Acordo com sol queimando meu rosto, e só aí percebo que dormi com a janela aberta. Me levanto num pulo já animada pra ver a reação da minha mãe, quando meu telefone toca.
Olho no visor o nome da Laura, ainda é bem cedo e obviamente ela ainda está no hospital com minha mãe.Atendo coçando os olhos e caminhando até o guarda-roupa para procurar uma roupa e tomar banho.Mavi: Bom dia. Tá tudo bem?Laura: A mãe morreu, Maria. - Sinto meu corpo gelar e fico imóvel para de frente ao espelho e vejo meu semblante mudar. - eu não vi, quando acordei ela já havia morrido e eu não pude fazer nada.Mavi: Eu tô chegando aí! - desligo o telefone e sento na beirada.Encarado a parede branca a minha frente e em minha mente não passa absolutamente nada, a não ser a imagem da minha mãe cuidando do meu ferimento quando eu cai de bicicleta e cortei a cabeça.Ela sempre cuidou da gente, sempre. Era mãe, amiga, médica e conselheira. Sempre fez de tudo e eu não fiz absolutamente nada pra poupar sua vida.Eu sei que a morte chega para todos, mas a gente nunca tá preparado pra perder quem amamos. Eu não sei se consigo viver sem ela, não sei...Ela sempre me tratava como sua menina, e eu amava. Era daquela mãe que fazia chocolate quente todas as manhãs antes de ir para o trabalho, fazia questão de se esforçar para ensinar as atividades da escola, penteava meu cabelo sempre que pedia...Minha princesa, minha pretinha, era assim que ela me chamava todos os dias, desde que eu me lembre da minha existência. E agora ela se foi, e não vai mais voltar.Eu não me despedi, por que tinha a convicção de que ela voltaria pra casa e tudo seria como antes. Deus existe mesmo? Me questiono. Ele não pode deixar tantas pessoas ruins no mundo e levar as boas.Isso não é justo!Nao com ela, não é justo mesmo.Eu me arrasto até o banheiro e nem consigo tomar um banho, só lavo o rosto que já está horrível de tanto chorar.Desço o morro tentando não ser egoísta ao ponto de querer minha mãe aqui, afinal ela já sofreu por anos e eu via isso todos os dias. Eu sei que ela não morreu, ninguém morre quando permanece vive no coração de alguém e ela sempre estará viva no meu. Ela descansou...Paro em frente o hospital sem ter coragem de entrar e encontrar minha irmã, por que sei que uma hora dessa, o corpo da minha mãe já não está mais lá.Vejo Laura no final do corredor, ela b**e os olhos em mim e vem correndo em minha direção me abraçar.Laura: Ela se foi, Maria... E nunca mais vai voltarMavi: Eu sei, mas entenda que ela descansou, estava sofrendo demais aqui.Eu converso com ela tentando a acalmar, mesmo sabendo que dentro da minha cabeça está tudo bagunçado. E seria só nos duas de hoje em diante.Falência múltipla dos órgãos, foi o motivo de seu falecimento...Minha mãe sempre pagou plano funerário, e eu sempre achava uma bobeira, pagar pra morrer? Não faz sentido. A boa parte, é que o plano cobriria tudo, do funeral até o enterro.—O corpo estava sendo velado na capela mortuária, e o salgueiro em peso estava aqui. O rosto dela mais parecia esta dormindo, e tinha uma expressão calma.Minhas tias Elaine e Camila não saiam de cima dela, minha mãe era amada por muitas pessoas, e eu queria ser como ela um dia.Elaine: Se você quiser, pode voltar para Bahia comigo. Você e sua irmã. Não precisam ficar sozinhas aqui. - Ela fala colocando a mão sobre meu ombro, onde eu estava de pé perto do caixão.Mavi: Vamos ficar bem aqui, tia. Minha irmã e eu trabalhamos, já temos uma rotina. Mudar assim seria estranho para nós.Elaine: bobeira, Maria. Se vocês se sentirem confortáveis e quiserem ir, me avisa que venho buscar vocês. - afirmo com a cabeça pra não dar continuidade ao assunto, acho que não era o momento e nem o lugar pra isso.Eu saio para o lado de fora para tomar um ar, o cheiro de formol parece ter agarrado em minhas narinas, e me acompanhava por onde eu ia...Encosto na parede sentindo o sol queimar minha pele, olho para o céu e vejo um pássaro enorme rondar por cima, eu nem sei que espécie é aquela. Me deu uma sensação de paz profunda. Meu celular vibra no bolso de trás da calça, e eu pego atendendo sem nem olhar quem era.Mavi: Oi!Badá: Fiquei sabendo da sua mãe aí, lamentável. Que ela esteja em um bom lugar agora.Mavi: É... Ela não resistiu.Badá: fica tranquila, mina. Sua mãe era firmeza e ela descansa agora, sinto muito por isso e te desejo forças, não posso nem imaginar tua dor, mas chego perto.Mavi: Obrigado... - ouço sua respiração pesada do outro lado da linha. - Escuta... sobre o di...Badá: é seu, eu não quero esse dinheiro... mesmo que não tenha dado certo para o destino dele, faça outra coisa. Sei que tem tua irmã aí e você, são duas pessoas que terão que lidar com isso agora, sem tua coroa. Dinheiro não vai trazer ela de volta, mas pode ajudar vocês em alguma.Mavi: Eu não sei como te agradecer...Badá: Não precisa, só se cuida. Promete isso pra mim?Mavi: Prometo...Badá: certo, qualquer coisa liga nos. Tô longe mas vejo o que posso fazer pra te ajudar, logo mais a gente troca uma ideia. Tô indo nessa, fica em paz aí!Mavi: Amém, tchau!E ele desliga do outro lado, Badá e bem sério, no modo de olhar, falar, dar ordens, mas tinha um bom coração. Eu não sei o motivo de ele tá preso, e nem procuro saber, não é do meu interesse.10 minutos para me despedir do corpo da minha mãe. Como que se despede em 10 minutos? Como agradecer por 18 anos ao meu lado em tão pouco tempo? Como decifrar e tentar falar o quanto eu a amava? O quanto sua ausência fará falta para mim...Eu acho que a pior parte, é quando enterra, por que só aí, que tu se dá conta que nunca mais vai ver, abraçar, cheirar, conversar, dizer que ama, aquela pessoa...E meu mundo desaba novamente.Badá"Ninguém confia em ninguém, é melhor assim. Eu nem na minha sombra e nem ela em mim.Hoje qualquer muleque tá andando armado, puxar o cão sem pensar, pra ser respeitado.Eu tô ligado, eu sei quem é quem, o super-homem de bombeta vai matar alguém.Sendo refém de espíritos malignos, mal intencionado, cínico, leviano, indigno. Fui obrigado a conviver com isso, com uma quadrada e um velho crucifixo. É sempre bom andar ligeiro na calada, A VIDA NÃO É UM CONTO DE FADAS!"Encosto a cabeça na parede jogando a fumaça pro alto, falta pouco tempo pra eu ficar aqui dentro.A notícia que Rangel trouxe lá de fora não é a melhor delas, e eu não posso imaginar o que Maria tá sentindo agora.Perder um ente querido é sempre doloroso, mas uma mãe, deve ser uma parada coisa de louco, da até um arrepio só de imaginar.LK: tá pensativo aí por que, irmão?Badá: várias fitas pra resolver quando sair daqui. Só queria paz e sossego por um tempo.LK: Tu é chefe, tem paz não. Trabalha até aqui dentro.Badá:
MaviEu achei que a pior hora seria quando enterrasse minha mãe, mas não. A pior hora está sendo agora, que cheguei em casa e está vazia. Dói por que nunca mais vou ter seu abraço e seu sorriso. Dói por que ela nunca mais irá me acordar cedo, mesmo quando não precisa. Dói por que caramba, eu nunca mais vou sentir o cheirinho dela. Agora ficou um vazio imenso dentro dessa casa, e eu nunca havia percebido o quanto ela é enorme, não quando ela ainda estava aqui.Eu tomo banho enquanto Laura se arruma para ir trabalhar. O patrão dela disse que não precisava dela ir, mas ela insistiu para ir, e eu vou ficar em casa mesmo. Não há nada a fazer e nem para onde ir. Então só deito olhando pra parede e fico na mesma posição.Laura: eu já tô indo. Tem certeza que não quer ir comigo? - ela pergunta da porta do meu quartoMavi: Não, tá tudo bem. Pode ir.Laura: ok… Mais tarde eu tô de volta. Não vou demorar lá, só mesmo ajudar o pessoal pra não ficar na mão.Afirmo com a cabeça sem nem virar para o
BadáAcordo nem sentindo meu braço, até eu abrir os olhos e me dar conta de que não estou em minha casa e ainda na casa da Maria. Caralho, faz tempo que eu durmo assim, mas tá desconfortável pra porra ela deitada no meu braço desse jeito.Procuro o celular no meu bolso e olho a hora, ainda vai dar duas da manhã e eu tô caindo de sono. A irmã dela disse que sairia antes da meia noite, então o que significa que ela já chegou faz uma cota e nem me falou nada. Tento tirar o braço debaixo dela, mas sua mão está agarrada na minha e ela puxa quando eu tento tirar.Mavi: Não vai embora não…Badá: Achei que estava dormindo.Mavi: ta desconfortável nós dois nessa cama minúscula, né? - sorrio murmurando um uhum e ela aperta mais ainda minha mão - Mas fica, vai embora não.Badá: Eu não tô sentindo meu braço, Maria.Mavi: Quer deitar no chão? Posso pegar outro colchão e nós dois ficamos no chão.Badá: Quinze anos dormindo em cima de uma cama de concreto, o que eu menos quero é dormir no chão nesse
Mavi Eu ando pelas ruas com ele, e passo as mãos nos meus braços sentindo o arrepio causado pelo vento que sopra. Não está frio, mas já passa das duas da manhã e eu sai debaixo do cobertor para dormir na casa de um desconhecido para mim. Por que ele é desconhecido, quando foi preso eu era uma bebê e agora ele tá aqui cuidando de mim como se eu fosse a porra da filha dele e ele tivesse alguma obrigação. Não fode, Badá.Badá: Vou deixar tu dormir na minha cama. - ele quebra o silêncio entres nós dois.Mavi: Cama de solteiro? - Pergunto e olho para sua direção e ele nega com a cabeça passando a língua nos lábios - E você vai dormir onde?Badá: Sofá.Mavi: Não faz sentindo. Não quis dormir no chão, mas quer dormir no sofá, e só pra não dormir comigo? Relaxa, eu sou uma virgem, e não uma desesperada por sexo que vai te atacar durante o sono. - Ele gargalha negando com a cabeça e me olha.Badá: Tu só fala merda, doidona.A gente dobra a esquina e entra numa rua deserta, com tantos canto pr
Acordo com o celular berrando embaixo do travesseiro, pego ele tentando pegar fogo em minha mão de tão quente que ele está. Olho no visor e vejo o nome da Helen, a essa hora da manhã. Mas aí me dou conta que já é quase uma da tarde e eu não estou na minha casa.Mavi: Oi? - Atendo o celular, fechando os olhos novamente.Helen: onde você tá? Vim aqui na sua casa e Laura disse que tu saiu cedo, por que não te viu quando acordou.Mavi: Ah, eu não dormi em casa.Helen: dormiu onde, sua louca?Mavi: Tô na casa do Badá.Helen: O que? Você é louca? Você transou com ele?Mavi: nossa, calma. Pra que tantas perguntas assim?Helen: Transou ou não?Mavi: não.Helen: nada, nem uma mãozinha boba?Mavi: não cassete, para de doideira. Só vim dormir aqui por que não consegui ficar em casa, só isso. Mas não aconteceu nada, nem mão boba, nem sexo e nem a porra de um beijo.Helen: mas você queria! - Ela afirma.Mavi: Não.Helen: Não mete essa.Mavi: Tchau Helen, já estou indo pra casa.Desligo a ligação e
Entro em casa onde Laura e Helen conversa, e elas param na hora que vê passar pela porta.Laura: você saiu que horas que eu não vi?Mavi: de madrugada, não estava conseguindo dormir. - me sento na mesa e coloco café no copo - Não queria te acordar só pra avisar isso.Laura: Vocês…Mavi: não, pelo amor de Deus. Tá igual a Helen.Helen: Nem falei nada. - ela permanece parada encostada na porta e levanta as mãos. - Eu só perguntei. Por que o morro inteiro de uma hora para a outra, tá querendo sentar pra aquele homem.Laura: Ele é gato, não podemos negar isso. - Minha irmã afirma, mexendo algo na panela - Estranho seria quem não queira sentar pra ele.Mavi: você quer? - pergunto tão rápido que quando percebi, já tinha saído da minha boca.Laura: você está ficando com ele?Mavi: O que? Claro que não.Laura: Então não vejo problema em eu querer isso algum dia. - Ela da de costa novamente com a atenção no fogão.Mavi: Helen, a gente pode ir ao baile hoje? - Ele cospe a água que bebia na hora
Eu espero Helen terminar a maquiagem na última menina para ela fazer em mim, a bichinha já está destruída e eu sorrio da porta, ouvindo o ronco do carro parando em frente a varanda da casa da Helen, já sabia quem era.Ele desce do carro todo trajado dos pés a cabeça, eu simbolo da Nike refletindo em sua camisa preta, o perfume que invadiu minhas narinas antes mesmo dele chegar perto. Ele troca a sacola de mão, e guarda a chave do carro no bolso da calça. Ele se aproxima de mim com meio sorriso no lábio, enquanto eu permaneço seria com os braços cruzados, fitando a mulher que está lá dentro do carro. Não dá pra saber quem é, mas eu sei que tem.Realmente, Maria Vitória… Você é apenas uma criança para ele.Badá: Tá tudo aí. - Ele estende a sacola para mim - sequinha.Mavi: Obrigado.Badá: Tá fazendo o que por esses lados?Mavi: Não sei se você sabe, mas Helen é minha amiga.Badá: Cassete, Maria. Se eu soubesse que a égua estava dando coice, tinha jogado o capim de longe. - fecho a cara
Mavi: para me puxar como se eu fosse um animal. - Badá me puxa entre as pessoas sem se importar com os olhares.Badá: Quer que eu te pegue no colo aqui no meio de todo mundo. - Nego com a cabeça - então anda. Tô bolado contigo já.Mavi: Ta bolado atoa, bofe. Fiz nada contigo. - Ele para de andar na mesma hora e me encara sério.Badá: Bofe Maria? Sério que tu meteu essa mermo? - nem tenho tempo de responder, ele me pega pela cintura e me joga em cima do ombro, tento abaixar minha saia, mas sem sucesso e minha bunda já está toda de fora.Mavi: Me coloca no chão, minha bunda tá aparecendo! - Ele não responde nada e também não faz o que pedi, invés disso espalma minha bunda com aquela mão enorme e tampa com a saia havia subido.Sinto meu rosto queimar, porque o baile era pra ele e ele parou a porra do baile inteiro pra me tirar da frente de um homem por pura birra. Todo mundo olha pra gente enquanto aquele enorme homem caminha comigo nos braços como se eu fosse mais leve que uma pena.Se