O escândalo estava estampado em todos os jornais. Grande empresário acusado de abuso sexual contra a própria filha. Aquele era o assunto do momento. Os tabloides que gostavam de trazer notícias sempre com um ar irônico e ao mesmo tempo desrespeitoso, estampavam: “Corno rico come a filhinha”; “Não basta ser corno, tem que se aproveitar da filha”. Entre outras manchetes que retratavam aquele momento.
Noelle, quando conseguiu o documento que atestava que ela era a legítima herdeira de tudo, seguiu para a delegacia. Revoltada com as falas do pai, que estava querendo que ela morasse com ele e vivesse como se fosse sua mulher, ela e Paulo seguiram para a delegacia. Ela disse ao delegado:
– Eu quero fazer uma denúncia de abuso sexual... contra meu pai. Aqui estão as provas e tudo mais que você precisa para acabar com aquele... monstro.
Ao ver que o pai era Patrick, o delega
No dia em que assumiu a empresa, Noelle começou a fazer todas as mudanças. Ela queria mais do que simplesmente resgatar o que tinha perdido, queria transformar a realidade de todos que ali moravam. Então, era a hora de reestruturar tudo para que os empregos fossem mantidos, as contas pagas e, principalmente, a nova Barrier conseguisse chegar a um novo patamar.A sala privativa de Patrick foi o primeiro lugar que ela mexeu. Mandou que jogassem no lixo aquele sofá que ele usava para abusar de funcionárias. Colocou algumas poltronas confortáveis e remodelou todo o lugar. Mandou pintar, trocar janelas e tudo mais. Agora, era uma sala de verdade. Era um andar confortável, daria para morar ali, mas tudo o que remetia a Patrick fora eliminado.Então, ela começou a trabalhar junto com Paulo. Eles analisaram toda a empresa, cada registro de funcionários e cada setor. Fizeram planilhas, controlando os gastos e
2021Quando o sol despontou no horizonte naquele dia, ela sabia que teria mais do que simplesmente uma rotina para cumprir. Era a hora de fazer com que cada um daqueles momentos tivesse valido a pena. Ia, finalmente, ter como direito, aquilo que a ela foi destinado antes mesmo de seu nascimento. Era a hora de tomar posse de seus bens, daquilo que seu progenitor lhe deixara de herança e que, por anos, lhe foi tomado. Não, não sofreria mais. Não mais seria consumida por aquele sentimento de vingança que tantos anos precisou conservar e usar como combustível para encontrar a solução daquele enorme quebra-cabeça que sempre fora sua história.Noelle. Era esse seu nome. E tinha muito orgulho dele. Era o nome que lhe foi dado pela sua mãe quando nascera. “Em homenagem à sua bisavó, que era uma bela mulher”, ela dizia. E era o nome que conservava em sua vida,
1995A empresa de segurança Barrier era a mais famosa do Rio de Janeiro no ano de 1995. Essa empresa fora fundada pelo grande visionário Geraldo di Meni, estrangeiro vindo criança para o Brasil. Herdeiro de uma fortuna, ele resolveu investir em sistemas de segurança para empresas e residências. Era um pioneiro, um dos homens que mais influenciou este tipo de mercado.Quando ele faleceu, no início dos anos 90, seu filho recém-formado em administração, Patrick di Meni, assumiu o cargo de presidente da Barrier. Na época desse acontecimento, Patrick tinha apenas vinte e dois anos. Era alto, forte, um rapaz que sempre cuidou de seu corpo fazendo exercícios físicos. Aproveitava de seu condicionamento físico, vida saudável e de condição financeira para sempre esbanjar em festas quando podia.O jovem Patrick estava sempre com a ba
Seu nome era Maria das Dores. Nascida no interior do Rio de Janeiro, em uma cidade pequena, era a sexta criança da família. Com cinco irmãos mais velhos, ela sempre ajudou a mãe nas tarefas domésticas, cozinhando e cuidando da casa. Moravam em um pequeno quintal, onde plantavam e criavam galinhas. Não era muito, mas dava para a família se sustentar. Tinham uma vida difícil, principalmente depois que o pai de Maria das Dores morreu. Os irmãos mais velhos trabalhavam fora, sustentando a casa, enquanto elas cuidavam das tarefas domésticas.Mas não era o que ela queria para sua vida. Queria mais. Gostava sim, daquele interior. Mas era longe de tudo. Para chegar na escola, ela, criança, andava por duas horas todos os dias. Estudou até o chamado na época de segundo grau porque uma professora ajudou e insistiu que ela permanecesse. Essa mesma professora sempre dizia para a jovem que ela
Patrick não gostava de ser abordado nas ruas. Menos ainda na saída de sua empresa. Ele pedira Jarbas para dispensar todas as mulheres porque sabia que, assim, estaria livre para ir almoçar. Por isso, ao se deparar com aquela jovem o abordando assim, tão diretamente, ele se assustou.Por um instante, pensou que poderia ser um assalto. Afinal, quem iria em busca de emprego com aquelas roupas. Ainda mais em uma empresa como a Barrier. Mas, assim que seus olhos fitaram a jovem, ele percebeu um ar de inocência, algo diferente. Talvez, só talvez, aquela fosse uma jovem que realmente precisasse de um emprego e estava desesperada procurando.Assim foi que aparentou para ele. Abordado por ela, com uma voz afobada de quem estaria correndo desde de manhã. E isso, de alguma forma, chamou a atenção daquele jovem empresário.Jarbas olhou para aquela mulher. Roupas que não condiziam com a entrevista, e
– Minha tia, eu consegui! Eu realmente consegui um emprego no primeiro dia nessa cidade!Maria das Dores entrou no apartamento, feliz por sua conquista. Sabia que, assim, poderia pelo menos dar à tia uma parte do valor recebido para cobrir os gastos naquele lugar. Ainda que estivesse tão contente, percebeu que a tia estava sentada no sofá, cabisbaixa. Marta se bastou em responder:– Que bom, minha filha, eu fico muito feliz. Espero que dê tudo certo. – Sua voz era fraca e estava embargada, como se estivesse chorando momentos antes daquele encontro.Percebendo que algo estava errado, Maria das Dores se aproximou da tia, sentando ao lado dela no sofá. A TV estava ligada, passando algum programa que ambas desconheciam. Na verdade, nem lembravam que estava ligada naquele instante.– O que aconteceu, tia Marta? – A pergunta de Maria das Dores trazia um medo em seu rosto da resposta que poderia vir
Maria das Dores saiu sorridente pelo caminho que Patrick indicara para ela. Que homem bom era aquele que conhecera. Não era apenas o dono da empresa, era alguém que demonstrava interesse por aqueles que trabalhavam com ele. Pelo menos era assim que ela o via depois desses breves encontros ao acaso. E tinha algo a mais. Um brilho naquele olhar, algo diferente, que fazia dele um homem especial.“Rico e bonito, será que é isso que minha tia Marta estava falando ontem?”Deu uma risadinha sozinha pelas ruas. Jamais imaginaria que um homem como aquele olhasse para ela. Ela era a empregada, a pessoa da limpeza. E só.Aquela manhã foi bem tranquila na vida da jovem Maria das Dores. Ela chegou à empresa médica, fez seu exame, pegou o resultado e voltou para a Barrier. Era o momento de começar.– Senhor Patrick, sei que fui contratada ontem, mas me permite um coment&aacut
O primeiro mês de trabalho de Maria das Dores foi na antiga sede da Barrier. Ali, ela conheceu toda a equipe e começou a desenvolver seu trabalho, que consistia em apenas deixar todos os lugares sempre bem limpos. Andaria por todos os lados com vassouras, esfregões e tudo mais que tivesse para garantir que a empresa inteira estivesse brilhando para receber os clientes que sempre iam àquele lugar.Assim como Mariana, a chefe da limpeza não gostou de Maria das Dores. Ela dizia para as outras funcionárias que também eram daquele setor:– Como alguém pode ser assim? Trabalhando limpando chão e dizendo que está feliz. Nem sei como que ela conseguiu o emprego, mas parece que é uma pobre coitada que tem uma mentalidade bem pequena.Elas riam. Certamente que a vida não seria fácil para a jovem naquele lugar. Os piores serviços eram destinados a ela em todos os momentos