Capitulo 4

Acordo com sol queimando meu rosto, e só aí percebo que dormi com a janela aberta. Me levanto num pulo já animada pra ver a reação da minha mãe, quando meu telefone toca.

Olho no visor o nome da Laura, ainda é bem cedo e obviamente ela ainda está no hospital com minha mãe.

Atendo coçando os olhos e caminhando até o guarda-roupa para procurar uma roupa e tomar banho.

Mavi: Bom dia. Tá tudo bem?

Laura: A mãe morreu, Maria. - Sinto meu corpo gelar e fico imóvel para de frente ao espelho e vejo meu semblante mudar. - eu não vi, quando acordei ela já havia morrido e eu não pude fazer nada.

Mavi: Eu tô chegando aí! - desligo o telefone e sento na beirada.

Encarado a parede branca a minha frente e em minha mente não passa absolutamente nada, a não ser a imagem da minha mãe cuidando do meu ferimento quando eu cai de bicicleta e cortei a cabeça.

Ela sempre cuidou da gente, sempre. Era mãe, amiga, médica e conselheira. Sempre fez de tudo e eu não fiz absolutamente nada pra poupar sua vida.

Eu sei que a morte chega para todos, mas a gente nunca tá preparado pra perder quem amamos. Eu não sei se consigo viver sem ela, não sei...

Ela sempre me tratava como sua menina, e eu amava. Era daquela mãe que fazia chocolate quente todas as manhãs antes de ir para o trabalho, fazia questão de se esforçar para ensinar as atividades da escola, penteava meu cabelo sempre que pedia...

Minha princesa, minha pretinha, era assim que ela me chamava todos os dias, desde que eu me lembre da minha existência. E agora ela se foi, e não vai mais voltar.

Eu não me despedi, por que tinha a convicção de que ela voltaria pra casa e tudo seria como antes. Deus existe mesmo? Me questiono. Ele não pode deixar tantas pessoas ruins no mundo e levar as boas.

Isso não é justo!

Nao com ela, não é justo mesmo.

Eu me arrasto até o banheiro e nem consigo tomar um banho, só lavo o rosto que já está horrível de tanto chorar.

Desço o morro tentando não ser egoísta ao ponto de querer minha mãe aqui, afinal ela já sofreu por anos e eu via isso todos os dias. Eu sei que ela não morreu, ninguém morre quando permanece vive no coração de alguém e ela sempre estará viva no meu. Ela descansou...

Paro em frente o hospital sem ter coragem de entrar e encontrar minha irmã, por que sei que uma hora dessa, o corpo da minha mãe já não está mais lá.

Vejo Laura no final do corredor, ela b**e os olhos em mim e vem correndo em minha direção me abraçar.

Laura: Ela se foi, Maria... E nunca mais vai voltar

Mavi: Eu sei, mas entenda que ela descansou, estava sofrendo demais aqui.

Eu converso com ela tentando a acalmar, mesmo sabendo que dentro da minha cabeça está tudo bagunçado. E seria só nos duas de hoje em diante.

Falência múltipla dos órgãos, foi o motivo de seu falecimento...

Minha mãe sempre pagou plano funerário, e eu sempre achava uma bobeira, pagar pra morrer? Não faz sentido. A boa parte, é que o plano cobriria tudo, do funeral até o enterro.

O corpo estava sendo velado na capela mortuária, e o salgueiro em peso estava aqui. O rosto dela mais parecia esta dormindo, e tinha uma expressão calma.

Minhas tias Elaine e Camila não saiam de cima dela, minha mãe era amada por muitas pessoas, e eu queria ser como ela um dia.

Elaine: Se você quiser, pode voltar para Bahia comigo. Você e sua irmã. Não precisam ficar sozinhas aqui. - Ela fala colocando a mão sobre meu ombro, onde eu estava de pé perto do caixão.

Mavi: Vamos ficar bem aqui, tia. Minha irmã e eu trabalhamos, já temos uma rotina. Mudar assim seria estranho para nós.

Elaine: bobeira, Maria. Se vocês se sentirem confortáveis e quiserem ir, me avisa que venho buscar vocês. - afirmo com a cabeça pra não dar continuidade ao assunto, acho que não era o momento e nem o lugar pra isso.

Eu saio para o lado de fora para tomar um ar, o cheiro de formol parece ter agarrado em minhas narinas, e me acompanhava por onde eu ia...

Encosto na parede sentindo o sol queimar minha pele, olho para o céu e vejo um pássaro enorme rondar por cima, eu nem sei que espécie é aquela. Me deu uma sensação de paz profunda. Meu celular vibra no bolso de trás da calça, e eu pego atendendo sem nem olhar quem era.

Mavi: Oi!

Badá: Fiquei sabendo da sua mãe aí, lamentável. Que ela esteja em um bom lugar agora.

Mavi: É... Ela não resistiu.

Badá: fica tranquila, mina. Sua mãe era firmeza e ela descansa agora, sinto muito por isso e te desejo forças, não posso nem imaginar tua dor, mas chego perto.

Mavi: Obrigado... - ouço sua respiração pesada do outro lado da linha. - Escuta... sobre o di...

Badá: é seu, eu não quero esse dinheiro... mesmo que não tenha dado certo para o destino dele, faça outra coisa. Sei que tem tua irmã aí e você, são duas pessoas que terão que lidar com isso agora, sem tua coroa. Dinheiro não vai trazer ela de volta, mas pode ajudar vocês em alguma.

Mavi: Eu não sei como te agradecer...

Badá: Não precisa, só se cuida. Promete isso pra mim?

Mavi: Prometo...

Badá: certo, qualquer coisa liga nos. Tô longe mas vejo o que posso fazer pra te ajudar, logo mais a gente troca uma ideia. Tô indo nessa, fica em paz aí!

Mavi: Amém, tchau!

E ele desliga do outro lado, Badá e bem sério, no modo de olhar, falar, dar ordens, mas tinha um bom coração. Eu não sei o motivo de ele tá preso, e nem procuro saber, não é do meu interesse.

10 minutos para me despedir do corpo da minha mãe. Como que se despede em 10 minutos? Como agradecer por 18 anos ao meu lado em tão pouco tempo? Como decifrar e tentar falar o quanto eu a amava? O quanto sua ausência fará falta para mim...

Eu acho que a pior parte, é quando enterra, por que só aí, que tu se dá conta que nunca mais vai ver, abraçar, cheirar, conversar, dizer que ama, aquela pessoa...

E meu mundo desaba novamente.

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