– Boa noite, seu Patrick. Foi uma festa agradável? – O sorriso estampado no rosto de Noelle era demoníaco. Ela tinha uma expressão de vitória, como se esperasse ver o homem naquele deplorável estado em que ele se encontrava naquele momento.
Patrick olhou assustado para ela naquela posição. Não compreendia nada ainda. Nem imaginava o que estava acontecendo naquele momento.
– Noelle? – ele disse, de maneira bem surpresa. – O que você está fazendo aqui? Como conseguiu entrar em minha sala?
Noelle deu uma gargalhada. Pegou o molho de chaves que roubara dele no dia em que estivera ali:
– Você é um tolo, Patrick. E agora, está na hora de descobrir algumas verdades.
– Você... roubou minhas chaves!? Sua vagabunda, saia daqui antes que eu chame os seguranças e mande lhe prender. Ande logo, minha noite já foi
A expressão de Patrick era de quem estava perto do desespero. Não bastasse tudo que tinha passado naquela noite, Noelle ainda armara tudo para dizer que era sua filha. A filha dele... como seria possível isso acontecer? Não, não aceitava que isso pudesse estar acontecendo justamente com ele. Lembrara de todos os momentos em que estivera com ela, obrigando-a a ter relações sexuais com ele. Foram momentos de extremo prazer. E por que ela não disse que era filha... dele. Sentia-se enjoado. Sentia-se zonzo. Não conseguia nem concentrar os seus pensamentos naquele momento. Apenas gritou:– Impossível! Não é possível que isso seja verdade!Noelle deu uma gargalhada. Ela sabia que ele iria negar, achar que era armação dela e que faria de tudo para que aquele fato não passasse de uma mentira. Ela prosseguiu com a sua explanação:– Vam
A notícia da festa da Barrier se espalhou rapidamente. Pessoas diziam que aquele era o escândalo do século. A ex-mulher dele era exibida nas capas dos jornais e estava em todos os noticiários. A mídia não poupava aqueles que foram responsáveis pelo escândalo do ano. Falavam somente sobre isso. Tabloides de terceira categoria estampavam notícias chamativas, com o objetivo de fazer com que as pessoas se divertissem com aquele caso que repercutia tanto: “Corno de Ouro – milionário traído e esposa exposta”; “De madame a estrela pornô”; “A mulher do patrão – novo filme em breve”; “Panela velha é que faz comida boa... principalmente a do patrão”.Antes de amanhecer, a porta da Barrier estava cercada de jornalista de todas as emissoras. Cada repórter queria ter pelo menos uma declaração do todo poderoso
2021Noelle acordou cedo. Junto com Paulo, foram para a Barrier. Aquele era o dia que ela tanto esperava, quando pegariam uma cópia do testamento, que dizia que Noelle seria a dona de tudo caso algo acontecesse com ele. E era isso que ela esperava para que a última parte de seu plano acontecesse naquele momento.Desceram o prédio, como sempre faziam, e se depararam com seu Zé. O homem estava tanto tempo naquele lugar que era quase um patrimônio. Era sempre bom ver aquele senhor simpático ali:– Bom dia, seu Zé! Excelente dia hoje!– Bom dia, senhorita Noelle e Paulo. Mais uma vez esse sorriso. Parece que coisas boas estão acontecendo com vocês atualmente! Fico feliz por isso! Torço muito pela felicidade dos dois!Noelle e Paulo sorriram para aquele homem. Também gostavam de ver a alegria como ele recebia as pessoas ali no prédio, sempre co
O escândalo estava estampado em todos os jornais. Grande empresário acusado de abuso sexual contra a própria filha. Aquele era o assunto do momento. Os tabloides que gostavam de trazer notícias sempre com um ar irônico e ao mesmo tempo desrespeitoso, estampavam: “Corno rico come a filhinha”; “Não basta ser corno, tem que se aproveitar da filha”. Entre outras manchetes que retratavam aquele momento.Noelle, quando conseguiu o documento que atestava que ela era a legítima herdeira de tudo, seguiu para a delegacia. Revoltada com as falas do pai, que estava querendo que ela morasse com ele e vivesse como se fosse sua mulher, ela e Paulo seguiram para a delegacia. Ela disse ao delegado:– Eu quero fazer uma denúncia de abuso sexual... contra meu pai. Aqui estão as provas e tudo mais que você precisa para acabar com aquele... monstro.Ao ver que o pai era Patrick, o delega
No dia em que assumiu a empresa, Noelle começou a fazer todas as mudanças. Ela queria mais do que simplesmente resgatar o que tinha perdido, queria transformar a realidade de todos que ali moravam. Então, era a hora de reestruturar tudo para que os empregos fossem mantidos, as contas pagas e, principalmente, a nova Barrier conseguisse chegar a um novo patamar.A sala privativa de Patrick foi o primeiro lugar que ela mexeu. Mandou que jogassem no lixo aquele sofá que ele usava para abusar de funcionárias. Colocou algumas poltronas confortáveis e remodelou todo o lugar. Mandou pintar, trocar janelas e tudo mais. Agora, era uma sala de verdade. Era um andar confortável, daria para morar ali, mas tudo o que remetia a Patrick fora eliminado.Então, ela começou a trabalhar junto com Paulo. Eles analisaram toda a empresa, cada registro de funcionários e cada setor. Fizeram planilhas, controlando os gastos e
2021Quando o sol despontou no horizonte naquele dia, ela sabia que teria mais do que simplesmente uma rotina para cumprir. Era a hora de fazer com que cada um daqueles momentos tivesse valido a pena. Ia, finalmente, ter como direito, aquilo que a ela foi destinado antes mesmo de seu nascimento. Era a hora de tomar posse de seus bens, daquilo que seu progenitor lhe deixara de herança e que, por anos, lhe foi tomado. Não, não sofreria mais. Não mais seria consumida por aquele sentimento de vingança que tantos anos precisou conservar e usar como combustível para encontrar a solução daquele enorme quebra-cabeça que sempre fora sua história.Noelle. Era esse seu nome. E tinha muito orgulho dele. Era o nome que lhe foi dado pela sua mãe quando nascera. “Em homenagem à sua bisavó, que era uma bela mulher”, ela dizia. E era o nome que conservava em sua vida,
1995A empresa de segurança Barrier era a mais famosa do Rio de Janeiro no ano de 1995. Essa empresa fora fundada pelo grande visionário Geraldo di Meni, estrangeiro vindo criança para o Brasil. Herdeiro de uma fortuna, ele resolveu investir em sistemas de segurança para empresas e residências. Era um pioneiro, um dos homens que mais influenciou este tipo de mercado.Quando ele faleceu, no início dos anos 90, seu filho recém-formado em administração, Patrick di Meni, assumiu o cargo de presidente da Barrier. Na época desse acontecimento, Patrick tinha apenas vinte e dois anos. Era alto, forte, um rapaz que sempre cuidou de seu corpo fazendo exercícios físicos. Aproveitava de seu condicionamento físico, vida saudável e de condição financeira para sempre esbanjar em festas quando podia.O jovem Patrick estava sempre com a ba
Seu nome era Maria das Dores. Nascida no interior do Rio de Janeiro, em uma cidade pequena, era a sexta criança da família. Com cinco irmãos mais velhos, ela sempre ajudou a mãe nas tarefas domésticas, cozinhando e cuidando da casa. Moravam em um pequeno quintal, onde plantavam e criavam galinhas. Não era muito, mas dava para a família se sustentar. Tinham uma vida difícil, principalmente depois que o pai de Maria das Dores morreu. Os irmãos mais velhos trabalhavam fora, sustentando a casa, enquanto elas cuidavam das tarefas domésticas.Mas não era o que ela queria para sua vida. Queria mais. Gostava sim, daquele interior. Mas era longe de tudo. Para chegar na escola, ela, criança, andava por duas horas todos os dias. Estudou até o chamado na época de segundo grau porque uma professora ajudou e insistiu que ela permanecesse. Essa mesma professora sempre dizia para a jovem que ela