MayaraO som das risadas preenche a sala enquanto Gustavo e Daniel disputam um jogo de tabuleiro no chão. Estou sentada em uma cadeira na cozinha, tentando prestar atenção no desabafo de Gabriela. Minha amiga está brava com a nova vizinha que faz diversos barulhos de madrugada e tem acordado eles no susto. Acabo rindo do seu stress, mas logo me distraio, minha mente insiste em vagar para outros lugares.Meu celular vibra em cima da mesa, e quando pego para ver, meu coração dispara. É uma mensagem do Caíque.Caíque: Oi. O que acha de nos vermos hoje à noite?Fico encarando a tela por alguns segundos, sem saber exatamente como responder. Desde que ele voltou, as coisas têm sido uma mistura de emoção e insegurança. Ter ele por perto novamente, saber que está disposto a fazer parte da vida do Gustavo e... da minha também… É assustador.E depois dos últimos acontecimentos e da nossa aproximação, estou ainda mais confusa e perdida.— Quem é? — Gabi pergunta, inclinando-se curiosa para ver m
Mayara— Para onde vamos? — Puxo assunto, tentando não parecer nervosa.— Pensei em algum restaurante, mas achei que poderíamos atenção… Não queria te deixar desconfortável na primeira vez que estamos sozinhos, então, achei melhor ficarmos na minha casa. — Ele parece incerto e me espia. — Fiz bem?— Fez. — Confirmo, vendo-o suspirar aliviado.O caminho até a casa do Caíque é tranquilo, mas meu coração não para de bater acelerado. Durante todo o trajeto, tentei não pensar demais no que pode acontecer. Sei que estamos dando um passo importante ao aceitar esse convite, mas uma parte de mim ainda sente aquela insegurança lá no fundo.Sou uma adulta, mas estou mais nervosa do que quando era adolescente e íamos nos encontrar escondido.Caíque estaciona o carro na frente da casa e desce rapidamente para abrir a porta para mim. A gentileza dele ainda me surpreende, como se estivesse redescobrindo um lado que eu já não lembrava.— Pronta? — ele pergunta com um sorriso leve.Assinto, tentando i
Mayara— Está muito bom! — elogio a sobremesa. Ele estava tão preocupado, colocando defeito no que fez, que pensei que ia ser um terror. Mas não, ele só estava exagerando. Por isso acho bom tranquilizá-lo.— Que alívio ouvir isso — sorri. — Ou você está sendo muito gentil — brinca.— Estou sendo sincera. — Rimos.O clima muda. Abaixo a cabeça e não o encaro, sentindo seu olhar em minha direção. Ele fica em silêncio, só observando eu comer o doce. Quando acabo, não sei o que fazer ou como me portar. Antes que o clima fique mais tenso, Caíque vem com a solução, amenizando tudo.— Quero te mostrar uma coisa — chama, ganhando minha atenção.— O quê?Ele se levanta e estende a mão para mim. Aceito, colocando minha palma na sua. Coloco-me de pé e o sigo, até pararmos em uma porta fechada, que eu me lembre, é um quarto que fica ao lado do seu.— Quero sua opinião. Será que o Gu vai gostar? — Antes que eu possa perguntar sobre o que ele está falando, Caíque abre a porta, revelando o motivo da
CaíqueAbro os olhos devagar, sentindo a luz suave da manhã invadir o quarto pelas frestas da cortina. Ainda meio sonolento, demoro alguns segundos para perceber onde estou. Mas então sinto um peso confortável sobre meu peito e um cheiro familiar de shampoo de frutas.Mayara está deitada ao meu lado, nua com o lençol preso abaixo das axilas. Observo parte do rosto sereno encostado em meu ombro, o braço repousando em minha cintura. A respiração dela é lenta e tranquila, e meu primeiro impulso é ficar completamente imóvel para não quebrar aquele momento.Por um instante, tudo parece tão perfeito que eu quase esqueço das últimas semanas, das conversas difíceis e das emoções intensas. Só consigo pensar no quanto é bom tê-la aqui, tão próxima, como se o tempo nunca tivesse nos separado.Com cuidado, acaricio os cabelos dela, tentando não a acordar. Meu peito se enche de uma sensação que eu tinha esquecido como era. Paz. Felicidade.Mayara se mexe levemente, murmurando algo inaudível antes
Mayara— O que vamos fazer agora? — pergunto para ele e antes que tenha sua resposta, o meu celular toca.Levanto do colchão e procuro pelo aparelho, encontrando-o no chão, perto da cama.— Alô? Está tudo bem? — Atendo, quando vejo o nome da Gabi na tela.— Oi, está tudo bem e aí? — resmungo. — Te acordei? — pergunta.— Não. Já estou acordada faz tempo.— Ótimo. O Gu pediu para te ligar, vou passar para ele.Volto a me sentar na cama, ouvindo o Gu pedir o celular.— Mamãe? — Sorrio com a voz infantil me chamando.— Oi, meu amor. Como você está? — Coloco a chamada no viva-voz.— Tô bem. Estava brincando com o tio. Onde você está? — dispara a falar.— Estou com o Caíque. — Ele aproxima do celular para falar também.— Oi, filho. Bom dia!— Oi — Gu responde mais animado.Eu e Caíque nos olhamos e não precisamos falar em voz alta o que pensamos.— Quer que te buque o Gu? Aí nós três podemos passar um tempo juntos — Caíque chama.— Quero! — Gustavo grita, nos fazendo rir.— Combinado. Daqui
CaíqueEstou sentado à mesa da sala, com o notebook aberto e uma pilha de documentos espalhados ao meu redor. Tento me concentrar nos relatórios que preciso terminar, mas minha cabeça insiste em voltar para a manhã tranquila que tive com a Mayara e o Gustavo.Ainda posso sentir o cheiro dela na minha camisa e o gosto do café que tomamos juntos. Das conversas com o Gu enquanto ele me ajudava a cozinhar, da leveza do nosso momento juntos. Foi uma sensação boa os ter aqui comigo, como se estivéssemos finalmente encontrando o caminho certo. Suspiro, tentando focar no trabalho, mas o sorriso que teima em aparecer no meu rosto me distrai.Estou irritado de ter que trabalhar, mas houve um erro com a sede e eu preciso arrumar logo para não ter mais problemas amanhã. Não vejo a hora de acabar e ir ficar o resto do dia com Mayara e nosso filho.O som da notificação do celular me tira dos pensamentos. Pego o aparelho e vejo uma mensagem de Mayara. Meu coração bate mais rápido quando abro a mensa
CaíqueEstou sentado no sofá da sala, olhando para o nada. O celular repousa sobre a mesa de centro, e a notificação da proposta de trabalho ainda brilha na tela, como se me provocasse.Deveria estar feliz. É exatamente o tipo de oportunidade que eu sempre esperei. Trabalho estável, em uma empresa de prestígio, longe daqui — um recomeço. Mas, ao invés de comemorar, só consigo sentir um nó apertando minha garganta.Passo as mãos pelo rosto, tentando organizar os pensamentos. Quando vim para cá, não planejava ficar muito tempo. Queria resolver os problemas da família, ajudar com as contas, colocar tudo nos eixos. Mas agora tudo mudou.Se fosse em outra época, eu aceitaria sem pensar duas vezes e agradeceria ao universo por isso. Eu estava ansiando por uma oportunidade melhor, e uma vaga nessa empresa era um sonho profissiona
Mayara— Você falou que encontrou mãe dele? E como foi? — Gabi pergunta do outro lado da linha. Desde que cheguei em casa, estou atualizando-a sobre todo o nosso final de semana. Posiciono o celular entre meu ombro e orelha, seguindo nossa conversa enquanto lavo a louça.— Liguei para ele e contei, ele parecia nervoso, mas falei tudo e foi bom fazer isso. Estamos do mesmo lado. Sem segredos. — Respiro fundo. — Na verdade, tudo tem sido muito bom. — Não consigo evitar o meu sorriso ao lembrar de como foram maravilhosos os últimos dias em que estivemos juntos. — Caíque é incrível.— Huuuuum… Incrível, né? — brinca, me fazendo rir. — É bom te ver feliz.— Obrigada. É bom estar assim de novo. — Fecho a torneira e seco as mãos no pano de prato. — Gustavo também está feliz.— Está mesmo. Ele falou para a gente sobre o Caíque por horas. E quando você falou que Caíque ia vir buscar ele, Gu ficou desesperado. — Sorrio. — Ele está muito feliz.Estou na cozinha, preparando o jantar enquanto Gust