(Ponto de Vista de Serena)Era mais uma audiência para Doris, e eu estava sentada ao lado de Bill, observando o tribunal se encher de murmúrios e sussurros enquanto as pessoas se acomodavam em seus lugares.As testemunhas subiam ao banco, uma a uma, elogiando Doris. Descreviam-na como uma pessoa generosa e bondosa, uma amiga dedicada e uma empresária respeitada, como se estivessem falando de outra pessoa completamente diferente.— A Srta. Tipton sempre foi generosa com seu tempo e seu dinheiro. — Disse uma das testemunhas. — Ela fez doações para várias instituições de caridade e tem sido mentora para muitos jovens profissionais.Outra testemunha, uma ex-colega, acrescentou:— Doris tem um coração de ouro. Ela está sempre disposta a ajudar a organizar alguns dos nossos projetos de apoio à comunidade.Ouvir aquelas palavras me causava um mal-estar difícil de disfarçar. A Doris que eu conhecia era manipuladora e perigosa, e vê-la ser descrita como uma santa me deixava profundamente irrita
(Ponto de Vista de Bill)A voz de Hansen cortou a tensão no ar.— Srta. Tipton, é verdade que a senhorita ameaçou a Srta. Nixon, dizendo que iria machucá-la e ao bebê dela?Um suspiro dramático escapou de Doris, enquanto seus olhos se arregalavam em um choque fingido.— Absolutamente não. — Respondeu ela, com a voz trêmula. — Eu jamais ameaçaria alguém, especialmente uma mulher grávida. Essa é uma acusação horrível.Eu cerrei os dentes, sentindo a frustração se acumular dentro de mim.— Então, como a senhorita explica as acusações da Srta. Nixon? — Perguntou Hansen, com um tom suave.Doris respirou com dificuldade, com seus olhos percorrendo rapidamente o tribunal.— Eu só estava tentando me defender. — Disse ela, suavemente. — Serena veio na minha direção, e entrei em pânico. Deve ter sido algo que eu disse, algo que ela interpretou como uma ameaça. Mas eu nunca quis machucá-la - muito menos ao bebê.Cada palavra que saía da boca dela era uma mentira, mas ela estava vendendo isso… Tão
(Ponto de Vista de Serena)Quando o áudio começou a ser reproduzido, senti um nó apertar no estômago, enquanto meus olhos permaneciam fixos em Doris, que continuava sentada com uma calma artificial, com seus olhos se movendo de tempos em tempos na direção do júri.A gravação era de qualidade ruim, mas a voz de Doris soava nítida e fria. Preparei-me, ouvindo atentamente cada palavra.A voz dela estalou nos alto-falantes.— Ah! Receba o que você merece, sua vadia!O som dos seus passos pisando contra o terraço ecoou de forma ameaçadora, aumentando em intensidade e velocidade, como uma tempestade prestes a estourar. Em seguida, ecoou o som inconfundível de uma luta - objetos sendo derrubados, o arrastar apressado de sapatos contra o chão áspero do terraço, e o ritmo irregular de uma respiração ofegante cortando o silêncio.Então minha voz, cheia de pânico, surgiu pelos alto-falantes.— Você não pode mais me intimidar, Doris. Esses tempos acabaram.Um estrondo forte ecoou, seguido por resp
Ponto de Vista de BillO restante da audiência se torna um borrão enquanto minha raiva pelas mentiras de Doris cresce. As perguntas de Hansen continuam distorcendo a história, fazendo parecer que Serena e eu armamos para Doris.Quando o juiz finalmente anuncia o adiamento da sessão, estou fervendo por dentro. Minha mente corre a mil com tudo o que aconteceu. O tribunal vai se esvaziando lentamente, mas mal percebo.Cruzo o olhar com Serena enquanto recolhemos nossas coisas. Ela parece tão exausta e frustrada quanto eu.— Como você está se sentindo? — Pergunto em um tom baixo.Serena suspira e massageia as têmporas.— Estou cansada, Bill. Tudo isso é… avassalador.— Eu sei. Também me sinto assim. — Digo, pousando uma mão em seu ombro. — Mas logo isso vai acabar.— Espero que sim. — Ela responde.De repente, sua expressão muda. Ela faz uma careta e leva a mão à barriga.— Bill… tem algo errado. — Diz, a voz tremendo.O pânico toma conta de mim.— Serena, você está bem? O que está acontec
Ponto de vista de SerenaO estúdio de yoga é acolhedor e convidativo, com uma iluminação suave e uma música calma tocando ao fundo.Respiro fundo, tentando liberar a tensão que foi se acumulando nos últimos dias. Bill está ao meu lado, parecendo tão determinado quanto eu a aproveitar essa experiência ao máximo.A instrutora, uma mulher serena chamada Maya, nos recebe com um sorriso gentil.— Bem-vindos, pessoal. Hoje vamos focar no relaxamento e na conexão com o seu parceiro. Vamos começar com alguns alongamentos suaves para aquecer.Seguimos suas orientações, movendo-nos por uma série de alongamentos lentos e deliberados. Sinto a tensão em meus músculos começando a se dissipar. A voz de Maya é tranquilizadora, guiando-nos por cada movimento.— Agora, passem para uma posição sentada, de frente para o seu parceiro. — Instrui Maya. — Coloquem as mãos nos joelhos um do outro e olhem nos olhos um do outro. Respirem fundo algumas vezes juntos, sincronizando a respiração.Sento-me de pernas
Ponto de Vista de BillDepois da aula de ioga, Serena e eu decidimos parar para tomar sorvete. Caminhamos de mãos dadas pela rua, aproveitando o ar fresco da noite.Parece um encontro normal, algo que não temos há muito tempo.Encontramos uma pequena sorveteria com uma área externa aconchegante. O local está quase vazio e tem um clima acolhedor. As paredes são pintadas com cores vibrantes, e o cheiro de casquinhas frescas de waffle enche o ar.— Qual sabor você vai pegar? — Serena pergunta enquanto nos aproximamos do balcão.— Estou pensando em massa de cookie com gotas de chocolate. — Respondo, dando uma olhada no menu. — E você?— Chocolate com menta. — Ela diz com um sorriso. — É o meu...— O seu favorito. — Sorrio, completando sua frase. — Eu sei.Fazemos nossos pedidos e nos sentamos do lado de fora, aproveitando a brisa suave. O rosto de Serena se ilumina quando ela dá a primeira colherada no sorvete, e eu não consigo evitar sorrir.— Isso é tão bom. — Ela diz, olhando ao redor.
Ponto de Vista de Serena— Sr. Alvez. — Hansen começa, com um tom medido e calmo. — Pode, por favor, declarar seu nome completo e sua ocupação para o tribunal?Alvez pigarreia, mudando-se desconfortavelmente no assento.— Meu nome é Carlos Alvez, e sou mecânico.Hansen assente.— Sr. Alvez, pode contar ao tribunal sobre seu envolvimento no incidente envolvendo a Srta. Nixon e a Srta. Tipton?Alvez hesita, seus olhos desviando para onde estou sentada com Bill. Ele respira fundo antes de responder:— Fui contratado para... bem, para causar um acidente. Eu deveria atropelar a Srta. Nixon com minha motocicleta.Um suspiro coletivo enche a sala do tribunal, e o juiz bate o martelo para restaurar a ordem. Sinto meu corpo enrijecer enquanto aperto com força a mão de Bill.Hansen continua:— Sr. Alvez, sabe quem lhe pediu para fazer isso?Alvez hesita por um instante antes de responder:— Era uma mulher. Ela era baixinha, gordinha e tinha cabelos loiros cacheados. Mas não sei o nome dela.O qu
Ponto de Vista de BillEu poderia matar Alvez agora mesmo. Ele é um desgraçado imprestável. Não posso acreditar que isso está acontecendo.Tudo pelo que trabalhamos está desmoronando porque ele não conseguiu cumprir sua parte do acordo.Sinto o olhar de Serena sobre mim, queimando de raiva e traição. Ela tem todo o direito de estar furiosa.Eu só queria que Alvez se voltasse contra Doris pagando pela quimioterapia de Ana, mas agora tudo explodiu na nossa cara.O sorriso de Hansen me dá vontade de socá-lo. Ele sabe que nos encurralou. A satisfação estampada no rosto de Doris só alimenta ainda mais minha fúria.O juiz anuncia um breve recesso, mas mal escuto por causa do som do meu próprio sangue martelando nos ouvidos. Viro-me para Serena, que me encara com uma mistura de raiva e confusão. Antes que ela possa dizer qualquer coisa, respiro fundo.— Serena, eu…— Não. — Ela me corta, ríspida. — Falamos sobre isso depois.Ela se levanta, a postura rígida, e sai do tribunal sem olhar para t