Ana era uma mulher forte, apesar do seu jeito frágil, demonstrava uma força e determinação que ela mesma desconhecia e ignorava ter. Aprendeu a conviver com os seus traumas e suas inseguranças. O seu passado era algo que gostaria de esquecer, mas estava entranhado dentro dela e, mesmo depois de tanto tempo, ele ainda a atormentava, a fazendo ter medo até da própria sombra as vezes, até mesmo quando adormecia seu passado a perseguia através de seus pesadelos.
Ana raramente se olhava no espelho, ela não gostava pois, todas as vezes que se olhava se sentia ainda mais desprovida de beleza, por ver os seus defeitos. Isso a fazia se sentir a mulher mais feia e sem graça que pudesse existir, mas esse sentimento de frustração ocorreu depois de ouvir inúmeras vezes que não era nem um pouco bonita, as palavras tantas vezes repetidas a convenceu.Sua vida atual não se comparava a que tinha antes, mas mesmo assim, não conseguia se sentir totalmente feliz, lhe faltava algo, mas a melancolia que a consumia, não a impedia de sorrir, pois mesmo em meio a tristeza havia motivos para isso, sorrir. Tinha ao seu lado pessoas que se preocupavam com ela e que a acolheram no momento em que se sentiu mais sozinha e desamparada.Quem não a conhecia de verdade não era capaz de dizer que o seu sorriso servia apenas para esconder um passado de dor e tristeza, um passado traumático que pensou não ter fim, até surgir uma jovem grávida que lhe estendeu a mão. Helena surgiu em sua vida como um anjo enviado por Deus, com o seu jeito otimista, a convenceu que havia motivos para seguir em frente. Helena foi uma amiga que surgiu para lhe dar não apenas um emprego, mas lhe devolver a vontade de viver e a dignidade que havia perdido. Se não fosse Helena, nem nesse mundo ela estaria mais, assim Ana acredita, pois daria um jeito de sair dele, isso é, se antes não a tirassem dele.Quando Helena lhe ofereceu um emprego de babá, ainda estava a espera do nascimento das filhas, mas foi nessa oportunidade que Ana se agarrou. Na época elas moravam em uma cidade litorânea do Rio de Janeiro, e quando as gêmeas fizeram dois anos se mudaram para a capital. Mesmo sem Ana ter experiência, Helena lhe confiou as filhas, e esse era um dos motivos que a fazia ser capaz de dar a vida por aquelas duas bonequinhas lindas, Aurora e Ágata as suas garotinhas.Antes mesmo que as crianças nascessem, Ana foi morar na casa de Helena. Helena não era casada e morava com o pai, que autorizou Ana a ir morar com eles, a deixando ficar em uma suite anexa a casa, dando a ela um lugar só para ela. Helena as vezes a fazia companhia na suite, principalmente quando eles descobriram que os pesadelos passaram a fazer parte de sua vida.Um dia Bernardo, pai de Helena, acordou com os gritos de Ana, pensaram até mesmo o pior, mas ao arrombar a porta da suíte, Bernardo a encontrou se debatendo em cima da cama, empurrando quem tentasse se aproximar, apesar da cena triste, tinha sido apenas um pesadelo.Quando as crianças nasceram não foi como todos esperavam, Aurora, a mais velha das gêmeas nasceu com um problema de saúde e precisou ficar hospitalizada. A preocupação invadiu a todos, e o medo de Aurora não resistir fez todos ficarem tristes por essa possibilidade.Ana cuidava de Ágata, a caçula das gêmeas, com toda dedicação, enquanto Helena praticamente morava no hospital, indo em casa apenas amamentar Ágata e a mimar um pouco.Quando Aurora teve alta foi como se tivesse nascido de novo, a alegria inundou a todos e Ana se apaixonou pela pequena Aurora assim que a viu. Helena tinha total confiança nela, aumentando o seu senso de responsabilidade, por isso, só ia para o seu quarto quando elas já dormiam, mesmo que não fosse ela a colocá-las na cama, pois sempre era o avô ou a mãe quem as colocava para dormir.Quando Aurora precisou passar por uma cirurgia e Helena se mudou para a capital, Ana pensou ter ficado desempregada, e o pior, sem a sua melhor amiga, mas Helena mais uma vez se lembrou dela e pediu que ela fosse morar com ela no Rio de Janeiro, a deixando imensamente feliz.Agora ela estava ali, morando novamente com Helena e as suas garotinhas. No início foi dificil a adaptação, pois não estava acostumada a riqueza, e muito menos conviver com pessoas ricas pois, Fernando, o pai das filhas de Helena, era rico, e morava em uma mansão. Ele assumiu as filhas assim que soube da existência delas, foi ele quem assumiu toda a responsabilidade e despesas médicas de Aurora em seu tratamento.A casa onde Fernando morava era imensa, e Ana ocupava uma bela suíte. Além de Fernando, Helena e as filhas, na casa também morava Murilo, o sobrinho de Fernando, que a tratou com simpatia desde do dia que ela chegou. Fernando também a tratava bem, só era um pouco mais sério. A maneira que foi recebida na casa a ajudou para se sentir mais a vontade, mesmo que se forçasse a isso algumas vezes, pois morria de vergonha em se juntar a família.Ela ainda se lembrava do dia em chegou e reencontrou Helena, não teve palavras para agradecer, sair da cidade em que morava antes foi o que sempre quis, e ter essa oportunidade, só podia a tornar ainda mais grata a sua grande amiga.Na sua primeira noite na casa, conseguiu dormir o sono dos justos, talvez pelo cansaço da viagem. Dormiu sem nem mesmo ter sonhos, mas os pesadelos logo voltaram, as vezes acordava sozinha, mas na maioria das vezes Helena a acordava, como da última vez e fazia questão de dizer que havia acabado, mas Ana não conseguia acreditar nisso, sentia como se a qualquer momento fosse voltar para o inferno em que viveu um dia.Era um lindo sábado, desde cedo o sol brilhava em sua plenitude. Ana ao acordar, faz a sua higiene, veste uma roupa confortável e segue para o quarto de suas garotinhas. Depois de cuidar delas, ela volta para o seu quarto e cuida de suas coisas, arrumando e limpando tudo, não achava justo outra pessoa limpar o seu quarto.Quando Helena e Fernando estavam em casa era sempre assim pois, eles faziam questão de ficar com as filhas, a liberando dos cuidados com elas. A tarde decidiram ficar todos na piscina e nessa hora Ana ajudou a tomar conta delas.Ana ainda se sentia envergonhada na frente de Fernando, por mais que ele a tratasse bem e a deixasse a vontade, já em relação a Murilo o sobrinho dele que também morava na casa, se sentia mais a vontade, eles até assistiam filmes juntos, geralmente na companhia das gêmeas.Ana estava com Aurora e Ágata na piscina, quando Aurora pede para ir ao banheiro. Ana sai e veste um short por cima do maiô que vestia e seca um pouco Aurora antes de levá-
Quando a noite chega Luiz precisa ir embora, ele tinha um outro compromisso e não podia ficar com os amigos, mas antes de ir queria encontrar uma oportunidade de falar com a jovem tímida de sorriso bonito. Não só o sorriso, ele a achou toda linda, tinha uma beleza inocente que o encantou. Luiz já podia se imaginar a escondendo em seus braços, como gostava de fazer e sempre era recriminado por suas ex.Luiz sorri com os próprios pensamentos, Ana era tipo mignon e isso o atraia, ela tinha os cabelos longos e cacheados, os seus olhos eram castanhos escuros e tinha um jeitinho tímido que a deixava encantadora.Nem sempre a beleza estava em uma bela roupa ou em uma boa maquiagem, mas sim na simplicidade, não que ele não gostasse de mulheres bem vestidas e arrumadas, mas isso não era tudo, assim Luiz pensava. As mulheres com quem costumava sair eram sempre lindas e vaidosas, assim como as suas ex esposas que apesar de lindas se tornaram insuportáveis depois do casamento, com críticas e cris
Já em seu quarto, Ana pensa em sua vida, e no sonho que tinha de um dia encontrar alguém que a amasse de verdade, mas o medo de se entregar novamente a faz querer viver só. Podia dizer ser feliz, ela tinha onde morar, tinha um bom salário, e era cercada de pessoas que gostavam dela, isso já era o suficiente para se sentir feliz, mesmo que a sua felicidade não fosse completa.Ana sentia como se lhe faltasse algo, era como se tivessem lhe arrancando uma parte do seu interior, deixando no lugar apenas dor, uma dor que não conseguia arrancar de dentro dela, por mais que tentasse.Não podia dizer que não tinha família, afinal ela tinha, mãe, pai e três irmãos, mas era até dificil dizer que eles eram uma família. Eram individualistas e estavam longe de ser uma familia de verdade, nunca existiu amizade entre eles e muito menos respeito, a única que demonstrava se preocupar com ela era a sua mãe, Elizabeth, por isso, Ana fazia questão de sempre ligar para ela.Ao se deitar ela pensa no gigant
Ana estava em seu quarto se preparando para dormir quando o seu telefone toca, era um número desconhecido e isso a faz não querer atender, sempre que um número novo ligava para ela, sentia o pânico a invadir e nunca dizia alô ao atender, preferia ouvir primeiro quem estava do outro lado da linha.— Alô! Ana? — Ela não consegue reconhecer a voz e permanece em silencio — Ana, você está me ouvindo? Aqui quem fala é Luiz, amigo de Fernando e Helena. — Alô! — Responde ainda receosa.— Está tudo bem? — Luiz pergunta preocupado— Sim, está tudo bem — Responde sem muita convicção.Luiz estranha a atitude de Ana, mas não iria fazer perguntas, mesmo estando curioso para saber o motivo dela não dizer "Alô" ao atender a ligação, preferindo ficar em silêncio, ouvindo primeiro, como se quisesse saber primeiro quem era, talvez por pensar ser outra pessoa.— E, então? Pensou no presente que eu posso dar as meninas?— Sim, eu pensei — Ana diz a ele o que havia pensado, mas Luiz não queria encerrar a
Ana pensa ser zoação e apenas fica o olhando esperando que ele diga ser brincadeira— Então, vamos ao cinema? — Luiz pergunta mais uma vez sorrindo para ela — Costumo ser assim, direto.— Está... falando serio? Eu... no... cinema... com você?— Ana pergunta gaguejando, olhando para ele com a cabeça levantada, devido a diferença de altura entre eles. Ela sente raiva dela mesma por gaguejar tanto.— Isso mesmo, eu e você. Você não tem namorado, tem?— Não... não é isso... é que, é... eu não posso.— Faz o seguinte, pense primeiro, depois eu te ligo para saber a resposta. — Ele pisca para ela enquanto dá a sugestão.Ana continua sem acreditar que ele esteja falando sério. Eles ficam calados, e ela volta a atenção para as crianças, mas percebe o olhar dele sobre ela, no entanto, não consegue encará-lo. A verdade é que já nem prestava atenção nas crianças e em mais nada, tudo o que queria fazer era fugir dali, com certeza ele estava a reparando, talvez até sentisse pena de um ser tão insign
Ana ao fugir para o seu quarto se senta na cama e recosta na cabeceira, abraçando os joelhos, ela fecha os olhos e lembranças do passado invade a sua memória, ela chora tampando os ouvidos, não queria mais ouvir aquelas palavras. "Sua horrorosa, parece mais um espantalho com esse cabelo de vassoura, sua ridícula..."— Sai da minha cabeça, sai!!!! — Ela pede de olhos fechados, mas ao invés das palavras deixarem de ecoar, olhos claros aparecem diante dela, a fazendo abrir os olhos para que aquele olhar desapareça.Ana se deita na cama e ali ela fica, até adormecer de tanto chorar com as lembranças do seu passado tenebroso.O que as palavras e atitudes podiam fazer na vida de alguém? Talvez torná-la forte, talvez torná-la frágil ou as vezes matá-la por dentro....Luiz decide esperar alguns dias, antes de ligar para Ana novamente, era incrível como ela povoava os seus pensamentos, queria saber um pouco mais sobre ela, mas queria saber por ela, não queria invadir a sua privacidade, buscan
Era um dia como um outro qualquer e Ana estava assistindo filme com Murilo quando Fernando chega em casa, ele pede a ela que o ajude a arrumar uma bagagem para Helena e as meninas, ele queria fazer uma surpresa para a esposa e iriam viajar e assim, Ana ganharia alguns dias de folga. Com certeza ter alguns dias de folga seria uma notícia boa para qualquer pessoa, mas Ana ao saber que não teria as suas garotinhas para cuidar, fica pensando no que faria esses dias. O que fazer o dia inteiro? Pensa desanimada.Ao acordar na manhã seguinte pensa ser uma boa oportunidade para ela conhecer mais um pouco a cidade do Rio de Janeiro, inclusive atravessar a ponte Rio Niterói, assim como andar de barcas, coisa que já tinha pensado em fazer mas, ainda não tinha tido coragem. Só em pensar nessas coisas, que para muitos eram coisas bobas, a deixava eufórica pois, para ela seria uma aventura, já que estava acostumada a ficar em casa.Na primeira tarde de folga ela decide ir em Copacabana, estava ner
Ana respira fundo e atende a ligação, mas finge não saber quem é.— Alô!— Oi Ana, como você está?Luiz fica feliz por ela atender a sua ligação, esteve muito ocupado e aproveitou para dar um tempo a ela, mas quando Fernando lhe contou que iria viajar com Helena e as meninas, decidiu não esperar mais pois, Ana estaria livre.— Quem está falando? — Ele era capaz de apostar que ela havia reconhecido a sua voz, mas estava decidido a ver aquilo como timidez.— Penso que reconheceu a minha voz, mas tudo bem, sou um cara legal. Sou aquele que não consegue te esquecer. Luiz. — Ele sabia que ela não responderia — Ainda está ocupada? — Ela fica sem graça e não sabe o que dizer, mas decide falar a verdade— Eu não estou em casa — Ela não estava mentindo, já que ainda não tinha entrado em casa.— Aproveitando a folga? — Um pouco — O que responderia se ele a chamasse para sair? Pensa, mas logo tenta se desiludir.— Ótimo! Eu posso me aproveitar dessa sua folga?— O que? Como assim? Me desculpe,