Já em seu quarto, Ana pensa em sua vida, e no sonho que tinha de um dia encontrar alguém que a amasse de verdade, mas o medo de se entregar novamente a faz querer viver só. Podia dizer ser feliz, ela tinha onde morar, tinha um bom salário, e era cercada de pessoas que gostavam dela, isso já era o suficiente para se sentir feliz, mesmo que a sua felicidade não fosse completa.
Ana sentia como se lhe faltasse algo, era como se tivessem lhe arrancando uma parte do seu interior, deixando no lugar apenas dor, uma dor que não conseguia arrancar de dentro dela, por mais que tentasse.Não podia dizer que não tinha família, afinal ela tinha, mãe, pai e três irmãos, mas era até dificil dizer que eles eram uma família. Eram individualistas e estavam longe de ser uma familia de verdade, nunca existiu amizade entre eles e muito menos respeito, a única que demonstrava se preocupar com ela era a sua mãe, Elizabeth, por isso, Ana fazia questão de sempre ligar para ela.Ao se deitar ela pensa no gigante lindo, há muito tempo não olhava para um homem, mas não tinha como um homem daquele passar despercebido, ainda mais por ele fazer questão de chamar a sua atenção. Um moreno de quase dois metros, era difícil não se notar, quanto mais com um sorriso cativante e com aqueles olhos escuros a fitando.Ana suspira, pensando naqueles braços cheios de músculos e tatuagens que a fez querer ver mais de perto os desenhos ali feitos, ela logo se recrimina, não podia esquecer o que lhe aconteceu depois de acreditar em doces palavras e em um sorriso bonito. Braços fortes não lhe traziam boas lembranças, pelo contrário, pensa desanimadaQuando já estava quase dormindo, ela sorri, ao se lembrar do momento em que Luiz foi se despedir dela, ela ri dela mesma por pensar que ele pediu o seu telefone por interesse, mas ao ouvir o motivo ela não ficou surpresa, quem era ela para despertar o interesse de alguém, quanto mais alguém tão bonito quanto ele.Nunca em toda a sua vida ficou tão sem graça na frente de alguém, se sentiu um bicho do mato, sua vontade foi se esconder, ou fazer como o avestruz, enfiar a cabeça em um buraco.Ela se levanta por não estar conseguindo dormir e vai até um espelho que tinha em seu quarto. Fica se encarando como se ali, naquele espelho, fosse uma outra pessoa, ela se olha nos olhos, os achando sem vida, olha o seu rosto se atentando aos detalhes, nariz reto, feito uma bruxa, pele morena como se estivesse suja, olha o seu cabelo trançado e o solta, a fazendo lembrar de uma vassoura. Sua magreza não permitia notar as suas curvas delicadas e sua altura parecia a de um anão, sem que perceba as lágrimas correm por seu rosto, pois era assim que se via, talvez por tanto ouvir tais coisas.Nenhum homem se interessaria por ela, nenhum homem veria nela algo de bom, pois ela não tinha, sua vontade é quebrar aquele espelho a sua frente, mas ao invés disso, ela volta para a cama. Ana se encolhe, abraçando o próprio corpo e chora com as lembranças que lhe vem, queria conseguir dormir, mas o sono não vinha, só lhe restava permanecer acordada sentindo a mesma dor que sentiu por anos.Ao acordar pela manhã, se sente cansada, mais uma vez teve pesadelos e isso a deixava esgotada. Ela se levanta e arruma a sua cama, ainda era cedo e as gêmeas provavelmente dormiam, por isso ela toma um banho devagar, lavando a cabeca como se aquilo a livrasse dos seus traumas. O melhor que podia fazer era continuar como estava, Aurora e Ágata estavam com dois anos e teria muitos anos pela frente para cuidar delas, pensa determinada....Luiz pela manhã, pensa em ligar para Ana, mas decidiu dar mais um dia para ela, ele sorri pegando a carteira e a chave do carro para sair de casa, ia visitar os seus pais, ele não era muito de visitá-los, mas estava de folga e a mãe dele pediu que ele fosse se juntar a eles pois, o irmão dele, Carlos Henrique, iria almoçar com eles e levaria a namorada para os apresentar e como eram muito ligados ele decidiu ir.Quando ele chega na casa dos pais o seu irmão já havia chegado, ele apresenta a namorada, uma linda loira, ela era advogada, assim como Carlos Henrique, e se conheceram em uma audiência da vida. Eles pareciam se combinar e Luiz fica feliz pelo irmão que parecia estar apaixonado pois, era a primeira vez que levava uma mulher para apresentar a família.Érica era muito espontânea e engraçada e Luiz ri disso, pois o irmão estava pagando a língua, já que vivia o criticando por sempre fazer graça de tudo e ali estava ele com uma namorada que implicava com ele e parecia os conhecer há anos.Carlos Henrique estava com 28 anos, mas sempre disse que não tinha pretensão de se casar, mas para ter assumido Érica como namorada, provavelmente tinha mudado de opinião, Luiz pensa rindo.— Acho que dessa vez vai dar casamento — Comenta abraçando o irmão.— Só não faça como o seu irmão, pense bem antes de mudar o seu estado civil — Luiz Henrique, pai de Luiz se junta a eles.— Lameto dizer, mas pretendo me casar de novo. — Luiz fala com naturalidade.— O que!!!??? — Carlos e Luiz Henrique perguntam ao mesmo tempo, sem acreditar no que acabaram de ouvir e Luiz apenas ri da cara dos dois.Ana estava em seu quarto se preparando para dormir quando o seu telefone toca, era um número desconhecido e isso a faz não querer atender, sempre que um número novo ligava para ela, sentia o pânico a invadir e nunca dizia alô ao atender, preferia ouvir primeiro quem estava do outro lado da linha.— Alô! Ana? — Ela não consegue reconhecer a voz e permanece em silencio — Ana, você está me ouvindo? Aqui quem fala é Luiz, amigo de Fernando e Helena. — Alô! — Responde ainda receosa.— Está tudo bem? — Luiz pergunta preocupado— Sim, está tudo bem — Responde sem muita convicção.Luiz estranha a atitude de Ana, mas não iria fazer perguntas, mesmo estando curioso para saber o motivo dela não dizer "Alô" ao atender a ligação, preferindo ficar em silêncio, ouvindo primeiro, como se quisesse saber primeiro quem era, talvez por pensar ser outra pessoa.— E, então? Pensou no presente que eu posso dar as meninas?— Sim, eu pensei — Ana diz a ele o que havia pensado, mas Luiz não queria encerrar a
Ana pensa ser zoação e apenas fica o olhando esperando que ele diga ser brincadeira— Então, vamos ao cinema? — Luiz pergunta mais uma vez sorrindo para ela — Costumo ser assim, direto.— Está... falando serio? Eu... no... cinema... com você?— Ana pergunta gaguejando, olhando para ele com a cabeça levantada, devido a diferença de altura entre eles. Ela sente raiva dela mesma por gaguejar tanto.— Isso mesmo, eu e você. Você não tem namorado, tem?— Não... não é isso... é que, é... eu não posso.— Faz o seguinte, pense primeiro, depois eu te ligo para saber a resposta. — Ele pisca para ela enquanto dá a sugestão.Ana continua sem acreditar que ele esteja falando sério. Eles ficam calados, e ela volta a atenção para as crianças, mas percebe o olhar dele sobre ela, no entanto, não consegue encará-lo. A verdade é que já nem prestava atenção nas crianças e em mais nada, tudo o que queria fazer era fugir dali, com certeza ele estava a reparando, talvez até sentisse pena de um ser tão insign
Ana ao fugir para o seu quarto se senta na cama e recosta na cabeceira, abraçando os joelhos, ela fecha os olhos e lembranças do passado invade a sua memória, ela chora tampando os ouvidos, não queria mais ouvir aquelas palavras. "Sua horrorosa, parece mais um espantalho com esse cabelo de vassoura, sua ridícula..."— Sai da minha cabeça, sai!!!! — Ela pede de olhos fechados, mas ao invés das palavras deixarem de ecoar, olhos claros aparecem diante dela, a fazendo abrir os olhos para que aquele olhar desapareça.Ana se deita na cama e ali ela fica, até adormecer de tanto chorar com as lembranças do seu passado tenebroso.O que as palavras e atitudes podiam fazer na vida de alguém? Talvez torná-la forte, talvez torná-la frágil ou as vezes matá-la por dentro....Luiz decide esperar alguns dias, antes de ligar para Ana novamente, era incrível como ela povoava os seus pensamentos, queria saber um pouco mais sobre ela, mas queria saber por ela, não queria invadir a sua privacidade, buscan
Era um dia como um outro qualquer e Ana estava assistindo filme com Murilo quando Fernando chega em casa, ele pede a ela que o ajude a arrumar uma bagagem para Helena e as meninas, ele queria fazer uma surpresa para a esposa e iriam viajar e assim, Ana ganharia alguns dias de folga. Com certeza ter alguns dias de folga seria uma notícia boa para qualquer pessoa, mas Ana ao saber que não teria as suas garotinhas para cuidar, fica pensando no que faria esses dias. O que fazer o dia inteiro? Pensa desanimada.Ao acordar na manhã seguinte pensa ser uma boa oportunidade para ela conhecer mais um pouco a cidade do Rio de Janeiro, inclusive atravessar a ponte Rio Niterói, assim como andar de barcas, coisa que já tinha pensado em fazer mas, ainda não tinha tido coragem. Só em pensar nessas coisas, que para muitos eram coisas bobas, a deixava eufórica pois, para ela seria uma aventura, já que estava acostumada a ficar em casa.Na primeira tarde de folga ela decide ir em Copacabana, estava ner
Ana respira fundo e atende a ligação, mas finge não saber quem é.— Alô!— Oi Ana, como você está?Luiz fica feliz por ela atender a sua ligação, esteve muito ocupado e aproveitou para dar um tempo a ela, mas quando Fernando lhe contou que iria viajar com Helena e as meninas, decidiu não esperar mais pois, Ana estaria livre.— Quem está falando? — Ele era capaz de apostar que ela havia reconhecido a sua voz, mas estava decidido a ver aquilo como timidez.— Penso que reconheceu a minha voz, mas tudo bem, sou um cara legal. Sou aquele que não consegue te esquecer. Luiz. — Ele sabia que ela não responderia — Ainda está ocupada? — Ela fica sem graça e não sabe o que dizer, mas decide falar a verdade— Eu não estou em casa — Ela não estava mentindo, já que ainda não tinha entrado em casa.— Aproveitando a folga? — Um pouco — O que responderia se ele a chamasse para sair? Pensa, mas logo tenta se desiludir.— Ótimo! Eu posso me aproveitar dessa sua folga?— O que? Como assim? Me desculpe,
Ana e Luiz vão andando lado a lado sem dizer nada. Ela se sente uma boba, e palavras que ouviu por muitas vezes vem a sua mente, "você nem bonita é, além de pobre, é feia e fedida..." o que ela estava fazendo ali, se pergunta, mas também não tem coragem de voltar, já estava se achando patética por não conseguir nem mesmo conversar, se voltasse feito uma sem noção, se sentiria ainda pior.— Me desculpe! — Ela consegue dizer depois de já estarem fora do condomínio.— Não sei por qual motivo pede desculpas, mas está desculpada — Luiz tenta brincar, mas ela continua séria, ele podia sentir a tensão no ar, era como se ela estivesse lutando com ela mesma para estar ali — E então, estava pensando, que tal uma pizza? Aqui tem ótimas pizzarias. — Ana apenas confirma com a cabeça.Eles vão até uma pizzaria que tinha rodízio, Luiz tinha um apetite muito grande para se contentar com uma pizza apenas, a pizzaria podia ter lucro com Ana que pelo jeito, pouco comia, mas com ele certamente teriam um
Luiz fica satisfeito, por ela contar sobre o seu dia, podia ver a animação com que ela contava, parecia uma criança contando sobre um dia no parque de diversões. Ele deu a ela toda a atenção necessária, mostrando que se interessava e se importava com o que ela contava.— Acho que falei demais, deve me achar uma boba— Ana fala deixando o sorriso morrer e se sentindo uma idiota por falar tantas bobagens.— Adorei saber tudo o que me contou, e estou até pensando em qualquer dia fazer uma travessia de barca, mas com você, é claro. O que acha? — Ela ri — Estou falando sério, podemos também fazer outros passeios se você quiser. — Luiz percebe que Ana não tinha experiência nenhuma com o mundo, parecia que ela vivia isolada, mas estava curioso para saber mais sobre essa pequena com idade de mulher e atitude de uma criança inocente.— Pode ser — A resposta não veio de imediato, mas o deixou feliz.Eles vão embora andando, o condomínio onde Fernando morava não era longe e em alguns minutos cheg
Ao chegar em casa, Luiz decide ligar para Ana, ela demora a atender, mas ao atender ele percebe que a voz dela estava rouca, como se estivesse chorando, depois de soltar um palavrão no pensamento ele finge não perceber.— Liguei apenas para avisar que já estou em casa e para te dar boa noite.— Boa Noite! — É a resposta que ele escuta, não de forma grosseira, mas como um lamento.— Estava pensando, amanhã você ainda está de folga, não está? — Podia até ser difícil conquistá-la, mas não desistiria, pensa determinado.— Sim, estou de folga até as meninas voltarem.— Ótimo, amanhã podemos ir ao cinema, e não quero desculpas, sei que não vai estar ocupada.— Luiz... — A voz sai como em um sussurro mas ele é capaz de ouvir— Eu estou aqui — O que ele diz a faz querer chorar ainda mais, pois era como se ele dissesse "você não está sozinha", mas ela prefere acabar com aquela ilusão, depois de morder os lábios tentando controlar as emoções ela continua.— Me desculpe, mas acho melhor você não