18 anos atrás, Inglaterra — Londres
Durval
— Durval, acorde! Você irá se atrasar. — Sinto mãos pequenas chacoalharem meu corpo com preocupação.
Resmungo chateado por ter que me levantar e ir trabalhar, gostaria de tirar umas férias para poder viajar com minha linda esposa, sou jovem, no auge dos meus 23 anos e merecia umas férias por ter subido de cargo há poucos meses.
— Ande logo, Durval! — Reclama irritada.
— Hum... — resmungo chateado. — Você ainda insiste em me chamar por esse apelido idiota, já faz anos — reclamo esfregando as mãos nos olhos.
— Vá logo tomar um banho, Nikolay González. — Recebo um leve tapa no peito e acabo sorrindo com a reação da minha esposa.
— Ei, volte aqui, eu quero meu beijo — retruco.
Contrariada ela semicerra seus lindos olhos azuis tempestuosos, me observando da porta com as sobrancelhas levemente arqueadas.
— Por favor — choramingo sorrindo.
— Eu odeio quando você faz isso. — Caminha elegantemente em minha direção rebolando seus fartos quadris a cada passo que dá.
Sento na lateral da cama encaixando seu corpo entre minhas pernas. Aquelas duas safiras puras me encaram curiosas e cheias de vida, seus lábios naturalmente rubros e suaves se encontram com os meus e automaticamente envolvo os braços em volta da sua cintura a abraçando, seus delicados dedos se enroscam em meus cabelos os puxando com carinho.
Involuntariamente solto um gemido manhoso e seus deliciosos lábios sorrirem nos meus.
— Pronto senhor González, agora trate de ir para o banho e depois tomar o seu café da manhã. Diones não aceitará mais atrasos.
Ela se desvencilha rapidamente do meu corpo me deixando chateado.
— Lana, volte imediatamente! Você é maldosa — protesto.
— Eu sei, meu amor, mas se não fosse essa mulher “maldosa”, você estaria em sérios apuros. — Pisca, fechando a porta logo em seguida.
Frustrado, passo as mãos nos cabelos ao ver a porta se fechar, mas acabo sorrindo com a sua audácia que me enlouquece.
Sinceramente, eu amo essa mulher mais do que a minha própria vida.
Me levanto rapidamente seguindo para o banheiro, tomo um banho rápido e visto a farda segurando minha boina nas mãos. Ao sair do quarto encontro Lana servindo o café em um copo e as torradas com bacon e ovo já me esperavam no prato.
— Hum... você realmente sabe como agradar seu homem. — A abraço por trás beijando seu pescoço com carinho.
— Mas é claro! Preciso deixar esse homem bem alimentado, pois é um completo irresponsável, que com certeza morreria se vivesse sozinho. — Balança a cabeça em negativa revirando os olhos, mas deixa um suave beijo em meus lábios.
— O que seria de mim sem essa preciosa mulher?! — Mordo sua orelha.
— Você vai se atrasar. — Me empurra rindo.
Tomo o café em sua companhia e acabamos jogando conversa fora por mais tempo do que deveríamos. Se eu realmente demorasse mais alguns segundos me atrasaria e não quero outro sermão do chefe.
Coloco a boina na cabeça e saio com a viatura em direção a delegacia. Sou recebido por meus colegas de trabalho com sorrisos e parabenizações pela prisão realizada essa semana. O reconhecimento pelo meu árduo trabalho é realmente gratificante.
A prisão de um dos braços direto do mafioso mais temido do país, Jacob Smith, foi realmente um grande feito. Claro que não posso levar todos os méritos sozinho, afinal, todo o meu batalhão tem participação, mas quem seguiu os rastros e liderou a emboscada fui eu, acabando com boa parte do tráfico de drogas, exportações de armas e até mesmo tráfico de mulheres.
Como podem tratar mulheres como meros objetos sexuais? No meu ponto de vista, não só Smith, mas Benjamin também merece pena de morte. Não só por desrespeitar vidas inocentes, como também causarem desordem a população. Além disso, as mulheres merecem todo o amor que um homem é capaz de dar.
Sendo assim, me empenhei por um ano inteiro em seguir os rastros de Jacob Smith. Um homem que se diz inocente, mas é dono de uma rede de prostíbulos. Nunca confiei nos sorrisos falsos que ele distribui a todos à sua volta e muito menos no homem que sempre o seguiu calado, Benjamin Field.
Jacob sempre se mostrou para as pessoas com carinha de bom moço, mas eu sabia que ele escondia muito mais sob aquela máscara que usa, sempre me deixando alerta. Até que finalmente consegui descobrir todas suas tramoias e traições através de um erro bobo de Derek, um dos seus capangas.
Infelizmente, Jacob conseguiu se esquivar sorrateiramente das acusações que levantei contra ele, mas com isso perdeu muito poder ao ver mais de quinze dos seus homens irem parar atrás das grades.
Me sinto de certa forma realizado, pois lutei muito para chegar até aqui e até mesmo Diones se surpreendeu com minha evolução e desempenho nessa missão.
Não posso negar que em certos momentos agi em silêncio, pois Diones sempre achou perigoso demais se envolver com Jacob. Minha satisfação só não é completa, por saber que o chefe principal de todo o tráfico ainda está solto, ou seja, ainda tenho muito trabalho pela frente para realizar com perfeição a prisão desse bandido.
— Ei, Nikolay, você deveria pedir umas férias. — Jennah vem em minha direção sorrindo.
— Diones já acabou com minhas esperanças. — Suspiro frustrado.
— Nosso chefe é realmente um “mala”. — Ela gargalha alto me entregando um café expresso.
Mesmo a contragosto recebo o café com carinho. Ela sempre se lembra de trazer para os integrantes do nosso esquadrão, porém nunca lembra do jeito que gosto do meu café, forte e sem muito açúcar, como os que Lana me oferece todas as manhãs.
— Ouvi isso, Jennah. — Diones aparece na porta de sua sala.
— Só disse a verdade, senhor. — Ela ri novamente fazendo todo o quartel segui-la nas risadas.
— Ei seus mal-amados, mexam esses traseiros e vão proteger a cidade! — Ele grita. — Nikolay, venha à minha sala imediatamente.
Faço uma careta para Jennah imitando a voz do nosso chefe e ela gargalha se voltando para a papelada burocrática em sua mesa.
Reviro os olhos ao observar meu relógio de pulso e ver que estava dez minutos atrasado. Não acredito que Diones me dará um sermão por causa de tão pouco tempo, ultimamente ele está uma pilha de nervos e isso o torna desagradável.
Sigo para sala do meu chefe encostando a porta assim que entro.
— Eu sei que me atrasei, mas precisamos mesmo ter essa conversa novamente? — Faço uma careta suspirando.
— Sente-se, Nikolay. — Aponta a cadeira à sua frente me fazendo suspirar.
Encaro aquele senhor alto, de meia idade, com cabelos grisalhas e corpo muito bem definido para um homem da sua idade, mas sendo o delegado não é estranho vê-lo tão em forma. Sei que ele treina seu corpo para combates diretos muito mais do que jovens como eu, por exemplo.
— Sim, senhor. — Me limito em dizer fazendo o que ele mandou.
Ele me observa com um olhar preocupado e um pouco distante. Aquilo me deixa apreensivo. Meu instinto me deixa em alerta, sinto que algo está acontecendo.
— Aconteceu algo que eu deva saber? — Pergunto preocupado.
— Tenho que te parabenizar pelo seu empenho e se destacando entre seus colegas tão rapidamente, Nikolay. — Ele sorri, mas não chega aos seus olhos, a preocupação continua tomando lugar.
— Obrigado, mas Jacob ainda está solto. — Suspiro chateado. — Eu tinha certeza que ele também seria preso.
— Este é o problema. — Suspira.
— Não entendi. — O observo.
— Não quero que se envolva com Jacob novamente, estou te tirando do caso, quero que volte a trabalhar com Brendo e Bernardo, vocês se conhecem há muitos anos e se dão muito bem. Agora que você está em um cargo maior, pode liderá-los como desejar, mas está oficialmente fora das investigações sobre Smith. — Diz com convicção sem brechas para discussão.
Fico tão chocado com a informação que nem mesmo consigo me manifestar sobre essa ordem tão absurda.
— Não me olhe assim, já foi decidido. — Cruza os braços me observando.
— De maneira alguma, não cheguei tão longe para desistir. — Falo indignado.
— Não é uma questão de desistência Nikolay, você está arriscando sua vida mais do que pode imaginar, está mexendo com pessoas desumanas e sem escrúpulos. Acha mesmo que Jacob ficará parado sabendo que você prendeu vários de seus homens, sendo dois deles o seu braço direto? Por favor, seja mais sensato. — Ele suspira irritado.
— Eu sei dos riscos que estou correndo, mas não vou desistir agora, falta pouco para pegarmos ele. — Me levanto irritado.
— Não é você quem decide isso, estou oficialmente te tirando desse caso.
— Você não pode fazer isso. — Me altero, visivelmente nervoso.
— Claro que eu posso, é pelo seu bem, meu rapaz. Você ainda é jovem e tem muito para viver ainda, sua esposa é linda e merece o marido ao seu lado. — Ele me entrega alguns papéis.
— O que é isso? — Seguro os papéis com força por causa da raiva.
— Seu novo caso, trate de resolvê-lo com maestria como sempre faz. — Diz com um sorriso cansado nos lábios.
— Sabe que não desistirei, certo? — Deixo o aviso.
— Sei, por isso te coloquei junto com Brendo e Bernardo, eles têm ordens diretas de te impedir de tentar algo, mesmo você sendo o chefe deles. — Sorri.
— Você é um velho chato e rabugento. — Reclamo frustrado.
— Eu sei. O que não faço pelos meus homens? Sua vida é mais importante no momento. — Seu sorriso se estende satisfeito, mas para mim aquilo com certeza não ficaria assim.
— Ok, ok, não precisa apelar, pelo visto tenho um novo caso para resolver. — Observo os papéis com pouco interesse e visivelmente chateado.
— É assim que se fala! Tire sua bunda da minha sala e vá trabalhar. — Ele me expulsa rindo e eu suspiro cansado.
Reviro os olhos com vontade de m****r aquele velho a merda, mas me contenho saindo de sua sala bastante irritado com a situação.
O dia mal começou e já estava uma grande porcaria. Minha vontade é voltar para casa, para os braços da Lana, namorar o dia todo e esquecer dessa manhã.
Se Diones acha que desistirei tão fácil, está muito enganado. Falta tão pouco para que eu consiga chegar até Jacob e não será agora que deixarei ele a vontade para se reerguer, depois de uma baixa tão grande em seus melhores homens.
Encontro meus amigos e novos companheiros no corredor e logo eles vêm em minha direção, animados apenas para festejar a minha volta ao seu esquadrão. Apesar de gostar deles, sorrio forçadamente.
Sempre fui um lobo solitário e gosto dessa vida, sempre que possível gosto de estudar meu oponente e agir sozinho, ataco na maioria das vezes sem a companhia de ninguém. Mas com certeza sei a grande importância que tem uma equipe.
Não é ruim trabalhar com eles, mas prefiro a solidão. Eles sempre foram meus amigos desde a infância e seria egoísmo da minha parte rejeitá-los.
Moramos próximos por muitos anos. Eles são irmãos e sua mãe vivia em minha casa. Nos damos bem, mas não queria regredir na minha carreira e sim avançar.
— Mas aqui estou eu mais uma vez voltando para o início. — Resmungo chateado analisando os papéis em minha mão.
Um homicídio? Realmente interessante, porém o que Diones quer que eu faça? Eu sou um policial e não um detetive.
Suspiro pesadamente massageando minhas têmporas.
Isso será mais trabalhoso do que eu esperava.
Ignoro o falatório dos meus amigos enquanto me concentro na folha em minha mão.
17 anos atrás.Sei que deveria ter parado com o caso Smith como foi ordenado, mas não gastei mais de um ano da minha vida à toa. Não poderia simplesmente abandonar tudo como Diones queria, por isso, continuei meu trabalho em segredo e descobri que Jacob receberá uma carga de narcóticos hoje em um dos seus galpões.Não posso perder essa oportunidade, preciso ver pessoalmente o que estão planejando e o que farão. Eu poderia contar com a ajuda dos meus parceiros, mas sei que não terei nenhum apoio e mesmo sabendo que é arriscado agirei sozinho.Seria realmente um desperdício deixar essa oportunidade escapar.***Odeio mentir para Lana, mas nesse caso foi extremamente necessário. Não posso envolvê-la em algo tão perigoso como o caso de Jacob.Disse a ela que teria uma reunião de emergência na delegac
— Não queria me pegar? Aqui estou! Você mexeu com a pessoa errada, querido Nikolay, o policial do momento. — Recebo um soco no maxilar que me faz gemer.— Faça o que quiser comigo só deixe minha esposa ir embora. — Suplico sem nenhuma vergonha, pois faria qualquer coisa por ela.— Não teria graça se as coisas fossem assim, não é mesmo? Eu perdi muito mais do que 15 homens há um ano atrás, você só perderá sua esposa. — Desfere tapas pesados em meu rosto.— Mate-me, ela não tem nada a ver com o meu trabalho, é apenas uma mulher inocente, eu farei o que quiser, mas deixe-a ir. — Tento ao máximo convencê-lo.— Não, eu não nasci para ser bondoso. — Desfere um soco em minhas costelas fazendo o ar dos meus pulmões faltarem. — Deveria ter pensado antes de mexer co
10 anos atrás.Observo os homens que recrutei depois de quatro anos de treino pesado em todas as artes marciais que consegui participar. Sim, dediquei os últimos quatro anos da minha vida em treinamentos pesados para realizar a minha tão sonhada e desejada vingança.Utilizei todo o dinheiro que havia reservado no banco para me manter sem que eu precisasse trabalhar e vendi minha casa para manter um dinheiro extra. Mudei de nome, de endereço e de vida, me demiti, mudei meu círculo de amigos e cresci, literalmente cresci.Sendo policial a facilidade de apreender as técnicas passadas a mim pelos meus instrutores era de grande ajuda. Em pouco tempo fui o melhor aluno de artes marciais, porém isso não bastou eu realmente precisava de um mestre para me ajudar a crescer além do que eu já havia crescido.Então eu sumi completamente, apaguei minha vid
Dias atuais.Estou concentrado nas novas informações que recebi a respeito de Diones, pelo que encontrei até agora ele está escondido em outro país, mais especificamente na Itália.Um grande covarde que ao perceber que seus companheiros estavam sendo mortos fugiu sem a mínima preocupação, porém agora eu finalmente o encontrei e caçá-lo em outro país faz a adrenalina pulsar em minhas veias. Entretanto, os murmurinhos no andar de baixo estão começando a me irritar e tirar minha concentração do que estou fazendo.Não compreendo o porquê de tanta falação quando não fui informado de nenhuma desordem em meu território. Isso realmente está começando a me chatear, além disso, já deixei avisado que não quero meus homens dentro dessa casa e pelos barulhos, h&aacut
Assim que passo pelas portas, a coloco sentada sobre a cama e ela se assusta ao tocar o colchão macio, ela abraça o próprio corpo na tentativa de se cobrir.Retiro a venda de seus olhos e piscando incontáveis vezes ela fixa seus lindos e intensos olhos castanhos escuros em mim, embora eles estejam cheios de medo e insegurança.Inclino levemente minha cabeça para o lado observando aquele mar de águas escuras em minha frente.Algo neles me intriga.Quando fixo meus olhos dentro dos seus os vejo refletir a minha alma em uma furiosa tempestade.Aquilo de certa forma me assusta, mas tomado pelo impulso levo minha mão para tocar sua testa machucado e em resposta ela se encolhe se afastando.— Não! — Grita em desespero. — Eu não quero... por favor, não! — Se encolhe ainda mais tentando esconder seu corpo pequeno e desnutrido com os braços.
DurvalDormir, foi algo impossível...O resto da noite foi uma completa perda de tempo, não consegui me concentrar na minha busca por Diones e nem mesmo terminar as planilhas dos novos armamentos que chegariam em poucos dias, minha mente está no meu quarto, ou melhor dizendo, em uma jovem inesperada.Como uma garota tão jovem veio parar em um lugar como esses? Não compreendo os motivos para ela estar naquele beco, isso está tirando minha paz.Suspiro pesadamente rolando meu charuto entre os dedos, fumo com calma, observando o sol adentrar meu escritório a cada segundo que se passa.Meus pensamentos voam tentando compreender como Alfie a abordou. Meu sangue corre mais rápido em minhas veias ao imaginar aquele corpo pequeno e magro tremer de medo e chorar em desespero.Solto uma lufada de fumaça, tamborilando meus dedos sobre a mesa com certa impaciência.
— Sente-se e coma, criança. — Falo com calma.Ela senta à minha frente e começa a comer com tranquilidade o seu café da manhã.— Poderia parar de me chamar de criança? — Ela franze as sobrancelhas ao fixar seus olhos nos meus.— E como devo lhe chamar? Pulamos as apresentações ontem. — Tomo o café para aliviar a sensação maçante do meu peito.— Pode me chamar de Lexy, não gosto muito do meu nome, ele tem um significado estranho do tipo defensora da humanidade ou ajudante, meus pais poderiam ter escolhido algo melhor. — Ela suspira comendo um pedaço de seu bacon com vontade.— E qual é seu nome verdadeiro? — Pergunto um tanto curioso.— Alexia, Alexia Leroy. — Faz uma careta ao falar.— Gostei, é diferente e único, você é a prime
DurvalSe consegui me concentrar no trabalho e nas coisas que deveria fazer? A resposta é: OBVIAMENTE NÃO.Estou irritado, com uma dor de cabeça dos infernos e com vontade de matar alguém para ver se a adrenalina que corre em minhas veias diminui.Já fiz um treinamento pesado na academia com todos os tipos de exercícios desgastante existente e mesmo assim meu corpo parece estar disposto a correr uma maratona.Alexia, não sai da porra da minha cabeça.Estou inquieto e meu sexto sentido me diz que por trás de todo aquele atrevimento e petulância ela esconde algo importante.Pedi a Matheo — um dos meus braços direito — que a seguisse de longe. Não confio completamente nela. Acabo rindo de mim mesmo com a desculpa descabível que acabei de inventar. A verdade é que pouco me importo se confio ou não nela, estou mesmo