2021
Quando o sol despontou no horizonte naquele dia, ela sabia que teria mais do que simplesmente uma rotina para cumprir. Era a hora de fazer com que cada um daqueles momentos tivesse valido a pena. Ia, finalmente, ter como direito, aquilo que a ela foi destinado antes mesmo de seu nascimento. Era a hora de tomar posse de seus bens, daquilo que seu progenitor lhe deixara de herança e que, por anos, lhe foi tomado. Não, não sofreria mais. Não mais seria consumida por aquele sentimento de vingança que tantos anos precisou conservar e usar como combustível para encontrar a solução daquele enorme quebra-cabeça que sempre fora sua história.
Noelle. Era esse seu nome. E tinha muito orgulho dele. Era o nome que lhe foi dado pela sua mãe quando nascera. “Em homenagem à sua bisavó, que era uma bela mulher”, ela dizia. E era o nome que conservava em sua vida, o nome que fazia com que ela seguisse cada passo. A força daquela palavra, daquelas sílabas escolhidas para definir sua identidade, foram as que trouxeram as marcas na vida de todos que outrora invadiram seu ser, seguindo em caminhos tortuosos e que muito trouxeram sofrimento ao seu ser.
Ela abriu um sorriso. Amplo, preenchendo a perfeição de seu rosto. Aquele rosto que ainda não recebera maquiagem naquela manhã, mas que ainda assim exibia a beleza da juventude desenhada sobre uma pele alva, um rosto em formato oval, com uma pequena covinha no queixo. Os lábios, carnudos e bem delicados, traziam a beleza e a sensualidade que tanto utilizou durante sua caminhada.
Esticou-se, cerrando os olhos verdes claros por alguns instantes. Seus cabelos, outrora castanhos, agora exibiam uma coloração avermelhada que era resultado da utilização de um produto novo indicado por uma colega de trabalho, aquela mesmo que ela sempre usara em todas as suas armações. Ainda assim, gostava da pobre jovem. Tão inocente que era capaz de jurar que ela fazia de propósito.
Deu uma gargalhada. Quem diria que conseguiria chegar naquele momento. Logo ela, que tanto sofrera, que tanto precisou enfrentar pessoas e que por tantas vezes quase morreu. Agora estava ali, conseguindo alcançar a maior de todas as posições na empresa e ainda recuperando tudo que um dia lhe foi tomado.
A luz do sol brilhava forte, invadindo a janela do seu quarto. Aquele apartamento, o lugar onde vivera os últimos anos. Sabia que se as paredes pudessem contar histórias, revelariam milhares de segredos ocultos de sua alma. E talvez isso seria interessante, que alguém pudesse relatar para outras gerações todos os seus feitos.
Sentou na beira da cama. Vestida apenas com um fino baby-doll de seda branco, passou a mão sobre a perna direita. Viu a marca na perna direita. Aquela enorme cicatriz. Ainda lhe trazia lembranças. Mas, diferente de antes, não sentia mais a dor do momento. Sentia como se tivesse conseguido superar.
– Nunca mais! – exclamou alto, como se fosse um grito de guerra para intimidar alguém que não estava ali. – Agora, eu é que dou as ordens e você não pode mais me alcançar. Ainda mais depois daquele... pequeno incidente que lhe atingiu...
Gargalhou mais uma vez, como uma criança travessa que lembra de sua diabrura, aquela que faz e coloca a culpa em outra pessoa. Ah, o doce sabor da vingança. O sentimento de se fazer a justiça contra todos que um dia lhe fizeram mal. Aquilo lhe fazia bem. Sentia-se poderosa, superior, vitoriosa.
Começou a fazer uma lista mental. Quantos nomes surgiam naquele momento. Todos que quiseram apenas se aproveitar daquela fraqueza, daquela delicadeza e, principalmente, de uma inocência que lhe foi roubada, tomada à força. A doce Noelle, aquela que não era capaz de fazer nenhum mal. Se transformando na interventora, naquela que julgou, acusou e cobrou a dívida de sangue de muitos que interferiram no seu caminho.
Já de pé, despiu-se daquela peça de roupa. Lentamente caminhou pelo quarto, olhando para o pequeno espaço em que residira nos últimos meses. Somente uma cama e uma pequena TV. Na frente, a mala com as poucas peças de roupa que sempre usava durante seus dias. Não tinha muito. Apenas o necessário para seguir com o seu plano. Agora sim, após tanto tempo, após tanta espera, ia finalmente poder esbanjar. Afinal, nada se comparava à casa que assumiria naquele momento. Não iria mais se preocupar. Nunca mais.
Seguiu para o banheiro. Abriu o chuveiro, deixando cair uma água morna sobre seu corpo. Tinha aquele hábito para conseguir despertar todas as manhãs. Aquela água correndo pelo seu corpo torneado fazia com que as melhores sensações do dia despertassem em seu ser. Era uma forma só sua de relaxar. Tentava lembrar quando foi a primeira vez que isso aconteceu. E lembrava que era na infância, provavelmente daqueles dias que desejava tanto esquecer, apesar de estar vingada de todos os que lhe fizeram mal. Começou a cantar. Aquela canção de sempre:
– Brilha, brilha, estrelinha, quero ver você brilhar...
Demorou. Se deu o direito de ficar um tempo a mais debaixo da água. Nunca podia fazer isso, mas aquele dia era especial. Estava entrando a Noelle que não era ninguém e saindo a Noelle herdeira de um grande império. Ah, como a vida era sarcástica!
Se secou. Colocou um vestido preto apertado, curto, de alcinha e bem decotado. Nos pés, uma sapatilha preta. Pegou a bolsa pequena, onde estavam seus documentos, celular, algum dinheiro que mantinha em mãos e a maquiagem para fazer algum tipo de retoque pelo caminho. Estava pronta. Era o dia que aguardara a vida inteira.
Na pequena cozinha daquele espaço onde residia ligou uma cafeteira. Detestava café feito nessas máquinas, mas não queria fazer uma quantidade grande já que passaria todo o seu dia fora de casa resolvendo assuntos referentes à sua herança. Era a hora de cobrar a conta da última pessoa do seu passado. E uma xícara de café bem forte foi quase como um brinde ao dia que estava por vir.
Noelle caminhou até a mala onde estavam seus pertences. Abriu uma pequena sacolinha, pegando uma foto. Nela, estava a figura da jovem, quando ainda era criança, ao lado de uma mulher, muito parecida com ela, tendo apenas olhos castanhos e cabelos pretos de diferença. Suspirou, nostálgica, dizendo:
– Bom dia, mãe. Olha só, eu consegui, como prometi a você que faria. Agora a justiça será feita e não há nada que possa me impedir. Por tudo que ele fez com você... por tudo que ele fez comigo... agora teremos a nossa doce e deliciosa vingança e eu vou tomar conta de tudo isso.
Beijou a foto, enquanto secava uma lágrima que insistia em escorrer de seus olhos.
No mesmo instante, ouviu um apito. A cafeteira avisava que o café já estava pronto. Andou até a cozinha, pegou uma xícara e encheu, enquanto dizia para si mesma:
– Dizem que os psicopatas preferem café sem açúcar. Acho que já estou no caminho certo.
E gargalhou. Gargalhou como muito tempo não fazia. Era um grito de liberdade, uma forma de expressar aquele sentimento que estava há tantos anos preso na sua garganta. Suspirou, recobrando as forças daquele ato insano e sem sentido. Precisava estar focada para aquele dia. E nada a impediria disso.
Uma última golada naquele café. Ah, como ele estava delicioso. Talvez era o gosto da vitória que descia por sua garganta. Era isso que sentia naquele momento. E trazia uma imensa satisfação à jovem, que estava prestes a completar seus 26 anos de idade. Tão nova, com tantas histórias para contar. Uma jovem que fora marcada pela vida e que resolvera usar as marcas contra todos aqueles que entraram em seu caminho.
Naquele instante, dentro de sua bolsa, o seu smartphone tocou. A música que ela escolhera foi “Pourpouse of Pain”, de um cantor de rock que fazia parte de uma banda famosa no início dos anos 2000. Propósito da dor. Ela se perguntava se realmente havia algum propósito naquela dor toda que sentira durante toda a vida e que agora gerara todos aqueles acontecimentos.
Ainda que devaneando, ela pegou e olhou o número. Era o Paulo. Ah, o Paulo. Desde que soube toda a verdade, se tornara seu maior apoiador, aquele com quem ela poderia contar em todos os momentos, bons e ruins. Era um bom rapaz e seu maior aliado.
– Bom dia, meu querido. Como você está?
A voz de Paulo parecia bem séria do outro lado:
– Noelle, você está pronta? Estou aqui embaixo já. E, de alguma forma, não somente eu. Parece que alguns jornalistas descobriram a história da herdeira. Contei umas trinta pessoas na porta de seu prédio.
Noelle soltou uma gargalhada:
– Então é isso! Ah, meu amor. Não se preocupe. A pobre e inocente herdeira que foi abandonada vai descer em minutos. Nesse momento, você vai vir até mim, segurar meu braço e dizer que precisamos ir. Depois, grite para esses abutres que daremos uma declaração mais tarde.
A preocupação era visível na voz de Paulo:
– Tem certeza do que está fazendo, Noelle? Quer mesmo envolver a mídia nisso?
A jovem mudou o tom, falando de forma determinada:
– Meu bem, não fui eu que comecei isso. Estou apenas fazendo com que venha a público as loucuras daquele... homem. Eu tentei, de verdade, falei com ele, mas ele não me ouviu...
Alguns segundos de silêncio precederam a última fala do homem:
– Estou lhe aguardando aqui embaixo. Não demore. Não podemos nos atrasar.
A jovem desligou o celular. Pegou a bolsa e caminhou para fora do apartamento. Trancou com cuidado, chamando o elevador. Entrou, com o seguinte pensamento: “está na hora de ser a Noelle que eles acham que eu sempre fui”.
O elevador chegou ao primeiro andar. Quando abriu, Noelle se deparou com diversos jornalistas que estavam ali tentando uma palavra daquela que fora revelada com a herdeira de uma grande empresa de segurança e monitoramento de prédios e veículos. Todos queriam saber a verdade por trás dessa história e ter uma declaração dela, diretamente, seria um dos maiores furos de reportagem da época.
A jovem, com um ar inocente e quase com lágrimas nos olhos, gaguejou:
– E... eu... nem sei o que falar... eu... estou ainda... abalada com tudo isso...
No meio da multidão, um homem com quase um metro e noventa, barba por fazer, moreno, com cabelos e olhos negros, vestindo uma jaqueta de couro preta com a marca da empresa, surgiu, agarrando nos braços da jovem. Depois, gritou para os jornalistas:
– Nenhuma declaração será dada agora. Esperem o comunicado oficial. Vocês receberão as informações da empresa diretamente. Agora, saiam daqui.
Ele puxou Noelle pelo meio das pessoas, chegando a um carro preto. A jovem entrou no banco do carona, enquanto ele entrou no lado do motorista, ligou o veículo e saiu daquele lugar.
Depois de estarem pelo menos duas ruas longe dali, ela disse:
– Paulo, foi lindo o seu teatro. Obrigado. Você é demais.
Paulo, no volante, demonstrava preocupação:
– Noelle, você já tem o que quer. Será que não está indo longe demais com tudo isso?
– Não! – ela gritou, interrompendo a fala do homem. – Ele acabou com minha vida e com a vida da minha mãe! Deve pagar por tudo isso! Depois disso, sim, será o final. E aí, eu terei aquilo que me é por direito.
Noelle fez uma expressão séria. Seu rosto era amedrontador. Seu pensamento era apenas um:
“Chegou a hora, finalmente, de me vingar do meu pai.”
1995A empresa de segurança Barrier era a mais famosa do Rio de Janeiro no ano de 1995. Essa empresa fora fundada pelo grande visionário Geraldo di Meni, estrangeiro vindo criança para o Brasil. Herdeiro de uma fortuna, ele resolveu investir em sistemas de segurança para empresas e residências. Era um pioneiro, um dos homens que mais influenciou este tipo de mercado.Quando ele faleceu, no início dos anos 90, seu filho recém-formado em administração, Patrick di Meni, assumiu o cargo de presidente da Barrier. Na época desse acontecimento, Patrick tinha apenas vinte e dois anos. Era alto, forte, um rapaz que sempre cuidou de seu corpo fazendo exercícios físicos. Aproveitava de seu condicionamento físico, vida saudável e de condição financeira para sempre esbanjar em festas quando podia.O jovem Patrick estava sempre com a ba
Seu nome era Maria das Dores. Nascida no interior do Rio de Janeiro, em uma cidade pequena, era a sexta criança da família. Com cinco irmãos mais velhos, ela sempre ajudou a mãe nas tarefas domésticas, cozinhando e cuidando da casa. Moravam em um pequeno quintal, onde plantavam e criavam galinhas. Não era muito, mas dava para a família se sustentar. Tinham uma vida difícil, principalmente depois que o pai de Maria das Dores morreu. Os irmãos mais velhos trabalhavam fora, sustentando a casa, enquanto elas cuidavam das tarefas domésticas.Mas não era o que ela queria para sua vida. Queria mais. Gostava sim, daquele interior. Mas era longe de tudo. Para chegar na escola, ela, criança, andava por duas horas todos os dias. Estudou até o chamado na época de segundo grau porque uma professora ajudou e insistiu que ela permanecesse. Essa mesma professora sempre dizia para a jovem que ela
Patrick não gostava de ser abordado nas ruas. Menos ainda na saída de sua empresa. Ele pedira Jarbas para dispensar todas as mulheres porque sabia que, assim, estaria livre para ir almoçar. Por isso, ao se deparar com aquela jovem o abordando assim, tão diretamente, ele se assustou.Por um instante, pensou que poderia ser um assalto. Afinal, quem iria em busca de emprego com aquelas roupas. Ainda mais em uma empresa como a Barrier. Mas, assim que seus olhos fitaram a jovem, ele percebeu um ar de inocência, algo diferente. Talvez, só talvez, aquela fosse uma jovem que realmente precisasse de um emprego e estava desesperada procurando.Assim foi que aparentou para ele. Abordado por ela, com uma voz afobada de quem estaria correndo desde de manhã. E isso, de alguma forma, chamou a atenção daquele jovem empresário.Jarbas olhou para aquela mulher. Roupas que não condiziam com a entrevista, e
– Minha tia, eu consegui! Eu realmente consegui um emprego no primeiro dia nessa cidade!Maria das Dores entrou no apartamento, feliz por sua conquista. Sabia que, assim, poderia pelo menos dar à tia uma parte do valor recebido para cobrir os gastos naquele lugar. Ainda que estivesse tão contente, percebeu que a tia estava sentada no sofá, cabisbaixa. Marta se bastou em responder:– Que bom, minha filha, eu fico muito feliz. Espero que dê tudo certo. – Sua voz era fraca e estava embargada, como se estivesse chorando momentos antes daquele encontro.Percebendo que algo estava errado, Maria das Dores se aproximou da tia, sentando ao lado dela no sofá. A TV estava ligada, passando algum programa que ambas desconheciam. Na verdade, nem lembravam que estava ligada naquele instante.– O que aconteceu, tia Marta? – A pergunta de Maria das Dores trazia um medo em seu rosto da resposta que poderia vir
Maria das Dores saiu sorridente pelo caminho que Patrick indicara para ela. Que homem bom era aquele que conhecera. Não era apenas o dono da empresa, era alguém que demonstrava interesse por aqueles que trabalhavam com ele. Pelo menos era assim que ela o via depois desses breves encontros ao acaso. E tinha algo a mais. Um brilho naquele olhar, algo diferente, que fazia dele um homem especial.“Rico e bonito, será que é isso que minha tia Marta estava falando ontem?”Deu uma risadinha sozinha pelas ruas. Jamais imaginaria que um homem como aquele olhasse para ela. Ela era a empregada, a pessoa da limpeza. E só.Aquela manhã foi bem tranquila na vida da jovem Maria das Dores. Ela chegou à empresa médica, fez seu exame, pegou o resultado e voltou para a Barrier. Era o momento de começar.– Senhor Patrick, sei que fui contratada ontem, mas me permite um coment&aacut
O primeiro mês de trabalho de Maria das Dores foi na antiga sede da Barrier. Ali, ela conheceu toda a equipe e começou a desenvolver seu trabalho, que consistia em apenas deixar todos os lugares sempre bem limpos. Andaria por todos os lados com vassouras, esfregões e tudo mais que tivesse para garantir que a empresa inteira estivesse brilhando para receber os clientes que sempre iam àquele lugar.Assim como Mariana, a chefe da limpeza não gostou de Maria das Dores. Ela dizia para as outras funcionárias que também eram daquele setor:– Como alguém pode ser assim? Trabalhando limpando chão e dizendo que está feliz. Nem sei como que ela conseguiu o emprego, mas parece que é uma pobre coitada que tem uma mentalidade bem pequena.Elas riam. Certamente que a vida não seria fácil para a jovem naquele lugar. Os piores serviços eram destinados a ela em todos os momentos
Mariana estava feliz. Havia almoçado em um bom restaurante próximo. Tinha resolvido todas as pendências que o patrão lhe ordenara e, então, esperava apenas os elogios por parte dele para continuar seu dia perfeito. O que poderia dar errado? Logo com ela, uma secretária extremamente eficiente e que estava disposta a tudo para fazer a empresa crescer e ela própria se desenvolver na empresa.Então, sorridente, passou pela porta do escritório, seguindo para a sala pessoal de Patrick, onde ela considerava o seu refúgio, o lugar onde ela trabalhava sem a interferência de outras pessoas e sem ter contato com os empregados mais baixos.Ela escutou uma movimentação na sala. Não imaginava que Patrick estivesse ali. Foi devagar e, ao abrir a porta, se surpreendeu ao encontrar Maria dentro da sala com Patrick, ambos almoçando. Sem que tivesse tempo, Patrick disse diretamente:
Depois dos dois dias fora, Maria das Dores retornou ao trabalho e se surpreendeu ao ser promovida a chefe da equipe de limpeza. Trabalharia mais, teria maiores responsabilidades, mas, acima disso, teria não só um bônus maior em seu salário como também uma certa flexibilidade caso precisasse de horários livres.Ainda que houvesse uma certa resistência quanto àquela promoção, a verdade era que a jovem se destacava na empresa e isso poderia ser bom para ela. Procurava fazer sempre seu melhor no emprego, mantendo sempre a equipe nova unida e bem organizada em todos os setores.Então, numa bela manhã, ela foi chamada para uma reunião. Nela, estavam Patrick, a secretária Mariana e Jarbas além de Maria das Dores. O dono da empresa logo disse:– Maria, a partir da semana que vem precisaremos da sua equipe em pleno funcionamento. A nova sede está praticamen