3

— Se veio aqui me destratar, eu já tô indo embora.

Sem pedir licença, ele entrou.

— Embora? Ah, conta outra, menina. Já está até de roupão, como se sempre tivesse vivido aqui!

Me afastei alguns passos quando José Eduardo fechou a porta atrás de si, obstruindo a saída. Ele parecia um armário de tão grande. Eu não conseguiria sair dali tão fácil.

— Eu já disse que vou partir ainda hoje.

José Eduardo se aproximou e alisou a gola do meu roupão de algodão, quase tocando a minha pele.

— Coisa boa. Não deve estar acostumada com algo assim, né?

— Não, não estou. Mas de onde eu venho, a honestidade basta. Essas coisas chiques não me compram! — falei com coragem, me afastando dele.

— Olha, devo admitir: você é boa. Convincente. Mas vigaristas da sua laia eu conheço de longe.

— Ah, José Eduardo… Não te conheço, mas já percebi que é arrogante e se acha muito esperto.

Acho que ele não esperava minha ironia. Eu não ia bancar a coitada.

— Eu não me acho. Eu sou.

— Mas não parece. Agora, se puder sair… Eu vou me trocar e ir embora.

— Faz bem. Volte para aquele bordel de onde deve ter vindo.

Meu sangue ferveu. A cada frase, os insultos dele pioravam.

— Eu só não enfio a mão na sua cara por respeito ao tio Nestor!

José Eduardo riu.

— Enfia, é?

Engoli em seco quando ele disse aquilo com um olhar estranho.

— Saia daqui!

— Estou na minha casa. Saio quando eu quiser. Agora me diz: quanto você tá recebendo, hein? Eu pago o dobro do que meu pai te deu, e você vaza daqui.

Meu desejo era dar uma bofetada nesse meu primo, mas eu podia fazer algo ainda melhor. Podia irritá-lo.

— Você não acredita que eu sou sua prima, né?

— Claro que não. Porque não é.

Então eu sorri com presunção, encarando aquele arrogante com gosto.

— Ok, como quiser… primo — falei com ironia. — Agora decidi que vou ficar.

Seus olhos se arregalaram.

— Não vai. Você vai embora.

— Nada disso — disse, sorrindo e me sentando na cama. — Vou ficar aqui esperando o resultado do DNA. Eu mesma vou sugerir ao meu tio.

José Eduardo respirava fundo, como um touro atiçado.

— Você não sabe com quem tá mexendo, garota.

— E nem quero saber. Agora cai fora do meu quarto ou eu chamo o tio Nestor.

— Banque a esperta até onde der. Mas logo eu vou te enxotar daqui como uma cadela de rua.

Ele deu alguns passos, quase voltando a se aproximar. Seu sorriso era malicioso, mas carregado de raiva. José Eduardo lançou um olhar rápido para o meu colo, onde a pele ainda estava à mostra, e passou a mão pelos cabelos. Eu não consegui decifrar o que ele pensou naquele momento.

— Que vença o melhor — disse ele. — Mas acho prudente não desfazer as malas.

Assim que ele saiu, soltei a respiração. Era como se, para manter aquela pose de durona, eu tivesse que parar de inspirar.

— Onde eu fui me meter?

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