Capítulo 2

Badá

As horas aqui parece que não passa, como se eu tivesse parado no tempo a cada vez que chegava mais perto da minha liberdade. Aqui dentro, eu tentava não meter nesses bagulhos de confusão, por que eu sabia que o juiz era doidinho pra acrescentar alguns anos na minha pena. E sinceramente irmão, eu já tô de saco cheio dessa porra toda.

15 anos trancado como se fosse um animal e sendo tratado da mesma forma, isso aqui não é vida pra ninguém não. 15 anos sem tomar um sol direito, bobear tô mais branco que o próprio finado Michael Jackson. Sem ver minha coroa e só trocando papo com os aliados por um celular que pra funcionar era igual puta, levava vários t***s.

Aqui dentro conheci a Erica, mina era firmeza e foi quando eu tive um lance com ela dentro dessas visitas que ela me fazia. Acabou engravidando e botou a boca dizendo que o filho era meu. Não tinha como saber irmão, não sabia dos passos dela lá fora e eu aqui dentro preso, sem saber de quase porra nenhuma.

Mas o moleque cresceu po, tinha nem como negar que era meu filho, minha cópia até na marra.

Hoje era só mais um dia daqueles que eu não quero ir pro pátio tomar sol, a penitenciária inteira parecia ter rebelado contra mim, e os únicos que sobraram ao meu lado foram da minha cela, que também não confio muito não, parceiro.

Dispiei acendendo um cigarro pra ver o tempo passa, ainda era cedo e as celas já havia sido aberta. Os corredores daqui tinha cheiro de morte, e o caminho até a solitária fazia tremer até o homem mais frio da face da terra.

Encosto a cabeça na parede fumando e observando a cela, 4 camas de concreto com um fino colchão de espuma, cobertores finos e um banheiro que as vezes passava 3 dias sem água. O inverno aqui era cruel, po. Papo de tu nem conseguir dormir a noite de tanto frio. Sem falar nos ratos que de vez enquando vinha nos fazer uma visita.

LK: Vai estourar a boa quando sair daqui, Badá? - LK era meu parceiro de cela, se pá tá aqui comigo já tem uns 10 anos pra lá. Cumprindo pena por homicídio duplamente qualificado, formação de quadrilha e assalto a mão armada, o currículo do homem era recheado.

Badá: Quero curtir minha liberdade, tá ligado? Tomar um banho de umas 2 horas na água quente. 15 anos tomando banho nessa gelada pra caralho e as vezes suja.

LK: Po, quando eu sair daqui quero ir a um puteiro, namoral mesmo. Comer umas negas e ficar doidão. Dá nem pra tocar umazinha aqui, po. Geral escuta!

Fico rindo da marola do LK, quem olha pra cara dele nem imagina essa porrada de coisa que ele já fez, menor ainda tinha uns anos bom pra cumprir, se pá.

LK: Tô aguento isso aqui mais não, parceiro. Papo reto mermo? Vou fugir irmão, não sei o dia e nem a hora, mas eu vou. Se eu passar mais 10 anos aqui dentro eu vou enlouquecer.

Badá: Mano, cumpri minha pena no sapatinho, mas tu viu aí o sofrimento. Nunca vi meu filho po, só por foto e tô doido pra dar um abraço nele, tá ligado? Se eu tivesse que esperar mais 10 anos pra isso acontecer, eu também meteria o pé daqui.

Antes dele me responder, ouço o barulho dos passos do guardinha e o cassetete passando pelas grades só pra ele ter o prazer de anunciar sua chegada. Ele aponta com a cabeça e b**e duas vezes na grade.

— Visita pra você, Badá.

LK: iiih, caralho. Depois de tanto tempo, agora tu arruma outro muleque. - Desviei meu olhar para o dele o repreendendo, que levantou as mãos para o alto em forma de rendição.

Não sabia quem era, mas sabia que trazia informações lá de fora que eu precisava. Tô aqui dentro, mas tô ligado nos bagulhos que acontece no mundao, ligado e montadora 24 horas por dia.

Tô ligado na Erica lá fora também trabalhando abessa pra sustentar, orgulhosa pra caralho, não gostava de aceitar meu dinheiro como ajuda, mesmo sabendo que tinha responsabilidade minha no bagulho.

Ando os corredores algemado e ouvindo ameaças dos outros detentos, já tô até acostumado po, estranho seria se eles não ameaçassem. Mas atrás do portão, qualquer cachorro late, e homem nenhum me amendrota. Caminho até a sala de visita, pelo menos aqui tínhamos privacidade pra conversar com alguém.

Entro me sentando do outro da mesa e apoio meus dois braços sobre ela. Fico ali aguardando quem quer que seja, entrar.

Minutos depois entrar uma menina toda acanhada, uma criança, é de fuder mesmo.

O guardinha aparece na porta avisando que teríamos uma hora somente. Tempo de sobra!

Ela permanece parada na porta me olhando como se eu fosse o maior monstro do mundo e eu mantenho o contato visual com ela sem desviar o olhar, vamos ver quem vai ceder primeiro.

Badá: Qual seu nome?

Mavi: Maria... - Ela quase gagueja ao falar. - Maria Vitória!

Badá: senta aí, po. Qual foi? Vou fazer nada contigo não, fica suave mina.

Ela afirma com a cabeça e caminha até a mesa se sentando a minha frente, Com o cabelo preso num coque, uma camisa branca junta a calça cinza e chinelos havaianas. Aqui só podia entrar assim, mó onda, parecia que os visitantes eram os próprios detentos.

Ela me entrega o papel pelo o qual ela está aqui agora e eu abro lendo as informações que eu precisava. Um carregamento de arma vindo lá de fora, coisa grande e com grandes chances de dar uma merda do caralho e eu mal coloquei meus pés na rua.

Leio tudo atentamente e entrego de volta pra ela que dobra guardando no bolso, a mina tá tão tensa que consigo sentir sem muito esforço.

Badá: Tu tem quantos anos?

Mavi: Acabei de fazer 18...

Badá: Tá nessa por que? Tu é nova pra caralho, tem idade pra ser minha filha, se pá. - Ela nega com a cabeça desviando o olhar para a parede lateral da sala.

Mavi: Minha mãe está doente e precisa de um transplante de rin, nem eu e minha irmã somos compatíveis com ela. A fila do Sus demora muito e estamos ficando sem tempo. A cirurgia é muito cara e estamos tentando um meio de conseguir o dinheiro.

Badá: Quanto? - Ela demora a responder, me encarando como se tentasse me decifrar. - Quanto Maria?

Mavi: Muita grana... Quase 40 mil reais!

Suspiro fundo passando a mão na cabeça e fecho os olhos, de certa forma aquilo me incomodou e ela ter que fazer um bagulho desse pra ajudar a mãe, me deixava puto, pelo simples fato dela ser nova e nem saber no problemão que ela podia se envolver..

Badá: tua irmã lá, tem quantos anos?

Mavi: 23, ela trabalha num quiosque lá no morro, mas não ganha tão bem assim.

Badá: E tu, trabalha? - Ela afirma com a cabeça ainda me olhando, uma percepção de sua pessoa que amava conversar olhando dentro dos olhos. - com o que?

Mavi: Sou babá. - Respondeu sem delongas.

Badá: É o seguinte, tu vai marcar a próxima visita, mas tem que ser íntima. - Ela me olha assustada levantando o corpo na cadeira e respirando fundo. - Tu é virgem né?

Mavi: Como sabe?

Badá: Percebi pela sua tensão. Mas eu não quero transar contigo, Maria. - Ela afirma com a cabeça soltando o ar que prendia. - Pra mim tu ainda é uma criança. Eu só preciso que traga um bagulho pra mim lá de fora, e depois disso, pega a grana pra cirurgia da sua mãe e não aparece mais aqui pra nada, tá me ouvindo?

Mavi: E se eles me prenderem por esta trazendo algo pra você? Sei lá. É droga?

Badá: no dia tu vai saber, mas é nada que te complica, pode ficar tranquila. - Me levanto ajeitando a cadeira no lugar e ela levanta o olhar em minha direção. - Tu tá me encarando por que?

Mavi: Eu te imaginava totalmente diferente.

Badá: Um magrelo alto e Careca? Tu não é a primeira a me falar isso. - Ela sorri deixando a mostra todos os dentes alinhandos e perfeitamente brancos. - Rangel vai te dar o papo e te trazer na próxima vez. Pode ir!

Ela se levanta saindo da sala e eu fico ali aguardando o agente vir pra me levar pra cela novamente.

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