(Ponto de Vista de Bill)Enquanto eu me sentava no corredor silencioso e esterilizado do hospital, observava, através do vidro, as enfermeiras se movimentando ao redor de Ana, preparando-a com cuidado para a sessão de quimioterapia.Meu estômago se apertou ao vê-la deitada na cama, com tubos e monitores conectados ao seu pequeno corpo. Nenhuma criança deveria passar por isso.Vi Sofia sentada sozinha, com os olhos fixos em Ana, e pensei que talvez aquele fosse o momento certo para conversar com ela. Aproximei-me em silêncio, sentando-me ao seu lado com discrição.— Como ela está se saindo hoje? — Perguntei, acenando com a cabeça na direção de Ana.— Ela está aguentando firme. — Respondeu Sofia, forçando um sorriso cansado. — Está sendo difícil, mas a Ana é uma guerreira. Obrigada por tudo, Bill. Você não faz ideia do quanto isso significa para nós.— Com certeza, estou disposto a fazer o que for preciso para ajudar a Ana. — Comentei, acomodando-me melhor ao lado de Sofia. Permaneci em
(Ponto de Vista de Bill)A expressão de Sofia mudou, com a preocupação substituindo o alívio visível em seu rosto momentos antes.— Não sei dizer, Sr. Richardson. Já mencionei que ele é extremamente teimoso - só ouve o que quer, aquilo que acredita estar certo.Assenti, compreendendo sua hesitação.— Eu entendo, Sofia. No entanto, talvez, desta vez, você consiga tocá-lo de verdade. Faça-o lembrar do que está em jogo - pela Ana, e pelo futuro de vocês. Se ele aceitar, isso pode ser o começo da justiça… E, quem sabe, a chance de uma saída para todos vocês.Sofia assentiu lentamente, com seu semblante ainda incerto.— Vou ver o que posso fazer. — Disse ela, com a voz baixa.Apertei sua mão pela última vez antes de soltá-la.— Obrigado, Sofia. Isso significa muito para mim.Ela me deu um pequeno, mas determinado, aceno de cabeça.— Vou falar com ele na próxima visita. — Informou, olhando para Ana do outro lado da vidraça.Caímos em silêncio, deixando o peso da conversa pairar entre nós enq
(Ponto de Vista de Serena)Era mais uma audiência para Doris, e eu estava sentada ao lado de Bill, observando o tribunal se encher de murmúrios e sussurros enquanto as pessoas se acomodavam em seus lugares.As testemunhas subiam ao banco, uma a uma, elogiando Doris. Descreviam-na como uma pessoa generosa e bondosa, uma amiga dedicada e uma empresária respeitada, como se estivessem falando de outra pessoa completamente diferente.— A Srta. Tipton sempre foi generosa com seu tempo e seu dinheiro. — Disse uma das testemunhas. — Ela fez doações para várias instituições de caridade e tem sido mentora para muitos jovens profissionais.Outra testemunha, uma ex-colega, acrescentou:— Doris tem um coração de ouro. Ela está sempre disposta a ajudar a organizar alguns dos nossos projetos de apoio à comunidade.Ouvir aquelas palavras me causava um mal-estar difícil de disfarçar. A Doris que eu conhecia era manipuladora e perigosa, e vê-la ser descrita como uma santa me deixava profundamente irrita
(Ponto de Vista de Bill)A voz de Hansen cortou a tensão no ar.— Srta. Tipton, é verdade que a senhorita ameaçou a Srta. Nixon, dizendo que iria machucá-la e ao bebê dela?Um suspiro dramático escapou de Doris, enquanto seus olhos se arregalavam em um choque fingido.— Absolutamente não. — Respondeu ela, com a voz trêmula. — Eu jamais ameaçaria alguém, especialmente uma mulher grávida. Essa é uma acusação horrível.Eu cerrei os dentes, sentindo a frustração se acumular dentro de mim.— Então, como a senhorita explica as acusações da Srta. Nixon? — Perguntou Hansen, com um tom suave.Doris respirou com dificuldade, com seus olhos percorrendo rapidamente o tribunal.— Eu só estava tentando me defender. — Disse ela, suavemente. — Serena veio na minha direção, e entrei em pânico. Deve ter sido algo que eu disse, algo que ela interpretou como uma ameaça. Mas eu nunca quis machucá-la - muito menos ao bebê.Cada palavra que saía da boca dela era uma mentira, mas ela estava vendendo isso… Tão
(Ponto de Vista de Serena)Quando o áudio começou a ser reproduzido, senti um nó apertar no estômago, enquanto meus olhos permaneciam fixos em Doris, que continuava sentada com uma calma artificial, com seus olhos se movendo de tempos em tempos na direção do júri.A gravação era de qualidade ruim, mas a voz de Doris soava nítida e fria. Preparei-me, ouvindo atentamente cada palavra.A voz dela estalou nos alto-falantes.— Ah! Receba o que você merece, sua vadia!O som dos seus passos pisando contra o terraço ecoou de forma ameaçadora, aumentando em intensidade e velocidade, como uma tempestade prestes a estourar. Em seguida, ecoou o som inconfundível de uma luta - objetos sendo derrubados, o arrastar apressado de sapatos contra o chão áspero do terraço, e o ritmo irregular de uma respiração ofegante cortando o silêncio.Então minha voz, cheia de pânico, surgiu pelos alto-falantes.— Você não pode mais me intimidar, Doris. Esses tempos acabaram.Um estrondo forte ecoou, seguido por resp
Ponto de Vista de BillO restante da audiência se torna um borrão enquanto minha raiva pelas mentiras de Doris cresce. As perguntas de Hansen continuam distorcendo a história, fazendo parecer que Serena e eu armamos para Doris.Quando o juiz finalmente anuncia o adiamento da sessão, estou fervendo por dentro. Minha mente corre a mil com tudo o que aconteceu. O tribunal vai se esvaziando lentamente, mas mal percebo.Cruzo o olhar com Serena enquanto recolhemos nossas coisas. Ela parece tão exausta e frustrada quanto eu.— Como você está se sentindo? — Pergunto em um tom baixo.Serena suspira e massageia as têmporas.— Estou cansada, Bill. Tudo isso é… avassalador.— Eu sei. Também me sinto assim. — Digo, pousando uma mão em seu ombro. — Mas logo isso vai acabar.— Espero que sim. — Ela responde.De repente, sua expressão muda. Ela faz uma careta e leva a mão à barriga.— Bill… tem algo errado. — Diz, a voz tremendo.O pânico toma conta de mim.— Serena, você está bem? O que está acontec
Ponto de vista de SerenaO estúdio de yoga é acolhedor e convidativo, com uma iluminação suave e uma música calma tocando ao fundo.Respiro fundo, tentando liberar a tensão que foi se acumulando nos últimos dias. Bill está ao meu lado, parecendo tão determinado quanto eu a aproveitar essa experiência ao máximo.A instrutora, uma mulher serena chamada Maya, nos recebe com um sorriso gentil.— Bem-vindos, pessoal. Hoje vamos focar no relaxamento e na conexão com o seu parceiro. Vamos começar com alguns alongamentos suaves para aquecer.Seguimos suas orientações, movendo-nos por uma série de alongamentos lentos e deliberados. Sinto a tensão em meus músculos começando a se dissipar. A voz de Maya é tranquilizadora, guiando-nos por cada movimento.— Agora, passem para uma posição sentada, de frente para o seu parceiro. — Instrui Maya. — Coloquem as mãos nos joelhos um do outro e olhem nos olhos um do outro. Respirem fundo algumas vezes juntos, sincronizando a respiração.Sento-me de pernas
Ponto de Vista de BillDepois da aula de ioga, Serena e eu decidimos parar para tomar sorvete. Caminhamos de mãos dadas pela rua, aproveitando o ar fresco da noite.Parece um encontro normal, algo que não temos há muito tempo.Encontramos uma pequena sorveteria com uma área externa aconchegante. O local está quase vazio e tem um clima acolhedor. As paredes são pintadas com cores vibrantes, e o cheiro de casquinhas frescas de waffle enche o ar.— Qual sabor você vai pegar? — Serena pergunta enquanto nos aproximamos do balcão.— Estou pensando em massa de cookie com gotas de chocolate. — Respondo, dando uma olhada no menu. — E você?— Chocolate com menta. — Ela diz com um sorriso. — É o meu...— O seu favorito. — Sorrio, completando sua frase. — Eu sei.Fazemos nossos pedidos e nos sentamos do lado de fora, aproveitando a brisa suave. O rosto de Serena se ilumina quando ela dá a primeira colherada no sorvete, e eu não consigo evitar sorrir.— Isso é tão bom. — Ela diz, olhando ao redor.