Era uma noite escura e chuvosa. A chuva impedia aquela jovem, que corria descalça, de ver qualquer coisa a sua frente. A única coisa que a guiava era a sua intuição e o desejo de se livrar daquele tormento, um tormento que a destruia aos poucos, minando suas forças e sua vontade de viver. O caminho por onde corria era estreito e os galhos por onde passava a machucavam, ferindo os seus braços. Mas ela não podia parar, precisava continuar correndo.
Os seus pés doíam, mas a dor da sua alma era muito maior, nenhuma dor se comparava a que sentia em seu coração, por esse motivo, nada a faria desistir de seguir em frente, continuaria correndo por entre galhos e espinhos que a feriam, correria sem parar e sem sequer olhar para trás, pois, mais do que seus braços, o seu coração sangrava, mas do que seus olhos a sua alma queimava, mais do que a garganta que estava seca por sentir sede, o seu interior estava ressequido.Ao longe se ouvia alguém a chamando, mas ela não podia parar, a voz só a fazia correr ainda mais, precisava se livrar daquele martírio, nem que para isso encontrasse o seu fim.— ANA! ANA!A voz agora estava mais perto e as suas forças estavam acabando, suas pernas doíam se negando a correr mais rápido, mas ela precisava continuar, ela precisava vencer o cansaço, caso contrário, o seu fim seria da pior forma.— ANA! ANA!As suas pernas tropeçam uma na outra, mas ela se nega a parar, a sua respiração já está no limite, mas ela se nega a ceder ao cansaço, o seu coração parece não ter mais forças para bombear o sangue, mas Ana está disposta a correr até as suas forças se esgotarem.Ana para abruptamente. Havia chegado o seu fim, ela encontra um rio a sua frente, ele é largo e a correnteza estava muito forte, levando tudo o que encontrava pela frente. Ana, por sorte, conseguiu parar antes que caisse nele. Ela olha para trás pela primeira vez, mas não consegue ver ninguém, mesmo assim, sabia que o perigo estava a poucos passos dela. Ela olha a sua frente e é como se, somente o rio pudesse ser visto em meio aquela escuridão em que se encontrava.O medo toma conta de todo o seu ser com maior intensidade pois, só havia dois caminhos e teria que escolher um deles. Se antes o seu coração batia forte, agora batia ainda mais, a fazendo ouvir os próprios batimentos cardíacos. Por mais que se achasse corajosa, suas pernas se negavam a dar mais um passo em direção ao rio, mas não via outra direção que pudesse seguir.— ANA! ANA!Quando escuta o seu nome, ela olha para trás pela última vez e, em um ato de desespero, se lança naquelas águas, sendo levada por elas. Depois de muito se debater por não saber nadar direito e a correnteza não a permitir boiar, um sorriso brota em seus lábios ao pensar que tudo havia acabado, mesmo as águas a levando para um outro mundo, não sentiria mais medo, não sentiria mais dor. Esse mundo com certeza, seria melhor ao que se encontrava.Ainda sentia as águas a levando, quando mais uma vez ela escuta uma voz a chamando.— Ana! Ana! Acabou!As águas passam por ela a deixando para trás, e o rio some de suas vistas, a voz que gritava por ela também deixou de ser ouvida, e a única voz que consegue ouvir agora é suave, e a chama com carinho.Ana abre os olhos e se depara com uma jovem que a olha, e lhe faz um carinho, era a mesma cena de tantas vezes que acordava dos seus pesadelos. Ela estava suada e com as cobertas jogadas pelo chão. Era sempre assim, as cenas eram tão reais que a apavoravam, a fazendo se debater durante os pesadelos, se sentia como se estivesse revivendo todo o sofrimento pelo qual passou por anos.— Toma, beba um pouco d'água. — A jovem, que estava ao seu lado, lhe estende um copo d'água e ela aceita.Ana não chora, não fala, apenas aceita a água que lhe é oferecida e bebe com as mãos trêmulas, pensando até quando aquelas lembranças a perseguiriam. Por mais que quisesse esquecer, era muito difícil lidar com as dores do passado. *****Esse livro conta a história de Ana, a babá de Aurora e Ágata, as filhas de Helena e Fernando do livro "Decidi ser Feliz" de minha autoria aqui publicado.Boa leitura!Ana era uma mulher forte, apesar do seu jeito frágil, demonstrava uma força e determinação que ela mesma desconhecia e ignorava ter. Aprendeu a conviver com os seus traumas e suas inseguranças. O seu passado era algo que gostaria de esquecer, mas estava entranhado dentro dela e, mesmo depois de tanto tempo, ele ainda a atormentava, a fazendo ter medo até da própria sombra as vezes, até mesmo quando adormecia seu passado a perseguia através de seus pesadelos. Ana raramente se olhava no espelho, ela não gostava pois, todas as vezes que se olhava se sentia ainda mais desprovida de beleza, por ver os seus defeitos. Isso a fazia se sentir a mulher mais feia e sem graça que pudesse existir, mas esse sentimento de frustração ocorreu depois de ouvir inúmeras vezes que não era nem um pouco bonita, as palavras tantas vezes repetidas a convenceu. Sua vida atual não se comparava a que tinha antes, mas mesmo assim, não conseguia se sentir totalmente feliz, lhe faltava algo, mas a melancolia que
Era um lindo sábado, desde cedo o sol brilhava em sua plenitude. Ana ao acordar, faz a sua higiene, veste uma roupa confortável e segue para o quarto de suas garotinhas. Depois de cuidar delas, ela volta para o seu quarto e cuida de suas coisas, arrumando e limpando tudo, não achava justo outra pessoa limpar o seu quarto.Quando Helena e Fernando estavam em casa era sempre assim pois, eles faziam questão de ficar com as filhas, a liberando dos cuidados com elas. A tarde decidiram ficar todos na piscina e nessa hora Ana ajudou a tomar conta delas.Ana ainda se sentia envergonhada na frente de Fernando, por mais que ele a tratasse bem e a deixasse a vontade, já em relação a Murilo o sobrinho dele que também morava na casa, se sentia mais a vontade, eles até assistiam filmes juntos, geralmente na companhia das gêmeas.Ana estava com Aurora e Ágata na piscina, quando Aurora pede para ir ao banheiro. Ana sai e veste um short por cima do maiô que vestia e seca um pouco Aurora antes de levá-
Quando a noite chega Luiz precisa ir embora, ele tinha um outro compromisso e não podia ficar com os amigos, mas antes de ir queria encontrar uma oportunidade de falar com a jovem tímida de sorriso bonito. Não só o sorriso, ele a achou toda linda, tinha uma beleza inocente que o encantou. Luiz já podia se imaginar a escondendo em seus braços, como gostava de fazer e sempre era recriminado por suas ex.Luiz sorri com os próprios pensamentos, Ana era tipo mignon e isso o atraia, ela tinha os cabelos longos e cacheados, os seus olhos eram castanhos escuros e tinha um jeitinho tímido que a deixava encantadora.Nem sempre a beleza estava em uma bela roupa ou em uma boa maquiagem, mas sim na simplicidade, não que ele não gostasse de mulheres bem vestidas e arrumadas, mas isso não era tudo, assim Luiz pensava. As mulheres com quem costumava sair eram sempre lindas e vaidosas, assim como as suas ex esposas que apesar de lindas se tornaram insuportáveis depois do casamento, com críticas e cris
Já em seu quarto, Ana pensa em sua vida, e no sonho que tinha de um dia encontrar alguém que a amasse de verdade, mas o medo de se entregar novamente a faz querer viver só. Podia dizer ser feliz, ela tinha onde morar, tinha um bom salário, e era cercada de pessoas que gostavam dela, isso já era o suficiente para se sentir feliz, mesmo que a sua felicidade não fosse completa.Ana sentia como se lhe faltasse algo, era como se tivessem lhe arrancando uma parte do seu interior, deixando no lugar apenas dor, uma dor que não conseguia arrancar de dentro dela, por mais que tentasse.Não podia dizer que não tinha família, afinal ela tinha, mãe, pai e três irmãos, mas era até dificil dizer que eles eram uma família. Eram individualistas e estavam longe de ser uma familia de verdade, nunca existiu amizade entre eles e muito menos respeito, a única que demonstrava se preocupar com ela era a sua mãe, Elizabeth, por isso, Ana fazia questão de sempre ligar para ela.Ao se deitar ela pensa no gigant
Ana estava em seu quarto se preparando para dormir quando o seu telefone toca, era um número desconhecido e isso a faz não querer atender, sempre que um número novo ligava para ela, sentia o pânico a invadir e nunca dizia alô ao atender, preferia ouvir primeiro quem estava do outro lado da linha.— Alô! Ana? — Ela não consegue reconhecer a voz e permanece em silencio — Ana, você está me ouvindo? Aqui quem fala é Luiz, amigo de Fernando e Helena. — Alô! — Responde ainda receosa.— Está tudo bem? — Luiz pergunta preocupado— Sim, está tudo bem — Responde sem muita convicção.Luiz estranha a atitude de Ana, mas não iria fazer perguntas, mesmo estando curioso para saber o motivo dela não dizer "Alô" ao atender a ligação, preferindo ficar em silêncio, ouvindo primeiro, como se quisesse saber primeiro quem era, talvez por pensar ser outra pessoa.— E, então? Pensou no presente que eu posso dar as meninas?— Sim, eu pensei — Ana diz a ele o que havia pensado, mas Luiz não queria encerrar a
Ana pensa ser zoação e apenas fica o olhando esperando que ele diga ser brincadeira— Então, vamos ao cinema? — Luiz pergunta mais uma vez sorrindo para ela — Costumo ser assim, direto.— Está... falando serio? Eu... no... cinema... com você?— Ana pergunta gaguejando, olhando para ele com a cabeça levantada, devido a diferença de altura entre eles. Ela sente raiva dela mesma por gaguejar tanto.— Isso mesmo, eu e você. Você não tem namorado, tem?— Não... não é isso... é que, é... eu não posso.— Faz o seguinte, pense primeiro, depois eu te ligo para saber a resposta. — Ele pisca para ela enquanto dá a sugestão.Ana continua sem acreditar que ele esteja falando sério. Eles ficam calados, e ela volta a atenção para as crianças, mas percebe o olhar dele sobre ela, no entanto, não consegue encará-lo. A verdade é que já nem prestava atenção nas crianças e em mais nada, tudo o que queria fazer era fugir dali, com certeza ele estava a reparando, talvez até sentisse pena de um ser tão insign
Ana ao fugir para o seu quarto se senta na cama e recosta na cabeceira, abraçando os joelhos, ela fecha os olhos e lembranças do passado invade a sua memória, ela chora tampando os ouvidos, não queria mais ouvir aquelas palavras. "Sua horrorosa, parece mais um espantalho com esse cabelo de vassoura, sua ridícula..."— Sai da minha cabeça, sai!!!! — Ela pede de olhos fechados, mas ao invés das palavras deixarem de ecoar, olhos claros aparecem diante dela, a fazendo abrir os olhos para que aquele olhar desapareça.Ana se deita na cama e ali ela fica, até adormecer de tanto chorar com as lembranças do seu passado tenebroso.O que as palavras e atitudes podiam fazer na vida de alguém? Talvez torná-la forte, talvez torná-la frágil ou as vezes matá-la por dentro....Luiz decide esperar alguns dias, antes de ligar para Ana novamente, era incrível como ela povoava os seus pensamentos, queria saber um pouco mais sobre ela, mas queria saber por ela, não queria invadir a sua privacidade, buscan
Era um dia como um outro qualquer e Ana estava assistindo filme com Murilo quando Fernando chega em casa, ele pede a ela que o ajude a arrumar uma bagagem para Helena e as meninas, ele queria fazer uma surpresa para a esposa e iriam viajar e assim, Ana ganharia alguns dias de folga. Com certeza ter alguns dias de folga seria uma notícia boa para qualquer pessoa, mas Ana ao saber que não teria as suas garotinhas para cuidar, fica pensando no que faria esses dias. O que fazer o dia inteiro? Pensa desanimada.Ao acordar na manhã seguinte pensa ser uma boa oportunidade para ela conhecer mais um pouco a cidade do Rio de Janeiro, inclusive atravessar a ponte Rio Niterói, assim como andar de barcas, coisa que já tinha pensado em fazer mas, ainda não tinha tido coragem. Só em pensar nessas coisas, que para muitos eram coisas bobas, a deixava eufórica pois, para ela seria uma aventura, já que estava acostumada a ficar em casa.Na primeira tarde de folga ela decide ir em Copacabana, estava ner