MayaraMayara: Está tudo bem aí?Envio a mensagem para o Caíque, mas não tenho resposta.Fazia tempo que havia chegado em casa e colocado o Gu para dormir. Tentei me distrair com qualquer coisa e não pensar no que poderia ter acontecido para o Caíque sair daquele jeito, mas nada foi bom o bastante.Eu estava apreensiva. Com receio de como e onde ele estaria, e a preocupação aumenta ainda mais já que envio mensagem e tento ligar, mas não tenho um retorno.O dia havia sido calmo e a noite estava mais tranquila do que o esperado, mas tudo mudou quando o Caíque foi atender uma ligação e apareceu perturbado daquele jeito, todo fechado. Eu sabia que havia algo que ele estava carregando, algo muito mais pesado do que poderia imaginar.Estava começando a me desesperar de tanto pensar nele quando, sem mais nem menos, ouço leves batidas na porta. Meu coração deu um salto. Era ele. Só poderia ser o Caíque, deixei portão aberto caso ele voltasse ainda hoje. Desencosto da pia e vou até a porta, se
MayaraEu não sabia o que dizer. Esperei tanto por esse momento, queria tanto que ele se desse conta da burrada que fez. No começo, era em vingança, nos últimos meses não pensava mais nisso, mas agora que está acontecendo, eu me sinto frágil e extremamente sentimental.Por uma mentira, tudo o que tínhamos e podíamos construir, foi perdido. Por causa de uma ação falsa, ele se apegou a uma traição que nunca existiu e eu me apeguei ao ressentimento de ser acusada. Eu queria poder tirar toda a dor do nosso caminho, como se fosse algo simples, mas não era. Ele estava sofrendo, mas eu também estava marcada por tudo o que aconteceu, mas eu precisava ser honesta com ele, assim como ele estava sendo comigo.— Mayara, por favor, me perdoa. — Solta um soluço, o choro aumentando assim como o seu desespero. — Me perdoa por falhar tanto com vocês, me perdoa por ter sido manipulado todo esse tempo. Por favor, me perdoa — implora.Aproximo e coloco as mãos em seu peito, sentindo o ritmo acelerado de s
CaíqueAcordo na casa extremamente silenciosa. Eu queria ter o Gustavo me acordando ou com seu chamado, ou com seus passos andando pela casa. Estar sozinho, me faz apreciar e sentir falta desses detalhes. Mas depois da última conversa que tive com a Mayara, não me senti bem em continuar na sua casa, estando em seu espaço.Naquela noite, quando nos soltamos do abraço, tudo mudou. Não falamos mais no assunto, continuamos conversando sobre o Gustavo, mas sobre nós, não. É estranho estarmos assim, mas compreensível. Na verdade, se for ser sincero, foi até melhor do que eu esperava. Ela poderia nem querer falar comigo, mas ela não fez isso.Preciso ver o lado bom das coisas, certo? E tudo o que falei para ela, é verdade. Já errei muito e fiz as coisas na emoção, agora não farei isso. Vou esperar, mostrar que mudei, que sou diferente e que me importo. Vou esperar pelo tempo que for necessário.Levanto e olho pela janela, o dia está nublado, e as nuvens se arrastam lentamente pelo céu. Não é
MayaraA noite caiu suavemente sobre a cidade, e a luz da sala estava fraca, apenas o brilho da TV iluminava o ambiente. Eu estava sentada no sofá, com uma almofada abraçada no colo, tentando me concentrar no filme cheio de ação escolhido pelo Gu, que estava passando. Mas, por mais que a tela estivesse cheia de movimento e sons explosivos, minha mente estava distante, pensando em tantas coisas ao mesmo tempo. Nosso dia tinha sido legal, o jantar havia sido simples, mas agradável, e Caíque parecia mais à vontade do que eu o vi nas últimas semanas. Eu também estava mais tranquila, o que era um bom sinal.Gustavo estava ao meu lado, entre mim e o Caíque. Deitado de forma descontraída no sofá, todo esparramado como sempre fica quando quer se sentir confortável. Ele estava quieto na maioria das vezes, mas está atento. De vez em quando soltava algum comentário sobre o filme e Caíque sempre respondendo, tentando aliviar a tensão no ar.Eu sabia que o Caíque estava se esforçando para não entr
CaíqueEstou tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente está em outro lugar. A conversa que tive com a Larissa ainda ecoa na minha cabeça. Minha irmã quer conhecer o Gustavo. Claro que quer. E eu sabia que esse momento chegaria. Só não esperava que fosse tão rápido.Pego o celular e releio a mensagem dela.Larissa: Quero conhecer o meu sobrinho. Já perdi muito tempo sem saber da existência dele.Meu peito aperta. Não é só ela que perdeu tempo. Eu também. E agora que estou finalmente aprendendo a ser pai, surge mais uma questão para lidar.Caíque: Eu entendo, mas é cedo.Larissa: Cedo? Que nada.Caíque: Ele acabou de me conhecer.Larissa: Eu sei disso. Mas também quero conhecer ele :(Caíque: Eu sei. Preciso falar com a Mayara, te retorno depois.Eu sabia que, uma hora ou outra, ela ia querer participar. Só que não imaginei que ela ia me cobrar uma apresentação entre eles tão cedo. Ainda estou tentando entender o meu lugar na vida do Gustavo, será que é o momento de incluir ma
MayaraEu nunca pensei que um passeio ao zoológico pudesse me deixar tão nervosa. O simples fato de ter viajado para outra cidade e estar na entrada do lugar, acompanhada do Caíque, do Gustavo e da Larissa, está me fazendo questionar sobre como será nossas próximas horas.Gustavo segura minha mão com força, enquanto observa os portões enormes do zoológico com olhos curiosos. Ele adora animais, e só de pensar na quantidade de bichos que vai ver hoje, já está inquieto.Larissa está ao nosso lado, tentando parecer tranquila, mas percebo o brilho ansioso no olhar dela. Quando Caíque me contou sobre o desejo da irmã de conhecer o Gustavo, eu soube que isso significava abrir mais um espaço na nossa vida para alguém que ele ama. E isso me assustou um pouco. Não por ela, mas por não saber como o Gu reagiria com a novidade.Mas agora que estamos aqui, sinto que talvez eu tenha exagerado nos meus medos. Larissa parece doce e cuidadosa, mesmo que seu entusiasmo esteja contido.— Gustavo, olha só
MayaraMeu celular vibra na mesa enquanto tento terminar de revisar alguns documentos. Olho rapidamente para a tela e sinto meu coração disparar ao ver o nome da escola do Gustavo. Atendo de imediato, já tentando controlar a respiração, preocupada com o motivo da ligação.— Alô?— Senhora Mayara? Aqui é a professora Renata, do Gustavo. Podemos conversar um momento?Sinto um arrepio percorrer minha espinha.— Claro, professora. Aconteceu alguma coisa? Gustavo está bem?— Gustavo se envolveu em uma briga na escola. Ele está bem, mas acho que seria importante a senhora vir até aqui.Respiro fundo, tentando não deixar o pânico tomar conta. Agradeço e desligo o telefone, mas minha mente já está a mil. Gustavo nunca foi de brigar. Tento entender o que pode ter acontecido enquanto me preparo para avisar o Caíque.Mayara: Oi, Caíque. Está podendo falar?Caíque: Oi. Sim, aconteceu alguma coisa?Mayara: A escola do Gu ligou. Ele brigou. Precisamos ir lá.Caíque: Estou indo aí, me espera.Caíque
Caíque— Pronto, criei um grupo com todos os meus irmãos. — Larissa manda áudio em um grupo recém-criado e eu estranho.— Qual o motivo? — pergunto.— Estou querendo contato com vocês, parecemos estranhos.Queria dizer que é mentira, mas não é. Entre meus irmãos, eu tenho mais proximidade com Larissa. Não posso colocar a culpa só em como fomos criados de forma fria, mas também nunca nos esforçamos para sermos próximos.Creio que todos pensamos o mesmo, porque concordamos. Um por um, vai falando sobre como está a vida. Meus dois irmãos são mais velhos, cada um tem seu relacionamento e em determinado ponto da vida, se afastaram dos nossos pais e de quem ficou para trás. Hoje, eu os entendo.Ouço os infinitos áudios e leio as mensagens de cada um. Larissa fala para nos vermos e todos concordam, ligando a chamada em vídeo. Sorrio quando os vejo. Não imaginei que sentia tanta falta deles como agora.Então, chega a minha vez de atualizá-los sobre minha vida. Conto tudo, desde o meu retorno.