A dor do passado

O silêncio entre nós parecia gritar. Queria dizer tantas coisas, mas, ao mesmo tempo, nenhuma palavra parecia certa. Queria perguntar por que ela nunca tentou entrar em contato, se ela sentiu minha falta tanto quanto eu senti a dela. Queria explicar que cada dia sem ela parecia um castigo. Mas, naquele momento, tudo o que consegui fazer foi olhar para ela, com o coração disparado e a mão tremendo levemente sobre a mesa.

Bella desviou o olhar por um segundo, como se tentasse processar o que estava acontecendo, antes de voltar a me olhar.

— Você voltou. – Ela disse, e havia algo indefinido em sua voz… alívio, confusão, talvez até medo.

Dei de ombros, tentando parecer casual, mesmo que por dentro eu estivesse desmoronando.

— Eu prometi que voltaria, não prometi?

E lá estava. O peso daquela promessa, feita anos atrás, quando éramos apenas duas crianças correndo pelos campos, acreditando que o mundo sempre seria fácil e gentil. Eu não sabia o que viria a seguir, mas uma coisa era certa: não podia ficar longe dela por mais um segundo.

A sala estava imersa em silêncio, exceto pelo som suave das canetas riscando o papel e pela voz do professor explicando algo que eu mal conseguia acompanhar. Meu foco estava completamente em Bella, que estava a poucos centímetros de mim. O leve perfume que ela usava preenchia o espaço entre nós, misturando-se ao nervosismo que fazia meu coração acelerar. Eu podia ouvir sua respiração, e toda vez que ela movia a mão para escrever, parecia uma eternidade para mim.

Bella não me olhou de novo desde que me sentei ao lado dela, e eu não sabia se isso era bom ou ruim. Ela mantinha os olhos fixos em seu caderno, mas sua mão parecia hesitante. Eu podia sentir a tensão crescer a cada segundo, como se as palavras não ditas pairassem no ar entre nós, esmagando qualquer chance de concentração. O ambiente ao nosso redor parecia distante, como se o resto da turma estivesse em outra realidade.

Tentei focar no que o professor dizia, mas pensamentos sobre Bella inundavam minha mente. Memórias dos nossos momentos juntos na infância, as risadas, os segredos, tudo parecia tão próximo e ao mesmo tempo inalcançável. Eu queria quebrar o silêncio, mas cada palavra que surgia na minha cabeça parecia errada, inadequada para o peso deste reencontro.

Bella se mexeu levemente na cadeira, e notei o quanto seus dedos estavam apertando a caneta. Eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas temia que minha voz tremesse, traindo o caos que eu sentia por dentro. Deslizei minha mão pela mesa, tentando disfarçar o nervosismo, até que meus dedos quase tocaram os dela.

Ela parou de escrever. Por um segundo, pensei que finalmente fosse dizer algo, que me olharia e tudo se transformaria em uma conversa que nos libertaria desse peso. Mas ela apenas recuou a mão, lenta e silenciosamente, como se tivesse medo de quebrar a frágil barreira entre nós.

Minha respiração ficou mais pesada. Eu queria tirá-la daquele silêncio sufocante, saber o que ela estava pensando, o que estava sentindo. Mas, em vez disso, a distância entre nós, embora mínima, parecia crescer, preenchida com anos de palavras não ditas, sentimentos reprimidos e o medo de que nada mais fosse ser como antes.

O sinal tocou, marcando o fim da aula, mas, para mim e Bella, o tempo parecia se arrastar, prolongando a tensão que pairou no ar durante toda a lição. Ela fechou o caderno lentamente, tentando acalmar seu coração acelerado, mas cada movimento parecia tornar isso mais evidente. Meu olhar permaneceu sobre ela, intenso, como se eu estivesse esperando o momento certo para agir.

Antes que Bella pudesse se levantar, inclinei-me um pouco mais perto dela.

— Bella. – Minha voz era suave, mas havia algo mais ali, algo que a fez estremecer. Ela mordeu o lábio, tentando esconder o nervosismo.

— Você quer almoçar comigo hoje? – Perguntei, minha voz baixa, mas carregada de significado. Não era apenas uma refeição simples. Nós dois sabíamos disso.

Ela me olhou, seus olhos rapidamente escaneando meu rosto. Eu estava diferente. Não apenas fisicamente, com minhas feições mais maduras e o corpo mais definido, mas havia algo na maneira como eu a olhava, como se estivesse tentando enxergar diretamente em sua alma. Seu estômago deu voltas enquanto ela tentava não fixar o olhar nas linhas fortes do meu maxilar ou na forma como a camisa se ajustava aos meus ombros largos.

— Eu… sim, claro - Ela respondeu, hesitante. O que ela mais queria era conversar comigo, entender o que nos manteve afastados por tanto tempo. Mas, ao mesmo tempo, havia um medo persistente de que as coisas entre nós nunca mais fossem as mesmas.

Enquanto saíamos da sala, caminhei ao lado dela, tão perto que nossos braços quase se tocavam. Cada passo que dávamos juntos parecia amplificar a tensão. Ela podia sentir minha presença ao seu lado, o perfume familiar e reconfortante que sempre a fazia sentir-se segura. Mas agora, isso apenas a deixava ainda mais nervosa.

Chegamos à cafeteria da escola, e escolhi uma mesa mais afastada. Quando puxei a cadeira para que Bella se sentasse, ela não conseguiu evitar um pequeno sorriso com o gesto cavalheiresco, algo tão natural para mim. Assim que nos sentamos, o silêncio entre nós voltou, mas não era confortável; era denso, carregado de tudo o que precisávamos dizer, mas não conseguíamos.

Observei Bella enquanto ela tentava focar no cardápio, seus dedos brincando com a borda da mesa, claramente distraída. Eu sabia que ela estava nervosa, assim como eu. A cada segundo que passava, sentia a vontade de puxá-la para mais perto, de quebrar aquele silêncio sufocante.

— Você parece bem diferente. – Bella comentou de repente, tentando preencher o espaço vazio entre nós. Mas, ao dizer isso, percebeu o quanto eu realmente havia mudado. Os anos fora me transformaram em um homem. Meus olhos brilhavam com uma intensidade que ela não lembrava, e isso a desarmava completamente.

Sorri levemente, meus olhos nunca deixando os dela.

— Você também. Mas, para ser honesto, está ainda mais linda do que eu me lembrava.

Ela corou, sentindo o calor subir às bochechas. Tentou sorrir, mas seu coração batia acelerado, como se estivesse correndo milhas por minuto. O que eu estava tentando dizer com aquilo? E por que ela não conseguia se controlar ao meu redor?

Ela baixou os olhos para o cardápio novamente, mas as palavras estavam embaçadas, sem significado. Tudo o que conseguia pensar era o quão perto eu estava, meu perfume, o som suave da minha respiração. A tensão entre nós parecia crescer, como uma corda sendo esticada ao máximo.

— Temos muito o que conversar. – Finalmente disse, com a voz profunda. Bella levantou os olhos lentamente, sabendo que eu estava certo. Mas as palavras pareciam presas em sua garganta. Ela queria saber por que eu fui embora sem dizer adeus. Queria perguntar se pensei nela todos esses anos do mesmo jeito que ela pensou em mim. Mas será que ela estava pronta para as respostas?

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