Eu achei que estava tudo perdido quando a passagem se fechou. Lila iria ficar presa naquele universo paralelo estranho e eu ficaria aqui, presa, com o Richard para sempre. Nada parecia muito justo naquele momento. Mas parece que eu não tinha muitas escolhas além de aceitar.
– Eu ainda não sei se foi uma boa ideia ter voltado para cá. – Richard falou andando de um lado para o outro – Se acontecer alguma coisa com a Lila?
– Pensa que eu não estou preocupada com isso? – respondi seca – Mas o que poderia ter sido feito? Você viu a guerra que foi instaurada naquele lugar. O que nós poderíamos fazer?
– Não sei, mas não acho certo. Voltar para cá parece voltar à estaca zero.
– Eu também tenho essa sensação, mas não nos foi dado muitas escolhas, não é?
Não sei se era a minha ansiedade, mas o caminho para a passagem que nos levou para o outro lado da ilha na primeira vez parecia mais distante do que nunca. Meu corpo doía e eu estava física e mentalmente exausta. Mas sabia que não poderia parar. Já tinha passado por situações de grande pressão desde que cheguei a essa ilha. E por mais que tudo o que estava acontecendo fosse extremamente maior do que qualquer outra coisa que eu já tivesse vivido, eu não iria deixar isso me abalar. Pelo menos não mais do que eu já estava. Eu precisava focar na minha missão: encontrar Lila. Chegamos ao local da passagem. Como da primeira vez, a passagem estava escondida. Não demorei em retirar as pedras e plantas que cobriam a passagem. Mas algo não estava certo naquilo. Na verdade, não fazia o menor sentido – não que isso fosse alguma novidade. Parece que o lógico agora era nada ter lógica nenhuma.
Continuamos seguindo em silêncio. O som do rugido não voltou a aparecer, mas preferi continuar sem fazer barulho. O isqueiro eu acabei guardando e resolvi acender novamente a tocha. Nosso caminho não parecia ter mudado muito e pelo pouco que consegui enxergar, ainda tínhamos muito chão pela frente até chegar em onde quer que aquele caminho desse. Estranhamente percebi que o sol começava a nascer outra vez. Tudo bem que eu estava meio perdida em relação ao tempo e espaço, mas isso já era ridículo. Não deveria ter nem três horas desde que o sol se pôs, como ele já poderia estar nascendo? – Nós estamos andando faz quanto tempo? – Richard pelo visto também estava estranhando. – Não o suficiente para a noite já ter acabado. – respondi séria. – Tem certeza? – Richard parec
Não demorou muito para que o cenário mudasse mais uma vez. Estávamos agora dentro de uma selva de verdade. As árvores e flores em perfeita harmonia foram trocadas por um emaranhado caótico de plantas selvagens, cipó e bichos correndo no topo das árvores gigantes. E novamente era como se tudo sempre estivesse lá. E o mais incrível é que eu nem percebi o momento em que tudo mudou. Eu simplesmente estava andando e, quando olhei ao redor, já não era mais o cenário que eu estava andando antes. Olhei para Richard e ele devolveu o olhar como quem dizia “desisti de entender faz tempo”.O som da música continuava rondando todo o ambiente e estava ficando cada vez mais alto. Por alguns instantes eu cheguei a pensar que já estávamos dentro da tribo, no meio do povo, tamanho era a sensaç&a
Fui levada até um quarto que ficava no andar abaixo do grande salão em que o Rayem se encontrava. Assim como tudo dentro daquela pirâmide, o quarto era um exagero em todos os aspectos. Todo revestido de ouro, o quarto deveria ter o tamanho de uma casa. Ele tinha uma cama que caberia tranquilamente quatro pessoas e ainda sobraria espaço, além de um tipo de guarda-roupa sem porta que só tinha dois modelos: a toga e o collat. Na parede tinha uma imensa tapeçaria que retratava uma guerra - provavelmente a guerra contra os Karvals - e espalhados por vários cantos, pequenas réplicas da estátua que estava exposta na entrada da pirâmide.Os dois Rambeks me deixaram no quarto e saíram. Eu fiquei por algum tempo paralisada, apenas observando, até que como em um passe de mágica eu voltei a me sentir no controle do meu corp
– O caminho segue para depois desse… Disso aí. – falei assim que vi aquele boneco vodu estranho – Você ainda quer seguir o caminho de pedras?– Richard, agora não. – Susi respondeu quase gritando. Pra variar.– Então vamos voltar?– Não!– Vai seguir adiante mesmo depois disso?– Não!– O que vai fazer então?– Richard, para! – Susi estava ficando descontrolada – Será que você não vê que eu estou sem ação.– Ent&at
Contei para Amanda tudo o que tinha acontecido até então. Contei como conheci Susi e Lila, como ficamos assustados com as pegadas da onça gigante, contei sobre a passagem para o outro lado da ilha, o sumiço de Lila, o rio vermelho, Savite e os Karvals, a invasão dos Rambeks, a volta para o nosso lado da ilha, sobre a caverna misteriosa, a casa em chamas, a nova passagem, o caminho, os dois estranhos na estrada e o momento em que eu e Susi seguimos por caminhos diferentes. Amanda ficou me olhando sem esboçar reação alguma.– Você sabe que absolutamente tudo isso que você está me contando é bastante absurdo, não sabe? – ela quebrou o silêncio.– Mas é a mais pura verdade. – respondi na esperança de que ela não estivesse compl
– A Bela Adormecida já acordou? – Amanda estava usando aquele tom sarcástico que só ela sabia fazer – Não quer dormir mais outras dez horas?Olhei ao meu redor e vi o relógio marcando 10h04. Eu estava deitado em uma cama extremamente confortável, com lençóis brancos e travesseiro de plumas. Meu celular tocou avisando que tinha chegado uma mensagem. Acendi o abajur, mas Amanda abriu a cortina do quarto. Eu estava de volta ao meu apartamento.– Hoje a Cida não vai poder vir. – Amanda começou a falar – Ela teve que acompanhar o marido em uma cirurgia. Acho que ela vai adiantar as férias dela. Fui obrigada a fazer o café da manhã. No seu caso já é quase o almoço, não é? Eu não estava conseguindo me lembrar direito das coisas. Eu estava com uma sensação de que algo muito sério tinha acontecido comigo, mas não me lembrava exatamente o que. Tentei refazer os meus passos mentalmente e a última coisa que me lembrava era de ter encontrado a Amanda na ilha. Mas era só uma sensação estranha. Minha cabeça estava doendo muito. E a sensação de já ter vivido exatamente a mesma coisa estava invadindo o meu peito. Dejá vù que eles chamam, não é? Eu não estava entendendo absolutamente nada. Mas resolvi seguir para perto de Amanda.– Amanda, Amanda! – gritei antes de me aproximar.Antes que pudesse dar mais um passo, uma lança veio em minha direção. Saltei instintivamente para tráCapítulo 15: Intervalo?