CAPÍTULO 1
Maicon Prass Fernandes Não foi do dia para à noite que me tornei o consigliere do Don. Sou os olhos da máfia Strondda e aquele que o Don confia de olhos fechados. Cheguei aqui em Roma praticamente com a roupa que vestia, depois de uma vida inteira trabalhando como catador de reciclagens no Brasil, para tentar ajudar minha família a comer todos os dias. Meu cunhado e também “Don” da máfia Strondda, me testou e me ensinou a ser como ele, e hoje, além de dar conselhos e ser o mais próximo, também tenho dominado seus soldados na maioria das missões, já que ele e minha irmã acabaram de ter seu segundo filho, uma menina linda. Respiro fundo, olhando pela janela e vendo uma chuva forte caindo sobre o gramado. Há soldados inimigos caídos no chão, mas nenhum deles está morto. — Vamos levá-los também, chefe? — me viro ao ouvir a voz do meu soldado de confiança que abaixado, examina a cena. — Por que me pergunta o que já sabe? Enfie esses maledettos na Van e nenhum morre até que eu diga que pode visitar o diavolo! — chuto a mesa de centro, e todos me olham. — ESTÃO ESPERANDO O QUÊ, PORRA? — apressados, eles seguem meu protocolo, apenas observo enquanto lavo minhas mãos, antes de dirigir até o local de costume. Já no reduto fortificado, onde tenho a liberdade de fazer o que bem entender com os inimigos, espero do lado de fora, enquanto degusto de uma boa bebida, e nossos homens estão interrogando, examinam e torturam, aqueles que foram pegos mais cedo. — Aqui está pronto, chefe. — Meu soldado diz com poucas palavras, mas seu semblante inexpressivo é suficiente para que eu entenda, já sei o que quer dizer, nenhum deles pode ser compatível comigo. — Então mate-os e livre-se dos corpos! — viro as costas, empurrando o copo no balcão. — Não me sigam! — saio sem olhar pra traz, é hora de ir pra casa, fiquei todo molhado e a chuva não passa. Já chega por hoje. Dirigindo meu Maserati cinza claro, que nem deveria estar no reduto, observo que um carro me segue, piso fundo, e apenas sorrio debochando. “A chuva parece dificultar o trabalho do maledetto.“ Balanço a cabeça esperando o momento correto para inverter o jogo, o idiota não tem a menor habilidade no volante. Apenas apertando um botão, eu avisaria a todos os nossos homens sobre a perseguição, mas esse idiota não é páreo pra mim. Num cavalinho de pau, me aproveito da experiência que tenho em asfalto escorregadio, após deslizar a nave e ficar de frente com quem me seguia, saltei. Assim que parei o carro, a porta abriu para cima, então apontei para o meu adversário. — TEM DOIS SEGUNDOS PRA DESCER! — gritei ainda antes que o carro dele parasse completamente, contei apenas um segundo e saí do Maserati, então o idiota abriu a porta e saiu com as mãos pra cima. — O que está acontecendo? Eu não fiz nada! — reclamou com a voz meio falha. Analisei seus movimentos corporais e cada expressão para saber o que o maledetto tramava. — Se mentir pra mim, pagará por cada palavra, e se não sabe quem sou, saiba que fiquei conhecido por não ter piedade! — o homem de olhos arregalados, ergueu as mãos e disse: — Eu vim para o noivado do meu primo, estou atrasado, não pensei que ainda houvesse rixa entre a máfia Strondda e os Russos, já que a família Kim fechou um acordo com o casamento. — Por um momento me lembrei... — Família Kim? Você é um membro da família Russa? — assentiu apressado. — Sim, apenas vim para o noivado... — meti um soco no seu estômago. — Eu só fiz uma pergunta agora, não duas! — me encarou, mas logo abaixou a cabeça. Hoje é o noivado de Maria Eduarda Strondda, a filha do antigo consigliere, irmã de Enzo Duarte. Balancei a cabeça, me lembrando a forma como ela me rejeitou e me humilhou quando me aproximei há quatro anos, com certeza está feliz agora, se casando com alguém do seu nível, porque só adquiri dinheiro depois das coisas horríveis que ouvi dela, mas um Don como esse Russo, nunca serei. Desviei meus pensamentos quando lembrei o quanto esse casamento era propício para a máfia, já que essa jovem só trouxe problemas com suas aventuras amorosas, enquanto estava prometida ao membro da família Kim. Olhei ao redor e percebi que realmente estávamos na frente do muro da casa dela. Me aproximei e segurando pelo colarinho do homem esclareci: — Espero que tenha dito a verdade, caso contrário... — de repente em meio a chuva, estranhei ao avistar por traz do cara, alguém sobre o telhado da família do antigo consigliere. O prendi na lataria do carro, olhei melhor, alguém subiu rapidamente e em plena chuva, correndo o risco de deslizar. Soltei o idiota e imediatamente corri, passei facilmente pela entrada da casa, já que sou conhecido, e fui pelo lado de fora. Apontei a arma pra cima, só pra me irritar ao ver a maledetta da Maria Eduarda, descalça e com um vestido vermelho na altura dos joelhos, completamente colado ao corpo, tentando fugir pelo telhado da casa, com algo na mão. — Se não descer vou atirar! — falei sem gritar, aquela doida ainda era membro da família. Don Antony a protegia, às vezes. A maledetta levantou o braço e apertou o gatilho de uma arma que eu nem tinha visto, precisei ser rápido, desviei depressa, mas a arma estava descarregada. Vi quando ficou irritada e jogou a arma em mim, quase me acertando na testa. — Pois, atire! Odeio cães que ladram, mas não mordem! — bufei a encarando com raiva, e mesmo sabendo que era a irmã de um membro como Enzo e filha do antigo consigliere, atirei na telha que fez com que a maledetta escorregasse, e ainda precisei ajudá-la. Ela ficou reclamando, e eu a mantive sob meu domínio enquanto reclamava coisas sem sentido e eu a pressionava numa árvore molhada. — Irresponsável, infantil! — esbravejei enquanto a segurava, tentando capturar seu olhar. — Você é “mais um” membro patético da máfia! Se me queria morta, por que me segurou? — me apertou nos braços, com suas unhas grandes, e agora encarou meus olhos, mas eu não a deixaria me manipular. — Se quebrasse uma perna adiaria o acordo, e você demoraria mais para sumir pra Rússia! Só traz problemas permanecendo aqui! — franziu a sobrancelha e bufou, apertando meus braços de cara fechada. — Por que continua apertando a minha cintura? Deveria estar cuidando da minha perna então — só então percebi como estávamos próximos, ela tem uma cintura pequena, mas meus dedos também ficaram sobre seu vasto quadril. Assim, molhada com a chuva e tão irritada quase me fez esquecer quem realmente é. Num impulso, a soltei. — Suma daqui, consigliere! Minha fuga não é da sua conta! — a maledetta tentou fugir, então rapidamente a segurei firme, a puxando de volta. Estava molhada demais, assim como eu, e tentou me empurrar. — Vamos entrar agora mesmo, porra! Você não se manda, é completamente irresponsável!— a segurei pelo braço. — EU NÃO VOU CASAR, ME AJUDE A SUMIR DAQUI! EU TENHO DINHEIRO... — fiquei com raiva, não sou mais o pobre catador que ela conheceu. Aquele homem morreu há quatro anos, quando entendeu tudo que ela dizia. — Odeio esse tipo de pessoa que acha que pode fazer o que quiser, e pode comprar tudo! Agora faço questão de te devolver para seus pais e seu irmão! — a joguei nas costas e carreguei até a entrada, estranhando o movimento seguinte, de carros de luxo indo embora. “Será que o noivo desistiu?“ — Tenho pena desse cara!CAPÍTULO 2 Maria Eduarda Duarte Cresci dentro da máfia Strondda, conheço as regras, sempre soube qual seria o meu destino. já faz muito tempo que tenho ciência de que fui prometida a um russo, membro da família Kim. Não era o que queria pra mim, mas hoje iria conhecê-lo pessoalmente e dar sequência ao noivado do acordo que o Don ordenou. Embora ninguém saiba, que meu coração só bateu uma vez por um homem, mas ele era apenas um soldado estrangeiro, recém-chegado na máfia, que ao ser rejeitado por mim uma vez, jamais deixou que um simples olhar meu chegasse até ele novamente. Até tentei me aproximar numa noite, mas ele agiu como se não me conhecesse, e até então somos como estranhos... acabei aceitando esse acordo com os russos. O problema foi que ao pisar na grande sala, ouvi a conversa rude do meu pai com um senhor. Ele apresentava seu outro filho para o compromisso que havia feito comigo, dizendo que meu antigo noivo havia se casado na manhã anterior com
CAPÍTULO 3 Maria Eduarda Duarte Não sou do tipo quietinha, não consigo aceitar tudo que me impõem e também não pretendo mudar. Principalmente quando percebo que me passam para trás como nesse instante. Aquele consigliere do diavolo me colocou no chão e disfarcei meus movimentos, em seguida sorriu limpando os ombros, só para deixar claro que percebeu o que aconteceu. Praticamente corri até meu irmão sem olhar pra trás. — Você soube o motivo? O combinado era eu me casar com Alexei, e agora aquele nojento do Anton, quer ficar no lugar dele, e eu não quero! — meu irmão me apontou o dedo. — Maria Eduarda Duarte, não é você quem escolhe! Todos nós sabemos que acordos são necessários, droga! Eu acho que deveria se esforçar mais, o Don não irá te poupar de novo, você nem se esforçou, como sempre mandou tudo para o espaço, só pensou em você. — ele falou e o infeliz do consigliere tossiu dando risada, depois ficou de costas, então o ignorei, mudei a estratégia, já aprendi a lidar com
CAPÍTULO 4 Maicon Prass Fernandes Acabei indo até a casa do Don com os familiares da Maria Eduarda. O pai dela explicou tudo o que aconteceu, e pelo olhar do Don pra mim, eu lhe respondi antes que perguntasse algo, já o conheço bem. — Se foi feito um acordo vantajoso, penso que deveria ser cumprido. Primeiramente eles quebraram, então se pensam em rejeitar algum membro da família Kim, organizaremos os soldados e iremos imediatamente atrás deles, até estarem todos mortos! — todos me olharam espantados. — Você é bem direto... — Hélio comentou, olhei para o Don que servia um whisky para os visitantes, mas puxei um copo extra pra mim, que me olhou de forma rude. — Bom... se o importante for manter o acordo, para ficarmos tranquilos no futuro, Maria Eduarda deve parar de ser irresponsável e se casar de uma vez, seja lá qual, seja o noivo. Ou vai ficar escolhendo rosto bonito ao invés de pensar com a razão? Afinal cresceu nesse meio, não é? — todos pareciam respirar forte, ficou um
CAPÍTULO 5 Maicon Prass Fernandes Respirei fundo ao sentir meu peito doer. Coloquei a mão sobre ele, mas ao ver que estavam saindo e vindo atrás de mim, aguentei firme a dor, estiquei meu corpo, tentando manter o meu semblante inexpressivo, porque ninguém poderia saber que sofro de problemas cardíacos, além do Don. Em passos rápidos, tentando ignorar a dor, eu entrei naquela sala novamente, e quem saiu antes, entrou junto comigo. Hélio ainda falava e imaginava teorias sobre a filha. — Ela não queria casar na Rússia, que merda! — ele disse com raiva. Me aproximei e controlado, questionei: — Devem ter trocado o áudio utilizando algum programa. É só utilizar a voz dela de qualquer assunto e substituir. Já localizaram a pulseira? — Sim, não é longe, vamos até lá! — um soldado disse, então fomos até os carros para ir ao local. Comecei a pensar, e o Don não ficaria nem um pouco satisfeito com tudo isso, eu precisava encontrá-la depressa. Até porque o restante da equipe estava
CAPÍTULO 6 Maria Eduarda Duarte Com os olhos pesados e meu corpo mole, tentei levantar a cabeça muitas vezes, mas não consegui. Não sei quanto tempo durou isso, mas de repente ouvi vozes familiares, e quando por fim abri os olhos ouvi: — Filho, por que a sua noiva está dormindo tanto? Acho que vou chamar nosso médico de confiança para examiná-la quando chegarmos em casa. — “era o senhor Kim?“ — Pai, ela está cansada, só isso! Me dê um momento com ela, vou acordá-la e enviaremos o áudio que o senhor pediu. — Não demore, Anton! Já faz dez minutos que está sozinho com ela, e ainda não se casaram! Sabe que seu casamento precisa ser honrado! — tentei falar, erguer a mão para pedir ajuda, pois aquele senhor não parecia compactuar com esse louco, porém não consegui. — Claro pai... — ouvi a porta fechar, e me enchi de raiva quando o infeliz jogou a água que estava num copo na minha cara. — Acorda, querida! Envie uma mensagem dizendo que está tudo bem, e vou te tratar como uma
CAPÍTULO 7 Maicon Prass Fernandes Maria Eduarda estava sonolenta, evitei contato com ela, não tenho nada a ver com a sua vida. Estranhei que no avião continuou dormindo, se trancou no quarto, e ainda precisei bater para lembrá-la que precisava comer. — Senhorita Duarte, abra a porta! Você não comeu. Eu disse para sua família que estava bem! — encostei na porta para tentar ouvir. — Azar o seu! Me deixa em paz, estrangeiro! — respirei fundo, não queria quebrar a porta, mas ela não estava me dando opção. — Estou pouco me fodendo pro que você pensa, mas se a ordem é que coma, derrubo essa porta e te enfio goela abaixo! Tem dois segundos para decidir! De repente, um dos soldados apareceu com uma chave e sorri ao abrir a porta. Ela me deu uma olhada, mas desdenhou me ignorando. Maria Eduarda estava deitada de bruços, ainda com aquele vestido de noiva, provavelmente desconfortável. Dei dois passos à frente, parecia tão delicada agora, deitada sobre o seu próprio braço, que
CAPÍTULO 8 Maicon Prass Fernandes — Eu vi a mancha nos lençóis, porém não tenho certeza do que aconteceu. Pode se tratar de um estupro pelos gritos, ou até alguma agressão. — disse a verdade, e o olhar da Maria Eduarda pra mim foi pesado, começou imediatamente a gritar, fazendo escândalo: — MENTIRA! VOCÊ ESTÁ SE VINGANDO DE MIM, SEU SOLDADO ESTRANGEIRO DE MERDA! NÃO ACONTECEU ABSOLUTAMENTE “NADA” ENTRE EU E ESSE IMBECIL DO ANTON KIM, QUE TEVE AMNÉSIA E PENSA QUE É MEU NOIVO! — ela ficou furiosa, tentou vir pra cima de mim, mas sua mãe a impediu, então se virou para o pai — Pai... pelo amor de Deus, acredita em mim? Esse cara está blefando, Anton apenas me viu com roupas de baixo, porque cortou e arrancou meu vestido, tentando me desprender dele, me cortou entre as pernas, mas nada aconteceu! — Fiquei calado enquanto ela inventava suas mentiras, e seus pais a olhavam com reprovação. — Maria Eduarda, entenda uma coisa... você conhece as regras, e mesmo assim saiu de casa sem auto
CAPÍTULO 9 Maicon Prass Fernandes Com o silêncio no local, o senhor Maxim Kim tomou a frente: — Tudo bem, a jovem está certa. Mais um motivo para querer Maria Eduarda como nora, uma verdadeira mafiosa. — seus homens abaixaram as armas. — ELA É LOUCA! VAI DOER PRA CARAMBA PRA TIRAR ESSA BALA! — Anton gritou, Don Antony só faltou enfiar a pistola na boca do maledetto, e senhor Kim interviu. — Espere! — senhor Kim tentou apaziguar. — Podem continuar, levem a Maria Eduarda para dentro, isso já foi longe demais! — Don Antony insistiu, mesmo que o senhor Kim tenha colaborado com ela. Acompanhei sua desgraça de longe. — Tem certeza que quer resolver dessa maneira, Don? Ainda acho que posso ser generoso o suficiente e declarar paz entre nós, mesmo sem o acordo de casamento, reconheço o erro dos meus filhos. Parece muito vantajoso, não acha? Porque se matarem o Anton, por mais que seja um imbecil, não poderei fechar os olhos. Então, prefiro me acertar com ele, caso contrário, não