Capítulo - 2

Ana era uma mulher forte, apesar do seu jeito frágil, demonstrava uma força e determinação que ela mesma desconhecia e ignorava ter. Aprendeu a conviver com os seus traumas e suas inseguranças. O seu passado era algo que gostaria de esquecer, mas estava entranhado dentro dela e, mesmo depois de tanto tempo, ele ainda a atormentava, a fazendo ter medo até da própria sombra as vezes, até mesmo quando adormecia seu passado a perseguia através de seus pesadelos.

Ana raramente se olhava no espelho, ela não gostava pois, todas as vezes que se olhava se sentia ainda mais desprovida de beleza, por ver os seus defeitos. Isso a fazia se sentir a mulher mais feia e sem graça que pudesse existir, mas esse sentimento de frustração ocorreu depois de ouvir inúmeras vezes que não era nem um pouco bonita, as palavras tantas vezes repetidas a convenceu.

Sua vida atual não se comparava a que tinha antes, mas mesmo assim, não conseguia se sentir totalmente feliz, lhe faltava algo, mas a melancolia que a consumia, não a impedia de sorrir, pois mesmo em meio a tristeza havia motivos para isso, sorrir. Tinha ao seu lado pessoas que se preocupavam com ela e que a acolheram no momento em que se sentiu mais sozinha e desamparada.

Quem não a conhecia de verdade não era capaz de dizer que o seu sorriso servia apenas para esconder um passado de dor e tristeza, um passado traumático que pensou não ter fim, até surgir uma jovem grávida que lhe estendeu a mão. Helena surgiu em sua vida como um anjo enviado por Deus, com o seu jeito otimista, a convenceu que havia motivos para seguir em frente. Helena foi uma amiga que surgiu para lhe dar não apenas um emprego, mas lhe devolver a vontade de viver e a dignidade que havia perdido. Se não fosse Helena, nem nesse mundo ela estaria mais, assim Ana acredita, pois daria um jeito de sair dele, isso é, se antes não a tirassem dele.

Quando Helena lhe ofereceu um emprego de babá, ainda estava a espera do nascimento das filhas, mas foi nessa oportunidade que Ana se agarrou. Na época elas moravam em uma cidade litorânea do Rio de Janeiro, e quando as gêmeas fizeram dois anos se mudaram para a capital. Mesmo sem Ana ter experiência, Helena lhe confiou as filhas, e esse era um dos motivos que a fazia ser capaz de dar a vida por aquelas duas bonequinhas lindas, Aurora e Ágata as suas garotinhas.

Antes mesmo que as crianças nascessem, Ana foi morar na casa de Helena. Helena não era casada e morava com o pai, que autorizou Ana a ir morar com eles, a deixando ficar em uma suite anexa a casa, dando a ela um lugar só para ela. Helena as vezes a fazia companhia na suite, principalmente quando eles descobriram que os pesadelos passaram a fazer parte de sua vida.

Um dia Bernardo, pai de Helena, acordou com os gritos de Ana, pensaram até mesmo o pior, mas ao arrombar a porta da suíte, Bernardo a encontrou se debatendo em cima da cama, empurrando quem tentasse se aproximar, apesar da cena triste, tinha sido apenas um pesadelo.

Quando as crianças nasceram não foi como todos esperavam, Aurora, a mais velha das gêmeas nasceu com um problema de saúde e precisou ficar hospitalizada. A preocupação invadiu a todos, e o medo de Aurora não resistir fez todos ficarem tristes por essa possibilidade.

Ana cuidava de Ágata, a caçula das gêmeas, com toda dedicação, enquanto Helena praticamente morava no hospital, indo em casa apenas amamentar Ágata e a mimar um pouco.

Quando Aurora teve alta foi como se tivesse nascido de novo, a alegria inundou a todos e Ana se apaixonou pela pequena Aurora assim que a viu. Helena tinha total confiança nela, aumentando o seu senso de responsabilidade, por isso, só ia para o seu quarto quando elas já dormiam, mesmo que não fosse ela a colocá-las na cama, pois sempre era o avô ou a mãe quem as colocava para dormir.

Quando Aurora precisou passar por uma cirurgia e Helena se mudou para a capital, Ana pensou ter ficado desempregada, e o pior, sem a sua melhor amiga, mas Helena mais uma vez se lembrou dela e pediu que ela fosse morar com ela no Rio de Janeiro, a deixando imensamente feliz.

Agora ela estava ali, morando novamente com Helena e as suas garotinhas. No início foi dificil a adaptação, pois não estava acostumada a riqueza, e muito menos conviver com pessoas ricas pois, Fernando, o pai das filhas de Helena, era rico, e morava em uma mansão. Ele assumiu as filhas assim que soube da existência delas, foi ele quem assumiu toda a responsabilidade e despesas médicas de Aurora em seu tratamento.

A casa onde Fernando morava era imensa, e Ana ocupava uma bela suíte. Além de Fernando, Helena e as filhas, na casa também morava Murilo, o sobrinho de Fernando, que a tratou com simpatia desde do dia que ela chegou. Fernando também a tratava bem, só era um pouco mais sério. A maneira que foi recebida na casa a ajudou para se sentir mais a vontade, mesmo que se forçasse a isso algumas vezes, pois morria de vergonha em se juntar a família.

Ela ainda se lembrava do dia em chegou e reencontrou Helena, não teve palavras para agradecer, sair da cidade em que morava antes foi o que sempre quis, e ter essa oportunidade, só podia a tornar ainda mais grata a sua grande amiga.

Na sua primeira noite na casa, conseguiu dormir o sono dos justos, talvez pelo cansaço da viagem. Dormiu sem nem mesmo ter sonhos, mas os pesadelos logo voltaram, as vezes acordava sozinha, mas na maioria das vezes Helena a acordava, como da última vez e fazia questão de dizer que havia acabado, mas Ana não conseguia acreditar nisso, sentia como se a qualquer momento fosse voltar para o inferno em que viveu um dia.

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