garota com quem eu dancei outro dia.Sua voz é firme, carregada de algo que não sei decifrar. Não sei se é desconfiança, surpresa ou algo mais perigoso. Algo que me faz sentir como se estivesse sendo caçada.— Sim. Por incrível que pareça. — Dou um sorriso, tentando manter a compostura.Ele não retribui. Apenas me observa, seus olhos verdes correm por mim de um jeito que faz meu estômago apertar. Há algo nele que me desestrutura. Não é só o perigo que exala de cada parte de seu corpo, mas a maneira como parece me despir com um simples olhar. Seu cheiro amadeirado me envolve, e por um instante, odeio o quanto meu corpo reage à sua presença.— Como conhece meu irmão? — Ele questiona, a expressão dura.— Seu irmão me contratou. Sou a babá de Alice. Rebeca Silva.Digo isso com firmeza, mesmo sentindo o peso da tensão no ar. Mas antes que ele possa reagir, a porta da sala se abre, e Rafael surge vestindo roup
Alice me olha insegura.— Eu só tenho um ursinho que o tio Rafael me deu. Os outros brinquedos ficaram na outra casa.Que ironia, ela tem o pai urso e um ursinho de brinquedo. Que gracinha.Quase rio...— Por que não ficaremos muito aqui, meu anjo. — Dante diz.Eu me agacho perto dela. Sinto os olhos do bandido em mim. Tô louca para ver o outro urso.— Pode ser seu ursinho. Você me mostra?Ela sorri e acena um sim com a cabeça pra mim. Estendo minha mão para ela.— Então vem!Ela pega a minha mão com relutância.— Com sua licença! — Digo e me levanto sob o olhar atento de Dante.Pouco tempo depois, ainda estou no quarto de Alice quando começo a ouvir vozes exaltadas. Embora eu esteja louca para ir lá e ouvir a conversa, eu fecho a porta, pois Alice começou a me olhar assustada.Droga! Queria tanto ouvir o motivo da briga. Mas como?— Papai está brigando com tio Rafael. — Ela diz séria.— É conversa de adulto. — Digo para ela com um sorriso, tentando amenizar a situação.— Não gosto de
Estendo minha mão para ele. Ele joga o cigarro fora lentamente, como se estivesse saboreando cada movimento.— Amigos? Por que não?Ele pega minha mão e a segura na sua, tão forte que é impossível puxá-la. Seu toque é quente, possessivo. O calor dele se espalha pelo meu corpo, me deixando zonza. Seu polegar desliza de leve sobre minha pele, provocando arrepios.— Estou de olho em você, Rebeca.Eu ofego quando ele continua segurando minha mão. O silêncio fica pesado entre nós. O olhar de Dante me desnuda, analisa, estuda cada detalhe como se pudesse decifrar meus segredos mais profundos. Me sinto exposta, vulnerável. Meu coração martela dentro do peito.Ele então solta a minha mão devagar, como se testasse minha reação. Eu recuo um passo, e ele sorri, divertido.— Você precisa confiar mais nas pessoas. Bem, preciso ir, se me der licença.— Mais tarde podemos conversar. — Ele sorri, depois de me medir de cima a baixo. — Sobre Alice, é claro.Pelo olhar de predador dele, eu duvido muito.
Quando ele me olha, seus olhos verdes, profundos como um abismo, parecem penetrar minha alma, desafiando minha resistência. Eu o encaro, séria, para que ele não veja nenhuma fraqueza. — Eu cuido de uma criança. Isso é zelo.—Deixe-a, Dante.—Rafael grunhi.Ele apenas dá um sorriso torto, o tipo de sorriso que me deixa inquieta, que parece saber mais do que deveria. E então, sem pressa, Dante vira o copo e se serve de mais vinho, sem jamais tirar os olhos de mim. Como se, nesse simples gesto, ele estivesse dizendo que está no comando da situação.— Me fale da fazenda. Sempre tive curiosidade de entender como é viver em uma.Rafael lança um olhar rude para o irmão, mas isso me afasta apenas por um momento. Eu mordo o pedaço de carne e tento falar com a calma que já não sinto mais. Sinto as palavras saindo como se fossem o único escudo que me resta.— Hoje, meu pai cria gado e os vende. Mas antes não era assim... Ele era um agricultor. Era um trabalho árduo mexer com a terra, Dante ri.