Capítulo 6

Mavi

Eu achei que a pior hora seria quando enterrasse minha mãe, mas não. A pior hora está sendo agora, que cheguei em casa e está vazia. Dói por que nunca mais vou ter seu abraço e seu sorriso. Dói por que ela nunca mais irá me acordar cedo, mesmo quando não precisa. Dói por que caramba, eu nunca mais vou sentir o cheirinho dela. Agora ficou um vazio imenso dentro dessa casa, e eu nunca havia percebido o quanto ela é enorme, não quando ela ainda estava aqui.

Eu tomo banho enquanto Laura se arruma para ir trabalhar. O patrão dela disse que não precisava dela ir, mas ela insistiu para ir, e eu vou ficar em casa mesmo. Não há nada a fazer e nem para onde ir. Então só deito olhando pra parede e fico na mesma posição.

Laura: eu já tô indo. Tem certeza que não quer ir comigo? - ela pergunta da porta do meu quarto

Mavi: Não, tá tudo bem. Pode ir.

Laura: ok… Mais tarde eu tô de volta. Não vou demorar lá, só mesmo ajudar o pessoal pra não ficar na mão.

Afirmo com a cabeça sem nem virar para o lado que ela estava, até ouvir ela saindo e fechando a porta. Somente a luz da cozinha está acessa, o restante da casa escuro, permaneço com a porta do meu quarto aberta, apesar de querer fechar nesse momento, não vou, não quero me levantar daqui.

Minutos depois ouço o barulho da porta se abrindo, presumo ser Laura que esqueceu alguma coisa, porém ela não fala nada. Se for um bandido que entrou aqui para me roubar ou me matar, eu não vou me importar com isso, foda-se.

Badá: Ei? - Sua voz ecoa pelo quarto e eu viro o pescoço suficiente para poder ver sua imagem apoiada na porta.

Mavi: oi! - Respondo - quando saiu?

Badá: acho que as vinte pessoas com quem eu me encontrei hoje, me perguntaram a mesma coisa quando me viu. - Sorrio sem graça - Sai de manhã, um pouco depois de ligar pra você.

Mavi: Entendi. O que tá fazendo aqui?

Badá: Vim ficar contigo. - Olho para ele confusa, enquanto ele caminha até a minha pequena cama de solteiro - Chega pra lá.

Mavi: Não te cabe aqui, mal cabe eu.

Badá: A gente se espreme, vai, chega pra lá. Vou ficar contigo até sua irmã voltar do serviço.

Mavi: ela te pediu isso? Ela acha que eu posso enfiar uma faca no meu pescoço e me matar. - Eu me aconchego em seu braço, enquanto seu outro braço rodeia minha cintura - eu posso fazer isso na verdade, mas eu não tenho coragem.

Badá: você não pode fazer isso. - Sinto o calor de seu hálito em meu pescoço, fazendo meu corpo subitamente se arrepiar - você é muito nova.

Mavi: Pessoas novas se matam todos os dias, basta achar que não vale mais a pena viver e pronto, está feito.

Badá: Para de falar essas coisas.

Mavi: Por que? Eu posso perfeitamente esperar você ir embora e tomar todos os remédios da minha mãe.

Ele se levanta num pulo e fica de pé na beirada da minha cama.

Badá: onde é o quarto da sua mãe? - Sustento o peso do meu corpo com o cotovelo ao levantar e franzi o cenho - qual dos dois do corredor?

Mavi: O que?

Badá: Anda Maria. Você quer que eu te leve para minha casa e te tranque no quarto para não fazer bobagem? Caramba! - sinto uma vontade de rir, pela primeira vez no dia, mas não faço - Anda, fala logo. Quer que eu revire tua casa inteira?

Mavi: Ta agindo como se fosse meu pai.

Badá: antes eu fosse.

Mavi: Não tem remédio nenhum aqui. Minha mãe fazia tratamento no hospital. - deito novamente e me viro para a parede - relaxa, eu não vou me matar. Já teria feito isso me jogando na frente de um carro quando vim pra casa.

Badá: Só fala merda tu.

Mavi: e você acredita. - Ele deita novamente ao meu lado, sei que a metade de seu corpo está fora da cama, já que ele da dois de mim - Você malhava na cadeia?

Badá: O que?

Mavi: ficou quanto tempo preso?

Badá: quinze anos, três meses e sete dias, contados.

Mavi: Então. Você é forte. Malhava ou caia na porrada com os outros lá dentro?

Badá: nenhum dos dois. Eu trabalhava pra ver o tempo passar. - ele passa a mão na minha cabeça, afundando os dedos e massageando - Agora dorme. Vou ficar até sua irmã chegar.

Mavi: Não é nem oito horas, eu não estou com sono.

Badá: Tenta.

Mavi: Não quero. - passa pela minha cabeça que uma dor, pode anular a outra, e me pego pensando na pior proposta que eu poderia sugerir a alguém, ainda mais quando esse alguém é o chefe do tráfico, quase vinte anos mais Velho que eu - Quer transar? - Pergunto sem pensar nas consequências, caso ele venha aceitar.

Badá: você é virgem. - Responde com rapidez.

Mavi: E se eu não for mais? E se eu tivesse perdido com alguém?

Badá: Perdeu? - Afirmo com a cabeça, quem sabe assim ele não transaria comigo - Com quem? Quem foi a pessoa?

Mavi: Não importa quem foi a pessoa.

Badá: você está mentindo. Ainda é virgem e eu não vou transar contigo.

Mavi: Por que não? Não sou mulher o suficiente para você?

Badá: você é só uma menina. - sinto uma bola de golfe entalada em minha garganta com suas palavras - tu tem idade pra ser minha filha.

Mavi: Mas eu não sou.

Badá: não importa. Eu não vou transar contigo.

Mavi: Nunca pensei que eu fosse me humilhar tanto por um sexo. - Falo e ouço ele suspirar fundo.

Badá: Eu não vou fazer isso, Maria. Você está triste com a perda da sua mãe e quer algo que possa se prender por algumas horas, mas depois que isso passar, você vai se arrepender e pensar onde estava com a cabeça quando pensou nisso.

Mavi: Ainda tenho dezoito anos, pode ter certeza que nenhum outro homem vai rejeitar fazer sexo pela primeira vez com uma virgem.

Badá: Eu mando cortar o pau fora, de quem tentar entrar dentro de você. - Sinto minha pele se arrepiar - Agora dorme.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo