2

Sou indesejada

— José Eduardo, essa é sua prima, Catarina.

— Eu sei, pai. O senhor mandou por mensagem.

Eu ainda morria de vergonha. Os dois conversavam como se eu nem estivesse ali.

— Então a trate como ela merece.

José Eduardo riu.

— Tá de brincadeira, pai? A gente nem sabe se essa garota é quem diz ser.

— Espera aí, tá achando que eu menti? — falei, levemente contrariada.

— Nunca se sabe, garota. Você surgiu do nada. É fácil dizer que é sobrinha de um milionário. Só precisa provar primeiro.

— José Eduardo, eu ordeno que pare! — disse meu tio, firme.

— Eu paro quando o senhor tiver a razão de pensar antes de trazer uma estranha pra morar dentro de casa. Ela pode ser uma golpista que vai nos roubar!

— Escuta aqui! Eu nunca roubei ninguém e nunca vou roubar! Isso é um absurdo! — falei, tentando não chorar.

— Não ligue pra isso, Catarina — meu tio me abraçou.

— Eu acho que seu filho tem razão… Eu vou voltar pra minha casa.

— De jeito nenhum! Não vou permitir!

José Eduardo riu.

— Essa carinha bonitinha não engana ninguém, menina. Só meu pai pra cair nesse papinho de donzela indefesa. — Ele se aproximou. Senti sua imponência, o perfume amadeirado. — Conheço vigaristas de longe.

— Corine! — gritou tio Nestor — Ajude Catarina a subir para o quarto dela.

Uma mulher de uniforme de alfaiataria, muito polida, se aproximou com um sorriso cordial. Eu descobriria depois que era a governanta.

— Claro, senhor. Vamos? — disse ela, sorrindo.

— Eu vou pra casa — falei, com lágrimas nos olhos.

— Primeiro entre, minha sobrinha. Depois decidimos o que fazer.

— Sim, vamos. Se acalme, menina — falou Corine, compreendendo rapidamente a tensão que havia naquela conversa.

— Quanto a você, José Eduardo: venha até meu escritório.

— Com toda a honra, pai. Vou tentar colocar um pouco de lucidez nas suas ideias.

José Eduardo passou por mim me fuzilando com os olhos. O cheiro do perfume amadeirado ficou. Tio Nestor me disse um “sinto muito” e foi atrás do filho. Eu me sentia péssima. Me sentia uma intrusa tirando a paz da casa de gente que nunca tinha visto na vida.

Como eu poderia me sentir confortável ali?

*

Corine me acalmou. Ela parecia ser expert em situações como aquela — muito bem treinada.

— Vai amar o quarto.

— Obrigada pelo acolhimento, Corine.

— Fique tranquila, ok? Tudo vai se resolver, menina.

A casa era imponente. Janelas grandes deixavam a luz do fim da tarde entrar, tingindo de laranja a mobília de madeira maciça. Tapetes persas, muitos sofás, quadros nas paredes, e o pé-direito altíssimo completavam a suntuosidade.

Subimos uma escadaria de mogno em direção ao segundo piso. Meu quarto, de fato, era uma graça — quase do tamanho da minha antiga casa.

Após algumas instruções, Corine disse que desceria até a cozinha para organizar o jantar.

— Tem um telefone ao lado da cabeceira da sua cama. Disque *1 que eu venho, ou mando alguém.

— Ah, obrigada. Muito obrigada mesmo.

— Sinta-se em casa. Até mais tarde.

Era tudo muito rápido: a morte da mamãe, a ligação para o tio Nestor, e agora essa mudança repentina. Muita coisa pra processar.

Foi fácil encontrar toalhas, e logo fui até o banheiro tirar aquela energia negativa com um banho.

O banheiro era de tirar o fôlego: mármore, porcelanato, cubas de porcelana branca. Tudo cheirava a lavanda fresca.

Enquanto enrolava a toalha nos cabelos e vestia o roupão de algodão branco, ouvi batidas na porta.

Devia ser meu tio. Ou Corine.

Assim que abri, me deparei com a fragrância do perfume amadeirado. Ou melhor: com José Eduardo, me olhando com a mesma reprovação de antes.

— Podemos conversar, garota?

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