CaíqueAcordo na casa extremamente silenciosa. Eu queria ter o Gustavo me acordando ou com seu chamado, ou com seus passos andando pela casa. Estar sozinho, me faz apreciar e sentir falta desses detalhes. Mas depois da última conversa que tive com a Mayara, não me senti bem em continuar na sua casa, estando em seu espaço.Naquela noite, quando nos soltamos do abraço, tudo mudou. Não falamos mais no assunto, continuamos conversando sobre o Gustavo, mas sobre nós, não. É estranho estarmos assim, mas compreensível. Na verdade, se for ser sincero, foi até melhor do que eu esperava. Ela poderia nem querer falar comigo, mas ela não fez isso.Preciso ver o lado bom das coisas, certo? E tudo o que falei para ela, é verdade. Já errei muito e fiz as coisas na emoção, agora não farei isso. Vou esperar, mostrar que mudei, que sou diferente e que me importo. Vou esperar pelo tempo que for necessário.Levanto e olho pela janela, o dia está nublado, e as nuvens se arrastam lentamente pelo céu. Não é
MayaraA noite caiu suavemente sobre a cidade, e a luz da sala estava fraca, apenas o brilho da TV iluminava o ambiente. Eu estava sentada no sofá, com uma almofada abraçada no colo, tentando me concentrar no filme cheio de ação escolhido pelo Gu, que estava passando. Mas, por mais que a tela estivesse cheia de movimento e sons explosivos, minha mente estava distante, pensando em tantas coisas ao mesmo tempo. Nosso dia tinha sido legal, o jantar havia sido simples, mas agradável, e Caíque parecia mais à vontade do que eu o vi nas últimas semanas. Eu também estava mais tranquila, o que era um bom sinal.Gustavo estava ao meu lado, entre mim e o Caíque. Deitado de forma descontraída no sofá, todo esparramado como sempre fica quando quer se sentir confortável. Ele estava quieto na maioria das vezes, mas está atento. De vez em quando soltava algum comentário sobre o filme e Caíque sempre respondendo, tentando aliviar a tensão no ar.Eu sabia que o Caíque estava se esforçando para não entr
CaíqueEstou tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente está em outro lugar. A conversa que tive com a Larissa ainda ecoa na minha cabeça. Minha irmã quer conhecer o Gustavo. Claro que quer. E eu sabia que esse momento chegaria. Só não esperava que fosse tão rápido.Pego o celular e releio a mensagem dela.Larissa: Quero conhecer o meu sobrinho. Já perdi muito tempo sem saber da existência dele.Meu peito aperta. Não é só ela que perdeu tempo. Eu também. E agora que estou finalmente aprendendo a ser pai, surge mais uma questão para lidar.Caíque: Eu entendo, mas é cedo.Larissa: Cedo? Que nada.Caíque: Ele acabou de me conhecer.Larissa: Eu sei disso. Mas também quero conhecer ele :(Caíque: Eu sei. Preciso falar com a Mayara, te retorno depois.Eu sabia que, uma hora ou outra, ela ia querer participar. Só que não imaginei que ela ia me cobrar uma apresentação entre eles tão cedo. Ainda estou tentando entender o meu lugar na vida do Gustavo, será que é o momento de incluir ma
MayaraEu nunca pensei que um passeio ao zoológico pudesse me deixar tão nervosa. O simples fato de ter viajado para outra cidade e estar na entrada do lugar, acompanhada do Caíque, do Gustavo e da Larissa, está me fazendo questionar sobre como será nossas próximas horas.Gustavo segura minha mão com força, enquanto observa os portões enormes do zoológico com olhos curiosos. Ele adora animais, e só de pensar na quantidade de bichos que vai ver hoje, já está inquieto.Larissa está ao nosso lado, tentando parecer tranquila, mas percebo o brilho ansioso no olhar dela. Quando Caíque me contou sobre o desejo da irmã de conhecer o Gustavo, eu soube que isso significava abrir mais um espaço na nossa vida para alguém que ele ama. E isso me assustou um pouco. Não por ela, mas por não saber como o Gu reagiria com a novidade.Mas agora que estamos aqui, sinto que talvez eu tenha exagerado nos meus medos. Larissa parece doce e cuidadosa, mesmo que seu entusiasmo esteja contido.— Gustavo, olha só
MayaraMeu celular vibra na mesa enquanto tento terminar de revisar alguns documentos. Olho rapidamente para a tela e sinto meu coração disparar ao ver o nome da escola do Gustavo. Atendo de imediato, já tentando controlar a respiração, preocupada com o motivo da ligação.— Alô?— Senhora Mayara? Aqui é a professora Renata, do Gustavo. Podemos conversar um momento?Sinto um arrepio percorrer minha espinha.— Claro, professora. Aconteceu alguma coisa? Gustavo está bem?— Gustavo se envolveu em uma briga na escola. Ele está bem, mas acho que seria importante a senhora vir até aqui.Respiro fundo, tentando não deixar o pânico tomar conta. Agradeço e desligo o telefone, mas minha mente já está a mil. Gustavo nunca foi de brigar. Tento entender o que pode ter acontecido enquanto me preparo para avisar o Caíque.Mayara: Oi, Caíque. Está podendo falar?Caíque: Oi. Sim, aconteceu alguma coisa?Mayara: A escola do Gu ligou. Ele brigou. Precisamos ir lá.Caíque: Estou indo aí, me espera.Caíque
Caíque— Pronto, criei um grupo com todos os meus irmãos. — Larissa manda áudio em um grupo recém-criado e eu estranho.— Qual o motivo? — pergunto.— Estou querendo contato com vocês, parecemos estranhos.Queria dizer que é mentira, mas não é. Entre meus irmãos, eu tenho mais proximidade com Larissa. Não posso colocar a culpa só em como fomos criados de forma fria, mas também nunca nos esforçamos para sermos próximos.Creio que todos pensamos o mesmo, porque concordamos. Um por um, vai falando sobre como está a vida. Meus dois irmãos são mais velhos, cada um tem seu relacionamento e em determinado ponto da vida, se afastaram dos nossos pais e de quem ficou para trás. Hoje, eu os entendo.Ouço os infinitos áudios e leio as mensagens de cada um. Larissa fala para nos vermos e todos concordam, ligando a chamada em vídeo. Sorrio quando os vejo. Não imaginei que sentia tanta falta deles como agora.Então, chega a minha vez de atualizá-los sobre minha vida. Conto tudo, desde o meu retorno.
MayaraO som das risadas preenche a sala enquanto Gustavo e Daniel disputam um jogo de tabuleiro no chão. Estou sentada em uma cadeira na cozinha, tentando prestar atenção no desabafo de Gabriela. Minha amiga está brava com a nova vizinha que faz diversos barulhos de madrugada e tem acordado eles no susto. Acabo rindo do seu stress, mas logo me distraio, minha mente insiste em vagar para outros lugares.Meu celular vibra em cima da mesa, e quando pego para ver, meu coração dispara. É uma mensagem do Caíque.Caíque: Oi. O que acha de nos vermos hoje à noite?Fico encarando a tela por alguns segundos, sem saber exatamente como responder. Desde que ele voltou, as coisas têm sido uma mistura de emoção e insegurança. Ter ele por perto novamente, saber que está disposto a fazer parte da vida do Gustavo e... da minha também… É assustador.E depois dos últimos acontecimentos e da nossa aproximação, estou ainda mais confusa e perdida.— Quem é? — Gabi pergunta, inclinando-se curiosa para ver m
Mayara— Para onde vamos? — Puxo assunto, tentando não parecer nervosa.— Pensei em algum restaurante, mas achei que poderíamos atenção… Não queria te deixar desconfortável na primeira vez que estamos sozinhos, então, achei melhor ficarmos na minha casa. — Ele parece incerto e me espia. — Fiz bem?— Fez. — Confirmo, vendo-o suspirar aliviado.O caminho até a casa do Caíque é tranquilo, mas meu coração não para de bater acelerado. Durante todo o trajeto, tentei não pensar demais no que pode acontecer. Sei que estamos dando um passo importante ao aceitar esse convite, mas uma parte de mim ainda sente aquela insegurança lá no fundo.Sou uma adulta, mas estou mais nervosa do que quando era adolescente e íamos nos encontrar escondido.Caíque estaciona o carro na frente da casa e desce rapidamente para abrir a porta para mim. A gentileza dele ainda me surpreende, como se estivesse redescobrindo um lado que eu já não lembrava.— Pronta? — ele pergunta com um sorriso leve.Assinto, tentando i