Dias atuais.
Estou concentrado nas novas informações que recebi a respeito de Diones, pelo que encontrei até agora ele está escondido em outro país, mais especificamente na Itália.
Um grande covarde que ao perceber que seus companheiros estavam sendo mortos fugiu sem a mínima preocupação, porém agora eu finalmente o encontrei e caçá-lo em outro país faz a adrenalina pulsar em minhas veias. Entretanto, os murmurinhos no andar de baixo estão começando a me irritar e tirar minha concentração do que estou fazendo.
Não compreendo o porquê de tanta falação quando não fui informado de nenhuma desordem em meu território. Isso realmente está começando a me chatear, além disso, já deixei avisado que não quero meus homens dentro dessa casa e pelos barulhos, há muitos deles aqui.
Tomado pelo impulso de colocar ordem no lugar, jogo os papéis que estou lendo sobre a mesa do meu escritório e me levanto irritado.
Ao sair bato a porta e como de costume coloco meu chapéu sobre a cabeça. Sigo em direção ao salão principal onde o falatório estava concentrado em plena madrugada.
Eles só podem querer me tirar sério com toda essa agitação, nesse horário, quando estou quase descobrindo a localização exata de Diones.
Solto o ar pesadamente pelos lábios.
Irritado o suficiente para castigá-los, abro a porta em um baque, mas o aglomerado de homens em uma roda abafa o som impedindo que percebam a minha entrada.
Ou receberei um presente muito grande, como um traidor ou um possível informante, ou terei que matar alguns dos meus homens por causar tumulto dentro da minha própria casa quando deveriam estar fazendo a segurança do perímetro.
O barulho era tanto que nem mesmo eu conseguia ouvir o que se passava no interior da roda.
Pigarreio próximo ao ouvido de Klaus que me olha assustado abrindo passagem para que eu possa observar o que está acontecendo.
— Chefe. — Diz assustado, chamando a atenção dos que estavam ao seu lado.
Quando os outros percebem a minha presença abrem espaço me dando total visão da situação.
Meu coração se acelera, perde algumas batidas, meu corpo treme, o ódio domina meus pensamentos, meu sangue ferve em minhas veias e um estalo em meu ouvido faz um misto de pensamentos e sentimentos me desestabilizarem ao analisar a cena em minha frente.
Isso só pode com toda certeza ser um pesadelo e um dos piores para variar.
— Vadia! — Alfie grita e ergue a mão para acertar um tapa na jovem ajoelhada à sua frente.
Aquela pequena criatura está vendada com um pano preto, suas mãos amarradas para trás enquanto é obrigada a ficar ajoelhada perante aqueles que um dia acreditei fazer parte da família.
Seu corpo pequeno treme e os murmurinhos fazem com que ela se assuste cada vez mais.
Aquela imagem diante dos meus olhos é quase uma facada em meu peito, seus cabelos loiros desgrenhados e sujos, suas roupas rasgadas me fazem lembrar o que quero esquecer. Imagens de Lana invadem minha mente em cheio, me deixando atordoado o suficiente para baquear.
Neste exato momento me sinto fraco e incapaz.
— Me matem de uma vez, por favor. — Um soluço sôfrego sai de seus lábios finos e machucados me trazendo de volta a realidade.
— Você não merece apenas morrer. — Alfie grita irritado e sua mão pesada vai de encontro com o rosto daquela jovem.
Tomado pelo ódio e impulso seguro o seu punho o torcendo para trás enquanto aponto minha arma para sua cabeça, sedento pelo desejo de matá-lo.
— O que ela merece, Alfie? — Pressiono minha arma contra a sua cabeça, vendo meus homens se afastarem assustados com minha reação.
— Senhor. — Ele geme se curvando quando torço ainda mais seu braço e punho.
— Te fiz uma pergunta. — Falo calmamente.
— Ela estava no beco, atrapalhou as ordens...
Giro seu braço fazendo ele se ajoelhar aos meus pés enquanto geme de dor, posso ouvir os ossos de seu punho estalarem e com certeza ele acabou de ganhar uma contusão.
— As ordens são claras, nunca toque em uma mulher, não importa o quão ameaçado estamos sendo. Mulheres devem ser tratadas com respeito e levantar sua mão para uma é suficiente para me fazer matá-lo. — Grito pressionando o cano da arma em sua nuca.
Controlo minhas emoções e o tom de minha voz ao ver a jovem se assustar e se encolher com medo.
— Desculpa senhor. — Ele suplica e eu suspiro.
— Desculpa não fará a minha raiva diminuir. — Meu coração bombardeia meu peito violentamente.
— Jamais faria algo para irritá-lo, senhor. — Ele abaixa a cabeça envergonhado.
— Vocês foram escolhidos por mim, cada um aqui presente é como meu filho, os adotei como um pai, não me decepcionem dessa maneira. — Solto seu braço guardando minha arma na cintura com irritação.
Ele se curva aos meus pés em súplica aos seus atos impensados.
— Pagarei pelos meus atos da maneira que preferir. — Ele oferece os punhos a serem algemados.
Sorrio com sua atitude, meus meninos foram muito bem treinados e não me decepcionariam dessa maneira sem um motivo, mas no momento não estou interessado em ouvir suas ladainhas.
— Quero o relatório dessa noite, depois conversaremos com calma na minha sala. — Deixo claro que suas atitudes lhe renderiam punições mesmo que suas justificativas fossem ótimas, nada muda o fato de ter quebrado uma das regras principais.
Observo meus homens com uma certa irritação por eles não terem impedido as atitudes de Alfie.
— Quanto a vocês... — Suspiro. — Deveriam ter me chamado e não fizeram, como castigo mil flexões cada um. Comecem agora e quando terminarem saiam e não entrem nesta casa até segunda ordem. — Ordeno, os observando.
Os murmurinhos aumentam enquanto uns fazem careta reclamando do castigo inesperado, porém todos eles tomam um espaço no salão e começam as flexões.
— Alfie ficará encarregado de contar. Quero o relatório completo da noite, além dos nomes daqueles que não suportaram o exercício até o final. — Digo rudemente.
Volto minha atenção para jovem que tremia diante do tom da minha voz e dos meus comandos.
Meus homens não discutem ou tentam me convencer do contrário, apenas fazem exatamente o que eu mando sem pestanejar ou reclamar, pois, sabem que se irem contra as minhas ordens morrerão.
É exatamente assim que foram treinados para ser, para seguirem minhas ordens sem reclamações e nunca em hipótese alguma me desafiarem.
Voltando minha atenção para pequena criatura assustada que estava ao meu lado, me abaixo diante da jovem e toco seu ombro com cuidado.
Seu corpo pequeno se assusta e ela se afasta com medo.
— Não vou machucá-la. — Afirmo com convicção.
Seu corpo pequeno e desnutrido treme em resposta às minhas palavras se encolhendo ainda mais.
— Você prefere vir comigo ou ficar com os meus homens? Eles não serão gentis e eu apenas quero soltá-la. Não farei mal a você, isso vai contra todos os meus princípios, machucar uma mulher. — Falo suavemente.
Sua cabeça se inclina em minha direção para prestar a atenção em minhas palavras, mas ela ainda hesita temerosa.
— Me deixe ajudá-la. — Falo suavemente.
— Machuquei meu pé ao tentar correr. — Diz com uma voz baixa e receosa.
— Irei desamarrar suas mãos e pegá-la no colo tudo bem? — Pergunto a estudando com cautela.
Ela concorda com um aceno, ainda com o pano sobre a cabeça.
Suspiro ao perceber que não deveria deixá-la nesta casa. Que não deveria nem mesmo estar dirigindo a palavra a ela, mas não poderia jogá-la em beco qualquer machucada.
Me aproximo e me surpreendo ao observar seu corpo desnutrido por baixo das roupas largas. Seus cabelos loiros, dourados como fios de ouro se espalham por seus ombros e involuntariamente levo minhas mãos em suas costas, deslizando meus dedos por seus cabelos. Seu corpo pequeno e frágil treme com meu toque, quebrando aquele estranho momento de fascinação.
Seus cabelos estavam um pouco sujos e as roupas rasgadas e largas me indicam que ela provavelmente vive nas ruas, seus pés descalços e machucados fazem minhas sobrancelhas se unirem, porém ignoro o que vejo soltando suas mãos das cordas apertadas que a machucavam e com cuidado a seguro em meus braços ouvindo um leve gemido ao mexer em seu pé.
Seu corpo muito leve, mais do que deveria ser. Concluo meus pensamentos me irritando com aquele estranho sentimento de proteção. Contenho um suspiro ignorando as contagens de Alfie atrás de mim.
Ela se encolhe em meus braços, assustada enquanto caminho para o andar superior a levando para meu quarto.
Assim que passo pelas portas, a coloco sentada sobre a cama e ela se assusta ao tocar o colchão macio, ela abraça o próprio corpo na tentativa de se cobrir.Retiro a venda de seus olhos e piscando incontáveis vezes ela fixa seus lindos e intensos olhos castanhos escuros em mim, embora eles estejam cheios de medo e insegurança.Inclino levemente minha cabeça para o lado observando aquele mar de águas escuras em minha frente.Algo neles me intriga.Quando fixo meus olhos dentro dos seus os vejo refletir a minha alma em uma furiosa tempestade.Aquilo de certa forma me assusta, mas tomado pelo impulso levo minha mão para tocar sua testa machucado e em resposta ela se encolhe se afastando.— Não! — Grita em desespero. — Eu não quero... por favor, não! — Se encolhe ainda mais tentando esconder seu corpo pequeno e desnutrido com os braços.
DurvalDormir, foi algo impossível...O resto da noite foi uma completa perda de tempo, não consegui me concentrar na minha busca por Diones e nem mesmo terminar as planilhas dos novos armamentos que chegariam em poucos dias, minha mente está no meu quarto, ou melhor dizendo, em uma jovem inesperada.Como uma garota tão jovem veio parar em um lugar como esses? Não compreendo os motivos para ela estar naquele beco, isso está tirando minha paz.Suspiro pesadamente rolando meu charuto entre os dedos, fumo com calma, observando o sol adentrar meu escritório a cada segundo que se passa.Meus pensamentos voam tentando compreender como Alfie a abordou. Meu sangue corre mais rápido em minhas veias ao imaginar aquele corpo pequeno e magro tremer de medo e chorar em desespero.Solto uma lufada de fumaça, tamborilando meus dedos sobre a mesa com certa impaciência.
— Sente-se e coma, criança. — Falo com calma.Ela senta à minha frente e começa a comer com tranquilidade o seu café da manhã.— Poderia parar de me chamar de criança? — Ela franze as sobrancelhas ao fixar seus olhos nos meus.— E como devo lhe chamar? Pulamos as apresentações ontem. — Tomo o café para aliviar a sensação maçante do meu peito.— Pode me chamar de Lexy, não gosto muito do meu nome, ele tem um significado estranho do tipo defensora da humanidade ou ajudante, meus pais poderiam ter escolhido algo melhor. — Ela suspira comendo um pedaço de seu bacon com vontade.— E qual é seu nome verdadeiro? — Pergunto um tanto curioso.— Alexia, Alexia Leroy. — Faz uma careta ao falar.— Gostei, é diferente e único, você é a prime
DurvalSe consegui me concentrar no trabalho e nas coisas que deveria fazer? A resposta é: OBVIAMENTE NÃO.Estou irritado, com uma dor de cabeça dos infernos e com vontade de matar alguém para ver se a adrenalina que corre em minhas veias diminui.Já fiz um treinamento pesado na academia com todos os tipos de exercícios desgastante existente e mesmo assim meu corpo parece estar disposto a correr uma maratona.Alexia, não sai da porra da minha cabeça.Estou inquieto e meu sexto sentido me diz que por trás de todo aquele atrevimento e petulância ela esconde algo importante.Pedi a Matheo — um dos meus braços direito — que a seguisse de longe. Não confio completamente nela. Acabo rindo de mim mesmo com a desculpa descabível que acabei de inventar. A verdade é que pouco me importo se confio ou não nela, estou mesmo
— Durval... — Ela me chama receosa.Finjo que não a escutei e agradeço por ela ficar quieta. Geralmente a pessoa que faz as perguntas sou eu e não estou acostumado a ter que responder nenhum tipo de questionamento, além de estar quebrando uma das promessas primordiais que fiz a Lana, mas creio que ela me perdoará, já que eu não podia deixar essa criança na rua.— Vá tomar um banho e se esquentar, porém dessa vez estarei esperando aqui fora para conversarmos. — Entro no quarto e pego uma troca de roupa para ela.Me sento na poltrona cruzando as pernas enquanto a observo.— Vai mesmo ficar aqui? — Pergunta desconfiada.— Sim, aqui quietinho lhe esperando. — Tamborilo os dedos na minha própria perna a esperando.— Ok! — Ela franze as sobrancelhas se virando caminhando em direção ao banheiro, mas
DurvalPassei a noite em claro, o que já era esperado por ter minha mente trabalhando a mil por hora sabendo que um corpo frágil dorme sobre minha cama.Me sinto completamente desestabilizado diante dessa mulher, simplesmente não consigo impor dominância como sou acostumado e acabo me deixando levar pela inocência de Alexia, assim como era com Lana.Parece que depois da morte de Lana as coisas pioraram e saíram ainda mais do meu controle, por me sentir culpado por sua morte talvez.Sinceramente prefiro não dormir, assim não me entrego aos sonhos que estou acostumado a ter.No momento me encontro sentado em meu escritório lendo um e-mail de Scott Lenon.Derek Petrov está envolvido com a morte de Lana, indiretamente, mas está. Me surpreendo ao ver que essa lista nunca diminui, para acabar de uma vez com meu martírio. E agora tenho mais um nome ad
DurvalAlexia não aceitou que eu a levasse em um restaurante, pois estava se sentindo mal por vestir minhas roupas. Até entendo, mas particularmente acho que minhas roupas ficam sensuais nela, mesmo largas e um pouco amassadas.É claro que isso soa estranho, mas há anos não tenho uma mulher em minha casa e acabo me sentindo incomodado em vê-la vestida com as minhas roupas, afinal, querendo eu ou não, ela é uma mulher bonita que chama a atenção, mas isso não me afeta ou pelo menos não deveria.O que mais me preocupa são os meus homens.Ter uma mulher em um lugar cheio de homens treinados para matar não é uma das melhores opções, mas também não podia deixá-la nas ruas.Esses pensamentos estão me matando e minha cabeça está uma completa bagunça, me sinto pressionado e in
Fecho os olhos ao sentir minha raiva ser completamente dissipada por causa daquele jeito encantador dela.Apesar de tudo, Alexia, tem um jeito diferente das outras mulheres. Ela consegue mesmo que involuntariamente me controlar. Nenhuma outra mulher além de Lana teve esse poder, talvez seja por isso que me sinto na obrigação de abrigá-la e protegê-la.Com esses pensamentos, evito ainda mais contato com ela, porém opto pela sinceridade.— Termine logo, me sinto incomodado quando as pessoas encaram minha cicatriz. — Sussurro.— Me desculpa, eu não sabia que isso lhe incomodava tanto. — Envergonhada, volta sua atenção para os legumes.— Nikolay? — Sinto um forte calafrio percorrer meu corpo ao ouvir o meu antigo nome.Me viro roboticamente em direção a voz que profere o nome com tanto entusiasmo e felicidade e meus olhos se encontram