Ouvi o som de portas se abrindo. Eram as portas do elevador. Eu ainda estava paralizado, mas consegui perceber uma movimentação ao nosso redor.
– O que aconteceu aqui? – uma voz masculina falou – Por que ele falou da Susi? Achei que já tinham consertado esse bug.
– Eu não sei dizer o que aconteceu. – outra voz masculina – Eu tinha certeza que tinha apagado todas as memórias dessa campanha.
– Mas parece que ainda ficaram registros salvos neste aqui. – senti a pessoa se aproximando de mim – Quem ficou de monitorar o andamento dessa nova versão?
– Vou chamá-la imediatamente. – senti a outra voz se afastando.
–
Eu já estava o observando fazia alguns minutos. Em total silêncio. Tentava a todo custo ignorar qualquer outra coisa que não fosse ele. Eu precisava ser certeira. Mesmo já tendo feito isso vezes o suficiente para me considerar uma especialista, ainda assim sempre é um grande desafio fazer esse tipo de coisa. Sempre! Ainda mais com um daquele tamanho. Seria um desafio e tanto, mas eu estava pronta para ele. E o momento não poderia ser mais perfeito. Ele parecia estar dormindo, bem tranquilo, debaixo da sombra de uma árvore. Nem sequer sonhava com o que estava prestes a acontecer. Provavelmente ele iria lutar muito quando eu pulasse em cima dele. Eu teria que ser forte para não ser derrubada logo de cara. Mas uma vez que eu estivesse lá, seria questão de tempo para que eu conseguisse dominá-lo por completo. Eu só precisava esperar a hora exata. O sol não estava tão forte, mas não soprava vento algum. Qualqu
ormi quase como uma pedra. Se não fosse os pesadelos. Mas isso já é comum. Desde que tudo aconteceu eu nunca mais tive uma noite realmente tranquila. Mas, como eu disse, isso já era comum. O que não era comum era eu dormir até tão mais tarde. E, principalmente, acordar com um barulho tão estrondoso quanto o que tinha acabado de ouvir. Era um barulho estranho vindo da parte oeste da ilha. Não era barulho de nenhum animal ou qualquer outro ruído típico da natureza. Parecia barulho de explosão. Uma grande explosão. Sai rapidamente de casa para conferir o que tinha acontecido. Pela posição do sol, já deveria ser quase meio-dia. Eu realmente não costumo dormir tanto assim. E justo quando eu durmo, algo estranho acontece. Parecia até um aviso de que as coisas estavam prestes a mudar. Fui em direção ao local de onde o barulho parecia ter vindo. Fiquei atenta ao meu
Acordamos assim que o sol deu seus primeiros sinais de vida, iluminando toda a montanha. Subir até o local do acidente já seria uma missão demorada por si só. Procurar pelos destroços coisas que ainda sirvam e descer com elas iria levar o dia todo. Então não podíamos perder nenhum segundo.Vesti novamente as calças do meu pai e fui ver se já estavam todos de pé. Lila já havia acordado e estava com toda a animação habitual dela – o oposto de mim que sempre acordo mal-humorada. Já o Richard... Não esperava outra coisa dele mesmo.– Levanta logo, Bela Adormecida! – chutei de leve a barriga de Rich. Ele não acordou – Seu preguiçoso! – berrei em seu ouvido – Está pensando que isso aqui é col&o
Passamos o restante do dia sem nos falarmos. Na verdade ninguém abriu a boca para falar absolutamente nada com ninguém. Mas, tirando o fato da minha irmã estar zangada comigo, não ouvir a voz do Richard não me fez nenhuma falta. Na realidade foi algo até conveniente. Não queria falar com ele mesmo. Estava fazendo até bem para a minha saúde, inclusive. Todas as vezes que o Richard chegava perto eu meio que tinha um ataque do coração de tanta raiva. Como pode uma pessoa causar uma emoção tão forte assim? Seria ele um tipo de demônio? Sei lá, tanto tempo nessa ilha. Vai que eu e a Lila havíamos morrido e estávamos no inferno. Mas os sentimentos que corriam em meu corpo eram vivos demais para serem apenas truques de um demônio. E eu não sabia o que era pior. Na manhã seguinte fiquei surpresa de ver que Richard já estava acordado. Ele estava juntando um amontoado de galhos e folhas e fazendo a maior bagunça. T
Minha perna ainda doía, mas já estava bem melhor. Assim que consegui ficar de pé não quis esperar nenhum segundo para seguir em frente. Não sabia exatamente para onde estávamos indo, só sabia que precisávamos continuar. Lila precisava que continuássemos. – E então, capitã? – Richard tentou soar carinhoso. Mas não sei se gostei. – Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui? O meu coração se aqueceu e se espantou neste momento. Era um trecho de Alice no País das Maravilhas que Richard estava citando ou apenas uma coincidência? – Isso depende bastante de onde você quer chegar. – continuei o diálogo do livro. – O lugar não importa muito.
– Quem ou o que é Tadita? – perguntei. – Tajita – Savite me corrigiu. Novamente – Ela é a líder da tribo Rambek. – A onça é a líder de uma tribo? – não sei se tinha entendido. – Não! – Savite fez um sinal de desdém com a mão – Não tem nada disso. As patas são de Giba, a jaguar gigante que Tajita usa para montar. – Então não tem onça? – perguntei. – Susi? – Richard se espantou – Por essa eu não esperava. – O que foi que eu fiz? – perguntei. – Jaguar e onça são a mesma coisa! – Richard respondeu com uma cara péssima. – Agora eu que não entendo! – Savite coçou a cabeça.
Eu achei que estava tudo perdido quando a passagem se fechou. Lila iria ficar presa naquele universo paralelo estranho e eu ficaria aqui, presa, com o Richard para sempre. Nada parecia muito justo naquele momento. Mas parece que eu não tinha muitas escolhas além de aceitar. – Eu ainda não sei se foi uma boa ideia ter voltado para cá. – Richard falou andando de um lado para o outro – Se acontecer alguma coisa com a Lila? – Pensa que eu não estou preocupada com isso? – respondi seca – Mas o que poderia ter sido feito? Você viu a guerra que foi instaurada naquele lugar. O que nós poderíamos fazer? – Não sei, mas não acho certo. Voltar para cá parece voltar à estaca zero. – Eu também tenho essa sensação, mas não nos foi dado muitas escolhas, não é?
Não sei se era a minha ansiedade, mas o caminho para a passagem que nos levou para o outro lado da ilha na primeira vez parecia mais distante do que nunca. Meu corpo doía e eu estava física e mentalmente exausta. Mas sabia que não poderia parar. Já tinha passado por situações de grande pressão desde que cheguei a essa ilha. E por mais que tudo o que estava acontecendo fosse extremamente maior do que qualquer outra coisa que eu já tivesse vivido, eu não iria deixar isso me abalar. Pelo menos não mais do que eu já estava. Eu precisava focar na minha missão: encontrar Lila. Chegamos ao local da passagem. Como da primeira vez, a passagem estava escondida. Não demorei em retirar as pedras e plantas que cobriam a passagem. Mas algo não estava certo naquilo. Na verdade, não fazia o menor sentido – não que isso fosse alguma novidade. Parece que o lógico agora era nada ter lógica nenhuma.