Não tive tempo para racionar o que ele queria que eu fizesse, e quando me dei conta já estava em cima de uma laje com um fuzil silenciado apontado para um ponto que ele mesmo escolheu. A favela está silenciosa por ainda ser bem cedo, o sol mal nasceu e eu estou pique bandido treinado aqui em cima, com um fone nos ouvidos para me comunicar com ele. Mavi: isso não vai dar… — falo baixinho e suspiro fundo. Badá: Vai sim, pretinha… — a voz dele ressoa do outro lado em um cochicho — mas precisa confiar em mim agora. Mavi: Tem um fuzil na minha mão, quase maior que eu. E eu não sei o porque disso, então não tem como confiar. Vou precisar matar alguém?Badá: Não. Te expliquei onde tem que atirar se algo acontecer. — o estrondo o caveirao que sempre me fazia assustar quando ainda era criança, pode ser ouvido de longe. Sei que eles estão subindo — Maria, presta atenção. Não vai matar ninguém, atira na perna só pra imobilizar, estou desarmado, é só até eu ter tempo. Mavi: mas é se eu atira
MariaUma mente bagunça pode te levar a loucura, e nesse momento estou a ponto de surtar por não fazer absolutamente nada. É a primeira vez que venha no na Penha depois que tudo aconteceu, e eu ainda não sei o que vim fazer aqui, de fato. Minha ex sogra fez questão de me ver, ex porque ainda não defini o que eu e Badá voltamos a ter, mas a real é que eu não me sinto nem um pouco confortável aqui. Badá sumiu alguns minutos, e conversar com a família dele me faz sentir sufocada. Parece que são pessoas totalmente desconhecidas para mim, e apesar de está presente aqui, minha mente está longe.Rose: Lavínia está com quem, Maria? — minha ex sogra pergunta. Mavi: com a minha irmã, vou pegar ela hoje à tarde. — ela afirma com a cabeça, o primo de Badá, Bira, me encara desde a hora em que eu cheguei aqui, e ainda não sei o motivo pra ter vindo — eu vou dar uma volta até a casa que era da minha mãe, daqui a pouco eu volto. Rose: Fica aqui, menina. Espera Roger pra ir contigo!Mavi: Eu nem s
Eu pensei que um mesmo coração não pudesse ser quebrado tantas vezes. Mas ele é capaz, afirmo isso depois de juntar os cacos e voltado para casa, sozinha, semanas atrás quando encontrei Badá conversando com quem ele jurou de pés juntos, não ter mais contato. LK: O que foi que tu tá pensativa, aí? — LK pergunta, alisando minhas costas nua com o meu rosto virado para o lado contrário — quer falar sobre isso?Mavi: Não é nada. Só estou cansada de organizar as coisas do aniversário da Lavínia, quero que fique perfeito. Lk: E vai, po. Menorzinha vai se amarrar, tu vai ver. Mavi: Uhum…Lk: Eu vou pra casa — afirma — tenho que fazer um bagulho amanhã cedinho. Mavi: Vai voltar a noite para o aniversário da Lalá?Lk: Sei não, preta. Não quero conflito com Badá por ele ter sido um mano meu — solto um suspiro frustrada e me levantando, sentando — cai nos teus encantos e me rendi a isso, por que de início te achava uma adolescente rebelde pra caralho, tá ligado? Mas quando fui perceber, a gen
Badá Uma bala pode matar de 3 formas.A primeira: Nas extremidades. Sem uma arterial principal terá de 10 a 20 minutos, antes de sangrar até morrer.A segunda forma, em qualquer lugar da caixa torácica, centro do peito. A bala resvala, ossos são partidos o coração ou uma artéria é atingida, e a pressão sanguínea cai pra zero. A última forma é o tiro fatal, centro do crânio, qualquer ângulo. Como uma marionete com as cordas cortadas, você morre antes do seu cérebro saber o que houve. Armas mudam tudo, e uma bala é pra sempre.- Bob Lee Swagger(...)Sou filho de mãe solo, e nunca me importei com isso. Minha coroa junto com minha vó sempre batalhou pra me criar. Eu não conhecia meu pai, até 15 anos atrás quando finalmente bati de frente com ele.Minha mãe sempre me contou o quanto ele negava minha existência, e até ofereceu dinheiro para o aborto quando ela contou que estava grávida.A vida tem muitas circunstâncias, e todas elas voltam no início de onde você saiu, sempre pra te cobrar
Maria Vitória Eu já não estou mais aqui, cada célula do meu corpo pede socorro, minha mente agoniza em puro desespero... Mas não se pode salvar algo que já está morto.E eu morria aos pouco vendo minha mãe sofrer naquela de hospital, necessitando de uma transplante de rin e eu sem poder fazer nada, era angustiante.Eu sempre quis retribuir tudo que ela já fez por mim... E nem que eu vivesse mil anos, não conseguiria.Somos eu, ela e a Laura, minha irmã mais velha. Apesar de ser bem doidinha na maioria das vezes, era ela quem me acalmava em casa quando ficava aflita. Minha mãe já está no hospital há quase um mês, e na fila de transplante há anos. Ela sempre tinha crises, mas era coisa rápida de passar 2 dias internada e depois ia pra casa, mas dessa vez não, ela precisava do transplante o mais rápido possível e esperar por um doador na saúde pública, não era viável. Cada dia que passava parecia um cronômetro da vida dela diante dos meus olhos, eu não tô vivendo, tô me arrastando pra
BadáAs horas aqui parece que não passa, como se eu tivesse parado no tempo a cada vez que chegava mais perto da minha liberdade. Aqui dentro, eu tentava não meter nesses bagulhos de confusão, por que eu sabia que o juiz era doidinho pra acrescentar alguns anos na minha pena. E sinceramente irmão, eu já tô de saco cheio dessa porra toda.15 anos trancado como se fosse um animal e sendo tratado da mesma forma, isso aqui não é vida pra ninguém não. 15 anos sem tomar um sol direito, bobear tô mais branco que o próprio finado Michael Jackson. Sem ver minha coroa e só trocando papo com os aliados por um celular que pra funcionar era igual puta, levava vários tapas.Aqui dentro conheci a Erica, mina era firmeza e foi quando eu tive um lance com ela dentro dessas visitas que ela me fazia. Acabou engravidando e botou a boca dizendo que o filho era meu. Não tinha como saber irmão, não sabia dos passos dela lá fora e eu aqui dentro preso, sem saber de quase porra nenhuma.Mas o moleque cresceu
MaviEu saio da cadeia me tremendo tanto, que pareço uma idosa com mal de Parkinson. Sinceramente, nem sei o que deu na minha cabeça de que isso seria uma boa ideia. E ainda ter que ouvir na minha cara, que sou uma criança.Na minha cabeça Badá já era um velho, careca e sem dente. E não aquela muralha de homem todo posturado, tatuagem dos pés a cabeça e com uma marra que só cabe nele.Me aproximo do carro onde Rangel me esperava e respiro aliviada por esta já distante daquele ambiente horrível.Rangel: Deu tudo certo lá? - Estendo o papel de volta pra ele que não fiz nem questão de saber o que estava escrito.Mavi: Ele pediu uma visita íntima. Tem certeza que aquele homem não vai tentar transar comigo? Rangel: Tá doidona, Maria? Cara é sujeito homem po, tá lidando com vacilão não. Se tu tiver com medo, passa a bola que outra vem no teu lugar, da o papo.Eu já queria ter desistido quando passei pela revista, com várias paranoias na cabeça do tipo "E se eu tiver com uma arma?" "Drogas?
Acordo com sol queimando meu rosto, e só aí percebo que dormi com a janela aberta. Me levanto num pulo já animada pra ver a reação da minha mãe, quando meu telefone toca.Olho no visor o nome da Laura, ainda é bem cedo e obviamente ela ainda está no hospital com minha mãe.Atendo coçando os olhos e caminhando até o guarda-roupa para procurar uma roupa e tomar banho.Mavi: Bom dia. Tá tudo bem?Laura: A mãe morreu, Maria. - Sinto meu corpo gelar e fico imóvel para de frente ao espelho e vejo meu semblante mudar. - eu não vi, quando acordei ela já havia morrido e eu não pude fazer nada.Mavi: Eu tô chegando aí! - desligo o telefone e sento na beirada.Encarado a parede branca a minha frente e em minha mente não passa absolutamente nada, a não ser a imagem da minha mãe cuidando do meu ferimento quando eu cai de bicicleta e cortei a cabeça.Ela sempre cuidou da gente, sempre. Era mãe, amiga, médica e conselheira. Sempre fez de tudo e eu não fiz absolutamente nada pra poupar sua vida.Eu s