Ana estava em seu quarto se preparando para dormir quando o seu telefone toca, era um número desconhecido e isso a faz não querer atender, sempre que um número novo ligava para ela, sentia o pânico a invadir e nunca dizia alô ao atender, preferia ouvir primeiro quem estava do outro lado da linha.
— Alô! Ana? — Ela não consegue reconhecer a voz e permanece em silencio — Ana, você está me ouvindo? Aqui quem fala é Luiz, amigo de Fernando e Helena.— Alô! — Responde ainda receosa.— Está tudo bem? — Luiz pergunta preocupado— Sim, está tudo bem — Responde sem muita convicção.Luiz estranha a atitude de Ana, mas não iria fazer perguntas, mesmo estando curioso para saber o motivo dela não dizer "Alô" ao atender a ligação, preferindo ficar em silêncio, ouvindo primeiro, como se quisesse saber primeiro quem era, talvez por pensar ser outra pessoa.— E, então? Pensou no presente que eu posso dar as meninas?— Sim, eu pensei — Ana diz a ele o que havia pensado, mas Luiz não queria encerrar a ligação sem antes conversarem um pouco.— Agradeço muito por me ajudar, confesso que estava sem saber o que dar para elas — Comenta rindo — Acredito que seria abuso da minha parte, se eu te pedisse para me ajudar a comprar.— Não entendi — Ana fala, por não entender o que ele quiz dizer.— Queria saber se podia ir comigo comprar o presente, acredito que você saberá escolher melhor que eu.— Eu não posso, mas o vendedor te ajudará, não se preocupe. — Ana responde de forma franca e sincera, por pensar que ele só queria um favor seu.— É claro, mas a sua ajuda seria muito melhor, além disso, iria adorar a sua companhia — Ana não responde, por não esperar essa resposta, mas Luiz não desiste — Você trabalha todos os dias?— Tenho folga aos domingos, mas geralmente fico em casa e costumo ajudar Helena — Mesmo de folga ela ajudava por sempre ficar em casa nos dias de folga.— Vocês parecem ser muito amigas, eu também sou muito amigo do Fernando.— Eu percebi — Quando ela responde, Luiz percebe um sorriso na voz dela e isso o deixa entusiasmado.— Podemos dar um passeio no dia da sua folga — Ele sugere, mas Ana não responde e ele decide não insistir, teria que ir com calma — Bem, vou deixar você descansar — Como Ana não diz mais nada ele resolve encerrar a ligação — Boa noite, Ana.— Boa Noite.O que Luiz não vê é o sorriso bobo de Ana quando a ligação é encerrada, e muito menos que ela sorrindo salva o número dele como "Gigante Lindo". Após salvar o número de Luiz, ela aperta o celular no peito mordendo os lábios, queria tanto um Gigante daquele para a proteger dos caras maus, esse pensamento a faz deixar de sorrir, por acreditar que o seu pensamento não passa de um sonho bobo....Aurora e Ágata, já tinham tido uma festa de aniversário, mas como Fernando não estava presente e, depois da festa Aurora precisou ser hospitalizada, passando por uma cirurgia para ser curada da cardiopatia que a cometia, as gêmeas teriam uma outra festa de aniversário de dois anos. A festa, tinha sido uma promessa do pai, ao ver a filha no hospital entre a vida e a morte.Ana, no dia da festa, ajudou Helena a arrumar Aurora e Ágata e depois foi tomar um banho e se arrumar. Ela tinha comprado com a ajuda de Helena, uma calça clara pantalona e uma blusa verde musgo, transpassada na cintura, nos pés optou por uma sandalia rasteira, não iria se aventurar em saltos, não se sentia confortável com eles, nenhum deles.Helena disse a ela para não se preocupar com as meninas, mas mesmo assim, Ana ficou por perto, caso Helena precisasse dela. Mas isso não aconteceu, ou Fernando estava cuidando delas ou Helena, e na maior parte do tempo os dois juntos cuidavam das filhas.Ana estava afastada de todos, estava entretida olhando crianças brincando quando alguém vem em sua direção. Ela olha e nem acredita, fica sem saber o que fazer, mas decide continuar olhando as crianças e Luiz para ao seu lado, a vontade que Ana tem é de se afastar, fugindo para o seu quarto, mas ao invés disso permanece ali parada feito uma estátua, sem saber o que dizer.— Estava te procurando. — Luiz assim que a viu ali sozinha foi até ela, queria muito saber quem era aquela jovem, de sorriso tímido e com jeitinho de menina.Helena já havia dito a ele que se ele quisesse apenas brincadeira que não se aproximasse dela, a verdade é que nem ele sabia o que queria, talvez apenas conhecê-la melhor.— O senhor quer alguma coisa? — Ana pergunta por ser o mais provável.— Me senti um velho agora, pelo amor de Deus, senhor está no céu, apenas Luiz. — Luiz sorri e não perde a oportunidade de fazer graça. Se cala esperando que ela diga algo, mas Ana permanece em silêncio — Será que eu poderia te levar ao cinema um dia desses?Ana pensa ser zoação e apenas fica o olhando esperando que ele diga ser brincadeira— Então, vamos ao cinema? — Luiz pergunta mais uma vez sorrindo para ela — Costumo ser assim, direto.— Está... falando serio? Eu... no... cinema... com você?— Ana pergunta gaguejando, olhando para ele com a cabeça levantada, devido a diferença de altura entre eles. Ela sente raiva dela mesma por gaguejar tanto.— Isso mesmo, eu e você. Você não tem namorado, tem?— Não... não é isso... é que, é... eu não posso.— Faz o seguinte, pense primeiro, depois eu te ligo para saber a resposta. — Ele pisca para ela enquanto dá a sugestão.Ana continua sem acreditar que ele esteja falando sério. Eles ficam calados, e ela volta a atenção para as crianças, mas percebe o olhar dele sobre ela, no entanto, não consegue encará-lo. A verdade é que já nem prestava atenção nas crianças e em mais nada, tudo o que queria fazer era fugir dali, com certeza ele estava a reparando, talvez até sentisse pena de um ser tão insign
Ana ao fugir para o seu quarto se senta na cama e recosta na cabeceira, abraçando os joelhos, ela fecha os olhos e lembranças do passado invade a sua memória, ela chora tampando os ouvidos, não queria mais ouvir aquelas palavras. "Sua horrorosa, parece mais um espantalho com esse cabelo de vassoura, sua ridícula..."— Sai da minha cabeça, sai!!!! — Ela pede de olhos fechados, mas ao invés das palavras deixarem de ecoar, olhos claros aparecem diante dela, a fazendo abrir os olhos para que aquele olhar desapareça.Ana se deita na cama e ali ela fica, até adormecer de tanto chorar com as lembranças do seu passado tenebroso.O que as palavras e atitudes podiam fazer na vida de alguém? Talvez torná-la forte, talvez torná-la frágil ou as vezes matá-la por dentro....Luiz decide esperar alguns dias, antes de ligar para Ana novamente, era incrível como ela povoava os seus pensamentos, queria saber um pouco mais sobre ela, mas queria saber por ela, não queria invadir a sua privacidade, buscan
Era um dia como um outro qualquer e Ana estava assistindo filme com Murilo quando Fernando chega em casa, ele pede a ela que o ajude a arrumar uma bagagem para Helena e as meninas, ele queria fazer uma surpresa para a esposa e iriam viajar e assim, Ana ganharia alguns dias de folga. Com certeza ter alguns dias de folga seria uma notícia boa para qualquer pessoa, mas Ana ao saber que não teria as suas garotinhas para cuidar, fica pensando no que faria esses dias. O que fazer o dia inteiro? Pensa desanimada.Ao acordar na manhã seguinte pensa ser uma boa oportunidade para ela conhecer mais um pouco a cidade do Rio de Janeiro, inclusive atravessar a ponte Rio Niterói, assim como andar de barcas, coisa que já tinha pensado em fazer mas, ainda não tinha tido coragem. Só em pensar nessas coisas, que para muitos eram coisas bobas, a deixava eufórica pois, para ela seria uma aventura, já que estava acostumada a ficar em casa.Na primeira tarde de folga ela decide ir em Copacabana, estava ner
Ana respira fundo e atende a ligação, mas finge não saber quem é.— Alô!— Oi Ana, como você está?Luiz fica feliz por ela atender a sua ligação, esteve muito ocupado e aproveitou para dar um tempo a ela, mas quando Fernando lhe contou que iria viajar com Helena e as meninas, decidiu não esperar mais pois, Ana estaria livre.— Quem está falando? — Ele era capaz de apostar que ela havia reconhecido a sua voz, mas estava decidido a ver aquilo como timidez.— Penso que reconheceu a minha voz, mas tudo bem, sou um cara legal. Sou aquele que não consegue te esquecer. Luiz. — Ele sabia que ela não responderia — Ainda está ocupada? — Ela fica sem graça e não sabe o que dizer, mas decide falar a verdade— Eu não estou em casa — Ela não estava mentindo, já que ainda não tinha entrado em casa.— Aproveitando a folga? — Um pouco — O que responderia se ele a chamasse para sair? Pensa, mas logo tenta se desiludir.— Ótimo! Eu posso me aproveitar dessa sua folga?— O que? Como assim? Me desculpe,
Ana e Luiz vão andando lado a lado sem dizer nada. Ela se sente uma boba, e palavras que ouviu por muitas vezes vem a sua mente, "você nem bonita é, além de pobre, é feia e fedida..." o que ela estava fazendo ali, se pergunta, mas também não tem coragem de voltar, já estava se achando patética por não conseguir nem mesmo conversar, se voltasse feito uma sem noção, se sentiria ainda pior.— Me desculpe! — Ela consegue dizer depois de já estarem fora do condomínio.— Não sei por qual motivo pede desculpas, mas está desculpada — Luiz tenta brincar, mas ela continua séria, ele podia sentir a tensão no ar, era como se ela estivesse lutando com ela mesma para estar ali — E então, estava pensando, que tal uma pizza? Aqui tem ótimas pizzarias. — Ana apenas confirma com a cabeça.Eles vão até uma pizzaria que tinha rodízio, Luiz tinha um apetite muito grande para se contentar com uma pizza apenas, a pizzaria podia ter lucro com Ana que pelo jeito, pouco comia, mas com ele certamente teriam um
Luiz fica satisfeito, por ela contar sobre o seu dia, podia ver a animação com que ela contava, parecia uma criança contando sobre um dia no parque de diversões. Ele deu a ela toda a atenção necessária, mostrando que se interessava e se importava com o que ela contava.— Acho que falei demais, deve me achar uma boba— Ana fala deixando o sorriso morrer e se sentindo uma idiota por falar tantas bobagens.— Adorei saber tudo o que me contou, e estou até pensando em qualquer dia fazer uma travessia de barca, mas com você, é claro. O que acha? — Ela ri — Estou falando sério, podemos também fazer outros passeios se você quiser. — Luiz percebe que Ana não tinha experiência nenhuma com o mundo, parecia que ela vivia isolada, mas estava curioso para saber mais sobre essa pequena com idade de mulher e atitude de uma criança inocente.— Pode ser — A resposta não veio de imediato, mas o deixou feliz.Eles vão embora andando, o condomínio onde Fernando morava não era longe e em alguns minutos cheg
Ao chegar em casa, Luiz decide ligar para Ana, ela demora a atender, mas ao atender ele percebe que a voz dela estava rouca, como se estivesse chorando, depois de soltar um palavrão no pensamento ele finge não perceber.— Liguei apenas para avisar que já estou em casa e para te dar boa noite.— Boa Noite! — É a resposta que ele escuta, não de forma grosseira, mas como um lamento.— Estava pensando, amanhã você ainda está de folga, não está? — Podia até ser difícil conquistá-la, mas não desistiria, pensa determinado.— Sim, estou de folga até as meninas voltarem.— Ótimo, amanhã podemos ir ao cinema, e não quero desculpas, sei que não vai estar ocupada.— Luiz... — A voz sai como em um sussurro mas ele é capaz de ouvir— Eu estou aqui — O que ele diz a faz querer chorar ainda mais, pois era como se ele dissesse "você não está sozinha", mas ela prefere acabar com aquela ilusão, depois de morder os lábios tentando controlar as emoções ela continua.— Me desculpe, mas acho melhor você não
Depois do cinema, Luiz ainda a levou para fazerem um lanche, optou por um fast food, Ana era magrinha e com certeza não iria engordar por causa de um sanduíche.— Então, gostou do filme?— Muito! — Ana responde rindo — Nunca imaginei que uma tela de cinema fosse tão grande, mas é muito bom.— Não nos faltará oportunidades de irmos outras vezes. Amanhã infelizmente estarei de plantão até mais tarde, não posso nem te convidar para sair.— Não tem importância, estou acostumada a ficar em casa.— Mas eu vou te ligar, quando eles voltarem podemos marcar para sair no dia da sua folga.— Vou ter que ver, não sei quando será a minha folga agora.— Sem problemas, eu espero. — Luiz acaba de comer os dois sanduíches que pediu para ele, sob o olhar atento de Ana — Deve achar que eu sou um comilão — Fala rindo — Mas é porque eu me exercito bastante, e para alimentar esse corpo todo, preciso comer bem.— Você realmente é muito alto.— Tenho 1,94cm e você sendo pequenininha, posso te proteger de qua